por Christiana Lee
Eu não entendo NADA de futebol. E confesso que não gosto! Desculpa, galera da pelada! Mas, felizmente, estou aqui para escrever sobre a Islândia. E dela eu entendo! Foi amor à primeira vista! E olha que fui parar lá por acaso. Procurando no Google Maps onde poderia passar as férias, aquela ilha apareceu no canto da tela.
“E se eu fosse aqui?”
Fui olhar fotos e resolvi: “EU QUERO IR AQUI!”
Foram cinco meses de pesquisa e muitos e-mails (todos respondidos) até chegar lá. Para entender onde estava, as boas-vindas vieram rapidinho. A chuva e o vento inacreditáveis na capital Reykjavík obrigaram o piloto a pousar virando o avião de um lado para o outro.
“Será que eu vou morrer na Islândia? Sozinha?”
Não. Sobrevivi. Descobri que coisas assim são normais. Tudo gira em torno do tempo. Chove, neva e faz sol no mesmo dia. Mais de uma vez. Venta quase o tempo todo. É recomendável verificar o tempo antes de sair de casa. Mantenho esse hábito aqui no Rio de Janeiro só para matar a saudade. Mesmo assim, nos longos 16 dias que passei por lá (luz de 4h30 às 22h) me apaixonei perdidamente.
Para entender esse amor é preciso explicar um pouco o país. E nunca se esquecer de que são vikings, a lenda de Thor é literatura infantil, acreditam em duendes, ninguém tranca a porta de casa (alguns sequer tem chave), comem carne de baleia (eca!) e tem um Museu do Falo (isso mesmo, pênis de todas as espécies). Não existe McDonald’s, Starbucks ou qualquer coisa do tipo. Tem o que é considerado o melhor cachorro-quente do mundo vendido em uma barraquinha no centro da cidade. Só uma.
Lugar estranho, com gente nada esquisita. Pelo contrário. São todos muito simpáticos e fazem questão de saber de onde você vem, como é seu país e qual o número de habitantes. Curiosidade normal para um país com 330 mil pessoas das quais 200 mil vivem na capital. Akureyri, a segunda maior cidade, tem 17 mil. O resto se espalha por ali.
Nos 380 km que dirigi para ir de uma cidade a outra, via uma casa isolada de meia em meia hora, muitos cavalos soltos, ovelhas para todos os lados e humanos somente duas vezes, quando parei para comer. Como sou uma pessoa que não gosta de gente, estava no paraíso.
Cruzei com poucos carros e depois de algum tempo, me dei conta que não havia visto nenhum outdoor. NENHUM! Levei oito horas de um lado ao outro, o dobro do esperado. A estrada é perfeita mas você acaba parando a cada 500 metros por conta de uma vista linda. Quando via uma curva, ficava com medo do que iria aparecer. Nunca me decepcionava. Em determinado momento combinei comigo mesma que só pararia de meia em meia hora.
A trilha sonora era Led Zeppelin. Chorava, gritava, ria, cantava alto. Parecia uma louca. Ainda bem que estava sozinha! A beleza e a força daquele lugar são impressionantes. Literalmente mexem com as nossas emoções. A natureza te engole. É harmoniosa, intacta, colorida em poucos tons.
Tem areia preta, pedaços do iceberg na beira do mar, a terra treme todos os dias, uns mais do que os outros. A América se encontra com a Europa no fundo de uma fenda, a uma braçada de distância. Tem neve nos vulcões e piscinas de água quente no meio das caminhadas. Tem baleia, orca e focas. Cachoeiras de todos os tamanhos em todos os lugares. A água é incrível e faz da cerveja uma experiência à parte. E eu nem sou muito de cerveja.
E tem aurora boreal…
O antigo prefeito de Reykjavík, que costuma usar um terno rosa, mandava apagar as luzes da cidade quando a atividade ficava intensa. Nenhum problema. Aliás, vale conferir o Instagram da policia da cidade. Eles vivem perigosamente: gatos presos em árvores, crianças que escorregam no gelo, gansos que fogem da lagoa, treinamentos pesados de skate e bicicleta. Eventualmente bêbados cheios de Brennivín (Google it) na cabeça. Só para ilustrar, o país não tem presídio.
O ar é puro e o frio intenso, mesmo no fim do verão. Mas como os próprios islandeses dizem, não existe mau tempo, apenas roupas ruins.
Em resumo, é tipo assim, perfeito.
Aliás, a minha viagem foi perfeita. Tudo deu certo. Mesmo o que dava errado tinha final feliz. Ouvi um rapaz reclamando de dificuldades nos passeios, com o tempo, com algo que não funcionou: “Parece que você tem que provar que merece estar neste país”.
Dei um sorriso maroto para mim mesma e pensei: “Eu mereço”.
Agora conto os dias para voltar.
Bom, mas esta é uma página de futebol. Alguma observação sou obrigada a fazer. Sei que os islandeses são apaixonados pelo futebol inglês, o que não os impediu de despachar os vizinhos de volta para casa na Eurocopa. Demonstração clara do pragmatismo do país que fez com que resolvessem investir na paixão nacional de forma séria, criando campos de futebol com grama aquecida, formação de técnicos e educação. É impossível não se encantar com a festa da torcida nos estádios ou com a narração de Gudmundur Benediktsson, que não consegue conter sua emoção durante os jogos.
Hoje, se eles tirarem os muito menos simpáticos anfitriões da competição, a gente vai saber se eles também provaram que merecem estar ali.
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