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12 / outubro / 2021

“Mais santista de todos os santistas”. Era uma segunda-feira de Carnaval quando José Macia veio ao mundo naquele 25 de fevereiro de 1935, na cidade de Santos. Muito antes de tornar-se ídolo da torcida alvinegra praiana, ser considerado o maior ponta-esquerda da história do Santos e vestir o branco emblemático no uniforme do clube da Vila Belmiro em 750 partidas e 403 gols marcados, Pepe se tornou o segundo maior artilheiro da história do clube. Mesmo assim, enfrentou intempéries para ser jogador de futebol.

Convencer o pai, conhecido como ‘Espanhol’, a deixá-lo mostrar seu potencial jogando futebol, foi uma das maiores marcações cerradas que o ponta-esquerda eterno do Peixe sofreu. Suplicou ao pai para deixá-lo fazer o que mais amava na vida: jogar futebol e mostrar seu dom. Driblar o preconceito social à época e a fungada no cangote de uma marcação homem a homem do pai pode ser considerada uma das grandes jogadas da vida dele.

Mas Pepe estava certo e fez dos números, argumentos, que confirmariam a certeza da escolha pelo esporte bretão – viveu as maiores glórias da história dos Santos entre 1954 e 1969. Conquistou 25 títulos, sendo 11 Campeonatos Paulistas, seis Campeonatos Brasileiros, duas Copas Libertadores da América, dois Mundiais Interclubes e quatro Torneios Rio-São Paulo. Isso quer dizer que Pepe tem o feito, a honraria, de ser o jogador com mais títulos por uma única equipe.

Mais números? Na Seleção Brasileira, entrou em campo 40 vezes, anotando 22 gols, e integrou o elenco que ganhou as Copas do Mundo de 1958 e 1962, na Suécia e Chile, respectivamente. Mas antes dos números significativos, realizações profissionais e títulos conquistados, a primeira vez que Pepe, conhecido como o ‘Canhão da Vila’, pela potência do chute, entrou em campo foi vestindo a camisa do São Vicente, time da Baixada Santista, antes de chegar à Vila Belmiro em 1951, estreando na equipe profissional três anos depois. Pepe é o quarto maior artilheiro do futebol brasileiro vestindo apenas uma camisa. Somente Pelé, Roberto Dinamite e Zico balançaram mais as redes adversárias do que ele.

Depois de 20 anos de incômodo jejum de títulos, em 1955, marcou o gol do título do Campeonato Paulista na partida contra o Taubaté, vencido pelo Peixe por 2 a 1, que seria o primeiro de muitos troféus em sua vitoriosa trajetória pelo clube de vários Reis do futebol.

Ademais, na forma mais sublime de quem tem a plena consciência da relevância para o Santos, a perna esquerda de Pepe fala por si só e já se auto-proclamou por diversas vezes como o maior goleador terráqueo do único time que defendeu como atleta profissional: “Eu sou o maior artilheiro da história do Santos, porque o Rei não conta, ele é de outro mundo”, brinca, sorridente, o ex-atacante, referindo-se a Pelé, que balançou as redes 1.091 vezes com a lendária camisa 10 santista.

Entre risadas, lembranças e um show de simpatia de quem tirou tantas histórias empoeiradas pelo tempo, os jornalistas Marcos Vinicius Cabral e Fabio Lacerda, com o toque de categoria de Gisa Macia, também jornalista craque e filha de José Macia, entrevistam mais um craque para o Vozes da Bola.

Por Marcos Vinicius Cabral
Edição: Fabio Lacerda

Pepe, é verdade que seu pai, mais conhecido por Espanhol, era contra sua carreira de jogador de futebol, já que naquela época a profissão era considerada como reduto de malandros?

Naquela época, jogador de futebol não tinha uma fama muito boa e diziam que muitos deles gostavam de noitadas, bebedeiras e de farras. O passar do tempo fez meu pai enxergar o futebol por meio de outro prisma. Passou a considerar a carreira de jogador tão digna quanto qualquer outra profissão. Eu, como não era favorável a nada que fosse contrário a jogar futebol, queria ser atleta de futebol, mas o meu pai, pela própria rigidez que ele costumava educar os filhos, com carinho é claro, mas com as mãos firmes e fortes, relutou muito.

Como foi sua fase amadora jogando no infantil do Mota Lima Futebol Clube, no juvenil do Comercial Futebol Clube e no Clube Recreativo Continental?

