A CASA DOS VETERANOS
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Passado o Carnaval, finalmente consegui voltar a caminhar na rua sem tropeçar em garrafas ou latas de cerveja e logo fui abordado por um vendedor do quiosque:
– PC, o que achou do retorno do Marcelo ao Fluminense?
Parei para refletir e em poucos segundos consegui montar mais do que um time inteiro de veteranos com Fábio no gol, Fágner, Fábio Santos, Gil, Filipe Luis, David Luiz, Carli, Gum, Felipe Melo, Hulk, Nenê, Diego Souza, Cano, Luiz Adriano e por aí vai! A realidade é que jogar no Brasil virou uma teta e espertos são eles que aproveitam a oportunidade para voltar pra casa!
Sobre o Marcelo em si, acho uma excelente contratação para o futebol carioca, mas não acredito que vá jogar de lateral. Sempre admirei a habilidade dele, mas nunca foi forte defensivamente. Já não é mais um garoto e acho muito difícil atuar numa posição que gera tanto desgaste físico, correndo atrás da garotada.
Por falar nos meninos, li que o Endrick saiu chorando de um jogo do Paulista por estar numa seca de gols. Se Roberto Miranda, Jairzinho e Nilson Dias ficavam algumas partidas sem marcar, o que podemos esperar de um garoto de 16 anos? Uma hora ou outra o gol vai sair e só não podem sacá-lo do time para não abalar a sua confiança!
No fim de semana, também assisti Botafogo x Flamengo! Confesso que as expectativas já não eram altas, mas foi pior do que eu imaginava. Já falei algumas vezes o quanto acho péssimo o fato de pouparem jogador, né? Na minha época, ninguém gostava de ceder a vaga porque tinha o risco do reserva fazer uma excelente partida e virar titular. O que vemos hoje em dia é uma disputa para ver quem vai jogar menos.
Sobre o clássico, sem clubismo, acho que a arbitragem favoreceu o Flamengo ao não dar um pênalti e por anular um gol, que, na minha visão, foi legal. Quero ver o que os “titulares absolutos” do Flamengo vão aprontar depois do papelão que fizeram fora de casa. Tenho muitos amigos flamenguistas que já estão cantando vitória, mas vale ressaltar que o Del Valle tem um time organizado e que pode surpreender amanhã no Maracanã! Vamos aguardar!
Pérolas da semana:
“Marcação alta com ligação direta para atacar por dentro dos espaços ou pelos lados do campo com alas das escolas de samba para desfilarem na passarela do sambódromo ao invés do Maracanã”.
“Time mais encorpado com dinâmica de jogo consistente e intensidade com ritmo vertical ou diagonal dando tapa na orelha ou cara da bola de chapada ou estilingaço na direção da bochecha da rede”.
“Conectar ou encaixar o contra-ataque buscando várias bolas (só existe uma) na partida dinâmica para recalcular a rotação e destravar e jogar espetado”.
Analistas de computadores com linguajar insuportável estão acabando com o prazer de se assistir um jogo de futebol na televisão!
O ÍDOLO SAMARONE
por Elso Venâncio, o repórter Elso

Samarone foi um Ídolo no Fluminense. Chegou ao clube com 18 anos, contratado por 60 milhões de cruzeiros junto à Portuguesa Santista. A moeda mudou, mas pode acreditar, era muito dinheiro! Na época, Carlos Alberto Torres, o ‘Capitão do Tri’, era a maior transação da história do nosso futebol. O Santos pagou 200 milhões para tirar o já consagrado lateral das Laranjeiras.
Em algumas conquistas do Tricolor, Samarone foi destaque absoluto. Como, por exemplo, a Taça de Prata de 1970, que era o Campeonato Brasileiro naquele tempo. Por sinal, muitos o consideram o mais difícil de todos os tempos, por contar com os tricampeões do mundo, que haviam vencido a Copa do México, logo após a conquista e posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Flávio (Mickey), Samarone e Lula. Contundido, Flávio Minuano não pôde jogar as finais. Mickey, seu substituto, marcou gols decisivos nos últimos jogos. Inclusive o do título.
Esse grupo também foi campeão carioca em 1969 – naquele Fla-Flu que terminou 3 a 2 para o tricolor e o imortal Nelson Rodrigues teceu como o maior clássico de todos os tempos, dizendo que ‘vivos e mortos saíram de suas tumbas’ para juntos irem ao Maracanã. Além de vencer o Estadual de 1971: 1 a 0 no Botafogo, time que por contar com tantos craques era chamado de ‘Selefogo’.
