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MORCEGO NO GRAMADO

26 / maio / 2020

por Victor Kingma


Charge: Eklisleno Ximenes.

Naquele domingo estava prevista uma grande festa na pacata cidade de Jacutinga do Norte. Seria finalmente inaugurado o estádio local, antigo sonho dos moradores do lugar.

 Até a acirrada rivalidade entre os dois principais times locais, o Jacutinga e o Barro Preto foi esquecida.

Um selecionado com os melhores jogadores da região foi formado para enfrentar o time misto, de um grande clube da capital.  

Agustín, o Morcego, com 1,98m de altura e 130 kg de peso, era o torcedor mais conhecido do Jacutinga. Já se tornara uma figura folclórica do lugarejo.

Bandeira na mão, sempre era o primeiro a chegar para assistir aos jogos.

Entretanto, sua presença nos campos sempre foi motivo de preocupação.

Tudo por causa de uma particularidade: ficava possesso quando o chamavam ou insinuavam alguma coisa que lembrasse o apelido – que abominava.

Muitas  foram as confusões que se meteu com as torcidas adversárias, principalmente nos dias do famoso clássico  “Jacu Preto” ,  acirrado prélio entre  Jacutinga x Barro Preto.

 Nesses dias, para provocá-lo, a torcida rival costumava entoar bem alto o coro:  Morcego!  Morcego!

Ele, enfurecido, saia quebrando tudo.   Às vezes  nem  a  polícia conseguia detê-lo.

Agustín não batia bem das  bolas e só uma coisa o fazia esquecer um pouco do futebol: a paixão que tinha por revistas em quadrinhos.

 Com os gibis, desligava-se de tudo. Virava uma criança e ficava horas lendo, dócil e calmo.

E chega o grande dia! Com o palanque cheio de autoridades, tudo era só alegria.

Entretanto, a presença do problemático torcedor no novo estádio deixava apreensivos os organizadores, o prefeito e até o vigário local.

 Apesar de ser  uma partida festiva, e se algum agitador, de oposição ao prefeito, o chamasse pelo apelido? –  Seria o caos!

Um  desses puxa-sacos de palanque, resolve, então, agir: chama o filho e o manda dar uma revistinha qualquer para distrair e acalmar o bravo Agustin.

 Diz pra ele que é presente do prefeito!  –  Recomenda o bajulador.

 Tudo parecia resolvido.

Após os discursos e da cerimônia de inauguração, a bola rola em clima de festa…

 De repente um tremendo tumulto! 

Agustin Morcego, mais furibundo que nunca, salta o alambrado, invade a cancha e se dirige aos berros em direção ao palanque das  autoridades. E vai derrubando tudo pelo caminho…

Todos tentam segurá-lo. Balburdia geral! Corre-corre.

Ao ver o sorriso irônico do filho ao seu lado, desconfiado, o puxa-saco  pergunta:

–  Menino,  você fez o que lhe pedi?

–  Claro, pai! Dei um gibi pra ele e falei que era presente do prefeito…

–  Qual gibi?

E o Juquinha com um riso sacana:

– BAT MAN!!!

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