ALMIR, O CAPITÃO DO COXA EM 85
por Eduardo Lamas
Quando eu e o cinegrafista Fernando Gustav fomos em outubro de 2019 a Governador Celso Ramos, cidade da região metropolitana de Florianópolis, para entrevistar o ex-centroavante do Palmeiras Toninho, ele nos sugeriu convidarmos Almir, volante do São Paulo e do Coritiba, que eu tinha visto jogar muitas vezes pela televisão e algumas no velho Maracanã. Só que Toninho tinha perdido os contatos do amigo que mora na mesma cidade. O tempo, outras entrevistas e a pandemia passaram até que finalmente consegui falar com Almir. Para minha sorte, antes do feriado de 7 de setembro, ele viria a Florianópolis e assim pudemos agendar a gravação deste ótimo papo que você agora pode assistir.
Quando entrei em contato com Almir, ele chegou a propor que fizéssemos a entrevista na Praça Renato Ramos da Silva, na divisa dos bairros do Estreito e Balneário, onde ele disse que “tudo começou”. Foi naquele local que ele e os irmãos deram seus primeiros passes, chutes, nos tempos do campo do Beira Vala (qualquer menção ao Beira Rio não é mera coincidência). Como o tempo não estava firme (e por aqui muitas vezes temos as 4 estações no mesmo dia), achei melhor buscar um lugar fechado e Rael Braga, do Clube do Bola Sports Bar, em Coqueiros, nos abriu as portas para fazermos a gravação.
A conversa fluiu naturalmente, com Almir contando sua história com alegria e emoção. Ele falou sobre sua relação com a bola e seus irmãos Tonho, ex-Inter e Grêmio, e Sérgio Gil, falecido precocemente, aos 18 anos de idade, quando já tinha um início promissor no Corinthians; o timaço do São Paulo que conquistou o bicampeonato paulista em 80 e 81; o surpreendente Coritiba campeão brasileiro de 85 e outros episódios de sua vitoriosa carreira.Curiosa e coincidentemente, alguns dias depois deste papo tive de ir a um cartório e, após ter batido no endereço errado e receber uma gentil explicação de como ir ao lugar certo por um funcionário do prédio aonde fui, acabei parando justamente na Praça Renato Ramos da Silva. Como descobri que era aquele o local onde Almir e seus irmãos começaram a jogar bola ainda na infância? Porque a rua do cartório que fica bem ao lado da praça se chama Sérgio Gil.

ISSO AQUI NÃO É VASCO
por Marcos Eduardo Neves

No clássico entre Vasco x Sampaio Correa, deu a lógica. O Vasco não tem, hoje, equilíbrio emocional para disputar decisões. Ainda assim, o Vasco vai subir. Clube que lidera o ranking dos grandes que mais caíram, o Vasco vai voltar.
Foram – até agora, claro – quatro rebaixamentos, o que o faz superar Botafogo, Grêmio e Fluminense (este último, com direito a asteriscos). Todos, porém, vice-colocados no bizarro recorde, por terem sido rebaixados três vezes.
Mas o que importa é que o Vasco vai voltar. Para alegria dos vascaínos. E dos flamenguistas, palmeirenses, tricolores, corintianos, santistas. Acho até que de quem é Fortaleza. Se bobear, alegria até mesmo de cruzeirenses e gremistas.
Mas a volta do Vasco abalará muitos clubes. Como Botafogo, América-MG, Goiás, Bragantino, Coritiba, Ceará, Atlético Goianiense, Cuiabá. Acredito que somente Juventude e Avaí estejam mais aliviados. Por não o terem como adversário no ano que vem.
O Vasco voltará, talvez amanhã ou na próxima rodada, deixando saudades. Nos torcedores da Tombense, do Brusque, Novorizontino, Operário, CSA, Ituano, Londrina, Vila Nova e por aí vai. O próprio Sampaio Corrêa sofrerá: sua torcida amava encarar o Vasco em casa; imagina ganhando deles fora, com o país inteiro vendo. São muitas famílias felizes.
Cada vez mais, a SAF é a salvação bíblica, a âncora a que a Cruz de Malta precisa se agarrar em fé. Se o Botafogo briga pela Libertadores em seu primeiro ano após subir, por que não o Vasco em 2023?
Porquê que também questiono. Não sei a resposta. Sei que árduo será o caminho de preparação para que o Vasco volte a ser do nível de Flamengo, Palmeiras, Fluminense, Corinthians, Atlético Mineiro ou o Paranaense. Clubes que não estão nem um pouco preocupados com esse mais novo retorno do clube grande ioiô.
Preocupado quem tem que ficar, desculpe ser sincero, é quem é Vasco.
VASCO DA GAMA NÃO NAVEGA NA CALMARIA
por Celso Raeder

