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MOZER TRANSFORMOU O NÃO EM SIM E VENCEU NO FUTEBOL

19 / setembro / 2023

por Marcos Vinicius Cabral

Flamengo e Mozer, cada um com seus motivos, entraram em campo pelo Campeonato Carioca naquele 8 de novembro de 1981 para enfrentar o Botafogo com o único sentimento: vingança.

O Flamengo, entalado pelos 6 a 0 que sofrera em 1972. Já Mozer, magoado por ter sido dispensado do alvinegro ainda garoto sob alegação do porte físico franzino de meia-esquerda que sonhava ser em 1974.

Lembranças daquela partida custaram a cicatrizar nos jogadores rubro-negros. Um deles é Adílio, que estava nas categorias de base do Flamengo, e participou da preliminar daquele jogo.

“Estava no dente de leite e fiz a preliminar jogando ao lado de Tita, e de Júlio César Uri Geller. Lembro perfeitamente que depois fomos para as cadeiras assistir ao jogo. O Flamengo perdeu de 6 a 0 e eu perdi uma aposta que havia feito com um amigo botafoguense lá da Cruzada. Mas prometi para ele que no dia em que fosse profissional ia a forra. O que foi duro durante todo esse tempo, era que toda vez que havia o clássico, a torcida do Botafogo exibia uma faixa com os dizeres: ‘Nós gostamos de Vo6!’. Mas devolvemos a goleada. Isso é o que importa”, contou ao Museu da Pelada.

Contudo, o Jogo da Vingança como era aquele Flamengo x Botafogo para rubro-negros, maioria entre os 69.051 presentes no Maracanã, foi um banho de bola do time de Mozer e companhia. Os primeiros 45 minutos terminaram 4 a 0, com gols de Nunes, aos 7′, Zico, aos 27′, Lico, aos 33′, e Adílio, aos 40′. Zico de pênalti, aos 30 ‘, e Andrade, aos 42’, completaram a goleada na segunda etapa.

Zico, camisa 10 do Flamengo e que foi 11° personagem no Vozes da Bola, série publicada desde a pandemia no Museu da Pelada, falou do que o motivava nos confrontos contra o Botafogo.

“O problema meu, em especial, era que o goleiro Manga, mexia muito com o torcedor do Flamengo e dizia que gastava a gratificação antes do jogo, pois tinha um time bom, então, ele passava no mercado antes dos jogos e fazias as compras. Na verdade, isso irritava um pouco o torcedor, e aí, talvez, tenha me deixado mais chateado. Tanto que quando comecei a jogar tinha mais gana de vencer o Botafogo do que qualquer outro time por causa dessa provocação, sempre que lembrava das palavras do Manga. O Flamengo era o único time que tinha menos vitória do que o Botafogo, depois a gente equilibrou, e botamos dez vitórias à frente”, recordou o Galinho de Quintino.

Mas enfrentar o Botafogo e poder vencê-lo era, pelo menos para Mozer, oportunidade única de dizer para o Glorioso: “Ei, vocês erraram comigo!”. E esse mesmo tempo se incumbiu de provar que o time que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira nas copas em toda história do futebol brasileiro estava enganado quando não percebeu as qualidades daquele garoto nascido em um conjunto residencial de Bangu, Zona Oeste do Rio, registrado José Carlos Nepomuceno Mozer ao nascer no dia 19 de setembro de 1960.

O mundo deu muitas voltas. Mozer, que tentou começar a carreira no Botafogo, jogou antes futebol de salão (hoje futsal) atuando pelo Cassino Bangu e depois pelo Pavunense. Já nos gramados, o início veio no dente de leite do Campo Grande, chegando mais tarde à escolinha do Botafogo, então comandada por Manoel dos Santos Victorino, o Neca (1923-1996), famoso revelador de talentos do futebol carioca da época.

Com o “NÃO” do Botafogo, Mozer pediu ao pai que o levasse à peneira do Flamengo no Cocotá, na Ilha do Governador. Foi então que, ao ser aprovado, precisou ser submetido ao mesmo tratamento de Zico para ganhar corpo, acelerar o crescimento, e deixar de ser o menino esmirrado.

Saltou do 1,53 m para 1,86 m e, ao ganhar 33 centímetros, perdeu velocidade, e mudou de posição. De meia, passou à centroavante, volante e, por fim, quarto-zagueiro por orientação do paraguaio Modesto Bria (1922-1996), técnico da base do Flamengo.

Trabalhado pelo departamento médico do Flamengo, Mozer, um autêntico predestinado pela bola, acabou recompensado com quatro qualidades que marcaram a carreira enquanto foi jogador de futebol: luta, dedicação, perseverança, e talento.

Antes da consagração como quarto zagueiro que chamava atenção com a raça de Rondinelli, a técnica de Domingos da Guia (1912-2000), e a saída de bola do argentino Reyes (1941-1976), Mozer, que nesta terça-feira, 19 de setembro, completa 63 anos, transformou o desprezo do Botafogo em 1974 e o boicote da Seleção Brasileira em 1994 no combustível para seguir.

Ídolo de clubes como Benfica/POR e Olympique de Marseille/FRA, as atuações de do ex-camisa 4 do Flamengo renderam-lhe o apelido de Muralha. Nada mal para quem chegou a ser considerado franzino.

Mozer não ganhou nenhum título relevante com a camisa da Seleção Brasileira. Nem foi preciso. Figura entre os gigantes do Clube de Regatas do Flamengo de todos os tempos com títulos, atuações memoráveis e mantém lugar reservado no coração de todo rubro-negro.

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1 Comentário

  1. Pedro Mayall

    Reyes era paraguaio. Sobre o Mozer, foi um dos melhores zagueiros do mundo em seu tempo. Foi efetivado como titular por Claudio Coutinho na Taça Guanabara de 1980, com apenas 19 anos, e tomou conta da quarta-zaga do Flamengo com técnica e surpreendente maturidade para alguém tão jovem.

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