por Cláudio Lovato Filho

A mulher segura o terço debruçada na mureta da arquibancada.
É uma senhora.
Nossa, senhora!
Quanta fé!
Fé: crença incondicional, adesão absoluta.
Está nos dicionários, mas isso é o de menos; importa o que está no coração.
A mulher e suas mãos postas, com o terço entre elas.
A mulher, o terço e (é claro) a camisa do time.
Quanta paixão!
Paixão: sentimento intenso capaz de ofuscar a razão.
Definição lexicográfica que nem de raspão dá conta de explicar o que vai no coração.
Ah, minha senhora!
Ela assiste ao jogo sozinha; ao menos não há ninguém em torno dela.
Teria filhos? Teria netos? Não se sabe.
Talvez o pai tenha sido um torcedor fanático, um torcedor daquele tipo: torcedor de quatro costados.
Talvez o velho a tenha ensinado, talvez simplesmente tenha lhe transmitido pelo sangue (sem discursos, sem imposições); ao natural.
Talvez ela frequente estádios (o estádio, o seu estádio, o templo!) desde muito jovem, ainda criança.
Talvez ela tenha na mente a escalação completa de todos os times que conquistaram títulos para o clube do coração – e não foram poucos, os títulos!
E lá está ela: querendo que o jogo termine logo, porque a vitória é apertada, e, como toda vitória apertada, essa de hoje também não é amiga do cronômetro.
Acaba o jogo, ela abaixa a cabeça, e depois a ergue às alturas, para além, muito além das torres dos refletores, e as mãos de pele fina seguram o terço, e ela ajeita o cabelo e olha para o campo, de onde os jogadores, seus guerreiros, estão agora começando a sair, e ela então grita, aliviada, mas com a adrenalina ainda alta:
“Eita ferro! Ganhamos, meu Deus do céu!”
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