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FUTEBOL, SUPERSTIÇÃO E RELIGIOSIDADE

26 / junho / 2019

por Victor Kingma


Suécia, 1958.  Após uma campanha brilhante, o Brasil chegou à decisão da 6ª Copa do Mundo como grande favorito. Ninguém podia imaginar que a aplicada seleção sueca pudesse fazer frente ao futebol arte de Didi, Garrincha e Pelé, que vinha encantando o mundo. Ainda mais após a exibição de gala nas semifinais, onde tinha goleado por 5 x 2 a poderosa seleção da França, de Kopa e Fontaine.

Entretanto, a dois dias da final, os organizadores tinham um grande problema a resolver: as duas seleções utilizavam o uniforme amarelo.  Normalmente, seguindo as regras do cavalheirismo esportivo, muito comum naquela época, esperava-se que os anfitriões, como gentileza, permitissem que os visitantes utilizassem o seu uniforme oficial. Mas os dirigentes suecos não o fizeram, e a FIFA, sem alternativa para o impasse, marcou um sorteio para decidir quem teria que utilizar camisas de outra cor.

O Brasil, em protesto, não enviou representante para acompanhar. E não deu outra. Perdeu o sorteio, que muitos acreditam tenha sido manipulado. Não poderia, então, jogar com a sua tradicional camisa amarela. Pior: o branco era o outro uniforme disponível para disputar a finalíssima.

Começou então o drama. Supersticiosos, vários jogadores e integrantes da delegação brasileira logo se lembraram da Copa de 1950, onde o Brasil, mais favorito ainda e jogando com camisas  brancas, inexplicavelmente perdera a Copa para o Uruguai em pleno Maracanã,  na maior tragédia da história do nosso futebol. 

Diante do clima de preocupação que  tomou conta de todos, Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação, resolveu, então, apelar para a superstição e religiosidade dos brasileiros: a seleção  disputaria a final da Copa com a camisa  azul, cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.

E ainda lembrou aos jogadores que, nas últimas cinco Copas disputadas, quatro delas foram vencidas por seleções que utilizaram camisas azuis, recordando os feitos da “Azurra” Italiana em 1934 e 1938 e da “Celeste” Uruguaia em 1930 e 1950.

Um uniforme azul foi então comprado às pressas em uma loja de artigos esportivos, em Estocolmo. Mário Américo, o massagista, e Assis, o roupeiro, passaram o sábado, véspera do jogo, costurando os números e os escudos retirados das camisas amarelas. 

No domingo, 29/06/1958, dia da grande final no Estádio de Rasunda, na Suécia, os nossos craques, livres da “maldição” da camisa branca e protegidos pelo manto sagrado da padroeira do Brasil, fizeram prevalecer a sua classe e, ao vencerem a Suécia por 5 x 2, conquistaram a primeira Copa do Mundo para o nosso país.

Esse fato, inclusive, é contado com detalhes por Ruy Castro numa de suas  grandes obras, o excelente livro Estrela Solitária, um brasileiro chamado Garrincha.

Na foto, a Seleção Brasileira, campeã do mundo, em 1958, posando com o uniforme azul improvisado para a final:

Em pé: Djalma Santos,  Zito,  Bellini,  Nilton Santos, Orlando e Gilmar.

Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá ,  Zagallo e o massagista Mário Américo.

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