APOSTA NO ANCELOTTI?
por Elso Venâncio

O astral mudou com a chegada de Ancelotti à CBF. Mas, isso só foi possível com a troca de comando no futebol brasileiro. Como num toque de mágica, o ambiente ficou descontraído e confiante. Os colaboradores da entidade viviam acuados, amordaçados, inseguros e espionados. Agora, aguns chegam a postar fotos com o técnico italiano no Instagram, algo antes impensável. Rodrigo Caetano, que nunca esteve à vontade em seu cargo, está com nova postura, a ponto de opinar e influir nas convocações. Até faz lembrar Ricardo Teixeira, que exigia ver a lista de convocados, além de ter poder de veto. Acho saudável ter um dirigente acima do diretor de Seleções, com poderes e decisões que não desgastem o presidente recém-eleito.
Receber Ancelotti de braços abertos é justo, mas não como se ele fosse a nossa última esperança. O treinador tem um excelente currículo em clubes, mas não é nenhum salvador da pátria.
Ancelotti pode dar certo? Dirigiu, sim, brasileiros no exterior, mas não conhece os que atuam hoje no país, nem a nossa cultura. Aqui, o casamento acaba após a lua de mel. Basta haver um ou dois tropeços. Pelo descrédito dos últimos anos, os desmandos e o mais longo período da história sem títulos mundiais, há uma exaltação exacerbada desde a sua chegada.
A relação dos primeiros convocados de Ancelotti repete nomes que vimos com Diniz e Dorival, promove resgate de veteranos que estavam sepultados, e traz poucas novidades. Foi acertada a decisão de não contar com Neymar, que continua sendo uma incógnita. O treinador teve a habilidade de ligar para o atacante, estancando qualquer tipo de crise. Outro fator positivo foi chamar cinco jogadores do Flamengo, que poderia, já há algum tempo, ser a base do time. Antes do contato pessoal com o grupo, o italiano já conheceu a Granja Comary e marcou presença em alguns jogos de clubes brasileiros, indo aos estádios.
Enfim, começa a era Ancelotti. Na próxima quinta-feira (5), o adversário será o Equador, em Guaiaquil, pela 15ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. No dia 10, quando o treinador completa 66 anos, o jogo será contra o Paraguai, na Neo Química Arena, do Corinthians.
As Eliminatórias, terminam em setembro, tendo Chile e Bolívia ainda no caminho do Brasil. Já os amistosos (Datas FIFA) começam em outubro. Serão 10 jogos até a convocação para o Mundial, com mais dois antes do início do Mundial. Por enquanto, além de buscar a classificação, há o desafio de reaproximar o torcedor brasileiro com a sua maior paixão. Você aposta que Carlo Ancelotti terá sucesso, dirigindo a Seleção Pentacampeã do Mundo?
CAMPO VAZIO
por Marcos Vinicius Cabral

No lugar da torcida, a presença visível e invisível da tristeza. Ao invés do goleiro que salva, uma rede viúva. Na falta dos jogadores, um silêncio que faz um barulho que machuca nas profundezas da alma.
Talvez um campo de futebol seja uma das pinturas mais perfeitas que Deus, o Criador, tenha produzido até hoje.
Ausentes do encanto da torcida, da atmosfera futebolística, do craque que encanta o desencanto de quem trabalhou o mês para comprar o ingresso e ver o time de coração jogar… sorriso de vitória, falta dele na derrota!
Embora haja os enganos da bola que, perversa, busca o chute perfeito, a luta do jogador esforçado compensa o gol perdido. Vencer é bom, competir melhor ainda!
Uma das maiores tristezas na vida de um apaixonado por futebol é, sem dúvidas, observar com os olhos congestionados por lágrimas de um choro que não se pode conter.
Futebol é emoção. É um pertencimento nunca visto em outro esporte coletivo!
A bola é protagonista e os jogadores, às vezes, antagonista no tablado verde.
Mas existe esse vazio, sim. E preenchê-lo é o desafio da humanidade. Fim de semana sem futebol é como o pássaro que canta o mais lindo dos cantos mas está enclausurado numa gaiola.
Deus, perdoe-os pela insensatez e insensibilidade, pois não sabem o que fazem!
O futebol aproxima rivais. Reata relacionamentos. Torna inimigos em adversários e na sua complexidade de ser um esporte universal faz com que, muitos de nós – pelo menos uma vez na vida – cometa uma loucura para ver 22 jogadores correndo atrás de uma bola.
Ah, futebol, te amo há 51 anos. Foi por você que me tornei jornalista, criei vínculos de amizades com gente do meio e ganhei o carinho transvestido de reciprocidade de ex-jogadores de vários clubes.
Tudo passa e tudo passará… todavia, o futebol vai ficar para sempre.
TREINAR PELA MANHÃ? PARA QUÊ?
por Cassyus Marcellus

