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SAUDADES DO NOSSO MAIOR HERÓI

por Zé Roberto Padilha

Na foto, Gattin, 1,93m de altura, é superado por Pelé, que tinha apenas 1,74m. Sua impulsão era absurda, suas arrancadas e chutes eram movidos a músculos que poucos possuíam, pois ele era o único atleta que ia a campo, em seu tempo, enfrentar jogadores de futebol.

E nos entristece quando o comparam com outros jogadores porque nenhum deles marcou tantos gols, cabeceou com tamanha precisão, chutou forte com as duas pernas e ampliou o repertório de dribles que existia em sua época.

Quando se fala em Basquete, há um enorme respeito por Michael Jordan. Tiger Woods reina absoluto no Golfe, e no atletismo a coroa cabe certinho na cabeça do Usain Bolt. Natação? Ninguém chegará perto de Michael Phelps, bem como Cassius Clay será eternamente lembrado como Senhor do Boxe.

Mas quando falam de Pelé, o único jogador a ganhar três Copas do Mundo, vem um azião falar de Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo, que são ótimos discípulos, mas jamais alcançarão o tal reinado.

E sempre que fazem comparações parece que querem mais desmerecer alguém do que exaltar outro alguém. Enfim, saudades do nosso Rei que partiu sem deixar um príncipe a ocupar o seu lugar.

Pelé partiu deixando dúvidas apenas aos que o viram jogar: será que sonhamos ou assistimos de verdade uma genialidade escrever seguidas obras de arte diante dos nossos olhos?

O ETERNO APOLINHO

por Elso Venâncio

Washington orienta Edmundo, Romário e Sávio, o ‘Ataque dos Sonhos’

Washington Rodrigues foi o maior comunicador do rádio brasileiro. Carioca do Engenho de Dentro apaixonado pelo Flamengo, seu ídolo no futebol era Evaristo de Macedo.

O vascaíno Chacrinha, por exemplo, adorava Washington e tentou a todo custo torná-lo seu sucessor na tevê.

Criativo, carismático e espirituoso, suas expressões ficam para a História: ‘Ô, rapaazz!’, ‘Geraldinos’, ‘Arquibaldos’, ‘Briga de Cachorro Grande’, ‘Mais Feliz que Pinto no Lixo’, ‘Capinar Sentado’, dentre tantas outras…

‘A Palhinha do Apolinho’, ‘No Mundo da Bola’, ‘Show do Apolinho’, ‘Globo na Bola’ e o ‘Show da Madrugada’ são algumas das atrações que ele comandou nas Rádios Globo, Nacional e Tupi.

Considero o ‘Robertão’ a maior criação de Washington. A voz do ‘Velho Apolo’, distorcida pelo operador, criando um efeito robótico, era absolutamente genial. Apolinho conversava com ele mesmo. Isso, há décadas. Muito antes de falarmos em Inteligência Artificial e outras coisas.

Quem se lembra da ‘Valéria, A mãe da matéria?’. Voz feminina, sensual, que mexia com o imaginário dos ouvintes durante o ‘Show da Madrugada’?

Nos pontos de táxi ou rodando pela cidade, percebia os taxistas sempre ligados no ‘Show do Apolinho’. Se a gente parasse num sinal, no fim da tarde, se surgisse um táxi o som era da Tupi.

A Rádio Nacional, com a liderança do José Carlos Araújo, o Garotinho, ganhava da Globo no Ibope. A Globo tinha Waldir Amaral, Jorge Curi, João Saldanha, enfim, um timaço. Jorge Guilherme, diretor da Rádio Globo, após conversar com Washington, decidiu contratar Apolinho e Garotinho. Não demorou muito e o ‘Velho Apolo’ me chamou para ir à sua cobertura no Alto Leblon:

– Assinei com a Globo e vou te levar.

Em agosto de 1984, isso soou como uma bomba. José Carlos Araújo, por mais de 50 anos, teve ‘Apolinho’ a seu lado. A frase do Garotinho antes de anunciar o tempo de jogo, ‘Apite comigo, Galera!’, inclusive, foi sugerida pelo próprio Washington Rodrigues.

Wanderlei Luxemburgo e Edinho não se firmaram como técnico do Flamengo, no ano do Centenário do clube, 1995. Do restaurante Antiquarius, onde estava no Leblon, o Presidente Kleber Leite discou chamando o amigo Washington Rodrigues, seu ex-companheiro de cobertura nos gramados:

– Vou trocar o treinador! – apontou Kleber.

– De novo? Contrata o Telê! – respondeu Apolinho.

Kleber virou o prato de jantar, dizendo que o nome do novo técnico estava sob ele.

– Posso ver! – questionou Apolo.

– Claro!

– Hum… O que é isso???

O nome era Washington Rodrigues, para surpresa do próprio.

O clima na Gávea não era dos melhores. Romário não falava com Edmundo e ainda tinha brigado com Sávio em campo, durante uma excursão ao Japão. Apolinho sempre teve a capacidade de convencer e unir as pessoas.

