por Rubens Lemos

Das pernas arqueadas de Leandro nasciam e floresciam jogadas poéticas. Foi o melhor lateral-direito do mundo e excepcional zagueiro de área, mestre no desarme. Sua carreira errática impediu que fosse escalado em qualquer escrete de todos os tempos do futebol do planeta.
Leandro, o Peixe Frito, foi um dos astros do vitorioso Flamengo da década de 1980 e jogava na defesa como um verdadeiro meio-campista, compondo partituras para os seus companheiros. Era tão bom que merecia aplausos de todas as torcidas do país.
Na seleção brasileira do técnico Telê Santana, Leandro afirmou-se como dono absoluto da camisa 2 e anos-luz à frente do segundo colocado, o seu reserva Edevaldo, ex-Fluminense, Internacional de Porto Alegre e Vasco da Gama. Leandro era flor, Edevaldo, fúria.
Ainda nos juvenis do Flamengo, Leandro chamava atenção pela habilidade incomum. Fazia embaixadinhas diante dos atacantes e subia célere ao ataque, fazendo jogadas de efeito e objetivas com o gol por meta de sempre.
Leandro foi o substituto caseiro do excelente Toninho Baiano, do Brasil na Copa do Mundo da Argentina em 1978 e dono de técnica invejável. Toninho jogou no Fluminense e fez parte da primeira leva de supercraques do Flamengo nos anos 1970. Marcava bem e apoiava com vigor e talento.
Depois da conquista do Campeonato Brasileiro de 1980, Toninho já não era o mesmo, sofria de problemas cerebrais que acabaram por mata-lo em um Acidente Vascular Cerebral há mais de 30 anos. O técnico Cláudio Coutinho, que montou a bela equipe rubro-negra, pescou Leandro dos juvenis e o novo ocupante brilhou tanto ou mais que o antecessor.
No ano da graça de 1981, quando o Flamengo conquistou o Mundial Interclubes, a Taça Libertadores da América e o Campeonato Carioca, Leandro imperava como um veterano. Sua categoria invertia a lógica tática: ele era o homem a ser marcado e não o ponta-esquerda oponente. Muitas vezes humilhado por dribles descadeirantes.
Em 1981, Leandro vestiu pela primeira vez a camisa da CBF em amistoso contra a Bulgária em Porto Alegre e saiu como um dos melhores em campo. Sua personalidade abriu caminho para os gols da vitória e assinalavam que ali, numa noite fria, surgia um ídolo além do seu tempo.
Enquanto os demais ocupantes da função preferiam marcar e não subir ofensivamente, Leandro fazia o papel de armador pelo lado direito do campo, ajudando ao camisa 7 Tita e ao meio-campo mágico formado por Andrade, Adílio e Zico.
Com o mesmo brilho, foi fundamental na campanha do tricampeonato brasileiro em 1982 e 1983. Contra o Grêmio, nas finais de 82, caprichou nos avanços que permitiram a vitória fora de casa por 1×0, título chegando no gol marcado pelo aguerrido centroavante Nunes.
No ano seguinte, Leandro foi, junto com Adílio e Zico, o melhor homem em campo na decisão contra o Santos no Maracanã lotado com 155 mil torcedores. Zico bateu com estilo uma falta na cabeça de Leandro que marcou o segundo gol numa vitória soberba por 3×0 diante de atônitos e impotentes jogadores do Santos.
O destino, porém, atrapalhou a vida de Leandro. Na sua história particular, uma separação conturbada da mulher lhe trouxe problemas de saúde e a brilhante atuação na Copa da Espanha serviu como resposta a quem duvidava de sua capacidade. Com o quarteto mágico, Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates, Leandro ficou sozinho pelo lado direito, recebendo a carga adversária em vários lances. Apareceu com luz mesmo assim.
Nome certo para o Mundial seguinte em 1986, no México, Leandro implorava a Telê Santana para atuar como já fazia no Flamengo: na zaga-central. O Mal de Cowboy, as pernas excessivamente arqueadas, causavam sérios danos aos joelhos e ele não se via em condições físicas para ocupar a lateral.
Telê insistia em Leandro na sua posição original até porque o considerava completo e não aceitava a mudança. Para piorar o quadro, Leandro e o amigo Renato Gaúcho exageraram na farra no dia de folga, chegaram atrasados à concentração completamente bêbados. Renato Gaúcho foi cortado e Leandro, mantido.
Inconformado, Leandro não compareceu ao embarque para a Copa, não aceitou os argumentos dos companheiros Zico e Júnior e preferiu a solidariedade ao amigo, além do senso de preservação pessoal ao contrariar Telê. Seus lances estão nos arquivos para quem quiser contemplá-los e se encantar.
O vascaíno Rubens lemos foi cirúrgico em sua análise sobre o camisa 10 da lateral direita Leandro. O peixe frito foi muito acima da média, digo muito acima do “TOPO”, brincava de jogar futebol, fazia o jogo parecer fácil e a bola um brinquedo. Parabéns meu amigo Rubens, você é brabo demais!!!