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EDMILSON MÃE QUERIDA

28 / abril / 2021

por Antonio Carlos Meninéa 


Foto acervo blog Captura Real - Mãe Querida nos dias atuais e o Sul América, campeão em 1970.

Foto acervo blog Captura Real – Mãe Querida nos dias atuais e o Sul América, campeão em 1970.

Ao ler o livro “Futebol Parintinense – do sucesso ao fracasso”, e depois conversar com o autor e jornalista, José Caldeira Alves Brilhante, que me autorizou a contar as histórias do livro, descobri que o futebol brasileiro é bem mais rico que imaginamos.

Reza lenda que na cidade de Parintins, segunda mais populosa do Estado do Amazonas, não existe nada além do maior festival folclórico dos bois e duelo das tribos Caprichoso e Garantido, certo?

Errado! Dessa ilha Tupinambarana (nome de uma das Etnias indígenas que habitavam a região) onde o futebol sempre foi amador, saíram jogadores que se tornaram campeões profissionais, marcaram gols em times grandes e até se destacaram na terra do sol nascente.

Curiosamente, vamos contar a história de um jogador que não se tornou profissional, mas poderia ter sido, e num dos maiores clubes do Brasil.

O zagueiro Edmilson Mãe Querida, que atuou por 27 anos no Atlético Sul América Clube, e três anos pelo São Cristóvão, clubes amadores da cidade de Parintins, fez muito sucesso nos dois clubes. Mas poderia ter ido longe, muito mais longe…

Já que na terra do boi o futebol nunca foi profissional, jogadores tinham que trabalhar para ganhar o pão nosso de cada dia. Edmilson, mais conhecido como Edmilson Mãe Querida, ou somente Mãe Querida, foi um desses jogadores que após um árduo dia de trabalho como estivador do porto, corria para o campo de jogo. Segundo ele, só o amor por jogar explica tamanha disposição.

CONVITE PARA JOGAR NO VASCO DA GAMA

No ano de 1959, o jovem zagueiro de 19 anos era titular absoluto do Sul América. Estivador, embarcava juta em um navio que ia para o Rio de Janeiro. O comandante da embarcação era sócio proprietário do Vasco da Gama e tinha grande influência no clube. Como já havia presenciado e se encantado com o futebol talentoso do menino Edmilson, o comandante não perdeu tempo e lançou o convite proposta:

– Você quer fazer um teste no Vasco da Gama?

– Se o senhor permitir, eu quero.

– Então amanhã tu já viajas.

Dia seguinte pela manhã, Edmilson, com as malas prontas e coração acelerado, ouve o pai perguntar:

– E essa maleta? 

– É para ir pro Rio de Janeiro, papai, vou fazer um teste no Vasco da Gama.

– Você não vai, não tem nada assinado.


Nesse instante acabou o sonho de Edmilson Mãe Querida em jogar num dos maiores clubes do Brasil. Obedecendo imediatamente e sem retrucar, começou a desfazer as malas. Para os dias atuais, tal decisão não se justificaria, mas na época o temor era justificável, pois se criavam lendas disseminando e atribuindo todo tipo de maldades e violência as grandes cidades, e ainda que houvesse muitas inverdades, também existiam muitas verdades.  

VIDA QUE SEGUE

Com uma saúde de touro e longevidade de dar inveja a qualquer jogador de futebol amador ou profissional, o zagueiro talentoso ganhou títulos e mais títulos nos vinte e sete anos que atuou no Atlético Sul América Clube. 

PENDURANDO AS CHUTEIRAS 

Edmilson Mãe Querida jogou no Atlético Sul América Clube por 27 anos, ou seja, uma vida inteira, ou pelo menos, boa parte dela. Entrou garoto e saiu adulto, encerrando a carreira no São Cristóvão, onde atuou ainda por mais três anos.

Hoje, o octogenário Edmilson Mãe Querida, feliz que só, aproveita a vida na igreja, passeando pela cidade de Parintins, e batendo papo nos finais de tarde, na frente da catedral, com os amigos das antigas e de uma vida inteira.

Contudo, ao vermos a foto do Vasco da Gama e seu elenco recheado de craques, somos obrigados a fazer as perguntas que não querem calar.

E se o papai de Edmilson Mãe Querida tivesse permitido que o zagueiro embarcasse rumo a cidade maravilhosa, e o mesmo fosse aprovado no teste? 

Dá para imaginar como teria sido sua vida carreira profissional?

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