por Valdir Appel
Em 1971, o técnico do Vasco era Paulo Amaral.
Quarta-feira contra o Olaria, no Maracanã, sofremos para empatar sem gols com o time da rua Bariri, que fazia um primoroso campeonato carioca.
Os geraldinos passaram o jogo inteiro atrás do banco de reservas do Vasco, admoestando o careca Paulo, chamando-o de burro e incompetente.
Naquela noite, os reservas tiveram trabalho redobrado, segurando e tentando convencer a dupla:Paulo Amaral e Hélio Viggio a não pular o fosso do Maraca e partir pra cima dos desafetos torcedores vascaínos, insatisfeitos com o desempenho do seu time.
Sorte dos torcedores!
Após o jogo, saímos cabisbaixos e silenciosos do Maracanã. O ônibus cruzmaltino nos conduziu lentamente em direção a Lagoa Rodrigo de Freitas, retornando para a concentração na sede náutica.
No trajeto, ainda no Rio Comprido, um karman-ghia emparelhou junto ao ônibus e os seus dois ocupantes passaram a nos xingar, e em especial o nosso técnico, que se manteve impassível, sentado no banco da frente, ao lado do Hélio Viggio.
Durante todo o percurso, os encrenqueiros nos ultrapassavam, diminuíam a velocidade, encostavam de novo e prosseguiam nos importunando.
Sem saber o nosso destino, o carro que ocupavam parou exatamente na esquina da sede náutica, para que o carona descesse. Paulo, não desperdiçou a oportunidade, gritando para nosso motorista:
– Ivo, fecha aquele carro!
Paulo e Hélio saltaram rapidamente.
Antes que os dois assustados rapazes tivessem tempo de reagir, Hélio já estava com seu pé direito plantado no peito do carona, puxando-o para fora.
Tentativa inútil porque as mãos o puxavam e o pé o empurrava.
Do outro lado, o piloto foi arrancado pela janela e levou uns cascudos inesquecíveis do Paulo Amaral.
De dentro do ônibus, presenciamos tudo, com um indisfarçável sorriso de aprovação.
Ficamos com a certeza de que aqueles dois teriam muita história pra contar depois daquele episódio e se transformaram em gente boa.
Muito boa!
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