O sinal da Rádio Globo ecoava forte no Maracanã. Torcedor com o radinho de pilha colado no ouvido, o locutor Waldir Amaral ressoou para todo o país:
“São cinco horas e trinta e dois minutos na mais linda cidade do mundo. Rio, capital mundial do futebol. Domina no peito Samarone, o catimbeiro Samara, lança Lula em diagonal e… gol!!! Lula, 11 é a camisa dele. Indivíduo competente o Lula. Tem peixe na rede…”
Denilson, o ‘Rei Zulu’, usava a braçadeira de capitão e tinha moral, por ter disputado a Copa de 1966, na Inglaterra. Só que o líder da equipe era mesmo Samarone. Até controlar a arbitragem ele fazia como ninguém.
Armando Marques, o número 1 do apito, chamava todos os jogadores pelo nome e sobrenome:
“Senhor Wilson Gomes (Samarone), o senhor está passando dos limites. Pare já de gesticular!”
Raçudo, de meias arriadas e com dribles curtos, peito estufado e cabeça erguida, Samarone obrigava Cafuringa e Lula a dar inúmeros piques em direção ao gol adversário. Irrequieto, numa ocasião cometeu falta dura no violento e temido zagueiro Moisés, o ‘Xerife’. Waldir Amaral alertou:
“Estão mexendo no formigueiro…”
Mário Vianna, ‘com dois enes’, comentarista e ex-árbitro, era uma espécie de VAR: decidia o que estava certo ou errado com o microfone. De repente, ele decretou:
“Tem que expulsar! Armandinho, Armandinho… eu vou descer! Vou descer!!!”
Os geraldinos reagiam na hora. Uns a favor, outros contra.
De repente, Flávio Minuano perde um gol. No ato, Samarone reclama:
“Não pode! Gol feito!!!”
Minuano, um dos grandes artilheiros do futebol nacional, retrucou na mesma hora:
“Vai tomar no seu c*…”
Tempo bom aquele… Eram tantos craques com a camisa 10: Pelé, Tostão, Gerson, que trocara a 8 pela dez, Silva Batuta, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Edu, enfim, ficava difícil para o técnico da seleção convocar Samarone. Aliás, naquela época o país parava para ouvir e discutir os relacionados. Hoje, o torcedor está a cada dia mais frio e distante da seleção que por tantas décadas foi uma verdadeira paixão nacional.
O BOM FILHO… VOCÊ SABE!
por Zé Roberto Padilha

O Fluminense tem sido um grande laboratório de craques. Rodolfo, Diego Souza, Thiago Silva, Carlos Alberto, Roger, Jean, Andre..
Eles chegam em Xerém por volta dos 13 anos, superam peneiras, jogam todas as divisões de base e são revelados na Copa São Paulo de Juniores.
Depois, ganham o mundo. Poucos chegam ao Real Madrid ou ao Barcelona.
Marcelo é uma dessas joias raras que deixou o tricolor para ocupar a lateral esquerda do clube espanhol. Desde sua chegada, os cruzamentos sobre área foram substituídos pelas assistências. Os chutes para a frente deram lugar ao sair tocando a bola, e o seu domínio revelou momentos de absoluta cumplicidade.
Fora seu inesgotável arsenal de dribles que desmontam retrancas adversárias.
Pep Guardiola, quando lançou seu Tic Tac, chegou a sonhar com ele para se juntar a Daniel Alves, Iniesta, Xavi, Rakitic e Messi, para alcançar um Dream Team.
Hoje, aos 34 anos, Marcelo retorna às Laranjeiras. No auge de uma idade em que a maturidade encontra atalhos para correr menos e produzir mais, ele será a cereja do bolo que o Fluminense servirá ao mundo do futebol.
Se ano passado o clube fez bonito, venceu o estadual e chegou em terceiro no Brasileirão, com Marcelo se credencia a disputar, em igualdade de condições, a Copa Libertadores da América.
CHUTEIRAS NUNCA PENDURADAS
por Claudio Lovato

– Está tudo bem, meu querido! – ele respondeu enquanto eu me acomodava no sofá da sala do pequeno apartamento em que ele morava.
– Tudo tranquilo! – ele acrescentou, para reforçar e, assim me pareceu, tentar convencer a si próprio de que aquelas palavras iniciais carregavam a verdade, ou ao menos alguma verdade.
