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VITÓRIA SOFRIDA LEMBRA O TETRA

por Elso Venâncio

Em sua segunda apresentação na Copa do Mundo do Catar, a Seleção teve dificuldades, o que me fez recordar 1994, nos Estados Unidos. Na era das apostas no futebol, houve quem perdeu e ganhou dinheiro duvidando de que Tite deixaria de lado suas origens para jogar ofensivamente, já que nove atacantes foram convocados.

Na estreia, diante da Servia, o treinador soltou o time. Bastou perder Neymar e lá veio outro cabeça de área, contra a Suíça. Fred titular, e não Rodrygo. Logo diante do ferrolho suíço, denominação que vem da década de 1930, quando nosso adversário criou o libero e inventou a retranca. Só jogam dessa forma! Mesmo assim, fomos conservadores, como também foram as alterações feitas com bola rolando.

A derrota de 1982 frente à Itália, na Copa da Espanha, foi muito ruim. Mas o quarto mundial conquistado, com Romário decisivo, deixou sequelas… Os times brasileiros passaram a copiar o esquema campeão, com dois ou três volantes. O clássico camisa 10 desapareceu e os pontas sumiram. Passamos a copiar em vez de seguirmos sendo referência no mundo da bola. Veio o penta em 2002, com direito a três zagueiros, mas os dois Ronaldos juntos com Rivaldo fizeram toda diferença.

Ao contrário do Mundial da Rússia, Tite já utilizou 19 dos 26 convocados. Mas… por que a insistência com Gabriel Jesus? E cadê o Pedro???

Aliás, vendo os inúmeros convidados da CBF no Catar, observo um mais do que especial, que até súmula assina. Ao não escalar o veterano Daniel Alves no lugar de Danilo, Tite reconheceu o equívoco na convocação. Sou contra os plenos poderes adquiridos pelos treinadores. Ricardo Teixeira, em seu tempo, avisava:

– Sou o primeiro e ver a relação. E tenho poder de veto.

O diálogo reduz a possibilidade de erro.

Vamos ousar e unir os talentos. Zagallo deu o exemplo em 1970, na Copa do México. Temos que ser elogiados não pela postura defensiva, mas por nossa coragem de atacar, driblar, fazer gols, mostrar o verdadeiro futebol-arte.

Por isso, torço para que Tite venha a partir das oitavas de final com Rodrygo, Antony e Vinicius Jr. ao lado de Neymar, que ainda sobra em meio a eles e segue sendo o nosso principal craque, e portanto, esperança maior do hexacampeonato.

A COPA DA INTOLERÂNCIA

por Idel Halfen

O processo de escolha das sedes para a Copa do Mundo costuma levar em consideração uma infinidade de variáveis, de forma que sejam equacionados os aspectos financeiros e esportivos, todos dentro de um contexto que contribua para o desenvolvimento mundial. Essa é a tese.

Desbravar novos países, ainda que estejam fora do círculo tradicional, ajuda, entre outras coisas, a popularizar o esporte na região, além de mostrá-la ao mundo. Evidentemente, é fundamental que tal decisão não interfira de forma contundente nas demais estruturas que circundem a economia, o esporte e os direitos humanos.

E no Qatar?

Não há como negar a pujança financeira do país, ainda que exista forte desigualdade social. Também não podemos desprezar que, mesmo sem ser uma potência esportiva no futebol, o país realizou grandes investimentos com o intuito de melhorar.

No que tange às condições climáticas, outro grande desafio, optou-se por marcar o evento para um período diferente do usual nesse tipo de competição, objetivando proporcionar temperaturas menos hostis e assim preservar o nível técnico e a saúde dos jogadores.

Trata-se de uma concessão aparentemente salutar quando se foca o espetáculo, mas que também traz reflexos na economia de forma geral, visto que o evento passa a competir com a Black Friday e com o Natal, datas onde as marcas que já concorrem entre si tanto pelo consumo como pela atenção.

A alegação de que o evento ajuda nas vendas faz algum sentido em relação a alguns produtos, embora o consumo destes provavelmente viesse a ocorrer independentemente da Copa.

Outra situação de concessão por parte da organização aconteceu em relação a Budweiser que, mesmo sendo patrocinadora da FIFA, não pode comercializar sua cerveja com álcool por restrições do país.

Claro que um patrocínio dessa magnitude proporciona muitos outros benefícios à marca. A associação ao esporte, a exposição e as ativações são mais do que suficientes para trazer retorno ao investimento, na verdade, a comercialização é o que menos importa nesse caso, porém, sua proibição pode denotar que a FIFA não dá o devido valor aos patrocinadores.

