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MESTRE ZIZA

18 / abril / 2023

por Péris Ribeiro

Vibrante, Zizinho comemora a conquista da Taça Oswaldo Cruz contra o Paraguai, em 1956

Como Pelé, não havia zagueiro que o marcasse. Como Pelé, aprendeu a bater para preservar a integridade. Justo a integridade de quem sabia mais em um campo de bola. De quem podia, sempre, dar gols e talento refinado de presente para as arquibancadas em festa.

Ah, que pena, torcedor de hoje, você não ter visto as coisas que esse Thomaz Soares da Silva inventava, num repente, a cada palmo de grama. Coisas que lhe davam um ar de Mozart tecendo filigranas ao piano. Ou faziam com que a gente sentisse que, ali, estava um Leonardo da Vinci criando obras primas com os pés, na imensa tela do gramado do Maracanã.

Mesmo assim, torcedor de hoje, de uma coisa tenha você a certeza: aquele moço moreno, de mediana estatura brasileira, mereceu como poucos a cognominação universal de Mestre. E foi como Mestre que imperou absoluto pelos nossos campos, por volta das décadas de 40 e 50.

Ídolo e espelho no qual procurava se refletir o então menino Pelé, aquele gênio por excelência do futebol viveu momentos de idolatria junto ao povo. E tais momentos, por sinal, só seriam comparáveis aos dedicados a mitos como o presidente Getúlio Vargas, o “Gegê Pai dos Pobres”. Ou a Francisco Alves, o inigualável “Rei da Voz” dos auditórios da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Dono de muitas glórias, o que o Mestre Ziza costumava comentar era que, de algumas delas, chegava a guardar lembranças forte, eternas – certamente, um contrabalanço para a dolorosa perda da Copa de 50, em pleno Maracanã, para os uruguaios.

  • No tricampeonato que ganhei com o Flamengo, onde já brilhavam o Domingos da Guia e o Perácio, dei logo o ar da minha graça, pois parti para a consagração bem no início da carreira, no começo dos anos 40. E na Seleção, também tive bons momentos. Ajudei o Brasil a ganhar a Copa Rocca da Argentina, em 1945. Ganhei a Taça Oswaldo Cruz dos paraguaios duas vezes. E fui campeão do Sul-americano de 1949, sendo considerado o maior jogador da competição – lembrava com carinho o velho Mestre.

Que gostava sempre, no entanto, de comemorar uma conquista toda especial:

  • É que em 1957, aos 38 anos, provei a mim mesmo – e a muita gente que já duvidava do meu futebol – que não estava acabado. Que podia comandar um time, ainda. Então, ser campeão naquele ano com o São Paulo, foi uma emoção que mexeu muito comigo. Ainda mais, porque ganhamos do Santos do Pelé de 6 a 2, em plena Vila Belmiro. E do Corinthians, do Luizinho “Pequeno Polegar”, de 3 a 1, na grande decisão. Não há como negar. Aquele meu São Paulo era mesmo espetacular!

Particularmente, porque tinha o Poy no gol; o Mauro e o De Sordi, lá no fundo-de-zaga; o Maurinho, o Gino e o Canhoteiro arrasando no ataque. E o Dino Sani ali comigo, dominando o meio-de-campo…

Gênio na acepção do termo, eis que o que chega, até mesmo, a soar como inverossímil, é que aquele venerável Mestre Ziza – ou simplesmente, Zizinho – nunca tenha deixado de mostrar um total espírito guerreiro em campo. Solidário como poucos, era visto a acudir, a qualquer tempo e momento, o companheiro em apuros. Fosse na disputa de uma jogada ou no ato de uma covarde agressão, praticada por um zagueiro adversário.

Só que o que devia mesmo, isso sim, era jogar sempre de fraque e cartola. Sapatos de cromo, ao invés de chuteiras. Como o irretocável deus dos estádios, que sempre foi…

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1 Comentário

  1. Paulo Renato Pinto

    Zizinho, craque refinado no merecido e belo texto de outro Mestre da literatura esportiva: Peris Ribeiro.

    Responder

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