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FLAMENGO É CAMPEÃO EM PALMA DE MALLORCA, COM OITO EM CAMPO

por Péris Ribeiro

Está fazendo 45 anos! E essa façanha jamais poderá ser esquecida por qualquer rubro-negro que se preze. Afinal, foi uma vitória heroica, conquistada sobre o poderoso Real Madrid, campeoníssimo espanhol. Um Real que contava, à época, com craques como o meio-campista Stielike – que seria, pouco depois, campeão europeu com a Alemanha Ocidental – e o argentino Wolff, além de vários jogadores da Seleção Espanhola.

Uma vitória tão dramática, que o Flamengo terminou a partida com apenas oito jogadores em campo – além de ter o técnico Cláudio Coutinho e o banco de reservas também excluídos. Tudo isso, ainda na metade do segundo tempo. Tudo isso, por obra e graça do cínico e desonesto juiz Jesús Ausocúa Sanz, também espanhol.
Realizada em um superlotado Estádio Luis Sitjar, aquela era a partida decisiva, que valia o título do Torneio Cidade Palma de Mallorca de 1978. E, apesar da confusão causada pela atuação lamentável de um juiz sem escrúpulos, viu-se um público entusiasmado, que prestigiou toda a cerimônia de premiação. E que, no fim, aplaudiu de pé o capitão Paulo César Carpegiani, quando este recebeu o bonito troféu que coube ao Flamengo, como campeão em Mallorca.

SHOW RUBRO-NEGRO

Começando o jogo em alta velocidade, e com um toque de bola que envolvia inteiramente a defesa do Real, o Flamengo fez 1 a 0 logo aos 9 minutos. Cláudio Adão tabelou com Adilio, driblou na corrida a dois zagueiros e colocou no canto direito, fora do alcance do goleiro Miguel Angel.

Com Paulo César Carpegiani exibindo todo o seu talento e mandando no meio-de- campo, e com a defesa bem postada anulando o ataque madrilenho, não foi difícil chegar aos 2 a 0. Ainda mais que as triangulações entre Adílio, Carpegiani e Cláudio Adão desarvoravam a zaga do Real.

Assim, Cléber recebeu, livre, um passe sob medida de Carpegiani e fuzilou Miguel Angel sem apelação, fazendo Flamengo 2 a 0, aos 37 minutos do primeiro tempo. O suficiente para tranquilizar momentaneamente o time brasileiro. Ainda mais que, a partir dali, o lamentável juiz Ausocúa Sanz começaria os seus desmandos em série.
Aliás, no finalzinho do primeiro tempo, ele já marcava dois impedimentos inexistentes do ataque rubro-negro, que poderiam, até, ter redundado em gol. E, não satisfeito, ainda advertiu severamente ao zagueiro Manguito, ameaçando – o de expulsão. Apenas uma amostra dos disparates que cometeria no segundo tempo, travando o ataque flamenguista com impedimentos que só ele via. Sem falar no pênalti descabido que marcou , aos 13 minutos, e que Aguilar converteu para o Real, diminuindo o placar para 2 a 1.
Jogo Sujo

Contestado a partir de então pelos jogadores do Flamengo, Ausocúa Sanz expulsou seguidamente a Toninho, Cléber e Eli Carlos. E, apenas alguns minutos depois, ao técnico Cláudio Coutinho e todo o banco de reservas, que protestavam contra a sua arbitragem absurda. Uma atitude tão inacreditável, que levou o time brasileiro a ficar com apenas oito homens em campo, ainda na metade do segundo tempo.

Com alguns jogadores do Real, sugerindo que o Flamengo abandonasse a partida, ou até mesmo caísse em campo, em sinal de protesto, eis que o que aconteceu, no entanto, foi um ato de puro heroísmo. Uma cena certamente inusitada, em termos de futebol nos dias atuais. É que os oito sobreviventes rubro-negros, firmaram um pacto de resistir até o fim. E contra a pressão madrilenha, respondiam com grandes defesas do goleiro Raul, com o seu irresistível toque de bola, comandado por Carpegiani, Júnior e Cláudio Adão e a incrível habilidade de Adílio, que com seus dribles desconcertantes punha na roda a desorientada defesa do Real.

Já chegando aos 52 minutos, e com a torcida aplaudindo freneticamente o time brasileiro, finalmente o venal Ausocúa Sanz apitou o final da partida, provocando um enorme delírio flamenguista. Emocionado, o goleiro Raul dizia que “a máfia branca finalmente acabou sendo derrotada”. E o capitão Paulo César Carpegiani, talvez o maior personagem em campo, apenas lamentava a atuação inacreditável do juiz, mas afirmava em seguida que o Flamengo, mesmo sem Zico, contundido, mostrou a sua força. “Fomos campeões contra tudo e contra todos. Portanto, vai ser difícil nos pararem este ano”, garantia, antes de receber o reluzente troféu Cidade Palma de Mallorca pelo título.