Mas será que em nome da soberania da nação e diante de tanta intolerância, os direitos dos cidadãos devem ser ignorados? Será que deveria ter tal evento no Qatar?
Perguntas difíceis e que sem acesso às negociações ocorridas deixa qualquer resposta com forte grau de “achismo”.

Entretanto, por mais que seja indiscutível o direito de as nações sediarem eventos, há também que se considerar que sendo um evento global, a busca pelo equilíbrio entre as concessões deve reger as negociações, o que não parece ter havido.

A propósito, os próprios critérios de escolha foram bem nebulosos.

DINAMITE E ZICO

por Rubens Lemos

Quando a gente chora, rompe a represa da alma, lágrimas varrendo mazelas frequentes de tristeza e decepções. É um ato de liberdade indomável. Chorar é renovar a vida e a foto de Roberto Dinamite e Zico me deixou, como banho em cachoeira, entregue ao pranto. A ponto de secundarizar, hoje, a Copa do Mundo.

Roberto Dinamite e Zico, Zico e Roberto Dinamite, porque nos dois não existe ordem direta, foram (com o genial Geovani), os ídolos de minha infância.

O menino que mora em mim reapareceu, como nas tardes de domingo a ouvir no velho rádio de pilha as pelejas de Vasco contra Flamengo, Roberto Dinamite e Zico , que nunca foram combatentes de guerra. Lideravam suas bandeiras com talento, amor, exemplo de convivência de irmandade.

Roberto Dinamite, que conheci no Hotel Ducal em 1982 quando a seleção brasileira jogou em Natal pela primeira vez, está com câncer. Lutando. O homem elegante, alto e forte está magrinho ao desbravar a doença diabólica com o ímpeto dos tempos de invasões de defesa e golaços de voleio, que Richarlison imitou contra a Sérvia.

Era Roberto Dinamite, em seu sorriso triste de Quixote resistente, a compensação pelos meus sofrimentos de viver como cigano involuntário, mudando de cidade em cidade pelas limitações impostas ao meu pai, vascaíno e vítima da decisão complicada de sempre priorizar o idealismo, família vindo como consequência.

Os gols de Roberto Dinamite me aliviavam. Nos clássicos contra o Flamengo, a imagem dele e Zico trocando flâmulas, se abraçando, comemorando vitórias com suas torcidas, sem provocar o povo adversário, desnudavam o caráter excepcional dos dois. Passei a amá-los. Roberto Dinamite e Zico formam a dupla dos meus dias, sonhos e do coração.

Juntos, na seleção brasileira, jogaram 26 partidas em tabelinha afinada. Dos 26 jogos, nenhuma derrota a se lamentar, porque Roberto Dinamite e Zico, Zico e Roberto Dinamite, formavam uma dupla estupenda, que a cegueira dos técnicos Cláudio Coutinho, que barrou Zico em 1978 e Telê Santana, que humilhou Roberto Dinamite em 1982, impediu o mundo de aplaudir.

Nunca mais existirão Zicos e Robertos, Robertos e Zico no mercenarismo dominante do futebol. Eles são amigos, jamais rivais. Adversários pelas contingências da bola, não para ocupar microfones, um acusando o outro.

Zico, de surpresa, transformou seu programa no Youtube em festa de aniversário de Roberto Dinamite, há cerca de cinco anos. Em forma, trocaram gozações e dividiram a comoção e extravasaram o bem que um sente pelo outro.

Minhas rezas impediram que eles se juntassem no Flamengo. Em 1980, Roberto Dinamite no Barcelona, o rubro-negro chegou a fechar a sua contratação com direito a gol narrado de Zico deixando Roberto Dinamite na cara do goleiro para mata-lo.

O falecido Eurico Miranda nos salvou e Roberto Dinamite voltou ao Vasco, fazendo os cinco gols dos 5×2 no Corinthians em Maracanã com mais de 100 mil pessoas.

O gesto de Zico é a saudade que tenho de vê-lo partir em dribles encantados, cortando à direita e à esquerda em convicção sem radicalismos ideológicos.

A política de Roberto Dinamite e de Zico era a felicidade do povo. A minha, eles garantiram e a gratidão é do tamanho do velho Maracanã, o Maracanã das gerais.

