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Pedro

A HORA DE PEDRO

por Elso Venâncio

Finalmente o atacante Pedro consegue ter a merecida sequência de jogos. Seguramente, vai ser convocado para a Copa do Mundo. Não dá para entender como um jogador com a qualidade dele fica dois anos na reserva. Ou dois anos e meio, sei lá…

Pedro sabe fazer gols e também sabe jogar recuado, buscando a bola e deixando os companheiros de frente para o crime. Ele me lembra um pouco o jeitão do Roberto Dinamite. Romário surgiu no Vasco, lançado por Antônio Lopes, em 1985. Roberto, maior ídolo do clube, percebendo a genialidade do seu jovem companheiro de ataque, passou a atuar mais recuado. Ágil e habilidoso, Romário pode fazer muitos gols e jogadas de raro efeito graças aos lançamentos do velho goleador.

Quando o técnico do Flamengo era Rogério Ceni, eu não entendia e nem aceitava ver o ‘Queixada’ – apelido de Pedro – na reserva. Perguntei a um conselheiro do clube, que respira como poucos os ares da Gávea, se alguém conversava com o treinador sobre o assunto. Ouvi dele:

“Gabigol não gosta de ser substituído e quer jogar todas.”

“Por que não os dois juntos no ataque?”, insisti. “O que acha o Rogério?”

“Ninguém conversa com ele.”

“Nem o vice de futebol?”

“Não.”

“E o Conselho?”

“Também não.”

“Mas o presidente tem liberdade para falar com ele?”

“Acho que não.”

Treinador não é dono da verdade. Se erra, ou se insiste no erro, tem que dar explicações. Vocação para errar quem tinha, a meu ver, era o português Paulo Souza. Éverton Ribeiro de lateral? Marinho também? Filipe Luís na zaga? Gabigol na ponta? Bruno Henrique no meio? Absurdos!!!

Acompanhei de perto muitos presidentes. Na CBF mesmo, Ricardo Teixeira exigia ser o primeiro a ver a relação dos convocados e deixava claro que tinha poder de veto. Romário ficou na bronca com ele depois de ter recebido do dirigente a garantia que iria à Copa e, depois, ver o presidente lavar as mãos quando Felipão o deixou de fora, em 2002.

Vi outros exemplos disso no Flamengo. Kleber Leite sempre foi um apaixonado. Chamava os técnicos após as derrotas e exigia explicações. A atitude dele, movida pela emoção, soava errada, mas a cobrança, que deveria ser feita em outro momento, era mais do que correta.

Já o vitorioso Márcio Braga delegava os poderes no futebol – normalmente, para Paulo Dantas. Lembro que estávamos no avião a caminho de Porto Alegre quando Márcio perguntou quem era um certo garoto, apontando para o jovem zagueiro Juan, que aos 18 anos tinha assumido a vaga de titular.

Márcio Braga chegou a cobrar duramente de Kleber Leite, numa tensa reunião no Conselho de Administração, que ele atropelava os dirigentes e profissionais ao querer opinar sobre escalação. Outro grande presidente, um dos maiores da história rubro-negra, foi Antônio Augusto Dunshee de Abranches, campeão do mundo em 1981. Ele exercia sua liderança sempre se reunindo com os técnicos para pedir explicações.

O fato é que Pedro, pretendido por vários clubes, aturou uma angustiante reserva e, nisso, quem foi prejudicado foi o Flamengo. Suas últimas e próximas apresentações vão carimbar, com toda justiça, seu passaporte para a Copa do Catar.

ACORDA, PEDRINHO! SUA HORA CHEGOU

por Marcos Eduardo Neves

Provável titular da seleção na Copa de 2026, o talentosíssimo e mais que eficiente Pedro teve uma noite de gala nesta última quarta-feira, no Maracanã. Que hat-trick, que nada: iluminado, fez logo quatro gols, em plenas oitavas de Libertadores. Ainda participou de dois dos outros três, na imponente goleada de 7 a 1 sobre o Tolima. Uma semana após o Dia de São Pedro, o centroavante do Flamengo pescou almas e mais almas a seu favor como titular, o que tantos já sonhavam faz tempo, porém havia um certo Bruno Henrique, inquestionável até na questionalidade, nublando-lhe a vista do campo.

