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A BICUDA DE TINUCA E AS PIZZAS DA MAFALDINHA…

23 / julho / 2016

por Marcelo Mendez


Em um sábado à tarde, de algum sol, decidi ir até o campo do São Paulinho do meu Parque Novo Oratório.

Fiquei sabendo que ali haveria a final de um torneio, a “Copa Pacotão”, que, perguntando aqui e ali, descobri tratar-se do nome do patrono do torneio, um empresário dono de um boteco nas quebradas do Parque São Rafael, que era o incentivador da coisa toda.

– Repórter, o vencedor, além do troféu, ganhará uma rodada de pizzas, lá na Mafaldinha Pizzas… – me contou a fonte que conheci ali, na grade do campo. E munido de informações necessárias, fui ao jogo em questão.

O match que valia o troféu e as pizzas da Mafaldinha era entre os times do Pouca Perna F.C. e o Em Cima Da Hora. Um time era do bairro do Vera Cruz e o outro do Sonia Maria, na divisa com Santo André. A eufórica torcida de uns 15 cachaças que se somavam a mim na arquibancada do campo do São Paulinho me falavam maravilhas do time do Pouca Perna. E então começou a peleja.

A partida era de uma ruindade intrínseca. Disputada a plenos bicões, chutes tortos, trombadas e raspadas de canela, o jogo corria. Os times, talvez sabedores dos encantos lá das pizzas, corriam e se esforçavam com uma dignidade inexorável. Eram homens atrás de réquiens, de glórias curtas que a várzea pode dar. Nesse momento me chamou atenção o camisa 11 do time do Pouca Perna.

Em um daqueles 0 x 0 virginais e indecentes, o jogo seguia. Após um desvio no fundo, o moço da camisa 11 se viu com a bola à sua frente, limpinha, solta, fácil de ser empurrada ao fundo das redes. Sabedor de tal primazia que esse momento do jogo pode oferecer, ele a recebeu, ajeitou seu corpo e então, de frente para um desesperado goleiro, enfiou seu pé embaixo da bola e a isolou sobre o gol:

– Puta que pariu, Tinuca! Como tu é ruim, porra! – esbravejou um dos 15 torcedores a meu lado, arremessando ao campo seu copo de plástico cheio de cerveja.

Tinuca…

Só pela exclusividade do nome, Tinuca já mereceria destaque nessa crônica. Afinal de contas, quantos Tinucas existem no mundo? Que coisa maravilhosa é a sensação de ser então único: Tinuca!

Observando-o em campo, vi que o seu futebol era de uma inapelável ruindade. Um grosso. Alto, de pernas infindáveis, meio arcado, Tinuca corria. Era comovente ver o quanto nosso limitado atacante se esforçava.

Tinuca tinha uma retidão de caráter épica!

Talvez por isso, a bola o procurava. Tinuca teve mais outras quatro chances de fazer o gol. Errou todas. A paciência do bebum da torcida já estava acabando quando então se fez a magia no campo do São Paulinho.

Eram uns 44 minutos do segundo tempo, quando todo mundo se preparava para os pênaltis. Já não se olhava tanto para o campo, quando uma bola sobrou na frente de Tinuca a uns 30 metros do gol adversário. Sem pestanejar e nem fazer análise, o nosso camisa 11 enfiou o bico da chuteira na bola. A pelota fez uma viagem com mil curvas até que encontrou o ângulo do time do Em Cima da Hora.

GOOOLLL!!!

De maneira impressionante, Tinuca fez o maior de todos os gols. Os cachaças vibravam, os parceiros de time o saudaram e todo mundo estava feliz. As pizzas da Mafaldinha estavam garantidas! Graças a Tinuca!!!! Através dele se fez a arte.

Porque afinal de contas o espanto e a surpresa são as maiores características de uma obra de arte. São fatores que a definem como tal, ou até mesmo nossa indignação capenga diante da beleza artística, quando dizemos “Minha nossa, como é belo!”. Pois bem:

Belo nesse dia foi o Tinuca. Minha nossa!

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