A ciência já provou: o futebol brasileiro precisa mudar
Enquanto a maioria das partidas da Série A, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana acontece no fim da tarde ou à noite, muitos clubes ainda mantêm treinos regulares pela manhã. O que parece hábito, tradição ou disciplina é, na prática, uma decisão técnica desalinhada com as evidências científicas do esporte de alto rendimento.
A fisiologia, a neurociência e a cronobiologia esportiva demonstram, de forma robusta, que o horário de treinamento impacta diretamente o desempenho, a recuperação e a prevenção de lesões.
O corpo humano funciona em ciclos biológicos que regulam variáveis como temperatura corporal, coordenação motora, excitabilidade neuromuscular, potência muscular, tempo de reação e foco cognitivo. Estudos indicam que o desempenho atinge seu pico quando os treinos respeitam o princípio da especificidade, ou seja, estão alinhados com as exigências reais da competição, incluindo o horário dos jogos. Assim, o organismo está em sua máxima capacidade motora, de força e clareza mental, favorecendo a melhor adaptação do treino para o jogo.
Treinar sistematicamente pela manhã, quando o corpo ainda está em fase de ativação, com temperatura mais baixa e menor atividade do sistema nervoso central, fere esse princípio e prejudica a transferência para o contexto competitivo. Quando a rotina ou a logística se sobrepõem à fisiologia, os prejuízos são claros: aumento do risco de lesões, fadiga acumulada e queda de desempenho.
Por outro lado, clubes que estruturaram suas rotinas respeitando a cronobiologia, com treinos intensos no mesmo período das partidas, reportam redução nas taxas de lesão, maior consistência de rendimento e mais longevidade física dos atletas.
A hora certa de treinar: quando o corpo está pronto para render
A performance no futebol depende de variáveis fisiológicas reguladas pelos ritmos circadianos. Por isso, treinar nos mesmos horários dos jogos — geralmente à tarde ou à noite — otimiza a adaptação neuromuscular, a tomada de decisão sob estresse e a transferência do treino para a competição. Além disso, respeita o ciclo natural de ativação fisiológica, maximizando força, potência e clareza mental.
Em contrapartida, sessões pela manhã exigem esforço elevado quando o organismo ainda está em transição, comprometendo rendimento e aumentando o risco de lesões. Adaptar os horários de treino à realidade competitiva não é apenas uma decisão operacional, mas uma estratégia científica para preservar a saúde, aumentar a longevidade e melhorar o desempenho dos atletas.
Treinar bem não é treinar pela manhã: é treinar com inteligência
No alto rendimento, o treinamento deve priorizar a performance e a integridade física, e não se submeter a convenções ou facilidades logísticas. A cultura de treinar cedo precisa ser revista à luz das evidências científicas. Não se trata de treinar mais ou parecer mais disciplinado, mas de treinar com inteligência, especificidade e conexão com as demandas competitivas.
Treinos matinais podem ser utilizados de forma pontual e estratégica — por exemplo, para sessões de recuperação ativa ou reabilitação — mas não devem ser regra para os treinos principais. Alguns clubes já adotam boas práticas, como reservar as manhãs seguintes aos jogos para sessões regenerativas com crioterapia, equipamentos de compressão, contraste térmico, mobilidade, fisioterapia e trabalhos individualizados. Ainda assim, há casos de sessões inadequadas nesse período, com riscos evitáveis.
Futebol melhor e jogadores com carreiras mais longas
O futebol brasileiro precisa de mudanças estruturais, e a adequação do horário de treino é uma delas. Estudos comprovam que alinhar treinos aos horários dos jogos reduz lesões, amplia a longevidade dos jogadores e melhora a qualidade técnica do futebol.
Essa mudança é um dos pilares de um modelo mais moderno e eficaz de desenvolvimento esportivo. Respeitar ritmos biológicos, investir em estratégias de recuperação e aplicar treinamentos baseados em evidências são atitudes indispensáveis para o futuro do futebol nacional.
Está mais do que na hora de o futebol brasileiro ouvir a ciência, abandonar práticas ultrapassadas e investir em um modelo em que rendimento e saúde caminhem juntos. Porque, no fim das contas, o espetáculo dentro de campo começa fora dele — com planejamento, conhecimento e coragem para evoluir.
Cassyus Marcellus
Pós-graduado, Profissional de Educação Física, Curso superior em Treinamento Físico, ex-jogador de Futebol.
O GOL QUE NÃO QUIS MARCAR
por Zé Roberto Padilha