– Vamos tocando a vida! – ele disse em resposta à minha pergunta sobre o que ele costumava fazer no dia a dia.
– Dou minha caminhada de manhã, todo santo dia. Depois faço alguma para comer em casa ou almoço no quilo do Waldemar, aqui embaixo, depois vou para uma sesta. Mais tarde desço para bater papo com os amigos, e à noite é futebol ou um filmezinho na TV. É mais ou menos assim.
Fazia um dia bonito de sol, e a claridade invadia toda a sala e a cozinha, separadas apenas por um balcão com tampo de mármore.
– Nos fins de semana dou uma chegada no bar do Gilson para tomar uma coisinha, que ninguém é de ferro. Mas tem que ser devagar, devagarinho, porque a saúde já não permite exageros. O mais importante é conversar com o pessoal, falar de futebol! – ele comentou quando perguntei sobre o que fazia aos sábados e domingos.
Ele calçava sandálias de couro cru com correias nos calcanhares. Vestia camiseta branca e bermuda jeans com bolsos grandes nas laterais. Estava em boa forma física, e o único incômodo que parecia enfrentar se localizava no joelho direito, que ele volta e meia esfregava.
Perguntei sobre os filhos.
– Eles moram longe, todos os três, um deles vive fora do país, acho que você sabe. De vez em quando eles aparecem, o Thiago traz as crianças, é uma festa! – tomei o cuidado de não mencionar em momento nenhum a esposa falecida.
Ele percebeu que eu olhava para os porta-retratos sobre a mesinha de centro. Eram muitos. Uma parte das fotos eram registros de momentos de família; a outra, imagens dele nos tempos de jogador, ao lado dos companheiros de então.
– É, meu querido, é assim mesmo. A verdade é que a gente acha que vai estar preparado para a hora de parar, mas nunca está! – ele disse, apontando para a garrafa térmica e arqueando as sobrancelhas, num oferecimento da segunda xícara de café, que recusei com um gesto.
– Mas um dia você simplesmente para, porque não dá mais, ponto final; não tem mais como continuar, e aí você se vê forçado a encarar uma nova realidade, a sua nova vida, em muitos casos o seu novo você! – ele disse, me olhando direto nos olhos.
– O seu novo você…. – repetiu, e então sorriu com indisfarçável amargura.
– Os resultados variam de pessoa para pessoa. Tem gente que toca a vida numa boa. Tem gente que se afunda. E tem aqueles que não pensam no assunto e assim conseguem ser mais felizes que os outros! – disse isso e sorriu de novo, e era aquele mesmo sorriso triste.
– Pensar demais geralmente não ajuda muito. “A gente acaba aprendendo isso na vida! – ele disse.
Conversamos mais um tempo sobre lembranças especiais: os títulos mais importantes, gols – que não foram poucos, considerando-se que ele havia sido volante a vida inteira, aliás, “centromédio”, camisa 5, sempre –, as convocações para a Seleção, os prêmios.
Então passeamos pelo apartamento, em cujas paredes disputavam espaço fotos dele vestindo a camisa dos quatro clubes que defendeu ao longo de toda a carreira. Em uma delas, ele aparecia ao lado do treinador que o havia promovido aos profissionais e com o qual trabalhou por muitos anos, em três clubes diferentes.
– Pois é, meu querido! O tempo passa mesmo… – ele me disse enquanto olhávamos para essa foto, nós dois lado a lado, de pé no corredor.
Em seguida, apontando para outra foto, posicionada um pouco mais ao fundo do corredor, uma foto em que ele aparecia com uma lata de cerveja na mão, só de calção, no meio de uma festa no vestiário após a conquista de um título estadual, ele disse:
– Pô, fui feliz pra caramba, rapaz! – e sorriu, dessa vez sem nenhum traço de melancolia.
Voltamos à sala, eu já me preparando para ir embora, juntando minhas coisas, quando ele contou, olhando pela janela para o sol que começava a se por, que, um dia desses, havia lido uma história – um conto – em que o autor dizia que a saudade é uma faca cega que te corta em fatias finas.
Saí dali me perguntando como escrever sobre tudo aquilo de uma maneira verdadeira e justa.
Cheguei em casa com uma tremenda vontade de ouvir Paulinho da Viola e tomar uma cerveja. Mais de uma. E foi exatamente o que eu fiz.