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O Flamengo foi campeão com Raul, Toninho, Manguito, Nélson e Júnior, Paulo César Carpegiani, Adílio e Cléber; Tita ( Ramirez), Eli Carlos e Cláudio Adão. Já os gols foram marcados por Cláudio Adão e Cléber para o Flamengo, ainda no primeiro tempo, descontando Aguilar, na etapa final, para o Real.
O jogo Flamengo 2 x Real Madrid 1, valeu pela decisão do Torneio Cidade Palma de Mallorca. Tendo sido realizado no superlotado Estádio Luis Sitjar, com capacidade para 23 mil espectadores, no dia 19 de agosto de 1978.

FUI!

por Zé Roberto Padilha

Estou indo jogar na Arábia Saudita. De rico me tornar milionário. E agradeço ao talento que Deus me concedeu ao nascer no Brasil. Em nenhum outro país teria alcançado os recursos que adquiri para jogar futebol.

A receita é simples, mas dolorosa no começo. Porque primeiro você tem que ser pobre. Não ganhar um Playstation de Natal, mas apenas uma bola de futebol. Ficar com ela nos pés o dia inteiro porque a escola pública só tem um turno. O que aprendemos não atrapalha a pelada e dá para conceder entrevista. Foi assim comigo, com Pelé, Ronaldinho…

Depois você, sendo de família humilde, seus pais não podem pagar mensalidades em uma escolinha de futebol cujo treinador pede para calçar chuteiras no nascedouro. Daí você vai procurar um campo de terra batida na periferia. Jogar descalço e não perder o tato. Ou Jordan, Duran, Irving, LeBron James começaram jogando basquete de luvas?

Ao ser enganado pelas irregularidades, criamos recursos de domínio para os buracos e montinhos traiçoeiros que nem em Harvard pensaram criar. Acham que basta trazer um produto pronto, como o Messi, para dar cria. Foi assim com Ivair, o Príncipe, Vinicius Jr., o Rivaldo…

Já disputei algumas Copas, fui campeão olímpico, ganhei a Champions League e está na hora de curtir de vez a vida. Ser menos cobrado, menos marcado pois quem me contratou, o Príncipe, quer espetáculo, circo, encher suas arenas para distrair seu povo.

Desde Roma, Emílio Garratazú Médice, Augusto Pinochet tem sido assim. Desse jeito, a riqueza debaixo da terra paga, os talentos que crescem sobre ela, recebem em petrodólares. À sua volta, permanecem distraídos os pobres coitados.

E eu e o Cristiano, que viemos buscá-los, sabemos que nunca mais seremos competitivos. Dentro de campo, claro, porque fora dele vamos brigar pelas dez primeiras colocações na Revista Forbes.

Mas para o jogo das estrelas, Zico pode contar comigo.

Abraços meu povo

O GIGANTE PAULO AMARAL

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Paulo Amaral foi o precursor da preparação física no futebol brasileiro. Esteve junto à comissão técnica nacional durante as conquistas das Copas de 1958 e 1962, além do Botafogo, clube pelo qual teve forte identificação. Lutador de boxe, nadava e também levantava pesos. Era um gigante, com quase dois metros de altura e cem quilos de músculos.

O ‘Sargento de Ferro’ trabalhou na temida Polícia Especial do Presidente da República Getúlio Vargas. Paulo Amaral e Mário Vianna, ‘com 2 enes’, aquele que tão bem representou a arbitragem brasileira nos Mundiais de 1950 e 1954, patrulhavam o Rio de Janeiro, então Capital Federal do país, com suas possantes Harley-Davidson, sempre em dupla. Cabeças raspadas à navalha, fato raro na época, usavam boinas vermelhas. Eram famosos, mas também temidos, principalmente quando rondavam pela Lapa.

Paulo Amaral tinha 36 anos quando a Seleção Brasileira, já tendo conquistado a Copa na Suécia, enfrentou o Uruguai, no Estádio Monumental de Nuñez, pelo Sul-Americano de 1959. Nesse jogo estourou um dos maiores conflitos da história do futebol. Brigaram jogadores, reservas e comissões técnicas. Almir Pernambuquinho, que substituía Vavá, chocou-se com o goleiro adversário e foi agredido pelo zagueiro Martinez. Nisso, revidou no ato. Pelé tomou as dores e o zagueiro Orlando Peçanha entrou na confusão. Didi apareceu, acredite, dando voadoras. A polícia, preocupada em impedir a invasão dos torcedores argentinos, deu as costas para a batalha campal. Surgiu, então, o imponente Paulo Amaral, derrubando um a um que lhe aparecesse à frente com socos. Até os brasileiros se assustaram. Paulo Amaral, Didi e Paulo Valentim, foram os que mais bateram e apanharam. No reinício do jogo, o Brasil venceu por 3 a 1: três gols de Paulo Valentim.

“Vencemos na bola e na porrada!” – declarou Didi.