Uma fase muito boa. O Comercial era um time nas cores vermelha e branca, e meu irmão, Mário, foi um dos responsáveis pela fundação deste clube. Havia naquela época uma rivalidade enorme entre Comercial e Vila Melo. Os jogadores, craques de bola, só jogavam descalços, e os jogos eram muito disputados. Certa vez, os diretores destes dois clubes, depois de tanto se enfrentarem e criarem essa grande rivalidade, se reuniram, e ao invés de jogarem um contra o outro, fizeram a fusão e surgiu o Clube Recreativo Continental. Era um bom time. A intenção era enfrentar o Corinthians da Vila Cascatinha e o Paulistano da Vila Toloi.

Como foi o dia 4 de maio de 1951 quando o jovem Pepe, então com 16 anos, pisou pela primeira vez no gramado da Vila Belmiro e ter sido aprovado no teste pelo técnico Salu?

Eu fui levado pelo ‘Cobrinha’, goleiro do Comercial e do Continental, e como ele era o camisa 1 do infantil do Santos, falou com o Salu, treinador. Fui fazer o teste e tive a aprovação. Naquela época, para jogar no profissional, era necessário ter pelo menos 20, 21 anos. Não é como agora que há garotos despontando cada vez mais cedo e lançados aos profissionais de suas respectivas equipes. Então, a gente tinha que fazer um vestibular, que era passar pelo infantil, juvenil, amador, até chegar nos profissionais, a faculdade de todo atleta de futebol. Mas foi em maio de 1951, na Vila Belmiro, não havia Centro de Treinamento. Neste dia eu marquei um gol na baliza de entrada do estádio. Lembro que foi um belo chute de fora da área e fiquei muito feliz em ter pisado no palco sagrado dos craques do Santos. Depois indo embora, o Salu me chamou e disse:”Pepinho, eu vou ficar com você. Traz os seus documentos que eu vou te cadastrar e você será jogador do infantil do Santos”. Poxa, foi um dos dias mais felizes da minha vida!

O senhor pode nos contar como foi sua estreia no dia 23 de maio, partida diante do Fluminense, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo?

Foi a minha primeira experiência no time do Santos. Eu já vinha me destacando na equipe profissional e na mista, pois naquela época, era comum quatro ou cinco atletas profissionais jogarem também na equipe mista. E aí, teve um treinador italiano que passou um curto período no comando da equipe chamado Guiseppe Ottina, que me viu jogar, gostou e me lançou na equipe profissional contra o Fluminense, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São. Eu, lógico, fiquei extremamente feliz, pois ia enfrentar Castilho, Pinheiro, Pinga, Bigode, Telê Santana, Didi, ou seja, um timaço, e faltando uns 20 minutos para terminar o jogo e eu entrei em campo. Foi assim a minha estreia, algo inesquecível para mim!

Como surgiu o apelido de Canhão da Vila?

Tudo começou na Mota Lima, que era uma rua do bairro de São Vicente, na Região Metropolitana da Baixada, em que morávamos. Nesse bairro, jogávamos em um time que era considerado muito bom. Os jogos eram descalços e o chão era uma areia muito fofa chamada por nós de areião, Era nosso estádio. De cada lado, lógico, bambus representavam as traves e por ter um chute forte, eu vivia derrubando o travessão (risos). Certa vez, deu um chute tão forte, mas tão forte, que o travessão caiu na cabeça do Cobrinha, o mesmo goleiro que me levou para fazer um teste no infantil do Santos. Quando eu calcei as chuteiras e comecei o processo de adaptação e a me habituar com a bola, percebi a força que o meu chute começou a alcançar. Nas equipes de base fiz muitos gols de fora da área e de faltas, que eram o meu forte. Um radialista de Santos chamado Ernani Franco, que tinha uma voz impecável e era muito ouvido, começou a me chamar de Canhão da Vila. Mas o meu chute era muito forte mesmo, e você e os leitores do Vozes da Bola conseguem imaginar a velocidade de um carro a 120 quilômetros por hora? Pois é, era o meu chute! Mas velocidade, drible e chute forte, eram as características que um ponteiro precisava ter para se destacar naquela época. O meu drible era razoável, mas o chute era uma potência que foi aos poucos sendo aprimorado em treinamentos e em muitas conversas com Jair Rosa Pinto. Foi meu companheiro de clube e me ensinou a bater de três dedos na bola. Modéstia à parte, não existe no futebol brasileiro até hoje, jogador que tenha feito mais gols de falta como eu marquei.

Podemos dizer que dentre as partidas importantes em sua carreira, a segunda do Mundial Interclubes de 1963, diante do Milan, no Maracanã, foi a mais marcante?

