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FINAL CAIPIRA: A FESTA DO INTERIOR DO FUTEBOL PAULISTA

11 / novembro / 2020

Por André Luiz Pereira Nunes


Em 1990, tínhamos plena ciência de que estávamos diante de um acontecimento peculiar na história do futebol brasileiro. Bragantino e Novorizontino, dois clubes pequenos do interior, haviam chegado com mérito à decisão do Campeonato Paulista, suplantando de maneira surpreendente os grandes times da capital. 

Até então fora testemunha do merecido e inédito título da Internacional de Limeira, em 1986, que vivenciava uma grande fase, a melhor de sua história, cuja apoteose foi abrilhantada anos depois com a ascensão à elite do Campeonato Brasileiro. Presenciar essa conquista foi de fato memorável, ainda mais contra o favoritismo inquestionável do Palmeiras. 

Dessa vez, porém, duas equipes de fora do tradicional circuito disputariam a taça. Vale frisar que o Leão de Bragança tivera uma rápida passagem pela elite na década de 1960 e retornara ao convívio dos grandes somente em 1989. Já o Tigre de Novo Horizonte era um ilustre desconhecido até 1986, quando estreou na primeira divisão.

A fórmula do Paulistão daquele ano não era das mais simples. 24 participantes estavam divididos em duas chaves de 12. Todos se enfrentavam, sendo que os três melhores de cada chave avançavam, além das outras seis melhores campanhas, independente de grupo. Os dois disputantes da final estavam na mesma chave que Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. A equipe de Bragança Paulista terminou a primeira fase em terceiro lugar, com 28 pontos, enquanto o Tigre avançou na quarta posição, com 25. Na segunda fase, novamente os times se posicionaram em dois grupos. Os líderes de cada chave se defrontariam em jogos de ida e volta na final. Com 7 vitórias em 12 jogos, o Bragantino terminou na ponta, enquanto o seu adversário venceu 5 partidas, empatou 6 e terminou na dianteira de sua chave.

Conforme dito, apenas a Internacional de Limeira havia sido campeã paulista. Portanto, Novo Horizonte e Bragança Paulista respiravam o clima festivo da memorável final caipira. É bom que se diga que a decisão não ocorreu por mera obra do acaso. Ambos os elencos eram formados por atletas de qualidade. O Leão já até havia demonstrado força, em 1989, ao ser semifinalista do estadual e campeão da Série B nacional. Dirigido por Vanderlei Luxemburgo, contava com o volante Mauro Silva, o qual posteriormente viria a se destacar na Seleção Brasileira na Copa de 1994, nos Estados Unidos, quando o Brasil se tornou tetracampeão mundial. Ele seguiria no Bragantino por mais um ano, chegando à final do Campeonato Brasileiro, em 1991, quando o seu time foi derrotado pelo São Paulo. Na ocasião, o Braga era treinado por Carlos Alberto Parreira, o mesmo que levou Mauro Silva para a Seleção. De Bragança Paulista foi para La Coruña, na Espanha, em 1992, onde permaneceria até 2005. Outro jogador importante era o meia Pintado. Na equipe desde 1989, havia passado pelo São Paulo, sem contudo, agradar à torcida e dirigentes. Continuou no time até 1991, quando a equipe do Morumbi lhe ofereceu um novo contrato a pedido de Telê Santana. A partir daí, foi essencial nas conquistas das Libertadores de 1992 e 1993, além do Mundial de Clubes de 1992.


Curiosamente, em 1991, já sob o comando de Parreira, o Bragantino passou a contar em seu elenco com uma verdadeira legião de degredados tricolores. Eram oito jogadores revelados pelo Fluminense que não estavam sendo aproveitados nas Laranjeiras. Três eram destaques do time. O meia João Santos comandava as ações do meio-campo. Já no ataque, o ponta Franklin costumava entrar no decorrer das partidas para incendiar o jogo. Ambos se empenhavam para as conclusões certeiras do artilheiro Sílvio. O goleiro Gabriel, o lateral Carlos André, o meia Robert e os atacantes Ronaldo Alfredo e Alberto completavam a lista.

O Novorizontino, por sua vez, era muito bem armado por Nelsinho Baptista. Logo após a campanha, foi contratado pelo Corinthians, pelo qual se sagrou campeão brasileiro no mesmo ano. Ainda teria passagens importantes por Palmeiras, São Paulo e muitos outros clubes brasileiros, além de alguns japoneses. O maior destaque do Tigre, sem dúvida, foi o zagueiro Márcio Santos. Revelado em 1987, acabaria contratado pelo Internacional, em 1991. Transitou por Botafogo, São Paulo e clubes do exterior como Bordeaux e Fiorentina. Assumiu com destemor a vaga de Ricardo Rocha, na Copa do Mundo de 1994, sendo titular na campanha do tetracampeonato. Mas não podemos nos esquecer do atacante Paulo Sérgio. Trata-se de outra revelação da equipe que também foi tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira. Para a campanha de 1990, veio emprestado pelo Corinthians. Quando Nelsinho foi para o Timão, o atacante o acompanhou. Em 1993, foi negociado com o Bayern Leverkusen. Na ocasião da Copa atuava pelo Bayern de Munique.

Após 1 a 1 em Novo Horizonte, a finalíssima ocorreu diante de um estádio lotado em Bragança Paulista. Ocorreria nova igualdade que concedeu ao Bragantino o seu primeiro e único título estadual. Depois da decisão as equipes tiveram destinos diferentes. O Bragantino ainda se manteve como potência durante certo tempo, alcançando a final do Campeonato Brasileiro de 1991. Adveio posteriormente um longo período de decadência, interrompido com a compra do time pela gigante Red Bull. O Novorizontino, por seu turno, fechou suas portas, completamente falido, seis anos depois, só retornando em 2012, com um novo nome, tendo uma meteórica subida até voltar à elite estadual.

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