Washington e Maria Lúcia batizaram meu filho Marcello Venâncio. Eraldo Leite e Sueli são padrinhos do Rodrigo. O Garotinho batizou um dos filhos do Apolinho e também outro, do Denis Menezes. Havia uma cumplicidade, que se transformava em amizade, porque fazíamos todos juntos muitas viagens. O rádio era a tevê da época, transmitia os jogos, ao vivo, dos estádios. Ficávamos mais tempo juntos do que com nossas famílias.

Temos que agradecer a Papai do Céu pela chance de conhecer, conviver e aprender com esse ídolo eterno do rádio brasileiro.

TRANSMISSÃO IMAGINÁRIA

por Wesley Machado

Imaginei uma transmissão com Silvio Luiz narrando, Antero Greco e Washington Rodrigues comentando. Jogo entre Flamengo e Palmeiras. Os torcedores, porém imparciais em serviço, My friend e Apolinho, seguram a emoção. O engraçado narrador não grita gol.

– Pela mãe dos meus filhinhos!
Apolinho lembra dos arquibaldos.

My friend solta uma gargalhada.

Apolinho critica Gabigol com a camisa do Corinthians.

O ex-artilheiro rubro-negro não joga mais no time da Gávea – informa Apolinho.

My friend, “o palmeirense mais corintiano que existe”, segundo Juca Kfouri, também não se faz de rogado e, ironicamente, diz.

– Só Gabigol para livrar o Corinthians do rebaixamento este ano – decreta My friend.
Celso Unzelte, que estava assistindo à partida de casa, envia um Zap e Silvio Luiz lê:

– Vocês adoram falar do Corinthians, até no jogo que ele não está jogando – diz a mensagem de Celso.
– Então vamos falar do Flamengo – comenta Apolinho.

– O Palmeiras está melhor no jogo – considera My friend.

– Olho no lancê! Ééééééééééé do Flamengo! – grita Silvio Luiz.

– Balançou o capim no fundo do gol! Foi, foi, foi, foi ele… o craque da camisa número 10! Zico, o Galinho de Quintino, o verdadeiro camisa 10 da Gávea, como cantava Moraes Moreira! Confira comigo no replay! – narra Silvio Luiz.

Toca a música “Replay” com o Trio Esperança:

– É gol, que felicidade! É gol, o meu time é a alegria da cidade! – diz a canção tema de transmissões em várias rádios.

Um minuto de silêncio.

Infelizmente não teremos o replay destes cronistas esportivos.

Será difícil esquecer profissionais do quilate deles.

A crônica esportiva brasileira está de luto.
A saudade já dói.

Gratidão pelo que fizeram.

Deixaram seus nomes na história.

E ficarão guardados em nossas memórias.

– O que eu vou dizer lá em casa? – mais um bordão daquele que tanto nos divertiu!

Eu direi para os que estão e ainda vão vir que vocês são eternos!

Valeu por tudo, senhores do microfone!

Na crônica esportiva vocês foram reis!
Por isto nós os veneramos!
Ontem, hoje e amanhã!

LUTO NA IMPRENSA FUTEBOLÍSTICA

por Luis Filipe Chateaubriand

Pois que os últimos dias estão sendo muito tristes no futebol, especialmente para a Imprensa Futebolística.

Antero Greco, my friend, acaba de falecer, vítima de um insidioso câncer no cérebro.

Sílvio Luiz, o irreverente locutor, sofreu um derrame e também nos deixou.

E Washington Rodrigues, o Apolinho, também acaba de falecer, vítima de um câncer agressivo, desta vez no intestino.

Ah, Apolinho, por que foste nos deixar?

Como é que a gente fica sem as expressões deliciosas, como “batom na cueca”, “briga de cachorro grande” e “mais feliz do que pinto no lixo”?

Como é que a gente fica sem os comentários pertinazes sobre os jogos de futebol – capaz de enxergar, na maioria das vezes, o cenário do jogo com poucos minutos de bola rolando?

Como é que a gente fica sem a linguagem popular, sem frescuras, nos dando aulas sobre futebol de forma simples e direta?

Como é que a gente fica sem a dobradinha com o Garotinho José Carlos de Araújo, uma formação clássica no futebol carioca e, porque não dizer, brasileiro?

Como é que a gente fica sem seus programas diários, que informavam e divertiam ao mesmo tempo?

Ah, Velho Apolo, você não podia ter feito isso com a gente!

Mas, se você escolheu assim, vai em paz.

Um dia, a gente se encontra.

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 62

por Eduardo Lamas Neiva

Após a festa do Simonal, que foi aplaudido de pé, o povo deu uma dispersada rápida e na primeira sobra de bola, João Sem Medo pôs a bola no pé e voltou às eliminatórias para a Copa de 1970.

João Sem Medo: – A seleção nunca se assustou. Lá como cá…

Sobrenatural de Almeida: – Cá, não, João! (dá sua risada medonha)

Todos riem.

João Sem Medo (rindo também): – Verdade. Mas, como eu dizia, tanto em Assunção, quanto no Maracanã, o Paraguai jogou retrancado. Ficamos no 1 a 0, em casa, por sorte deles, já que a bola pererecou bastante na porta do gol, ora batendo em qualquer um, ora com o goleiro defendendo.

