ERA FECHAR OS OLHOS, CRUZAR E AGUARDAR AS REDES TOCAR
por Zé Roberto Padilha

São tantas as emoções vividas em uma carreira no futebol, tantas genialidades que você testemunha, que você tem a obrigação de contar para as pessoas que amam o esporte.
Com Nunes vivemos algo assim. Era comum os treinadores, e seus preparadores físicos, realizarem um tipo de treinamento em que os centroavantes e meias ficavam com a bola na linha do meio campo.
E os laterais e pontas nas extremidades recebiam seus passes na linha de fundo para cruzarem e eles concluírem.. Havia um revezamento. Eu, Joãozinho e Pedrinho fazíamos o lado esquerdo. Luiz Fumanchu, Carlos Alberto Barbosa e Jadir o lado direito.
Era tal a facilidade do Nunes concluir nossos cruzamentos, até então desconhecido da mídia mas temido pelos goleiros pernambucanos, já conhecido como João Danado, que tivemos a ideia de ao chegar à linha de fundo não calcular sua posição ao bater na bola.
Fechávamos os olhos quando era sua vez de concluir. E ele, sem saber que a bola seria alçada aleatoriamente, meio de improviso, dava um jeito de se equilibrar na corrida, atrasava ou acelerava para encontrá-la. Claro, não retira nossos méritos de calcular o Ponto G em que bola e amante se acasalariam.
E senhor de todos os fundamentos, concluía de cabeça, voleio, de chapa, de bicicleta..

E o mais gostoso de tudo: abrimos os olhos com o despertar das redes tocadas.
Não tinha preço. Tinha orgulho de saber que ali surgiria um dos grandes artilheiros do futebol brasileiro.
Estádio José do Rego Maciel, o Mundão do Arruda, Santa Cruz Futebol Clube, Recife, 1978.
PRODUTIVA IDADE
por Idel Halfen

Ainda sobre a conquista da Libertadores da América pelo Fluminense, há um fato que muito contribui para reflexões, inclusive sob o âmbito da gestão: a utilização de jogadores, cujas idades, se fossem avaliadas simplesmente sob a ótica dos números, implicariam em aposentadorias, certamente precoces.
Começamos com o goleiro Fábio, 43 anos, que fez na decisão contra o Boca Juniors sua 100º partida na Libertadores e, pela primeira vez, se sagrou campeão do citado torneio. Diante da conquista, podemos concluir que hoje ele é um goleiro melhor do que antes? Pergunta difícil! Claro que algumas valências físicas pioraram em função da idade, porém, a experiência e treinamentos específicos permitiram compensar as perdas com técnica e maior conhecimento da função.
Continuamos com o hoje zagueiro Felipe Melo que, com 40 anos, mudou de posição e teve atuações muito boas durante o ano. Quem acompanha sua carreira, percebe que não tem a mesma velocidade do passado, que ficou mais vulnerável a contusões e que nem sempre aguenta jogar os 90 minutos.

Melhorou, no entanto, seu posicionamento, o que permite, através do conhecimento dos “atalhos” dedicar menos energia para realizar boas jogadas. Há espaço aqui para a pergunta se o Felipe Mello de hoje é melhor do que o do passado. Respondo que não, por outro lado, acrescento que, mesmo não sendo tão bom quanto outrora, é melhor do que a grande maioria dos zagueiros em atividade no Brasil, tanto que foi titular de um elenco campeão da Libertadores e bicampeão carioca.
Saindo do futebol, temos a ciclista norte-americana Kirsten Armostrong que, aos 43 anos, conquistou a medalha de ouro na prova contra relógio nos Jogos Olímpicos de 2016. Nessa mesma edição tivemos o velocista Anthony Ervin com 35 anos conquistando a medalha de ouro na prova mais rápida da natação mundial, os 50m livre.
Exemplos no esporte não faltam, mas passemos para o mercado corporativo, onde a idade virou equivocadamente um atestado de capacidade. Inúmeros são os filtros de seleção de currículo que eliminam candidatos pela idade, extirpando qualquer possibilidade de avaliação pela ótica de aptidão à posição.
Até admito uma eventual preocupação com a vitalidade do candidato, aliás, para qualquer idade. Mas vale citar, a título de ilustração, que um sujeito de 70 anos já foi capaz de correr uma maratona em menos de três horas. Quantas pessoas de 30/40 anos conseguem esse feito?

