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Rogério Micale

ME POUPE, MAS NÃO MICALE

por Zé Roberto Padilha


 Quando vi esta nova invencionice da CBF, Rogério Micale, anunciado como o novo técnico da seleção olímpica, que não preenche uma só linha nos três quesitos básicos da entrevista para se habilitar a treinador do meu time de pelada, em Três Rios (1- Jogou aonde? Lugar nenhum. 2- Chupou gelo com quem? Com ninguém. 3- Ganhou o quê? Nada, apenas vice-campeonatos, do sub-20 Mineiro, da Copa BH e do Mundial sub-20), apitando treinos de óculos escuros e dando entrevistas de página inteira, no Globo, cheio de teorias e pouquíssimas práticas, não resisti a pesquisá-lo um pouco mais na Wikipédia. Quando acabei, não consegui me conter: Chega, CBF! Me poupe. Mas não Micale. Não subestimem, outra vez, o ouro olímpico no futebol. Este rapaz não tem currículo nem bagagem para tamanha envergadura.

Seria tão simples, justo e correto com a maior paixão do brasileiro, que a entidade que o dirige fizesse o óbvio: concedesse, através da meritocracia, a oportunidade de um treinador vencedor da sua mais importante competição, o Campeonato Brasileiro, dirigir a nossa seleção brasileira. Em 2013, antes da Copa do Mundo, o Cruzeiro levantou o título brasileiro com 11 pontos de vantagem contra o segundo colocado, o Grêmio. Teve cinco vitórias a mais e saldo de 40 gols a favor, contra cinco. Seu treinador era Marcelo Oliveira. Ao anunciar o nome que nos levaria àquele novo vexame em casa, a CBF convidou Luis Felipe Scolari. Seu último trabalho: fora demitido pelo Palmeiras um ano antes ao perder por 3 a 1 para o Vasco, ter conquistado apenas 20 pontos em 24 partidas no Brasileirão e levado seu clube para a segunda divisão, em 2013. Nesse caso, a CBF usou a derrotocracia.


Vem um novo Brasileiro, 2014, e novamente o Cruzeiro se torna bicampeão brasileiro. Seu treinador, Marcelo Oliveira. A CBF se prepara para anunciar o substituto de Felipão. Depois do fracasso da seleção brasileira em 2010, Dunga ficara dois anos sem treinar qualquer clube. Foi contratado pelo Internacional apenas em dezembro de 2012. Após outro fracasso no Brasileirão 2013, demitido após 15 derrotas e apenas duas vitórias, a CBF o anuncia como o substituto de Felipão para a Copa América e as Olimpíadas. Só agora, depois de uma nova derrotocracia, chama o Tite. Justo campeão brasileiro. Mas em vez de colocá-lo para trabalhar, fazer jus ao salário e comando, coloca o cara para viajar pelo país no lugar de dirigir a seleção olímpica. E vocês querem que eu Micale?

Bem, só para não ir muito longe, vou lembrar a vocês:  Alexandre Gama também era bom treinador do sub-20. Ganhou alguns títulos de base para o Fluminense. Como este estudioso moço de óculos escuros, ascendeu de repente ao estrelato? De sub para supra! Quando quis enquadrar o Romário, o Baixinho perpetuou uma das suas memoráveis frases: “Chegou agora e já quer sentar na janela?” Gama, lógico, caiu do ônibus e sumiu pela estrada. Romário e o Fluminense seguiram viagem. Vocês acham que este criador de minhocas vai conseguir se impor em meio a este Butantã de cobras criadas? Estou quietinho aqui na minha cidade, mas meu computador, e minha paixão pela bola, me permitem o desabafo: Me poupe, mas não Micale!