por Claudio Lovato Filho

Diante si, tão pouca coisa: o campo do bairro e o gol com a rede esfarrapada.
Diante de si, tão pouca coisa, mas ainda assim o suficiente para impulsionar seus sonhos mais preciosos.
O menino superou o alambrado que isola o campo de todo o resto e agora caminha pelo gramado, fazendo embaixadas imaginárias com a bola que sua fantasia inventou.
Fantasia? Que nada! A mais pura realidade produzida pelo seu coração de menino.
Tudo isso que ele agora vislumbra com absoluto fascínio é fruto da mais poderosa vontade, e um dia vai ser a mais concreta realidade (ele sente isso, pressente, mas sem definir com nenhuma dessas palavras; não ainda).
Então ele agora está de frente para o gol, no lugar em que poderia ficar a marca do pênalti se alguma marcação houvesse naquele campo e, com uma paradinha perfeita, manda toda a sua emoção e todos os seus desejos e todas as suas certezas e todos os seus receios de insucesso para o fundo da rede.
Agora ele corre para o abraço dos companheiros e, por fim, escala o alambrado para chegar bem perto da torcida, a torcida enlouquecida que não para de vibrar pelo que ele fez, que não para de gritar o nome dele, não para, não para, nunca vai parar.
E diante de si, lá no começo, havia tão pouca coisa.
Tão pouco e, ao mesmo tempo, tanto.
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