Desta feita, superado os aspectos relacionados à vitalidade, é preciso reconhecer que a idade, além de ser importante para a diversidade no que tange ao conhecimento dos hábitos e anseios de uma significativa gama da população, costuma conceder habilidades que contribuem para a melhoria do clima organizacional e se busque de forma mais pragmática os resultados objetivados. Isso ocorre tanto pelo fato de o profissional ter passado por muitas situações de alguma forma similares, como também pela capacidade adquirida na utilização da devida carga de energia a cada etapa dos processos, o que implica na racionalização de recursos. A propósito, a valorização à elaboração de processos, a visão abrangente e um maior feeling na avaliação de pessoas e propostas são habilidades geralmente desenvolvidas com o tempo.
Faz-se imperioso ressaltar que não se quer nesse texto promover nenhum tipo de polarização entre os mais experientes e os mais jovens. Ambos são fundamentais. A intenção do artigo é puramente chamar a atenção de que produtividade não tem nada a ver com a idade, a não ser, a utilização das cinco últimas letras.
O DRAMA DO BOTAFOGO
por Elso Venâncio, o repórter Elso

O Campeonato Brasileiro, mesmo sem o mata-mata que tanto empolgava na reta final, tem emoção, grandes jogos, estádios lotados, briga pelo título e por quem foge do rebaixamento.
Perguntei um dia ao mestre Luiz Mendes se foi ele quem criou a expressão “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”:
“Eu só popularizei”, respondeu ‘O Comentarista da Palavra Fácil’, completando:
“O jornalista botafoguense Geraldo Romualdo da Silva, do Jornal dos Sports, foi o autor.”
A distância para o segundo colocado, quando era o líder, chegou a 13 pontos! Noventa por cento de chances de título, portanto. Onze vitórias consecutivas no tapetinho. Um retrospecto impecável. Até na derrota para o Flamengo, 2 a 1, o alvinegro não jogou mal. Perdeu um clássico para um adversário que investe forte.
De repente, o empresário John Textor mostrou desequilíbrio ao incorporar o espírito do Eurico Miranda e criticar Deus e o mundo. Detalhe: o americano foi lerdo para afastar o técnico português Bruno Lage, repetindo a ‘paciência de Jó’ do presidente Rodolfo Landim, fã declarado do argentino Jorge Sampaoli.
Contra o Atlético-PR, há indícios de que, antes da partida, o constante apaga-acende dos refletores para a visualização de drones influiu nas quedas de energia que levaram o jogo a ser interrompido e ter seu final adiado para o dia seguinte.
Contudo, na história do Botafogo não há sofrimento maior do que o presenciado contra o Palmeiras. Primeiro tempo de campeão! Torcedores que não se conheciam se abraçavam chorando de alegria. Um casal com a camisa do clube se beijava, sussurrando:
“Seremos campeões!”
Três a zero no intervalo. Poderia ser quatro ou cinco! A bola volta a rolar e Endrick marca. O técnico Lúcio Flávio não se mexe…
Na decisão da Libertadores, contra o Boca Juniors, Fernando Diniz levou o gol e alterou na hora. Tirou os medalhões Marcelo e Ganso. Colocou o jovem John Kennedy.
Tiquinho perde um pênalti, aos 36 minutos, quando o placar iria para 4 a 1. Verdade seja dita, o artilheiro está abalado emocionalmente devido à grave doença do pai. A ponto de sentir lesões e ter forçado um terceiro amarelo para poder esfriar a cabeça.
No jejum de 21 anos sem títulos, o sofrimento dos botafoguenses foi longo, mas não causaram dois infartos como os registrados pelo departamento médico após a inacreditável virada que o Palmeiras impôs em pleno Rio de Janeiro. Nem a decepção com o empate sem gols diante do Juventude, na decisão da Copa do Brasil – última vez que o Maracanã teve mais de 100 mil pagantes – deixou cicatriz tão forte.
Na saída, a multidão caminhava num silêncio nunca visto e que jamais será esquecido pelos presentes. O momento foi tão marcante, com direito a sintomas do Maracanazzo, um dos maiores vexames do futebol brasileiro.
AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1979
por Luis Filipe Chateaubriand

