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Ping Pong

FUTEBOL CARDS, UMA ONDA IRRESISTÍVEL

por Paulo-Roberto Andel


Entre 1978 e 1981, a garotada que curtia futebol foi tomada por uma verdadeira febre que até hoje repercute no mundo adulto: a coleção de cartões Futebol Cards.

O lançamento veio na estreia da Copa da Argentina e logo mobilizou uma multidão. Pela primeira vez, o futebol não era lançado em figurinhas para um álbum, mas em cartões de papelão de ótima qualidade – mais de 40 anos depois, colecionadores ostentam peças impecáveis.

Cada cartão vinha com a foto do jogador vestido com a camisa do clube e, em seu verso, uma pequena ficha de apresentação com dados pessoais, gostos e trajetória na carreira. A venda era em pacotinhos com três cartões e o chiclete Ping Pong, também chamado de Magrão pelo seu formato retangular finíssimo. Bem, o chiclete não era grande coisa (…), mas o fato é que a garotada invadia as bancas de jornal – que, acredite, vendiam jornais naquele tempo – com suas moedas para a arrebatar os pacotes. Num mundo sem internet, o Futebol Cards era uma das raras oportunidades de se conhecer um pouco mais os ídolos.

Como em toda coleção, Futebol Cards tinha os cartões mais populares, que acumulavam repetições e eram usados em trocas, enquanto os mais raros eram disputados a tapa. Todo mundo tinha um Fred do Botafogo, zagueiro e irmão de Paulo Cezar Caju. Abel, o Abelão, hoje treinador consagrado, era um símbolo permanente do Vasco nos pacotinhos. Pelo Fluminense, o cartão popular era do multitarefa Rubens Galaxe. Do Flamengo, Rondinelli. E das equipes de outros estados? Quem não teve vários Iúra do Grêmio, Victor do Santos, Odirlei da Ponte Preta e o cracaço Zé Carlos do Guarani?

Num primeiro momento, a coleção se limitava aos grandes clubes, mas rapidamente abrigou equipes expressivas de outros estados e, numa segunda etapa, algumas equipes de menor investimento. Um caso típico foi a simpática Caldense de Minas Gerais, que ganhou projeção nacional com a coleção. Já incensado pela bela campanha em 1977 e o grandioso Estádio Santa Cruz, o Botafogo de Ribeirão Preto também teve grande visibilidade graças à coleção, que incluía nomes como os de João Carlos Motoca, o do goleiro Aguilera e do veteraníssimo Zito.


Alguns cartões ficaram muito valorizados por erros de edição. Por exemplo, no Guarani, os cartões dos pontas Capitão e Bozó, campeões brasileiros de 1978, saíram trocados. Em outras situações, os jogadores que mudaram de clube possuem cartões diferentes. É o caso de Nunes, que tem dois cartões quando jogava pelo Fluminense (um de camisa branca e o outro com uma camisa tricolor estranhíssima) e depois um pelo Flamengo, com a camisa rubro-negra. Também é o caso do xerife Moisés, com cartões pelos dois clubes. No Grêmio, o goleiro Remi não tirou a foto com a camisa da posição, mas sim a do time.

A Futebol Cards também lançou a série Grandes Jogos, registrando partidas importantes dos anos 1970, com fotos maravilhosas. Clássicos como Atlético e Cruzeiro, Fla x Flu e o incrível Fluminense x Corinthians de 1976 estão na lista.

Mais de quarenta anos depois, a coleção mexe com os torcedores cinquentões. Negociações na internet alimentam o sonho de se conseguir um cartão que faltou à época. Lá estão muitos e muitos nomes que ajudaram a escrever a história cotidiana do futebol brasileiro. Que tal o Helinho do Vasco? Ou o trio Vanderlei, Marco Aurélio e Dicá da Ponte Preta? Juari e Nilton Batata no Santos. Zé Carlos, Renato e Zenon no Guarani. Marinho, Jair Gonçalves e Pires no Palmeiras. Você sabia que Ancheta, zagueiro símbolo do Grêmio, depois virou cantor na noite de Porto Alegre?

Ah, o meu time com Wendell e Renato, Gilson Gênio e Zezé, Pintinho e Cleber, que saudade!

@pauloandel

‘FUTEBOL CARDS’, MARCO NO USO DE IMAGENS DE ATLETAS PELAS MÍDIAS

por André Felipe de Lima


“Futebol Cards” e “Álbum da Copa de 82”, lançamentos inesquecíveis do chiclete Ping-Pong, da Kibon, entre 1979 e 1982. Minha geração colecionou. Eu, inclusive. Era chiclete que não acabava mais — jogávamos todos fora —, porém muitos cartões com a foto e as informações mais inusitadas dos jogadores nos deixavam enlouquecidos. Mal dormíamos pensado neles. O Orlando Lelé, por exemplo, jogava pelo Vasco, em 1979. Consegui os dois cartões dele. Lembro-me bem disso. Ele curtia Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque e a atriz Ilka Soares. Não abria mão de feijoada. Nosso querido Paulo Cezar Caju estava no Botafogo. Gostava de boa música, praia e de bater papo com amigos. Era fã do Pelé e adorava colecionar camisas e carros esportes. Cada card destes caras disputávamos no tapa durante os intervalos da escola. Não completei o “Futebol Cards”, como o advogado paulista Daniel Aparecido Ranzatto ou mesmo o colecionador Manoel de Mello Júnior, que o amigo Sergio Pugliese, do nosso Museu da Pelada, entrevistou recentemente. Mello Júnior é um camarada incansável que, além de ter as coleções completas, perambula por cada canto do Brasil e do mundo atrás dos autógrafos dos craques daquela época. Conseguiu os do Guina (Vasco) e do Pintinho (Fluminense), na Espanha. Simplesmente do cacete.