O primeiro gol do Vasco foi o prenúncio de que algo muito estranho estava prestes a acontecer. Como virar uma partida em que o time já começa ganhando? E o que fazer diante de uma torcida que não está acostumada a explodir de alegria tão cedo, logo após o minuto de silêncio? Se Caetano Veloso tivesse assistido ao jogo contra o Sampaio Correia, diria: “Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”.
Qualquer vascaíno que passou o ano inteiro gritando, se emocionando, empurrando o time, sabe que aquele gol do Anderson Conceição era pra ter sido marcado aos 43 do segundo tempo, incendiando o estádio até o desfecho apoteótico com o gol do Andrey, já nos acréscimos. Tem sido assim ao longo de praticamente todo o campeonato, com o Vasco reafirmando sua vocação de Time da Virada, quando o juiz já está com o apito na boca apontando para o meio de campo.
Quem mandou o Figueiredo fazer aquele cruzamento magistral na cabeça do Anderson Conceição aos quatro minutos do primeiro tempo? Só para fazer o time esquecer que o Sampaio Correia já tinha metido três gols no Tiago Rodrigues no primeiro turno? Quando veio o empate, aos 15, a torcida, o técnico Jorginho e os jogadores estavam seguros de que recuperariam a vantagem no placar no momento que quisessem. Sobrava tempo para isso.
Foi aí que o barraco desabou. Por que o Vasco só arranca vitórias nos momentos em que está sob intensa pressão psicológica. Sua força nasce da adversidade. E jogando em casa, com arquibancada lotada, com um retrospecto invejável de bons resultados em São Januário, não passava na cabeça de ninguém que algo fosse dar errado. Mas deu.
Não sei o que vai acontecer logo mais, com a combinação de resultados entre os jogos dos times que também disputam uma vaga na elite do futebol brasileiro. Talvez o Vasco se classifique por antecipação, tornando o jogo contra o Ituano mera formalidade. Mas, sinceramente, torço para que isso não aconteça.
Gabriel Pec, o menino criado no Vasco, não enxugará as lágrimas na tabela. Ele quer o suor do rosto consagrando seu trabalho. Nenê, que não precisa mostrar mais nada a ninguém, também não se acovardará diante da missão. Yuri Lara entra com uma perna só, se for necessário. Alex Teixeira, Eguinaldo, Tubarão, titulares e reservas prontos para entrar em ação. Vitória do Vascão, vitória de virada em Itu, como deve ser.
E a torcida do Vasco, ah, essa galera diferenciada que mata de inveja os outros clubes…pra que chorar? Não empurramos esse time para cima da tabela com alegria e paixão? Por que seria diferente justamente na última e decisiva partida? Da minha parte, só tenho um único pedido: Figueiredo, mete um golaço consagrador para compensar essa mudança de roteiro que você, involuntariamente, provocou com o gol do Anderson Conceição. Jogar na zona de conforto é uma calmaria que o Almirante da Colina, acostumado a tormentas, não sabe navegar.
O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO 03: AS DATAS FIFA
por Luis Filipe Chateaubriand

Datas FIFA são datas reservadas aos jogos de seleções, e parece razoável que, quando seleções jogam, clubes – ao menos os principais – não devem jogar.
As Datas FIFA ocorrem, normalmente:
· No primeiro fim de semana de Março, e meios de semana anterior e posterior.
· No primeiro fim de semana de Junho, e meios de semana anterior e posterior.
· No primeiro fim de semana de Setembro, e meios de semana anterior e posterior.
· No primeiro fim de semana de Outubro, e meios de semana anterior e posterior.
· No primeiro fim de semana de Novembro, e meios de semana anterior e posterior.
Então, essas 15 datas são reservadas para amistosos e certames de seleções, e os clubes principais não devem jogar.
É o que acontece?
Em todo mundo civilizado do futebol, sim.
No Brasil, não.
No Brasil, o que acontece é que em algumas Datas FIFA não há jogos dos clubes principais, mas na maioria das Datas FIFA há jogos dos clubes principais.
Então, ponto importante para que se tenha um calendário racional: nas Datas FIFA, clubes que disputam o Campeonato Brasileiro Série A e que disputam o Campeonato Brasileiro Série B não jogam.
Assim, nem os clubes ficam desfalcados por jogadores cedidos às seleções, nem as seleções jogam desfalcadas de jogadores que ficam nos clubes.
LENDA VIVA
por J Maurílio Paixão