Ô, PESSOAL!! É O PELÉ!!
por Luciano Teles

Nasci em 1970. Em 29 de dezembro. Sem chance de ver Pelé jogar em seu auge, nem sua última Copa do Mundo. Desta, talvez tenha ouvido uma narração ou outra, se minha mãe acompanhou algum jogo, comigo ainda em seu ventre. Também não acompanhei tanto a carreira do Rei nos anos 70. Era um misto de imagens dele com a camisa do Santos, do Cosmos… nada muito claro.
Filho e irmão de vascaínos, tinha apenas 3 anos, no Brasileiro de 1974. Não acompanhei, portanto. Comecei a ter noção do que era torcer quando me vi verdadeiramente vascaíno, no título do Carioca de 1977, com 6 anos. Do mesmo ano, me lembro da decisão do Brasileiro, com o São Paulo campeão. Ambas as decisões foram nos pênaltis, o que pode ter influenciado nessa forte lembrança das imagens. Eu já gostava de ver futebol na TV.
Mas eu não via Pelé. O Rei estava nos distantes Estados Unidos. Sem TV transmitindo suas partidas, sua carreira acabou sem que eu tivesse acompanhado uma pequena parte que fosse. Entretanto, Pelé permeou minha infância e adolescência. Como? Simples: por publicidade, filmes (fiquei acordado até tarde da noite, para assistir “Fuga para a vitória”, na TV) e participações em programas televisivos. Por essa intensa atividade, a imagem de Pelé estava sempre presente no nosso dia a dia.

Me lembro dos brinquedos com seu nome, claro. Brinquei com alguns, todos ligados ao futebol. A única coisa que nunca me atraiu, foi o Pelezinho. Apesar de ser fã da Turma da Mônica (ainda me lembro do Feliz Natal Pra Todos, dos anos 70) e considerar Maurício de Sousa um gênio. Não sei a razão. Pensei muito nisso, quando fiz minha monografia de graduação em Jornalismo, exatamente sobre história em quadrinhos. Acho que personagens que retratam ídolos adultos como crianças não fazem parte do meu gosto. Pelezinho, Senninha etc.
Voltando ao Rei, sempre ficou aquela espécie de lacuna na minha cabeça: quem era Pelé? Quem era o cara com uma das fisionomias mais marcantes do planeta Terra? Com timbre vocal e fala, que parecia soletrar cada palavra, ainda que monossilábica, igualmente reconhecíveis? As imagens dele na Suécia, no Chile, no México, no Santos e nos EUA se misturavam, mas não eram organizadas na minha mente, confesso. Era algo quase que etéreo. O maior jogador da história, que encerrou a carreira, mas ainda se mantinha presente no cotidiano, das mais diversas maneiras.
Mesmo com os prêmios, as participações e matérias na TV, eu ainda não tinha noção do que o maior jogador de todos os tempos representava. Nem para o Brasil, nem para o mundo. Até que a exposição “Pelé, a arte do Rei” chegou ao Rio. Ficou sediada na Casa França-Brasil, de 24 de abril a 23 de junho de 2002. Não foi um ano exatamente fácil, para mim. Terminava minha formação, agora em Odontologia, mas eu tinha de ir. E fui. Ainda bem que eu fui.
Não me lembro de tudo que vi. Nem poderia. Eram quase 600 itens. Ainda guardo o programa da exposição comigo. Só ele já dá uma mostra do quão grande era aquela exposição. Foram 20 espaços – entre salas e corredores, alguns bem amplos – utilizados para o evento. Entrávamos por um túnel, como se saíssemos do vestiário para o gramado, para uma partida que, para mim, e muitos ali, seria única. Literalmente. Dificilmente uma exposição desse porte percorrerá o Brasil novamente. Agora, só em Santos, no Museu Pelé.

Peças recolhidas no Brasil e em todo o mundo. Caí em mim: “Caramba… a gente casa e tenta arranjar um cantinho na casa dos pais, para guardar nossas quinquilharias de infância e adolescência… Pelé precisa de quase um prédio todo para expor só 600 de seus itens… que vêm do mundo todo!!” Ainda: tinha a certeza de que muita coisa tinha ficado de fora.
Como eu sempre tive a mania de pegar algo no macro e reduzir ao micro, decidi refletir sobre o máximo possível de itens. Até para entender a amplitude de tudo aquilo frente à humanidade. Afinal, era tudo de um jogador de futebol. Não é desmerecer, claro. Como se diz por aí, “nunca foi só futebol”. Na verdade, me veio a pergunta: o que esse jogador fez, para merecer tantas menções honrosas e homenagens mil? O que o fez dele um atleta tão, mas tão diferenciado, com tanta arte, que acabou por ser retratado por Portinari, Djanira e Andy Warhol, para ficarmos em alguns? Quantos jogadores o foram?
