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A MULHER COM O TERÇO NA MÃO

12 / fevereiro / 2025

por Cláudio Lovato Filho

A mulher segura o terço debruçada na mureta da arquibancada.

É uma senhora.

Nossa, senhora!

Quanta fé!

Fé: crença incondicional, adesão absoluta.

Está nos dicionários, mas isso é o de menos; importa o que está no coração.

A mulher e suas mãos postas, com o terço entre elas.

A mulher, o terço e (é claro) a camisa do time.

Quanta paixão!

Paixão: sentimento intenso capaz de ofuscar a razão.

Definição lexicográfica que nem de raspão dá conta de explicar o que vai no coração.

Ah, minha senhora!

Ela assiste ao jogo sozinha; ao menos não há ninguém em torno dela.

Teria filhos? Teria netos? Não se sabe.

Talvez o pai tenha sido um torcedor fanático, um torcedor daquele tipo: torcedor de quatro costados.

Talvez o velho a tenha ensinado, talvez simplesmente tenha lhe transmitido pelo sangue (sem discursos, sem imposições); ao natural.

Talvez ela frequente estádios (o estádio, o seu estádio, o templo!) desde muito jovem, ainda criança.

Talvez ela tenha na mente a escalação completa de todos os times que conquistaram títulos para o clube do coração – e não foram poucos, os títulos! 

E lá está ela: querendo que o jogo termine logo, porque a vitória é apertada, e, como toda vitória apertada, essa de hoje também não é amiga do cronômetro.

Acaba o jogo, ela abaixa a cabeça, e depois a ergue às alturas, para além, muito além das torres dos refletores, e as mãos de pele fina seguram o terço, e ela ajeita o cabelo e olha para o campo, de onde os jogadores, seus guerreiros, estão agora começando a sair, e ela então grita, aliviada, mas com a adrenalina ainda alta:

“Eita ferro! Ganhamos, meu Deus do céu!”

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