Sem dúvida. E por vários aspectos. Na Itália, o Santos havia perdido por 4 a 2. Nós, então, tínhamos que reverter esse placar porque era decisão do Mundial de 63 e preferimos jogar no Maracanã por se tratar de um grande estádio e com dimensões maiores do que as dimensões da Vila Belmiro. E se fôssemos jogar no Pacaembu, os corintianos, palmeirenses e são-paulinos iam torcer contra, pois naquela década, o clube não tinha tantos torcedores como têm hoje. Além de enfrentar o excelente time do Milan, tinham os torcedores adversários. Jogar no Rio de Janeiro, se não me engano, partiu do Lula, nosso treinador, que segundo a sua ideia, os torcedores do Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco, torceriam a nosso favor e nos ajudariam a reverter esse placar. Sabíamos que nossa missão não era nada fácil e terminamos o primeiro tempo perdendo por 2 a 0. No intervalo, o nosso treinador deu uma preleção e disse: “Eu acredito em vocês e vamos reverter isso!”. Mas todos do elenco santista sabiam que ganhar aquele jogo era ‘improvável’. O time dos caras era ótimo. E para piorar, uma chuva torrencial caiu no Rio de Janeiro. Mas vou te contar um segredo: foi essa chuva que nos beneficiou, sabia? Eu me aproveitei disso e como chutava muito forte, marquei dois gols de falta no grande goleiro Ghezzi, que foram o primeiro e o quarto, respectivamente, na goleada por 4 a 2 contra o super Milan Ganhamos sem Zito, Pelé e Calvet, que estavam contundidos. E fomos para a terceira partida decisiva, novamente, no Maracanã e vencemos com gol de pênalti do falecido Dalmo, criador da paradinha, nos sagrando bicampeões mundiais. Um ano antes, havíamos vencido o Benfica, que diferente do Milan, era um time que jogava e deixava jogar, com craques como Eusébio, Simões, Torres e etc. Mas vencer o poderoso Milan, equipe forte, com marcação cerrada e jogadores que chegavam duro nas jogadas, teve um sabor especial, sem dúvida! Particularmente, acho que essa vitória é até hoje a maior da história em 109 anos de existência do Santos Futebol Clube por tudo o que aconteceu nestes 270 minutos da decisão.

É verdade que, mesmo, às vezes, sendo caçado em campo por marcadores violentos e maldosos, o senhor jamais foi expulso de campo, e por essa rara disciplina recebeu o troféu Belfort Duarte?

Verdade. Foi um troféu conquistado por disciplina, pois para ganhar essa honraria era necessário não ter sido expulso e eu nunca fui em toda minha carreira. Foram 750 partidas pelo Santos, mais 42 na Seleção Brasileira e nunca recebi um cartão vermelho em toda minha vida como atleta profissional. Mas me orgulho muito de ter recebido este prêmio, pois no futebol brasileiro são três ou quatro jogadores, no máximo, que receberam este troféu. Agora, como treinador é difícil receber este prêmio (risos). Porque você fica muito dependente de jogadores e passa a não depender de si próprio. Mas como treinador eu não ganharia o Belfort Duarte. Na verdade ninguém ganhará! Mas é um prêmio que eu guardo com carinho aqui em casa até hoje. Significou um marco na minha carreira de lealdade, de honestidade, e principalmente, de disciplina.

O senhor foi convocado para as Copas do Mundo de 1958, na Suécia, e 1962, no Chile, mas se machucou nas vésperas das duas Copas e não pode atuar em nenhuma partida nestes dois primeiros títulos mundiais da Seleção Brasileira. Queria que falasse das contusões e se não ter disputado as Copas do Mundo foi a maior tristeza na carreira?

Sim, me machuquei no Santos na véspera da Copa de 58, e quatro anos depois, tive a infelicidade de me machucar também. Um jogo contra o País de Gales. Estava me preparando para ser o titular da seleção, pois os treinadores Vicente Feolla em 1958 e Aymoré Moreira em 1962, gostavam muito de ponteiros ofensivos e jogando no Maracanã senti um estiramento na panturrilha. E por ser uma competição curta, fiz o tratamento à base de gelo e compressa de água quente, considerados remédios da época. No quarto jogo, quando faltavam dois para o término da competição, eu melhorei, mas era um risco jogar dessa forma, pois se o atleta se machucasse, teria que jogar sem um jogador. As substituições eram bem diferentes de hoje em dia. Até mesmo o número de jogadores no banco de reservas era reduzido. Mas o Aymoré Moreira, que adorava o meu futebol, preferiu não correr o risco e manteve a equipe que vinha ganhando com o Zagallo na ponta-esquerda.