Nossa incansável investigação peladeira na busca de tudo que nos ajuda a incondicionalmente amar o futebol chegou a alguns dados sobre as origens das duas coleções. Informações importantíssimas perdidas no tempo. Vamos lá:

A Kibon lançou a coleção “Futebol Cards” em fevereiro de 1979. A festa de lançamento aconteceu em um jantar realizado no Buffet Colonial de São Paulo. Vários jogadores que constaram da lista dos cartões estiveram presentes, informaram o Jornal do Brasil e a Folha de S.Paulo.

Eis a informação sensacional: como noticiou a Folha, a “Futebol Cards” foi a primeira promoção que pediu, previamente, autorização aos atletas para uso de suas imagens e feitos, mediante contratos firmados com sindicatos e associações de jogadores. Considero essa informação um marco no uso de imagens de atletas pelas mídias.

O diretor de marketing da Kibon na época do lançamento da coleção “Futebol Cards” era o Fernando Kfouri. Tornou-se, em janeiro de 1980, vice-presidente da empresa, na qual ingressou em 1962. Informação confirmada pelo Jornal do Brasil.

Quanto ao álbum de figurinhas da “Copa de 82 Ping-Pong”, a edição dele foi organizada pela Editora Omni. O time por trás do álbum era assim escalado: publisher: Franklin Vassão; diretor editorial: José Nicácio Itagyba de Oliveira; texto e pesquisa: Carlos Maranhão (então editor e repórter especial da Placar); direção de arte: Sidney Pinto Ribeiro; diagramação e supervisão gráfica: Elenílson Campos. A criação, execução e supervisão couberam à agência de publicidade Young & Rubicam Brasil. O publicitário responsável pela propaganda para TV do álbum da Copa de 82 foi Geraldo Rodrigues Neto, na época integrante da equipe da agência Adag. 


Tentamos bater um papo com todos, mas só conseguimos localizar Carlos Maranhão, um dos mais expressivos nomes da reportagem esportiva do país, que tanto admiro desde priscas eras quando comprava a revista Placar toda semana. O águia Sergio Pugliese conversou com ele em São Paulo e se deliciou com a emoção de Maranhão ao recordar o álbum de 1982, que guarda a sete chaves, como se fosse uma comenda futebolística. Não poderia ser diferente. Faria o mesmo no lugar dele, talvez o colocasse em um cofre de banco.

Quem sentiu o prazer de (esbaforido, obviamente) abrir um envelope do “Futebol Cards” ou um pacote de figurinhas do álbum da Copa de 82 sabe a emoção que sentíamos ao se deparar com o rosto dos craques do passado estampado naquele pedaço de papel, que, para nós, valia mais que qualquer nota ou mesmo ouro. 

Ah, caramba, como era difícil o card do Roberto Dinamite.

FUTEBOL CARDS PING PONG

Se a febre hoje em dia são os smartphones, na década de 70 o passatempo preferido da garotada era a coleção do Futebol Cards Ping Pong. São 486 figurinhas de jogadores de 22 clubes do Brasil e o curioso é que no verso de cada card contém várias curiosidades sobre o jogador em questão.

Nos dias atuais, encontrar um card dessa coleção é missão quase impossível. Por isso, ficamos encantados com o colecionador Manoel de Mello Júnior. Paulista de Jundiaí, a fera não só contém todos os card, como roda o Brasil e o mundo atrás dos autógrafos dos jogadores.

– Comecei a buscar esses autógrafos tem uns dez anos. Já acumulei muita história, muita resenha!

Folheando o álbum do colecionador, relembramos os áureos tempos do futebol brasileiro, quando cada time reunia diversos craques no elenco. Cada página virada, uma viagem no tempo e muitas saudades!

– Vejo esse álbum várias vezes por dia, de manhã, de tarde, de noite! Só admirando e pensando quando vou conseguir o próximo autógrafo – revelou.

Vale destacar que a busca pelos autógrafos ultrapassa fronteiras. Durante uma viagem de férias para a Espanha, Manoel aproveitou a ocasião para procurar dois jogadores que faziam parte da coleção e obteve sucesso. Após longas viagens, encontrou Guina em Madrid e Pintinho em Sevilla.

– Cada vez que eu encontro um jogador é um prazer inenarrável. Não importa se é top ou é mediano.

Diante daquela relíquia, é claro que a equipe do Museu fez questão de ajudá-lo. Aproveitando que estávamos com uma resenha marcada com o lendário Ruy Rey e levamos Manoel para participar!

Ao chegar em Ipanema, no restaurante “Paz e Amor”, ganhou não só os autógrafos do craque, mas também um beijo na careca!

Que dia!