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MEU TIO LEO, MEUS BOTÕES, MEU ANTIGO LEBLON E JADIR

9 / abril / 2020

por André Felipe de Lima


Meus dois primeiros times de botões foram do Vasco e do Fluminense. Na época, os que mais se destacavam no futebol do Rio. Sobretudo o tricolor e sua máquina devastadora, com Carlos Alberto Torres, Paulo Cezar Caju, Rivelino, Gil, Doval… time indigesto. O meu Vasco tinha Mazzaropi, Marco Antônio, Roberto Dinamite, Zanata, Zé Mário… timaço também, ora essa. Quem deu a mim os dois times de botões foi meu querido e saudoso tio Leônidas, irmão do meu pai.

Cresci ouvindo do tio Leo a paixão que tinha pelo Flamengo. Talvez fosse essa paixão que o fez presentear-me dias depois com um time de botões do Flamengo. Como rubro-negro ferrenho, ele não daria um mole desses. Meu tio sempre tentou (em vão, frise-se) me convencer de que torcer pelo Flamengo era o melhor a fazer e coisa e tal. Não caí na esparrela do titio, obviamente. Mas nunca esqueci o amor que ele sentia em especial pelo Flamengo tricampeão carioca de 1953, 54 e 55. Nunca me esqueci da linha média daquele esquadrão porque o tio Leo sempre que falava de Flamengo citava-a: Jadir, Dequinha e Jordan. Os três também foram “botões” e ídolos do meu tio.


O destino — veja você — nos dá uns nós estranhos. Jordan acabaria entrevistado por mim décadas depois. Foi sua última entrevista. Morreria dois anos após nosso papo, completamente esquecido, em um leito de hospital público e com as duas pernas amputadas por causa da maldita diabete, que também passou a me perturbar um pouco na virada dos quarenta. Dequinha, o grande volante daquele Flamengo do segundo “tri”, disputou todas as partidas dos três títulos. Feito que deveria estar em algum “Guinness da vida”.

Meu filho mais velho, hoje um homem com seu respeitável um quarto de século de vida, tinha somente oito anos e jogava botão comigo. Do nada, simplesmente do nada, virou-se para mim e perguntou quem foi o Dequinha. Foi ali que comecei a juntar tudo sobre a história dos ídolos do futebol. O que hoje leem do que escrevo sobre eles brotou ali, naquela pergunta do meu filho. E o Jadir? Bem, o Jadir, hoje, dia 9 de abril de 2020, faria 90 anos. Jadir Egídio de Souza, um dos ídolos do meu tio Leônidas. E pensar que o Jadir morava na rua Ataulfo de Paiva, no Leblon, onde também morei até meus nove anos de idade. Éramos (quase) vizinhos. Talvez nem meu tio e nem meu pai soubessem disso. Talvez eu tenha cruzado com o Jadir no caminho até a padaria do seu Carlos ou a banca de jornal, na esquina da rua Rainha Guilhermina com a Ataulfo, sem me dar conta de que ali estava o Jadir, um ídolo do Flamengo. Ou mesmo tenha esbarrado no Jadir, no bar Jobi, se identificá-lo.


A portaria do prédio em que morei ficava ao lado do saudoso botequim, que hoje se tornou elitizado. Chato. Ia lá para comprar cerveja e cigarro para o meu pai. Jadir deve ter passado por mim várias vezes naquele Leblon intimista e com uma carinha espontaneamente informal que hoje já não ostenta mais. Ficou artificialmente “fashion”. O Leblon do Jadir era o meu Leblon também. O Leblon do Caneco 70, da Pizzaria Guanabara, da La Mole, do Pancake Bar (o antigo, claro), do Gordon, da carrocinha da Geneal na praia, do biscoito Globo e do mate e caju do figuraça Vicente. Um Leblon que não visito mais porque o passado o levou.

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