“Eu sou o maior artilheiro da história do Santos, porque o Rei Pelé não conta, ele é de outro mundo”, disse o senhor certa vez ao ser questionado sobre os seus 403 gols, o que o torna o segundo maior artilheiro da história do Santos. O que representou ter feito tantos gols com a camisa do Peixe?

Fazer tantos gols em uma equipe apenas é um feito histórico. A gente sabia que o Pelé era o maior jogador de todos os tempos e era o grande artilheiro com seus 1.282 gols. Eu, com meus 403 gols, me sentia extremamente feliz. E quando eu falo disso, o Pelé até ri, mas eu me considero o maior artilheiro do Santos mesmo, pois o Rei não conta (risos). Eu lembro como se fosse hoje quando o Pelé, ainda menino, chegou para fazer teste no Santos. Curiosamente, eu estava nesse dia na Vila Belmiro, e o Waldemar de Brito se virou em minha direção e me apresentou o Pelé: “Pepe, estou trazendo esse garoto para fazer teste aqui no clube e tenho certeza que vocês vão gostar do futebol dele”. O Pelé apertou a minha mão com tanta força que quase quebrou meus dedos. Ele chegou estreando o seu terno azul marinho e calças compridas, e o Lula quando viu aquele menino treinar ficou boquiaberto e profetizou: “Meu Deus, o que é isso? Esse vai ser o maior jogador do Brasil!”. Errou. Pelé se transformou no maior jogador do mundo!

O que o senhor lembra daquele 3 de maio de 1969, diante de um público de 22. 810 espectadores, quando deu adeus à carreira de jogador junto a torcida santista com uma volta olímpica no gramado da Vila Belmiro antes da partida entre Santos e Palmeiras, vencida pelo visitante por 1 a 0?

No Santos, os dirigentes do clube gostavam muito de mim por vários motivos, como nunca ter sido expulso, ter sido um jogador que só deu alegrias à torcida santista, e por ser um atleta disciplinado. Mas o contrato era de um ano e surgiam naquela época, dois pontas-esquerdas de muita categoria que eram o Edu e o Abel. Mas foi emocionante dar a volta olímpica, ser aplaudido de pé pela grande torcida do Santos, e ouvir de muitas pessoas o apelo para não parar de jogar. Mas te confesso, sem arrependimento algum, que foi a decisão certa, pois em seguida me tornei treinador respeitado e com uma carreira vitoriosa no próprio Santos, no São Paulo, Fortaleza, Inter de Limeira, Athletico Paranaense e Verdy Kawasaki, do Japão. Sem contar que uma das maiores alegrias, foi ouvir, certa vez, do renomado treinador Pep Guardiola, que aprendeu muito comigo quando foi meu jogador no Al-Ahli, do Qatar.

Em 1973, o senhor já era treinador e dirigiu a grande equipe que conquistou o título paulista, o seu primeiro como treinador e o último da carreira do Rei Pelé. Como foi viver essas duas emoções em um único ano?

Fomos campeões em 1973 e era o treinador da equipe. Os diretores haviam observado que eu era querido no clube e com um bom relacionamento com todos, desde os faxineiros, passando pelos jogadores e seus torcedores, até a imprensa. Deram-me esta oportunidade e quebramos um longo jejum com a conquista do título. Foi meu primeiro título, e aos 38 anos, mantive-me incentivado pelos desafios que surgiriam dali por diante. E as coisas aconteceram. Poder fazer com que a minha família pudesse, por meio do meu trabalho, conhecer países e culturas diferentes, foi recompensador. Por onde trabalhei, exigia nos meus contratos a presença da minha família por perto.

E o que o senhor tem a dizer sobre o Pelé? Na sua opinião, é o maior jogador de todos os tempos?

Depois que o Pelé nasceu, ‘seu’ Dondinho e ‘dona’ Celeste rasgaram a fórmula do sucesso e nunca vai aparecer um jogador como ele foi. De vez em quando aparece algum bom jogador, não preciso citar nomes aqui, pois foram vários grandes craques surgidos antes e depois do Pelé, mas igual ou superior, nunca vai existir. Pelé era completo. Batia com a perna direita e com a esquerda tendo a mesma precisão, exímio cabeceador, impulsão, chute, velocidade, visão de jogo, sabia fazer lançamentos, gols e dotado de uma categoria inigualável. O mundo conheceu jogadores excepcionais como o Puskás, Eusébio, Di Stéfano, Bobby Charlton, Beckenbauer, Cruyff, Rivellino, Zico, Maradona, mas o Pelé está degraus, eu disse degraus, acima deles todos.

