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Rúgbi

A ERA RUGBY

:::: por Paulo Cezar Caju ::::


A Eurocopa terminou, tudo lindo, a festa das torcidas foi maravilhosa e é sempre bom ver Paris em festa depois de tanto sofrimento com os atentados. E Portugal, aos trancos e barrancos foi campeão. Se a França fosse campeã, também teria sido aos trancos e barrancos. 

Falando de futebol, foi uma das piores Eurocopas de todos os tempos. Sério, fico imaginando como será o futebol daqui a 10, 20 anos. Vendo Islândia e País de Gales jogarem, me assustei com a força física dos atletas. São bem mais atletas do que jogadores, cada vez mais altos e fortes.

O futebol está virando rugby e temo pelo futuro dos Gabriel Jesus da vida, dos Lucas Lima, Neymar e Phillipe Coutinhos. Estamos caminhando para que os craques de verdade percam espaço, fiquem desinteressantes, fora de moda.

Há tempos não torcia como torci para a Alemanha contra a Itália. Não dá mais para aturar essa história de ferrolho, retranca, chutão. A Alemanha joga futebol e tem conseguido aliar força física e técnica. Mas até quando? É muito mais fácil criarem robôs do que craques. Essa Eurocopa foi um bom exemplo disso. 


Pelo amor de Deus, não me venham falar que Islândia e País de Gales fizeram história, que a comemoração da torcida foi linda. A torcida sempre faz sua parte e se o futebol ainda existe é única e exclusivamente por causa dela, mas estão trabalhando pesado para que ela desapareça e caminhe definitivamente para os estádios de rugby e futebol americano. Os jogadores franzinos vão desaparecer. Sobreviverão apenas os que tiverem a velocidade de um Bolt e os músculos de um Hulk. Bem, o Hulk já temos.

Acabei de voltar da França. Todos os anos passo um mês lá. Qual o problema, o negão não pode tirar onda, saborear um coquille Saint Jacques, um escargot, um fromage blanc? Champa? Ô, parceiro, esqueceu que parei de beber??? Fiz muitos amigos naquele país maravilhoso, mas dessa vez, por conta do medo de atentados, quase não fui. Vi três jogos, França e Romênia, França e Suíça e Croácia e sei lá quem. Dei algumas cochiladas e conclui que atentado mesmo estão cometendo é com o futebol. O mundo está perdido faz tempo, mas o futebol era uma espécie de alívio de tensões, de viagem ao paraíso.

Futebol virou esporte de contato. Só de contato. De quem corre mais em campo, essas coisas. Exagero? Após 10, 20 anos comprovarão. Será preciso correr muiiiiitoooo para fugir dos vikings, dos soldados, dos gladiadores, dos gigantes. Nem todos terão essa perna, essa disposição e tocarão de primeira, não buscando uma tabelinha a la Pelé e Coutinho, mas simplesmente por medo de virarem mais uma presa.

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 12 de julho de 2016