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São Cristóvão

SÃO CRISTÓVÃO: O CAMPEÃO ESQUECIDO DE 1937

por André Luiz Pereira Nunes


Em 1937, a organização do Campeonato Carioca se encontrava dividida em duas ligas: a Federação Metropolitana de Desportos (FMD) e a dissidente Liga Carioca de Futebol (LCF). Devido a inúmeros e costumeiros desentendimentos entre os clubes, os torneios eram separados. Entretanto, enquanto ocorria o certame organizado pela FMD, os presidentes do America e do Vasco se reuniram por iniciativa própria para organizar a tão almejada unificação da disputa sob a égide de uma única entidade.

A campanha do São Cristóvão no campeonato da FMD foi realmente avassaladora. Os cadetes, em 7 jogos do primeiro turno, venceram todos, se consagrando campeões antecipados. Além do Vasco, enfrentaram Andaraí, Carioca, Madureira, Olaria, Bangu e Botafogo. Quando o campeonato foi interrompido e a extinção da federação confirmada, devido à reunificação das ligas, já não haveria como nenhum adversário ultrapassar o São Cristóvão na tabela, mesmo que fossem realizados os jogos restantes. Portanto, o não-reconhecimento do título de campeão carioca de 1937 por parte da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) é uma das maiores injustiças do mundo do futebol que precisa ser urgentemente reparada. Surpreendentemente, o vice-campeão foi o Madureira, ficando o Vasco somente na terceira posição.

Com a dissolução abrupta da FMD, o certame acabaria suspenso antes do término do primeiro turno. Apesar disso, em 3 de setembro, o extinto Conselho Geral da FMD proclamou o clube cadete campeão. A FFERJ, por sua vez, lamentavelmente não reconhece ainda em caráter oficial essa conquista do São Cristóvão. Contudo, estranhamente, para fins estatísticos, as partidas realizadas foram computadas aos números do Campeonato Carioca, visto que os jogos não foram anulados, o que se trata de uma grande contradição. O clube de Figueira de Melo, atualmente sem o prestígio de outrora e licenciado da Série C, a quinta divisão do Campeonato Estadual, reivindica o justo reconhecimento pelo título estadual de 1937. Vale ressaltar que a Federação Paulista de Futebol, tida como bem mais profissional e melhor organizada, computa todos as conquistas, tanto de equipes ativas como extintas, abarcando os períodos que vão do amadorismo ao profissional.

No mesmo ano, enquanto ocorreria a reunificação a partir da recém-criada Liga de Futebol do Rio de Janeiro (LFRJ), Vasco da Gama e America realizaram o primeiro jogo sob a direção da nova entidade, apoiada pelo próprio São Cristóvão, o qual ficou conhecido como “Clássico da Paz” devido a ambos terem promovido a concórdia do futebol carioca. Os cadetes ficaram na quarta colocação, empatados com Botafogo e America. O Fluminense foi o campeão e, obviamente, obteve seu título reconhecido. Os cadetes, por seu turno, até fizeram boa campanha, mas não o suficiente para mais um troféu. Apesar de terem vencido alguns jogos com facilidade, empataram muitos cotejos, culminando na perda de pontos essenciais. Ainda assim, foram os únicos a baterem o Fluminense.

Para quem deseja se aprofundar no tema, é altamente recomendável a obtenção da obra do saudoso Raymundo Quadros, o qual coadjuvado por Auriel Martins, escreveu e publicou “O campeão esquecido”, pela Editora Hanói. Nesse livro, os renomados pesquisadores expõem os pormenores acerca de como esse título do São Cristóvão foi injustamente apagado da história.

Válter, Hernandez e Osvaldo; Picabea, Dodô e Afonsinho; Roberto, Villegas, Caxambú, Quintanilha e Carreiro. Com esse time, o São Cristóvão conquistou o legítimo título de campeão carioca de 1937, vencendo todas as suas partidas.