Bruno Henrique, ao que parece, ficará um ano ausente. Ao que tudo indica – e que me desculpem Marinho, Vitinho, Lázaro e até você, Cebolinha, que mal chegou, perdão pela sinceridade, mas tudo aponta para que o massacre de ontem consolide Pedro como um dos onze soldados da linha de frente em jogos decisivos.

Pedro Guilherme Abreu dos Santos é queixudo. Por isso, o apelido ‘Queixada’. Tal qual chamavam Ademir, craque do Vasco no melhor Cruzmaltino de todos os tempos, o Expresso da Vitória.

Assim como Ademir Queixada, Pedro é artilheiro nato. Assim como Ademir, pode ser também artilheiro de uma Copa. Queixada foi no Mundial de 1950. Pedro, por que não, pode cravar seu nome no cenário mundial daqui a quatro anos. Parafraseando Cazuza, para Pedro o tempo não para. O dele voa. Bem alto.

Aos 25 anos, Pedro vive um grande momento. Deve estar acordado até agora… Impossível dormir! Libertadores é a nossa Champions e Pedro é dela o artilheiro, com sete gols, mesmo número que os palmeirenses Rafael Navarro e Rony. Mesmo tendo poucas chances. Um aproveitamento, diria, divino.

Além dos gols, ontem Pedro deu de calcanhar, por elevação, chutou raspando, cedeu assistências. Fez o diabo, mas saiu glorificado. Em 2016, quando se profissionalizou, aos 19 anos, certa vez se excitou ao fazer cinco – sim, 5! – pelo Fluminense, clube do qual foi ídolo e hoje causa revolta ou ojeriza entre os pó-de-arroz. Chegou a dizer, no calor do momento:

– O Fred é um ídolo da torcida. Me espelho muito nele. Procuro sempre melhorar olhando para ele e para o Ibrahimovic.

Contudo, fez cinco nos 10 a 0 sobre o Capivariano, de São Paulo, pela primeira fase da Copa São Paulo de Juniores. Não era partida de vida ou morte, muito menos na principal competição continental. Inclusive, na coletiva concedida após aquele feito, o púbere artilheiro afirmou que já havia marcado quatro gols numa oportunidade, mas nunca cinco. Só que estes quatro de ontem, convenhamos, não tem comparação.

Se com Fred, uma de suas referências, ele tinha o sonho de jogar, hoje joga com outro super-herói. Por sinal, o que mais viu de tão perto, ali do banco: Gabigol. Que, por sinal, deixou o dele e fez bela partida ontem também. Participou de vários gols.

Mas, Pedro, faz seu nome, que o de Gabigol já está feito. Você pode vir a ser o Gabigol deste ano, acredite. Sei que você acredita muito em você, nós também.Quem sabe assim, Pedro, você se aliviará da decepção de não ter sido liberado pelo próprio clube para brilhar nos últimos Jogos Olímpicos.

Na época, pareceu maldade contigo. Hoje, sinto que você estudou bastante num colégio interno. Compreendeu o professor, e agora está maduro, pronto, para assegurar de vez seu nome no clube mais amado do Brasil.

Acorda, Pedrinho! Sua hora chegou.

A HORA DO ADEUS

por Sergio Pugliese


(Foto: Daniel Planel)

(Foto: Daniel Planel)

