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Treinadores

TIREM AQUELE HOMEM DE LÁ!

por Zé Roberto Padilha


Foi bom a Copinha começar vazia, silenciosa nas arquibancadas, só assim deu para perceber não apenas o apito do juiz, mas a quantidade de “caralhos” ecoados que superam os passes errados. Mas de onde vem a praga daninha que vem matando, na fonte, o nosso futebol arte?

Apenas nestas transmissões, de futebol mudo, está sendo possível perceber a origem das células cancerígenas que há muitos anos vêm destruindo a criatividade das nossas divisões de base. Elas crescem em uma área demarcada em que foi permitida a entrada de um intruso. E em meio ao talento natural que emerge com a bola nos pés, com matérias primas selecionadas em peneiras, colocadas em seu habitat natural, gramados do país do futebol, dispostos a pintar uma nova obra de arte, surge uma voz que a tudo inibe: “Pega!”, “Volta!”, “Marca!”.

Por favor, tirem aquele homem de lá!

Certa vez, meu filho me perguntou qual foi minha melhor jogada. Contei a ele que não foi um gol, nem um lençol, muito menos uma caneta. Toninho Baiano, nosso lateral-direito tricolor, levou uma pancada e saiu de maca em um Fla-Flu. Como ponta-esquerda e seu companheiro mais distante dalí, dei um pique atravessando o campo e fui lhe cobrir. Na passagem, pedi ao Rivellino:


“Cobre as subidas do Júnior (então lateral-direito do Flamengo) para mim!”.

Só me foi possível raciocinar o jogo, contribuir com a mente, não apenas com os pés, porque nosso treinador, Didi, estava sentado no banco. Só assim, com liberdade, sem o grito da opressão, somos capazes de crescer profissionalmente. Assim surgem líderes, os capitães dos times e futuros treinadores. Então, por favor, tirem aquele homem dalí!

Em uma das maiores obras primas já realizadas no templo do nosso futebol, Rivellino parou a bola em um sábado à tarde, no Maracanã, frente ao camisa 5 do Vasco, Alcir. O Maracanã se calou. Seu treinador, Paulo Emílio, estava sentado e calado também. Todos nós sabemos a pintura que foi.


É no momento da criação que todo artista precisa do silêncio, da confiança, não de gritos, da quantidade de copinhos ridículos posicionados para tirar dos seus pés o foco da magia. Zico, Pelé, Gérson, Tostão, craques como eles não aparecem mais porque demarcaram, na voz sem limites da opressão, o poder da criação.

Se desejamos que a arte volte ao futebol brasileiro, o improviso e a genialidade reapareçam, ainda dá tempo, afinal, a Copinha está apenas começando. Mas, por favor, tirem aquele homem  que grita com as crianças dali!

XENO….SEI LÁ!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

No calçadão, não tenho como fugir das questões futebolísticas do momento. Mas já estou vacinado e minha paciência até que anda em dia. “PC, e essa história de xenobofia, xeno, sei lá, alguma coisa dessas que o Jair Ventura vem sendo acusado?”.

Tirei onda porque um dia antes recorri ao dicionário para saber do que se tratava. “Xenofobia”, corrigi! Olha, nunca tive papas na língua e sofri toda a minha carreira com o racismo. Sofri, não, enfrentei porque nunca fui de abaixar a cabeça, tanto que fui condecorado com a Legião da Honra pelo presidente da França. Racismo é racismo e pronto, um ato racista é claro, não deixa dúvidas!

O problema é que agora as pessoas precisam ter mais habilidade com as palavras para não serem mal interpretadas. Claro que o Jair Ventura não tem aversão a estrangeiros, pois trabalha com vários, já morou fora e seu pai foi técnico em outros países. Mas a imprensa prefere jogar lenha na fogueira do que orientá-lo nesse jogo de palavras. Na coletiva do Diego, do Flamengo, o jornalista insistia nessa questão.


(Foto: Reprodução)

A verdade é que o futebol virou tema de revistas de celebridades, recheado de fofoquinhas, de quem está namorando com quem, da roupinha da moda, do pagode da vez. Futebol que é bom, zero. E a imprensa tem muita culpa nisso.

Xenofobia eu não sabia o que era, lenha na fogueira eu sempre soube. E Jair Ventura levantou uma questão importante de nossos técnicos não serem valorizados na Europa. E como o admiro, mas não sou seu advogado de defesa, pergunto: “mas eles merecem ser, fazem por onde ser?”.

Eles nunca se mobilizaram, melhor, nunca se prepararam para esse mundo globalizado e por que sair do Brasil se aqui eles não ficam desempregados? Aqui o treinador é demitido e no dia seguinte assume em outro clube, aceitam passivamente serem mandados embora com um mês de trabalho, engolem sapo atrás de sapo. Repare, são sempre os mesmos. E, sem querer desanimá-los, na Europa, a cultura é outra.

Na Inglaterra, por exemplo, Arsène Wenger, técnico do Arsenal, está desde 1996 e, aos 67 anos, renovou por mais duas temporadas. Professores, podem cantar “o melhor lugar do mundo é aqui e agora!”.

CARNE ESTRAGADA

:::: por Paulo Cezar Caju ::::


Se tem algo que me deixa intrigado no futebol brasileiro é o rodízio de treinadores. É o futebol-churrascaria!!!! Os empresários, como garçons, vão passando de clube em clube oferecendo seu cardápio, aquele velhinho, amarelado, com as folhas despencando: “Vai um Mano, aí?”, “Olha um Marcelo Oliveira, no ponto!”, “Quem vai de Cuca no espeto?”. E nessa brincadeira o Inter ressuscitou o Celso Roth. Deve estar mal passado, mas pelo jeito não tem outro.

A carne dura de Argel não funcionou no Colorado, foi para o Figueirense e já voltou para o matadouro. Antes, o Inter tinha tentado o Falcão, peça nobre, mas basta perder duas para a cabeça dos professores serem entregues de bandeja ao olho da rua.

O baiano Cristóvão está vivendo dias apimentados no Corinthians e já já vai para o Cruzeiro em troca do Mano, e Cuca volta para o Botafogo, Levir sai do Flu e vai para o Atlético e a mesmice se perpetua. Vou dar uma dica aos dirigentes: Joel Santana, Jair Pereira, Vanderlei Luxemburgo e Renato Gaúcho, carnes esquecidas, estão de bobeira.

Ué, se o Celso Roth voltou, por que não eles??? Se não se formam novos treinadores, se os ex-jogadores não conseguem espaço ou não se interessam por esse cargo, sou totalmente a favor de intercâmbio com profissionais estrangeiros, isso, carnes uruguaias, argentinas, alemãs, espanholas, principalmente no comando da seleção brasileira, que continua insistindo na carne gaúcha. Vamos ver até quando vai essa data de validade.

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 3 de setembro de 2016.

QUEM ERA O MELHOR?


Com um belo trabalho dos treinadores, Palmeiras, Corinthians, Grêmio e Santos estão, respectivamente, entre os quatro primeiros no Brasileirão! Se pudesse voltar no tempo, qual deles encaixaria melhor no seu time, o atacante Cuca, o meia Cristóvão Borges, o zagueiro Roger Machado ou o volante Dorival Júnior?