A grandeza de Roberto Dinamite e Zico é a consagração da amizade como templo do bem. Zico sabe que Roberto Dinamite vencerá a sua decisão mais difícil. Com os dois, deixo minhas lágrimas de reverência e idolatria. Que Deus os abençoe. Ilumine e amém.

descaso com a vitória

por Zé Mário Barros

Observando os jogos dessa Copa, descobri que os jogadores atuais não têm nenhum compromisso com a vitória. Nenhum compromisso em mudar o jogo. Nenhum compromisso em fazer gol.

É um toque para um lado, um toque para o outro lado. Quando apertados, tocam para os zagueiros, que, se também apertados, jogam para o goleiro que, se pressionados, dão um balão. Caso ninguém vá acossar o goleiro, aí ele domina a bola e toca para um zagueiro, recebe de volta e toca para o outro zagueiro e o Analista de Desempenho chega ao orgasmo quando apresenta os números do jogo do time dele:

Posse de bola: 75%
Passes: 600 contra 200 do adversário.
Chutes a gol: 4
Chutes a gol do adversário: 9
Resultado: 0X0.

Gostaria de saber em que setor do campo o time deu 600 toques na bola. Tocar a bola no espaço vazio até o Ganso está jogando e seria titular em qualquer dessas seleções. De repente até eu conseguiria jogar. Me apertando, jogo para o goleiro e digo que é segurança de posse de bola.
A Espanha enrolou a Alemanha e se enrolou também. Tocam sem tesão para fazer o gol.

Sou saudosista mesmo. Sou do tempo em que quando o jogo estava ruim, a gente, no Flamengo de 1972, jogava no PC Caju e ele resolvia. No Fla de 74, era jogar no Zico. No Santos, jogava para o Pelé. No Fluminense de 75, jogávamos no Rivelino. No Botafogo, Garrincha. Na Argentina, Maradona gritava pedindo a bola que ele resolvia.

É, estou idoso mesmo. O futebol mudou. O futebol brochou junto com a minha idade. Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo, brocharam também e nem têm a minha idade.

Que sejam felizes os torcedores de hoje com o futebol atual.

Feliz daquele que é saudosista de uma geração de Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo, Félix, Platini, Cruiff, Paulo Cesar Caju, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Rivelino, Zico, Leandro, Júnior Capacete, Roberto Dinamite, Zanatta, Dé, Enéas, Leão, Liminha, Marco Antônio, Beckenbauer, Doval, Reyes.

Vou parar por aqui porque tenho mais 500 na cabeça.

Façam bom proveito desse Futebol Moderno.

A COPA DA ZEBRA

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::

Demorou, mas finalmente entrei no clima da Copa do Mundo! Convenhamos que o torneio cai de nível a cada edição, mas me divirto até vendo a seleção do Catar! Não perco nadinha do maior torneio do planeta!

Nesse início, adorei que a zebra andou passeando por aí e é bom as seleções consideradas grandes abrirem o olho para não serem surpreendidas nas próximas fases. O Japão, por exemplo, ganhou da poderosa Alemanha e perdeu para a modesta Costa Rica, que tomou de sete da Espanha. Como explicar?

Por falar na Espanha, não é de hoje que tenho elogiado a equipe treinada por Luis Henrique. Com um toque de bola de pé em pé, tem conseguido envolver os adversários e surge como uma das grandes favoritas para levantar a taça mais cobiçada do mundo. Mesmo desfalcada, a França se apresenta como uma das grandes favoritas ao título!

A Argentina tomou uma virada histórica da Arábia Saudita, se recuperou contra o México na genialidade de Messi, mas não acredito que chegue longe na competição. O Marrocos conseguiu segurar o empate diante da Croácia e venceu a Bélgica por 2 a 0. A mesma Bélgica que eliminou o Brasil na última edição!

Por falar em Brasil, não gostei nada dos dos primeiros jogos. Tudo bem que estamos classificados, mas é um time sem alma, que teve muita dificuldade com duas seleções do baixo escalão da Europa. Se mantiver esse nível, dificilmente chegará à decisão!

Fato é que a Copa do Mundo tem se tornado cada vez mais desinteressante e, em 2026, quando Canadá, Estados Unidos e México vão sediar, a expectativa é que os dirigentes da FIFA enriqueçam ainda mais!

Pérolas da semana:

“Quebrou a primeira linha de marcação e entrou por dentro na diagonal para encaixar suas ideias pragmáticas com consistência e intensidade, tendo leitura de jogo e imposição física”.

“Roubou a primeira bola e aproveitou o embate pegado para atacar a segunda bola, desenrolar uma montanha russa e na disputa por espaço subir a parede na vertical do setor encaixado”.