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Sidão

O PERIGO DAS ENQUETES

por Idel halfen


Nos jogos transmitidos pela Globo foi instituída uma “votação” online para se eleger o craque do jogo.

 No último domingo foi eleito o goleiro Sidão, cuja atuação não foi boa naquela partida, o que denotou claramente que o resultado era fruto de uma ironia orquestrada, na qual as redes sociais também tiveram sua dose de contribuição, fato que causou uma situação bastante constrangedora tanto para o jogador como para a jornalista que entregou o prêmio ainda no campo de jogo. 

Lendo e ouvindo os comentários sobre o assunto foi possível até identificar que uma gama considerável de pessoas se posicionou contra a Globo, alegando que ela, ao perceber o deboche, deveria ter abortado a iniciativa e não premiado o goleiro. 

Posição que discordo, pois a mudança de critério no meio da votação caracterizaria uma situação de casuísmo nociva à credibilidade da instituição, que se utiliza da votação popular como um componente de conteúdo em  vários de seus programas.

O erro da Globo, na minha opinião, foi considerar esse tipo de votação como uma plataforma válida para avaliação de performance. 

Erro, inclusive, que é cometido em vários setores da atividade econômica em ações ditas promocionais. Adianto que não tenho nada contra sua utilização, desde que as expectativas estejam ajustadas e que se deixe clara a fragilidade estatística da ferramenta. 

Vale também esclarecer que, apesar das críticas aqui serem direcionadas às enquetes, as mesmas podem ser aplicadas às pesquisas com amostras mal dimensionadas e metodologias pouco confiáveis, visto que mesmo possuindo, em tese, maior significância, a avaliação quanto à fidedignidade é bem mais difícil, pois, além da grande incidência de institutos pouco “corretos”, há também a possibilidade do contratante não saber o que quer nem tampouco ser capacitado para avaliar os questionários elaborados e os resultados apurados. 

Registre-se que os problemas mencionados sobre as pesquisas não se restringem ao esporte e/ou à política. Infelizmente é muito mais comum do que se imagina a incidência de pesquisas contratadas por quem não domina o assunto e, pior, que pouco efeito prático trazem para a instituição contratante.

Quanto à “ação” da Globo, a emissora divulgou um comunicado reconhecendo o problema e alterando a forma da promoção. Agora incluirão a avaliação dos comentaristas na escolha, uma medida inteligente que não inibe o engajamento almejado, mas acrescenta um “filtro” para evitar problemas causados por enquetes.

PARA QUE A SOLIDARIEDADE NÃO VIRE HIPOCRISIA

por Marluci Martins


Ninguém mais vai fazer campanha nas redes sociais contra jogador e jornalista. Ninguém vai zombar do torcedor desesperado que ameaçou se jogar do alto da marquise de São Januário. Ninguém vai dizer pro Zico que ele perdeu um pênalti em Copa do Mundo. Ninguém vai gritar “assassino” pro Edmundo se ele der o pontapé inicial num Flamengo x Vasco. Ninguém vai xingar a mãe do árbitro. Ninguém vai bater em ninguém a caminho do Maraca.

Sidão, quem diria, uniu os torcedores na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias, até que a morte os separe.

Será?

Cobra-se da emissora de televisão sensibilidade. Cobra-se respeito. São críticas pertinentes, mas tão relevante foi a convicção do pessoal da TV, que fez o mea-culpa em cadeia nacional ainda na noite do fatídico prêmio concedido ao goleiro do Vasco. Quem mais, além da emissora, pediu perdão ao goleiro?

Os que lideraram a campanha nas redes sociais pela votação em Sidão, um dos piores homens em campo no domingo, já se desculparam ou sentem orgulho do feito? Não duvido que, covardes, estejam vociferando contra a empresa de comunicação.

A transferência de responsabilidades é o jeitinho dos comodistas enganadores das redes sociais. São hipócritas demais, uma ameaça ao sistema, como o hater que fere a índole de alguém e culpa o primo safado, contumaz ladrão de senhas.

Toda solidariedade do mundo ao Sidão. Ele merece. Mas, antes, vale dar uma olhada para o umbigo e ver se não existe um hater escondido ali. Para que a solidariedade não vire hipocrisia, oportunismo barato.

SABE DE QUEM?

por Zé Roberto Padilha


Logo de você, Luiz Roberto, um comunicador tão prudente, tão afinado com a gente, que se mostrou tão sensível quando entrevistou a filha do Roger, e causou comoção nacional e alcançou o Jornal Nacional, o futebol, e a nossa sociedade, dá um passo atrás em sua incessante busca pela igualdade social. O que você fez, ontem, durante a transmissão de Santos x Vasco, foi ressuscitar todos os erros e todas as injustiças que o futebol brasileiro fez com o Barbosa. Ou você faria o mesmo com o Júlio César, o dos 7×1, e do Júlio César, do Grêmio, contra o Fluminense, brancos, influentes e de classe média, o que fez com o Sidão? Por mais que fizesse outras defesas, parecia condenado pelo resto da partida. Sem direito a qualquer defesa sua.

Sabe de quem você arrasou e ironizou ao microfone, que é uma bomba atômica espalhada pelos quatro cantos do país? Um atleta negro, que além de pisar em um lugar tão amaldiçoado que sequer nasce grama, escolheu uma posição amaldiçoada desde Barbosa. Quando liguei na partida, esta estava no Show do Intervalo. E você dizia e insistia, antes de passar a bola pro Roger e o Casagrandre: “É um jogo para ser esquecido pelo Sidão!”

Daí meu imaginário ficou a buscar na memória, no baú individual que carrego do esporte, diante de tantas falhas que já vi e presenciei serem cometidas, o que de tão grave havia ocorrido. E quando vi a falha do Sidão, esta tem sido quase que comum desde o dia em que os treinadores exigiram dos seus goleiros saírem jogando com os pés. E todos nós, do mundo da bola, sabemos que eles foram para o gol porque são péssimos na linha. Precisam de tempo e treinamento. E você, Luiz Roberto, não o perdoou um só minuto.

Sabe de quem, Luiz Roberto, você transferiu um sentimento nobre de solidariedade da nação vascaína, transformando-o em deboche e ironia? De um cidadão bacana, que procura, com as próprias luvas, se livrar das algemas do preconceito que Barbosa partiu sem ser absolvido de um crime que não cometeu.

Sabe de quem, Luiz Alberto, você se espelhou para surfar nas atuais ondas sujas do racismo, da intolerância, da perseguição sexual e a toda e qualquer manifestação de arte, como esta pura, que nos concede o futebol?

Você sabe de quem.