Quando o senhor treinou o Al-Ahli, do Catar, entre 2003 e 2005, orientou o espanhol Pep Guardiola, que se mostrou interessado pela história do Santos bicampeão mundial de 1962/63. O senhor tinha certeza de que o Pep Guardiola se tornaria um ótimo técnico e adepto do futebol ofensivo?

Ele era bem jovem e havia jogado contra o Santos algumas vezes. Percebi o quanto ele jogava bem. Depois, o tempo passou, ele amadureceu mais como jogador e era um cabeça de área que entregava muito bem a bola para os meias criarem as jogadas ofensivas. Certa vez, tomando um chá na companhia do meu filho e do sheik que me perguntou: “Do you want to have Pep Guardiola on your team?” (Quer o Guardiola no seu time?”) Eu respondi: “Can bring it to tomorrow!” (Pode trazer ele para amanhã!). Dito e feito. Na semana seguinte, lá estava ele conosco. Lembro que na apresentação, ele me disse que havia escutado falar de mim e que eu tinha um chute forte e coisa e tal. Começamos a trabalhar e nossa equipe era modesta, sem grandes nomes ou jogadores de seleções. Guardiola se tornou um líder do time. Eu achava curioso que ele era um jogador de meia cancha, um volante de contenção, que jogava à frente dos zagueiros como brilhantemente faziam o Clodoaldo e o Dunga. Mas ele fazia bem essa função e entregava muito bem a bola para os meias criarem as jogadas de perigo do nosso time. Foi um sucesso sua participação na equipe e depois já se tornaria um excelente técnico, sendo considerado o melhor técnico do mundo, sem esquecer que aprendeu muito com meus ensinamentos.

Em 2012, o senhor lançou um livro de memórias, com o título “Bombas de Alegria, meio século de memórias do Canhão da Vila”, no qual conta histórias curiosas do futebol. Sua biografia foi escrita por Gisa Macia, sua filha, formada em jornalismo, não é mesmo?

Fui incentivado pelo José Luiz Tahan, editor da revista Mais Santos, a lançar um livro sobre a minha vida. E assim foi feito, com passagens extremamente curiosas, casos interessantes no futebol, O livro tornou-se um sucesso. E como tenho, graças a Deus, uma memória muito privilegiada, convidei a minha filha e jornalista Gisa Macia para escrever o livro que conta um pouco do que vivi dentro das quatros linhas como atleta profissional e à beira delas como treinador. Confesso que a biografia ficou muito boa, pois a Gisa Macia, além de minha filha, é muito inteligente e muito capaz nas coisas que se propõe a fazer. Foi um projeto bem bacana, onde viajamos bastante para o lançamento do livro e até hoje somos convidados a fazer o relançamento da biografia em determinadas cidades. Onde o Pepe vai, em companhia da sua filha Gisa, é sucesso total (risos). O maior barato disso tudo é que a curiosidade parte mais dos torcedores de outros clubes, e não somente os do Santos.

Como tem enfrentado o isolamento social em razão da Covid-19?

Eu estou com 86 anos e não é apenas em virtude da minha idade, mas é bom evitar riscos. A pandemia requer muito cuidado, e os meus quatro filhos, e a minha esposa, não permitem a minha saída. Mas quando alguns de seus colegas jornalistas querem fazer o trabalho deles comigo, tem que vir aqui em casa e me entrevistar, é lógico que mantemos o distanciamento usando máscaras e álcool em gel a todo momento. Mas sem máscara, nada feito, pois existem alguns irresponsáveis que não utilizam, e eu não largo a minha em hipótese alguma. A CBF mandou três máscaras para os campeões mundiais, e a gente vai usando sempre que pode. Achei uma atitude muito bonita por parte do órgão maior do futebol brasileiro fazer isso em um momento delicado como o que estamos vivemos.

Como o senhor definiria Pepe numa única palavra?

Decisivo. Às vezes, eu não estava em uma boa jornada, era muito vigiado pelos marcadores e encontrava dificuldades dentro de campo. E aí, eu resolvia tudo com um ‘foguete’ de fora da numa distância de 40 metros. O radialista Ernani Franco narrava, deste jeito: “Pepe não estava em um grande dia, mas decidiu a partida com um canhão”.

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