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A POESIA NO RISO DE ISABELA E O FUTEBOL EM TEMPOS DE COVID

22 / junho / 2020

por Marcelo Mendez


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Alguma coisa acontece no peito do velho torcedor.

Não tão velho assim, dirão alguns mais gentis, de trecho rodado dirão os abusados e de pneu gasto de tanta estrada, falarão só que sabem de mim. Fato é que algo tem mudado na minha vida quando o assunto é futebol.

Dia desses vi uma amiga, uma menina, Isabela Soares, jornalista recém-formada, lutadora, apaixonada tanto pelo ofício, quanto pelo nosso Palmeiras (meu e dela…) lamentando a falta de futebol, sentindo saudades do Palmeiras, das arquibancadas da Arena dela, do Parque Antártica meu e isso me fez ver algo que me preocupou bastante.

Eu não senti falta alguma do futebol, nem do Palmeiras.

Me lembrei que ao ver o Palmeiras perder uma vaga para decisão da Libertadores para o Boca Juniors eu não senti absolutamente nada e voltei para casa, com a mesma fleuma e preocupações dos comuns que ao término dos 90 minutos imediatamente passam a ter como prioridade o dia seguinte, e a necessidade de passar no sacolão para comprar a acelga, ou alface do dia, ou o pagamento da conta de gás. A derrota já não me causava a catarse de uma perda retumbante.

Eu sei que isso se deve também ao fato de o futebol não ter mais essa retumbância toda, mas me assusta a calma britânica que os anos e a idade me trazem. Acontece que o futebol sempre funcionou para eu perder esse juízo toda no concreto das arquibancadas que vivi. Eu já amei desesperadamente por futebol, assim como já odiei com a fúria de um milhão de adolescentes virgens em busca do primeiro beijo. Mas hoje, além de uma indiferença contumaz, o que mais sinto é uma calma irritante.

Me falta o choro, a raiva, a briga de boteco, as discussões intermináveis regadas à cerveja e moela na farinha do Bar do Ivo no Parque Novo Oratório. Me tiraram tudo isso.

Agora, o futebol é uma guerra de liminares, costurada por cartolas teimosos e insensíveis que querem a todo custo ver seus times ricos em campo. Que se dane as mortes no hospital de campanha ao lado, o que importa é a rede balançar no Maracanã. Esses caras tão pouco se lascando se o torcedor que sofre e que mantém a magia do futebol viva, não tem condição de fazer os testes que os jogadores fazem para detectar o Covid.

Dirão que os dramas do SUS não é problema deles, cartolas, e eu concordo; Não é mesmo. Mas será que é difícil entender que o problema que se tem para resolver é tão grande que tem sufocado até as coisas da paixão que sempre nortearam o futebol? Não dá para sacar que esse comportamento antipático afastará em breve todos os apaixonados torcedores de suas equipes?

Que tristeza.

Enquanto torcedor, sei que preciso olhar para o sorriso de Isabela e encontrar a paixão que um dia foi tão latente pelo clube. Ali naquela imensidão de encanto, sei que encontrarei o verso da poesia perdida que um dia foi tão presente em mim. E os cartolas?

Encontrarão aonde, o bom senso que nunca tiveram? Pois é. Enquanto isso, segue o Covid na vida nossa.

Ao invés dos gols, aguardemos as próximas liminares.

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