Eis que, em 1979, o Campeonato Brasileiro chegava ao seu final com Internacional e Vasco da Gama disputando o título.
O fortíssimo Internacional, de Paulo Roberto Falcão, Jair, Mauro Galvão, Mario Sérgio e Batista, chegava às finais depois de superar o Palmeiras, de Jorge Mendonça, nas semifinais.
O Vasco da Gama, do ídolo solitário Roberto Dinamite, havia superado o Coritiba nas semifinais.
O primeiro jogo das finais foi no Maracanã, com mando de campo para o Vasco da Gama.
O Internacional foi soberano em campo, e venceu por 2 x 0 – dois gols de Chico Spina, que o gênio tático Ênio Andrade escalou no lugar do ausente Valdomiro.
O segundo jogo das finais foi no gigante da Beira Rio, com mando de campo para o Internacional.
No primeiro tempo, Jair fez 1 x 0 para os colorados.
No segundo tempo, Paulo Roberto Falcão ampliou para 2 x 0.
Já no final do jogo, Wilsinho descontou para o Vasco da Gama, e o placar final ficou 2 x 1 para o Internacional.
Com isso, o clube de Porto Alegre conquistou o seu terceiro título de campeão brasileiro!
ROMÁRIO É SANGUE
por Motta Balboa

É parceiro, Romário Presidente. Muito me honra em ter como presidente do meu clube um cara tão vitorioso no futebol e na vida por simples vontade própria de realizar mais um sonho de seu pai, mesmo não estando já aqui. Na situação atual o America não significaria nenhum êxito ao Romário, mas sim o Romário que agregaria valor ao America, isso mostra a sua paixão sincera pelo clube tijucano.
Me orgulho muito de ter ajudado com uma sementinha a plantar Romário no America, desde gerente em 2009/10 a agora no cargo máximo. Em 2006, com o America fazendo excelente jornada no Campeonato Carioca nas mãos do técnico Jorginho Tetra, com Romário e seu amado pai Edevair indo a jogos, notei realmente que o baixinho era Sangue. No fim de 2006, para aproveitar toda a motivação gerada pela bela campanha e com apoio da diretoria, idealizei o Natal na Baixada Americana, com um jogo de futebol entre artistas e jornalistas com a chegada do Papai Noel. A ex-esposa do Romário, minha amiga Mônica Santoro, frequentava a mesma academia que eu. Então pensei que, na época, Romário buscava marcar o milésimo gol, assim seu filho Romarinho poderia tentar marcar o gol UM no jogo de Natal, já que nunca havia jogado em campos oficiais. Mônica confirmou que seria o primeiro gol do filho, caso acontecesse, e liberou o pequeno craque, de apenas 13 anos para jogar com os adultos convidados. Era Romarinho buscando seu gol UM enquanto o pai nos campeonatos tentava chegar ao gol MIL.

Chegou o dia da partida, e não é que toda família Romário foi de surpresa a Edson Passos. Seu Edavair, D. Lita, e o próprio Romário, numa das raras vezes que acordou mais cedo, segundo ele próprio, para prestigiar o filhão. Mesmo com a incerteza da presença do Baixinho, emissoras nacionais e internacionais de tv, com uniformes da patrocinadora oficial do America personalizados, registraram tudo e o jogo foi um sucesso.
Aí comprovei o quão Romário é um astro e desperta interesse em todos, um carisma raro. Esse evento creio ter motivado a Romário a realizar mais conversas com o então presidente americano Reginaldo Mathias, desde o jogo festivo do centenário rubro em 2004 quando jogou um tempo pelo tricolor carioca e outro pelo America.
Com isso, de volta ao Natal de 2006, dei mais um empurrão, fora da área é claro, para que o Baixinho ficasse mais perto do America. A propósito, jogaram Alex Escobar, Smigol, Detonautas, Paulo Cintura, entre outros. Romarinho fez o seu gol UM, modéstia à parte com minha assistência. E o goleiro desse gol histórico, tal qual o saudoso Andrada, foi o nosso amigo escritor Marcos Eduardo Neves.

Uma historinha bacana, de outras tantas que unem America e Romário, que mostra o quanto o Baixinho gosta do America sem interesses obscuros como aconteceu em muito na vida rubra. E com Romário a história é testemunha, se entrou nessa é porque vai vencer, uma missão que ninguém lhe propôs, ele quem escolheu. Se o próprio Romário escolheu, alguém duvida de êxito? Presidente Vencedor sempre, parceiro!!!