SÃO CRISTÓVÃO COMEMORA 45 ANOS DA TAÇA ABELARD FRANÇA

por André Luiz Pereira Nunes


O São Cristóvão, tradicional clube do bairro imperial do Rio de Janeiro, embora esteja relegado à quarta divisão, em nível regional, também tem as suas glórias e todas foram devidamente documentadas e imortalizadas graças ao empenho de um torcedor que foi um dos maiores historiadores do futebol fluminense. Falecido no ano passado devido a um infarte fulminante, o tijucano Raymundo Quadros, pessoa a quem tive o prazer de desfrutar da amizade durante cerca de três décadas, teve o cuidado de criar e manter um rico acervo de seu time do coração, sobre o qual ainda lançou dois livros que tenho a honra de ter devidamente autografados em minha estante.

Além do título carioca de 1926 e do Torneio Municipal de 1943, a agremiação cadete comemora nesse ano 45 anos da conquista da Taça Abelard França, vencida no Maracanã. O certame foi um dos inúmeros organizados naquele tempo, o qual se assemelhava muito a atual Copa Rio, disputada por equipes de menor investimento. Participaram sete clubes divididos em duas chaves. No grupo A: São Cristóvão, Olaria e Bonsucesso. No grupo B: Campo Grande, Portuguesa, Madureira e Bangu. O homenageado Abelard França era um dirigente da Federação Carioca e ex-administrador do Maracanã que falecera em agosto de 1973.

Na primeira fase, os cadetes se classificaram em primeiro ao vencer o Olaria por 2 a 1 e empatar em 1 a 1 com o Bonsucesso. O Campo Grande foi o ganhador da outra chave. O cotejo final foi então realizado, em 16 de fevereiro de 1975, no Maracanã, diante de um público estimado de 75 mil pessoas. Todo esse apelo, embora pareça exagerado, se justificava, haja vista que se tratava de uma preliminar de Seleção Carioca x Seleção Paulista. Após um 0 a 0 muito disputado, a decisão, enfim, foi para os pênaltis com vitória do São Cristóvão sobre o Galo da Zona Oeste por 4 a 3. A equipe de Figueira de Melo não só levou um belo troféu, como ainda teve direito ao prêmio de 10.000 cruzeiros pagos pela loteria esportiva. Bons tempos em que as taças eram de metal maciço e ainda havia um bônus em dinheiro destinado aos times campeões.

Destacava-se entre os atletas vencedores, o carismático Sena, um habilidoso meia-direita da década de 70 e começo dos anos 80. Em 1981, fôra o principal artífice do Palmeiras na conquista da Taça de Prata do Campeonato Brasileiro. Na final contra o Guarani marcou os dois gols da vitória por 2 a 0. Ainda desfilou seu talento por America, Atlético de Madrid, Rayo Vallecano, Vitória, Bahia, Palmeiras, Santa Cruz, Uberlândia, Americano, Goytacaz, Leônico, Flamengo (PI), Taguatinga e Guarapari. Atualmente vive em São João da Barra, cidade na qual chegou a treinar a modesta e extinta equipe local que atuou durante um curto período na segunda e na terceira divisão do Campeonato Estadual.

Outro campeão foi Jorge Madeira, morto aos 72 anos, em 2018, cuja vida foi toda dedicada ao São Cristóvão. Jogou como lateral-esquerdo e volante, entre 1970 e 1976. Após sua aposentadoria, prosseguiu no próprio clube como preparador-físico, técnico e supervisor. Comandou à beira do campo os atletas em várias temporadas, a partir dos anos 80 e, mesmo após a sua retirada oficial ainda ajudaria o clube em diversas ocasiões, entre 2009 e 2012, seu último ano na função de treinador. Em 2015, recebeu o título de sócio emérito, graças aos inúmeros e inestimáveis serviços prestados à agremiação.

Vale frisar que a Taça Abelard França seria restaurada, em 2013, durante a administração do então presidente José Augusto Quintas Nascimento, pois se encontrava bastante deteriorada pela ação do tempo.

A festa pela conquista do torneio, em pleno Maracanã, só não foi completa porque no vestiário o atacante Sinvaldo urrava de dor devido a uma perna fraturada. Ele jogaria posteriormente no Vitória da Bahia.