Ceguinho Torcedor: – Invicta, com 23 gols a favor e somente dois contra, a seleção de Saldanha deixou de ser uma promessa, uma utopia. O escrete do João Sem Medo esmagou todas as resistências, inclusive dando olé nos campeões do mundo de então.

Idiota da Objetividade: – Em junho de 1969, no jogo de despedida do goleiro Gilmar, o Brasil derrotou a Inglaterra, no Maracanã, por 2 a 1, de virada.

Ceguinho Torcedor: – Naquele dia também tinha gente até no lustre do Maracanã. Por conta do jogo, a cidade suspendeu todos os pecados. Ninguém matou, nem roubou, nem traiu. Que eu saiba, não houve um único e escasso assalto. Todas as classes, profissões, ideologias, raças e idades se juntaram no Maracanã.

Garçom: – Vamos aplaudir Gilmar dos Santos Neves, que ali está. Levante-se, por favor, Gilmar!

Todos os aplausos vão para o grande goleiro da seleção que conquistou os títulos mundiais de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile.

Garçom: – Vamos ver um vídeo com os gols daquela partida, transmitida pela TV Cultura?

Todos concordam e Zé Ary põe o vídeo no telão do Bar Além da Imaginação.

Ao ver pela primeira vez ou rever aqueles lances, o nome de Tostão novamente ganhou muitos elogios entre o público presente. Mas Zé Ary voltou à jogada e comparou o público presente no Maracanã naquela partida com outro importantíssimo jogo.

Garçom: – Seu Ceguinho, contra o Paraguai foi ainda mais gente do que contra a Inglaterra. Eu fui ao Maracanã naquele dia.

Idiota da Objetividade: – Pagaram ingresso 183.341 pessoas em 31 de agosto de 1969 para ver Brasil 1, Paraguai 0.

Ceguinho Torcedor: – Uma multidão inédita! Veio gente de todos os estados para espiar as feras. O povo sabia que o Brasil tinha o seu escrete. Um time maravilhosamente unido, maravilhosamente irmão. O escrete jogava na base de uma solidariedade total. Não havia o caso de um jogador ressentido ou despeitado. Como um verdadeiro líder, João criou entre seus comandados uma consciência, uma estima, um nobilíssimo caráter. E por isso também foi campeão do mundo depois: porque tinha caráter.

Garçom: – Pelé e Tostão jogaram muito naquele dia.

Ceguinho Torcedor: – O melhor naquele dia podia ser Pelé, podia ser Tostão, mas para mim foi Edu. Ele era o único atacante que não fugia, que não corria do marcador. Pelo contrário, Edu é quem perseguia o marcador e o envolvia e o desintegrava. Seus dribles eram empolgantes. Ia até a linha de fundo e cruzava magistralmente.

Garçom: – Vamos ver lances daquele jogo, com imagens do Canal 100 e a  crônica do Nelson Rodrigues, o criador dos nossos quatro personagens que formam a mesa principal do nosso bar, na voz inconfundível de Paulo César Pereio, que se despediu no fim de semana passado do Mundo Material e em breve estará aqui com a gente também. Vamos prestar atenção que vale muito a pena!

A vibração no bar é igual ao dia do jogo.

Sobrenatural de Almeida: – Contra aquele time nunca joguei, porque dava muito gosto de ver. Ficava só admirando sentado à beira do gramado. E nem precisava atrapalhar o adversário.

João Sem Medo: – Achei que você não gostasse do que é bom?

Sobrenatural de Almeida: – Eu só gosto de participar do jogo de vez em quando, pra não vulgarizar meu trabalho. (dá sua risada medonha característica) Gosto de fazer umas artes em campo pra espantar e algumas vezes fazer o impossível se tornar possível.

Ceguinho Torcedor: – E aquela seleção fez o que parecia impossível em campo: o mais nobre futebol com arte. E com um apoio popular que nenhum outro escrete teve no Brasil, a seleção do João Sem Medo seria campeã do mundo em 70 com uma campanha ainda mais flamejante que a de 58.

Sobrenatural de Almeida: – O mais assombroso é que você disse isso no dia em que o Brasil se classificou para a Copa. Só errou na profecia quanto ao técnico.

Garçom: – Eram mesmo os reis da bola! E esse é o nome da música que vamos apresentar aqui no palco com o grande Moraes Moreira, relembrando os tempos de Novos Baianos. Vem pro palco, por favor, Moraes Moreira!  

Muito aplaudido, Moraes Moreira volta ao palco.

Moraes Moreira: – Obrigado, gente! Como o Zé Ary falou, esta é dos tempos de Novos Baianos, a gente jogava muita pelada e sempre adorou futebol. Até um disco a gente lançou chamado “Novos Baianos Futebol Clube”. Mas deixa de papo e vamos cantar, relembrando o Furacão da Copa e o Rei Pelé. Um abração, Rei!

Pelé acena sorrindo de sua mesa a Moraes Moreira.

Moraes Moreira: – Vamos nessa, moçada!

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Um gol desse não se perde!