Jogava no Americano e, no dia 22 de novembro de 1981, fomos encerrar nossa participação no Campeonato Carioca. Em Petrópolis, contra o Serrano.
O empate era bom para os dois: nós garantiríamos nossa vaga na Taça de Prata, e ao Serrano, que estava na moda por causa do gol do Anapolina, que derrotou o Flamengo e deu o título ao Fluminense, o empate em casa bastava para continuar na elite do futebol carioca.
Ao 20 minutos, recebi uma bola na ponta-direita. O lateral-esquerdo, Cândido, veio pra cima de mim. Dei-lhe um drible fuga para fora e levantara a cabeça para procurar o Té, nosso camisa 9, na grande área. Porém, o Cândido não desistiu de mim.
Foi me perseguindo e eu fui me livrando de sua presença nada cândida, correndo em diagonal até a ponta-esquerda. Próximo ao alambrado, só me restou alçar a bola sobre a grande área. E o Acácio, goleiro do Serrano, mal colocado, foi encoberto pela bola.
O estádio Atlio Marotti se calou. Com os radinhos dando outros resultados da ultima rodada, zebras acontecendo e fazendo contas, a tabela foi virando e o que ninguém esperava aconteceu: o Serrano caíra para segunda divisão.
Para nunca mais subir.
Como todo trirriense, que cresceu jogando Futsal contra o Magnólia, adoro Petrópolis. Seu clima, o chope do Dangelo, as torradas da Casa do Alemão e Itaipava é onde, no Bordeaux, sempre tive a melhor das acolhidas. Graças a gentileza de seu proprietário, o Afonso, tenho lançado meus livros em meio ao melhor vinho.
Passados 46 anos, tempo este em que o petropolitano nunca mais viu seus ídolos de perto, coladinho ao alambrado, dava até, na época, para reparar os cabelos brancos que surgiam junto as cabeçadas mortais de Roberto Dinamite, só me resta pedir desculpas. Foi mal, amigos.
Fiz tão poucos gols e não ficaria triste se a história pudesse apagar o único que não quis marcar.
FERNANDO DINIZ E O VASCO DA GAMA
por Luis Filipe Chateaubriand

Este escriba defende o técnico Fernando Diniz como comandante do Vasco da Gama há bastante tempo.
Quem duvidar, dê uma passada no Canal do YouTube do Signatário e faça uma busca por “Luis Filipe Chateaubriand Fernando Diniz”.
Pois eis que Fernando Diniz chegou.
Para mudar tudo no Vasco da Gama!
O time melhorou significativamente o seu toque de bola; os passes são justos, límpidos, perfeitos.
O time é mais aguerrido, disputa a bola “como um prato de comida”, bem diferente da apatia de outrora.
O time tem mais repertório, alterna jogadas pela direita, pela esquerda e pelo meio, como antes não acontecia.
Não restam dúvidas de que Fernando Diniz é um técnico diferenciado.
Psicólogo, humanista, defensor da tese de que quanto mais os jogadores têm a bola, mais gostam do jogo, Diniz tem operado modificações significativas em nosso clube.
Seus conceitos são modernos, inovadores, geram entusiasmo.
Decerto, o time ainda não é a “oitava maravilha do mundo”.
Fruto de concepções ultrapassadas, o time ainda carece de fôlego, decaindo no segundo tempo de jogo — algo que precisa ser repensado.
E Diniz não tem como melhorar o nível da zaga horrorosa que temos.
Mas a evolução é inegável.
Com a paralisação dos jogos de clubes durante a Copa do Mundo de Clubes da FIFA, Diniz terá um período de um mês para trabalhar o time.
Os resultados tendem a ser muito bons.
Pois é: Fernando Diniz tem tudo para fazer sucesso no Vasco da Gama.
Nós, os vascaínos, apostamos nisso com muita esperança.