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O PÉ DE MUSSUM E A FENDA DO TEMPO NA VÁRZEA

6 / abril / 2017

por Marcelo Mendez


(Foto: Custodio Coimbra)

Há um hiato de tempo:

No exato minuto entre a bola que vem do fundo e o pé do atacante que balança a rede, há um intervalo, uma pausa, uma fenda no tempo que cientista nenhum conseguiu estudar, sequer imaginar.

Esse é o tempo de sonho, de onde vem o verso, é o que precede o poema, a blue note do improviso jazzístico e a parábola mágica desenhada por uma anca santa que remexe ao som de uma gafieira imortal.

É a Várzea, meus caros!

Isso é á Várzea.

O futebol da bola marrom que reúne três mil pessoas numa manhã de domingo para colar a cara num alambrado em Mauá, para ver os encantos da montanha magica que rodeia o campo do Juá. Ali se deu um jogo de futebol de várzea, uma decisão.

O Scorpions do Jardim Zaíra de Mauá enfrentaria o Vila Junqueira de Santo André.

De um lado do campo, as pessoas de azul e branco do Scorpions, mais numerosos, animados, festivos, comandados pela animação de Madeira, seu patrono, e pela sua irmã, a torcedora Zezé, a comandar as festas de um lado do Juá.

Do outro lado, o Rubro Verde de Santo André, não menos festivo por estar em menor número, muito pelo contrário. A torcida do Junqueira é forte, participativa, fiel e empurra seu time desde o primeiro minuto até sempre! A festa pronta:

Times perfilados, imaginem só, teve hino nacional, fotos, televisão, jornal, sites, todos os olhos da região voltados para aquele campo de terra que poderia bem não ser nada, mas ocupado por aqueles 22 homens de chuteiras coloridas, era nada menos do que santo.


(Foto: Custodio Coimbra)

A partida seguiu igual, disputada gota a gota de suor, todo mundo a lutar por réquiens de sonhos a miúde, querendo e precisando de gols para realizar tal intento. Eis então que o Vila Junqueira ataca, eram jogados 32 minutos do segundo tempo.

O lépido atacante Bahia escapa pela esquerda e cruza como pode para a área. É aí que o tempo para:

Muitas coisas podem acontecer nesse hiato de tempo; Sonhos são sonhados, mãos são apertadas, amores são feitos, abraços são compartilhados. A fenda do tempo que a várzea abre no instante que precede o gol é o momento maior da arte, o rotundo átimo de tempo onde o épico se perpetua.

Eis que a viagem da bola termina quando ela encontra o pé de Mussum. O atacante do Vila Junqueira a empurra para as redes e pronto. Eis a grandiosidade da Arte, da Humanidade, caros leitores:

Gol do título na várzea!

O placar final apontou 2×0. O Vila Junqueira sagrou-se campeão. O pé de Mussum fez a história no Juá e a várzea seguirá.

Grandiosa, Várzea!

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