Pensei: quem foi esse cara? Porque a questão vai um pouco além do que vimos. É mais profundo do que admirar a tela ou obra pronta. Passa pela compreensão do processo da decisão de um artista dessa grandeza parar, pensar e decidir retratar Pelé. Passar horas, dias, semanas em frente a uma tela, retratando, não apenas um jogador de futebol. Mas o maior jogador de futebol de todos os tempos. O que passava pela cabeça deles? E nas mentes de todos os artesãos que confeccionaram medalhas, placas, troféus… “Estou fazendo algo para… Pelé…” Definitivamente: não é pouca responsabilidade.
Admirei medalhas, troféus e certificados recebidos em diversos países. Fotos com estadistas. Fotos com diversos líderes religiosos. Fotos com artistas. Fotos com outros jogadores. Fotos com técnicos. Fotos com dirigentes. Fotos com pessoas comuns… até que pensei: “Ele não tirou foto com ninguém. Foram todos os outros que tiraram, cada qual, a sua foto com Pelé”.
De todos os itens, os que mais me chamaram a atenção foram: a bola de meia, a caixa de engraxate, a réplica da Taça Jules Rimet, a bola, as chuteiras e a rede do milésimo gol e a foto dele, jogando pela seleção, com o suor fazendo o contorno de um coração.
Por quê? Porque retratam momentos singulares. A bola de meia e a caixa, jogando e sonhando, em meio a trocados ganhos no dia e a incerteza da infância, ainda que despreocupada, com toda a vida pela frente. A taça… na boa… quem se imagina ganhando uma Copa do Mundo e indo pegar a Jules Rimet pela terceira vez? Já deviam ser íntimos: “Oi, Jules, tudo bem? / Como vai, Pelé? E a família?” Os itens do milésimo gol, pela obviedade da marca. Quem pensa em chegar a mil gols, quando começa? Ainda mais quando não se tinha tantas competições? A foto “O Coração do Rei”, merece um destaque.

A foto é de autoria do fotógrafo Luiz Paulo Machado, num jogo amistoso entre a Seleção Brasileira e o Flamengo, em 06 de outubro de 1976, em memória do jogador Geraldo, então recém falecido, por intercorrência cirúrgica. Ilustrou a matéria da revista Placar sobre aquele jogo. Sempre se fala da imagem do coração, no tórax do Rei, formada por seu suor. Meio que característica dele. Outras imagens mostram a mesma formação, mas não com tanta nitidez (ver aqui). Eu vejo algo além do coração: a pose de quem está orientando o time, e com o semblante não tão leve, mesmo se tratando de um amistoso. Era um jogo. Um jogo do Brasil. A seriedade era a mesma. Ainda que já no final da carreira.
Passava tudo isso por minha cabeça, quando vi as pessoas simplesmente passando pela exposição. Pensei: “Ô, pessoal!! Por que a pressa?? É o Pelé!! Sabe Pelé? Então: Pelé!!” Devo até ter falado baixinho. Pessoas mais velhas falavam para os mais novos que tinham visto o Pelé jogar e tal. Só que a frase começava perto de mim e era terminada já dois, três passos adiante. As pessoas passavam. Simplesmente passavam. E repito, mais uma vez: simplesmente passavam. Quase me desesperei! Nunca vou entender aquele comportamento. Enquanto eu estava lá, poucos foram os que realmente observaram os itens e leram as descrições. Definitivamente, a iconografia de nossos ídolos precisa ser melhor trabalhada.
Pelé se foi em 2022. Em 29 de dezembro. No meu aniversário. A lembrança da exposição me veio imediatamente à mente. Via os diversos especiais e matérias sobre o triste acontecimento e me lembrava de ter visto pessoalmente vários daqueles itens mostrados. Sabe… isso dá uma sensação de ter estado em algum lugar importante, em termos de tempo e espaço. Nesses momentos, me veio uma sensação de que, de uma forma ou outra, honrei sua memória. E, sim: vendo as imagens relativas aos itens que destaquei, me emocionei. Porque eu pude entender quem foi aquele cara. Agradecido por tudo o que foi e fez. Muito obrigado, Rei. Muito obrigado, Pelé.