Lenda é uma estória inverossímil que tornamos verídica por acharmos que é o ideal para relatarmos a outras gerações.
No caso de Pelé, a lenda e a realidade se misturam.
Como todo rei dos primórdios do mundo, Pelé é exaltado por suas façanhas, algumas nos levam a crer que realmente lenda e realidade andam juntas quando se trata do maior jogador que o mundo já viu.
Quem em seu tempo jogando futebol foi expulso de uma partida e retorna logo em seguida; com o detalhe de trocarem o juiz para que sua majestade não fosse mais incomodada em campo? Quem senhores, quem?
Quem em seu tempo parou uma guerra na África para que os dois povos pudessem ter o privilégio de ver em campo o Deus único desfilar sua realeza futebolística? Quem senhores, quem?
Este súdito leal viu esta lenda dividir verdadeiras obras primas nos gramados com vários parceiros.
Vi Pelé e Coutinho, Pelé e Toninho Guerreiro, Pelé com Nenê, Pelé e Edu, Pelé e Tostão.
Via e não acreditava. Como alguém podia ter tamanha desenvoltura técnica em campo. Sua dinâmica era ininterrupta em direção ao gol.
Agora entendo quando um famoso jornalista esportivo inglês disse: – “Pelé nunca jogou em Wembley” o que fez seu interlocutor dizer com pesar: – “azar de Wembley”.
Pelé quando menino no reino distante de Bauru, adquiriu os fundamentos do futebol com outro herói mitológico de sua época. Começou sendo Pelé-Zizinho, pois com ele aprendeu a técnica e a coragem de enfrentar os marcadores.
Críticos de ontem e de hoje insistem em comparar mestres e foras de série com divindades, então me permito fazer este exercício de comparação, lembrando que futebol só é completo quando o fundamento técnico é completo, logo comecemos as comparações:
Garrincha um semi Deus “quase” completo. O corpo se projetava com malícia pra esquerda e ao mesmo tempo o arranque fatal pra direita. Sempre, sempre pro mesmo lado.
Dom Diego Maradona? Onde estão teus chutes de direita? Onde estão teus cabeceios, tuas matadas?
Crüiff, quem pensa que é com este futebol mecânico e esquemático?
Euzébio tinha belas arrancadas, mas cadê teus dribles inversos? Tuas tabelas? Cadê o corte fatal e conclusivo em teus adversários?
E tu Di Stefano? Tinha os fundamentos, porém, faltava o principal, a magia no conduzir, a magia de inventar. Faltava também jogar em outros continentes, pois era reconhecido apenas na Europa, enquanto que o Deus da bola jogou e ganhou em todos, disse todos os continentes.
Pelé disse em uma ocasião que se jogasse no futebol atual faria mais de 2.000 gols. Os incrédulos de plantão, os burocratas, os profissionais do ramo que chamam jogadores de “atletas”, duvidam que ele fosse capaz de tal façanha.
Pelé simplesmente deu seu veredicto:
– No tempo que joguei não existia cartão amarelo. O jogador que me marcava, puxava, rasgava o meu calção e camisa e nem advertido era. O time que jogasse contra o Santos do meu tempo com as regras disciplinares de hoje, terminaria com seis jogadores.
Imaginem a quantidade de gols que o maior de todos faria em cada partida.
Palavra de rei, vassalos.
Pena o homem ainda não ter inventado a máquina do tempo. Várias vezes imaginei isto:
Pelé com 25 anos e todos estes monstros da bola também com 25. Cada um poderia escolher os jogadores do seu time para um duelo. Duelo este que definiria quem é o melhor.
Que covardia seria!
Comparemos com o que mais reclama esta majestade única:
Quem tu escolhe Dom Diego Maradona pra jogar do teu lado?
Quem sabe poria novamente a seleção de 86? Jogaria com Burruchaga? Jogaria com Valdano? Dou uma colher de chá, ok?
Misture junto alguns de 78, muito melhores que estes de 86. Coloque aí um Passarella na defesa, um Fijoll no gol. Será que assim seria adversário?
Isto em seleção, porque em time você só jogou em um que ganhou algumas coisas. O Napoli.
E você Rei?
Escolha. Quem sabe o time do Santos de 62? Mas como você mesmo disse, no lugar do Mengálvio o Jair Rosa Pinto bem mais técnico e conclusivo.
Na seleção seria covardia com Dom Diego.
O rei teria a sua disposição jogadores que não tiveram a honra de compartilhar jogadas com ele, entre eles, craques do quilate de Romário, Zico, Ronaldo e por aí afora.
Junte a essa esquadra um Rei com 25 anos.
Desculpe senhores foras de série não brasileiros. No confronto entre clubes ou em disputas de seleções, o Rei seria ainda mais Rei.
Só posso concluir que Pelé foi o que foi devido ao amor que nutria pelo futebol. Só quem ama o que faz com tanta intensidade pode ser tão perfeito.
Pelé era completo nos fundamentos, daí a divindade.
O drible desconcertante, o arranque, os olhos antevendo a jogada seguinte e o arremate impiedoso, cruel, implacável.
Hoje devemos sim orar pelo Deus Pelé.
Um Deus sem tempo definido. Um Deus que vale por todas as eras. Um Deus encravado na memória do que o futebol já teve de melhor.
Não oremos para o santo cristão.
Devemos orar pelo Deus pagão que tinha como missão infernizar as defesas adversárias.
Salve Rei, Deus da bola.
Ainda hoje passados 82 anos o melhor do mundo, porque o mundo do futebol se dividiu.
Assim como aconteceu com a humanidade. Antes e depois de Cristo, assim foi com o futebol AP e DP. Antes e depois de Pelé.