por Elso Venâncio

Tudo conspirava para um clima tenso na final do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro em 2001. De um lado, o Flamengo buscava o quarto tricampeonato da sua história. Do outro, o Vasco tentava quebrar a série de conquistas do rival e evitar a alcunha de “vice”, já que havia perdido as finais nos dois anos anteriores. Esse foi o contexto que ditou as ações nos bastidores da semana decisiva.
Eduardo Viana, o polêmico Caixa d’Água, que vivia sendo afastado pela Justiça e sempre voltava à presidência da FFERJ, tinha colocado um elevador secreto na entidade, ao qual só ele e o seu forte aliado, Eurico Miranda, tinham acesso. No dia da reunião que definiria o árbitro para a final, o então presidente do Vasco subiu para o compromisso, mas não conseguiu sair, pois o elevador estava fechado com cadeado.
— Abre, abre! — gritava Eurico, desferindo socos e forçando a porta do elevador.
Um guarda recém-admitido estava a postos e respondeu de imediato: “Quem é? quem é?”.
— Sou eu, p*rra! Abre essa m*rda!
A algazarra é ouvida no gabinete do Eduardo Viana, que corre e providencia a saída do presidente do Vasco. Irritado ao encontrar na sala Edmundo dos Santos Silva, então presidente do Flamengo, Eurico vociferou: “Que negócio é esse de começar a reunião sem minha presença?”.
Tentando controlar a situação, Caixa d’Água interfere: “O jogo é à Vera”.
— Se é à Vera, vamos colocar o Léo Feldman — decretou Eurico, o mais poderoso dirigente do futebol brasileiro por pelo menos duas décadas.
Árbitro do Fla-Flu decisivo de 1995, do famoso gol de Renato Gaúcho, e de outras decisões, Léo Feldman de fato foi escalado. Era um árbitro competente, correto e respeitado, o que torna difícil entender como pode não ter sido um juiz-FIFA. Os bastidores do futebol são turbulentos, sobretudo na política da arbitragem, com fatos inexplicáveis.
No Flamengo, a chapa estava quente desde que a empresa ISL foi à falência e deixou um rombo financeiro, diante de astros contratados para o elenco. A situação era mesmo conturbada, a ponto de o meia Petkovic deixar a concentração de um hotel em Copacabana para tomar uns chopes. Voltou tarde, e o supervisor Eduardo Quimello perguntou se ele iria jantar. “Quero cerveja”, respondeu Pet.
O técnico Zagallo havia dormido cedo. Pela manhã, sabendo que a diretoria tinha afastado o sérvio, não aceitou a decisão. Preferiu usar a experiência e conversar com o presidente Edmundo Silva, que chegou com assessores.
— Vocês estão devendo a ele. Pet vai jogar! Eu quero ser campeão! — defendeu o Velho Lobo.
No domingo, 27 de maio de 2001, Flamengo e Vasco voltaram a ficar frente a frente no Maracanã. Uma semana antes, a equipe cruzmaltina havia vencido o primeiro jogo da final por 2 a 1, ampliando a sua vantagem, pois tinha o direito de ser campeão em caso de dois resultados iguais. Mas o Flamengo não se rendeu, abrindo o placar do segundo confronto com gol de Edilson. Juninho Paulista empatou ainda no primeiro tempo, mas Edilson recolocou o Fla em vantagem no início da segunda etapa. Como o resultado parcial ainda dava o título ao Vasco, o drama durou até os 43 minutos. Foi o próprio Edilson quem sofreu uma falta na intermediária, possibilitando que Petkovic cobrasse com precisão. Poucos acreditaram quando a bola entrou no ângulo esquerdo do goleiro Helton. Gol! Flamengo tricampeão, e Pet definitivamente marcado na galeria dos ídolos rubro-negros e na memória do futebol carioca.
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