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GERALDO, UM RENASCENTISTA DO FUTEBOL

16 / abril / 2017

por André Felipe de Lima


Oswaldo Brandão, então treinador da Seleção Brasileira em 1976, dizia com todas as letras: “É o jogador mais técnico do Brasil”. Ele se referia a Geraldo Cleofas Dias Alves ou simplesmente Geraldo “Assoviador”, que nasceu no dia 16 de abril de 1954, na mineira Barão de Cocais.

Nesta Páscoa recordamos de Geraldo, um grande jogador do Flamengo que, lamentavelmente, partiu muito novo. Há quem garanta ter sido ele, que foi da mesma geração de Zico, tecnicamente superior ao Galinho de Quintino. Embora vestisse a camisa 8, a 10 do Flamengo poderia ter sido dele caso não morresse com apenas 22 anos, no dia 26 de agosto de 1976, após sofrer um choque anafilático durante uma simples e totalmente desnecessária cirurgia para retirada das amídalas na clínica Rio-Cor, na rua Farme de Amoedo, em Ipanema. Muitos do Flamengo recomendavam a cirurgia porque ela supostamente aceleraria a recuperação em contusões.


Se não operasse, reforçaria a injusta fama de indisciplinado. Esse era o temor de Geraldo, que foi à clínica acompanhado do inseparável amigo Serginho, enfermeiro do Flamengo. Antes de entrarem no hospital, pararam na Igreja de Nossa Senhora da Paz, também em Ipanema. Rezaram e chegaram à clínica. No quarto, preparando-se para a cirurgia, rezaram novamente, juntos. “Ele me falou que só iria operar porque, se não, seria chamado de indisciplinado mais uma vez. Mas estava com muito medo e não escondia. Ele queria que eu ficasse a seu lado sempre. Chegou a brincar, pedindo que eu amarrasse seus pés, porque ‘poderia dar uma louca e sair correndo’. Eu vi quando chegou à Gávea, magrinho, cheio de ziquizira, alto e feio. Fui o último amigo a vê-lo vivo.”

No dia em que Assoviador morreu, Zico comentou que Geraldo tinha pavor de operações, mas que jamais o considerou indisciplinado e, sim, um cara com a opinião formada e um pouco “genioso”. “Como quase todos os craques”, descreveu-o Zico.

Ver Geraldo jogar era um prazer inenarrável. Fazia ele de uma partida de futebol uma galeria de arte, com jogadas cerebrais e de uma plasticidade incomum. Geraldo foi um renascentista do futebol, mas o destino cometeu um assalto contra os fãs do bom futebol ao sequestrar, sem chance de resgate, o nosso Geraldo “Assoviador”.

“Eu mesmo quero passar a camisa do meu filho. A camisa preta. Aquela que ele mais gostava. Aparecida, veja lá no guarda-roupa uma gravata escura. Pode ser a azul-marinho. O conjunto, aquele que veio do tintureiro. Calça preta e paletó quadriculado. Como é que pode? Sabe, eu não acredito que isto tudo é verdade. Que coisa impressionante que é a morte. Parece que eu ainda estou vendo ele saindo do Grupo Escolar Cel. Câncio de Albuquerque e pedindo para eu comprar uma bola. Isto foi lá em Barão de Cocais, nossa cidade. Que coisa impressionante é a morte. O que fizeram com meu filho não tem explicação. Aparecida, a camisa. O ferro já está quente”. Foi assim, num misto de incredulidade e resignação, que o pai de Geraldo, seu Oswaldo, preparava o corpo do filho para a derradeira e dolorosa despedida.

Brandão estava certo. Geraldo estava prestes a se tornar o melhor jogador do Brasil. Ao cronista Sérgio Noronha ressaltou: “Ele é um menino que tem muito o que aprender em matéria de disciplina tática, mas carrega um potencial de craque, e por isso vou insistir com ele na Seleção Brasileira”. Infelizmente, não deu tempo.

Mas Geraldo, além do grande futebol, foi um camarada alegre. Irradiava felicidade e bom humor por onde passava. Essa imagem foi a que ficou. Geraldo foi um ídolo fugaz, porém eterno.

 

 

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