Ninguém nunca se atreveu a encostar na coleção de camisas de futebol de Pedro. Era uma senhora coleção, que tinha desde a do Íbis, pior time do mundo, até a recém lançada do Manchester City. Nunca foram lavadas para não correr o risco de desbotarem. Além disso, algumas eram autografadas, verdadeiras preciosidades. Imagine a assinatura de Túlio, de seu Fogão do coração, desaparecer após uma lavada? Nem é bom pensar. E não era uma simples camisa, mas a oficial, do título, usada pelo artilheiro, na final do Brasileirão, de 95, contra o Santos, e adquirida em um leilão.  Faltavam cinco para atingir a marca de 600 camisas. Todas eram catalogadas e protegidas por um plástico, como nas lavanderias. Toda empregada que chegava era logo informada por Camila, a mulher, para ficar longe delas, bem longe. Mas a verdade é que Camila achava aquela coleção um estorvo. Na última mudança, Pedro não deixou as camisas serem transportadas no caminhão, com os móveis e as outras tralhas. Foi necessário um gasto extra e ele fretou uma Kombi. Levou todas nos cabideiros, da forma que estavam, para não saírem da ordem alfabética. Ele mesmo carregou tudo e o motorista só teve o trabalho de abrir e fechar a porta do carro. Pior. Pedro encantou-se com a camisa usada por ele, lindíssima, do Treze da Paraíba, e fez uma oferta durante o trajeto. Negócio fechado. Camila esperava os dois, em frente ao prédio, para entregar as chaves do apartamento e ir para o trabalho. Não entendeu nada quando viu aquele motorista, gordinho e peludo, sem camisa, sorrisão e cofrinho à mostra, abrindo a porta da Kombi. 

– Seu Pedro, fiquei feliz com o negócio, estava precisando mesmo….

Camila percebeu uma camisa pendurada no ombro de Pedro e o fuzilou com os olhos. Estava claro que ele havia comprado do motorista.

– Tenho uma linda do Afogados, também…. 

Camila entregou as chaves e foi embora, danada da vida. Renato sabia que à noite discutiriam o relacionamento, com certeza. No almoço, Camila desabafou com as amigas, reclamou da irresponsabilidade do marido, da crise financeira que passavam _ por isso, a mudança _de sua falta de atitude e da cegueira em não perceber a situação negra atual. Camila chorou muito. No fim do almoço, sentiu-se enjoada.  

– É gravidez, hein! – apostou Lúcia. 

– Nem brinca! – desconversou Camila. 

Mas após um teste na farmácia a gravidez foi confirmada! Marina chorou mais e mais, em um misto de felicidade e desespero, de tensão e alegria pelos anjos terem atendido seu pedido. Camila preferiu contar a surpresa em casa. Ao abrir a porta, as caixas de papelão ainda estavam amontoadas, móveis de cabeça para baixo, cenário de guerra, totalmente oposto ao quartinho, onde Pedro já arrumara os cabideiros, milimetricamente ordenados e combinando com os quadros do lendário Botafogo, da década de 60, chão brilhando e cheirando a produto de limpeza. O quartinho que não seria mais dele. Em pé, na porta, Camila olhou chorando para o amor de sua vida, seu primeiro e único namorado, o homem que a levou para assistir jogos em Conselheiro Galvão, Madureira, e em Ítalo del Cima, Campo Grande, o homem com quem tomou porres inesquecíveis, o menino que amava intensamente. Sentado no chão, lustrava um troféu, que ganhara em um torneio de futebol, no ginásio, e guardava, orgulhoso, para um dia mostrar ao filho. Não falou nada. Olhou para Camila com a certeza que suas promessas haviam sido atendidas. Choraram deitados no minúsculo quartinho. E naquele momento, Pedrão entendeu que precisava se desfazer da coleção, fazer uma grana e abrir espaço para a cria. Interessados não faltavam e na manhã seguinte, iniciou as ligações. Nunca chorou tanto, ainda mais quando Marquinhos,  colecionador faminto, fez uma oferta irrecusável por todas, era pegar ou largar. Dava para montar todo o quarto e comprar um bocado de fraldas. Camila entendeu sua dor e os dois choraram mais, muito mais. Negócio fechado. No sábado, Marquinhos chegou no horário marcado. Morava em Macaé e havia pedido dica de frete. Pedro sugeriu o mesmo que levara tudo para o seu apê. Os dois chegaram juntos, Marquinhos esfregando as mãos de felicidade e o motorista, gordinho e peludo, com a camisa do Afogados, com a maldita camisa do Afogados.