Antes de levar os estudos a sério e se formar, Paulo Amaral jogou futebol. Foi lateral-direito no Flamengo, passando depois para o meio de campo. O técnico Flávio Costa observava sua paixão pelos esportes e o aconselhou estudar na Escola de Educação Física do Exército, na Urca. Amigo de João Saldanha, Amaral gostava de comentar:

“Como é que João fala inglês, francês, alemão e até russo?”

Paulo Amaral passou a ter destaque como treinador quando dirigiu o Botafogo em quatro períodos diferentes. Depois, Corinthians, Fluminense, Vasco, Atlético Mineiro, Al-Hilal, Bahia e a Seleção do Paraguai, além do Juventus e do Genoa, dentre outros times nacionais e internacionais, conquistando títulos importantes.

Na geral do Maracanã, atrás do banco do Botafogo, um torcedor gritava insistentemente:

“Careca viado! Careca frouxo!”

Os jogadores reservas se entreolham, mas seguraram o riso. O técnico saiu de fininho, desceu o túnel, chegou ao antigo saguão e invadiu sorrateiramente a geral. De frente para o inconsequente sujeito que o esculachava, cruzou os braços e começou uma verdadeira sessão de boxe, abrindo um clarão no meio da galera.

No casarão histórico de General Severiano, eu acompanhava o velório do ídolo Didi. Antes de seu corpo deixar a sede, Paulo Amaral pediu atenção a todos. Pôs uma flor no peito do mestre da “Folha Seca”, beijou Rebeca e Lia, filhas do ex-jogador e rezou em voz alta:

“Pai nosso que está no céu…”

Em seguida, desceu as escadas e, nos jardins do casarão, seus soluços eram ouvidos à distância.

O carioca Paulo Lima Amaral faleceu em 5 de maio de 2008, aos 84 anos, na sua casa em Copacabana, bairro onde morou durante toda a vida.

A RAÇA DE CHINA

por Reinaldo Sá

Nos tempos do futebol raiz, China era a garantia para os avanços dos laterais Paulo Roberto e PC Magalhães e o porto seguro para os zagueiros Baidek e De León. Sua marcação sempre foi implacável! E se os defensores sentiam-se blindados o meio-campo também o reverenciava. E olha que na final do Mundial de Clubes, em 83, contra o Hamburgo, ele dividiu o espaço com nada menos que os talentosos Mário Sérgio e PC Caju.

China corria por todos, suava a camisa, se entregava como poucos pelo clube que sempre amou! E essa dedicação deixava mais livres PC Caju, o Vesgo e Osvaldo para abastecerem Renato e Tarciso. China carregava o piano para que toda a orquestra não desafinasse. Mas é bom deixar claro que também era integrante dessa orquestra estelar, pois tinha qualidade, botes certeiros e uma dedicação contagiante. Mas ele é pouco lembrado pela imprensa. Sempre foi idolatrado pelo técnico Valdir Espinosa.

O Grêmio travou várias batalhas até chegar ao cume, ao título, e o mosqueteiro China sempre saía vencedor. Sua raça jamais será esquecida pela legião gremista e pelos amantes do futebol. Se o Grêmio é gigante as novas gerações entender que um dos responsáveis por isso é Henrique Valmir da Conceição ou simplesmente China. 

EM 1984, ASSIS É O CARRASCO DO FLA NOVAMENTE

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1984, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama chegavam ao triangular final do Campeonato Carioca.

O Vasco da Gama não foi bem no triangular, tendo perdido os seus jogos, tanto para o Fluminense, como para o Flamengo.

Assim, Flamengo e Fluminense chegavam para o jogo decisivo, em 16 de Dezembro de 1984.

Jogo muito disputado, o Flamengo tinha em Tita e Bebeto jogadores cruciais para o time jogar bem – lembre-se que Zico estava no futebol italiano.

Já o Fluminense contava com um conjunto harmonioso, bons jogadores e uma força física impressionantes.

Jogo equilibrado, os excelentes ataques do Flamengo invariavelmente paravam nas mãos de Paulo Victor, o goleiro tricolor, que cumpriu atuação de gala.

E, aos 30 minutos do segundo tempo, aconteceu o lance decisivo – da partida e do título.

O meia Renê, na intermediária, acionou o lateral direito Aldo, ao lado da área, pelo lado direito.

Aldo, com o pé direito, fez excelente cruzamento para a área, no alto, e a bola encontrou Assis, na pequena área.

Assis meteu a cabeça na bola, com extrema categoria, e esta foi “morrer no barbante”, no alto e no lado esquerdo do mítico goleiro flamenguista Ubaldo Fillol.

Fluminense 1 x 0 Flamengo.

O placar definitivo do jogo, que dava o bicampeonato carioca para o clube das Laranjeiras.

O herói do título era Assis.

Que, tal qual havia feito em 1983, tirou do Flamengo a chance de ser o campeão carioca.

Assis, o carrasco rubro negro, pela segunda vez consecutiva!