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FOLHETIM VASCAÍNO

8 / dezembro / 2023

por Rubens Lemos

É, sim, de folhetim de Nelson Rodrigues, o fantasma cronista, dramaturgo e pornográfico, a relação entre o Vasco e a sua torcida. O Vasco não é uma massa sendo guiada pelos jogadores. É um time que é empurrado pelo sentimento ilimitado, cego e vibrante de um povo, de uma patuleia que apanha para amar mais e sem estabelecer qualquer condição básica de autoestima.

Roteiro Rodriguiano: me acovardei como o Asdrúbal alucinado pela Dircinha que passa a vida a humilhá-lo e ele a decantá-la de joelhos feridos pela falta de vergonha e a adoração alucinada.

Consegui assistir aos dez primeiros minutos porque agi como Flodoval, o canalha do escritório, que destila veneno sobre a esposa de Cândido, pelo nome se tem ideia da brandura do bovino marido, enquanto a fustiga pelas costas, dizendo ser ele, o crápula fundamental, o verdadeiro homem de sua vida.

Postei mensagens pessimistas como o escriturário Ladeira, alucinado pela Iarinha que corresponde o sentimento, mas não aceita o sexo sob lençóis infectos de hospedaria. Quer o corpo a corpo em um hotel, por miserável que seja tomada pela mania insofismável de pureza e higiene. Hotel que Ladeira jamais poderá pagar, ora carambolas, com o mísero ordenado de escriturário Letra D.

Fugi da raia e fiquei acompanhando tudo pelo site do globoesporte.com, suando frio como nas febres que aterrorizavam Adelaide, suspeita de gravidez subversiva produzida pelo cafajeste do Aderbal, carteiro sorrateiro que lhe enviava mensagens anônimas e picantes. E sorria, cínico, sabendo que ela sabia ser ele o galanteador.

É fato. Puro, elástico feito a baba do último bêbado do Arco da Lapa. Saiu da última farinha cadavérica de Nelson Rodrigues, que de tricolor passou a vascaíno por 95 minutos, a manutenção do Vasco na Série B do Campeonato Brasileiro. “Todos os minutos contêm milagres”, saiu o grito da lápide do gênio maldito da cultura brasileira. Consta que o vigilante do Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro, correu assombrado, patético, ululante.

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