por José Passarelli
‘O Rio de Janeiro do meu tempo…’
Início dos anos 70, e eu estava em todos os lugares da cidade, ora estudando ora passeando, muito mais passeando do que estudando. Me lembro que o ‘Pasquim’ nasceu com uma proposta bairrista, era para ser um jornal de Ipanema. Acontece que Ipanema foi um conjunto de circunstâncias felizes por que o bairro tinha também uma conotação até mesmo política. Naquele momento tudo era político- aliás ainda é- e Ipanema era uma síntese política, cultural, social, tudo muito entrelaçado. Em quatro números o jornal de Ipanema transformou-se num veículo nacional.
Ele surgiu na hora do sufoco mesmo, seis meses depois do AI-5. A imprensa brasileira estava muito trancada, o ‘Estadão’, a ‘Folha de São Paulo’, o ‘Jornal do Brasil’, ‘O Globo’ estavam dando manchetes absolutamente idiotas e inúteis. Uma porção de coisas fantásticas estavam acontecendo aqui no país e a imprensa não refletia nada disso por que estava muito censurada. e aí, em julho de 69, sai o ‘Pasquim’ com uma tiragem desabrida, publicando o que dava na telha, falando muito, muito. Era uma linguagem muito aberta para a época e que fez muito sucesso. Não era uma forma política de protesto, no sentido direto, mas era sim um protesto como o sufoco. O ‘Pasquim’ virou veículo de todas as pessoas que não estavam suportando aquele estado de coisas , e além disso havia a novidade da linguagem naquela hora em que toda a imprensa estava travada, totalmente travada. Foi um sucesso fantástico e o jornal chegou a vender 226 mil exemplares.
Tiraram 10 mil exemplares do primeiro número para vender no Rio de Janeiro e rodaram mais 20 mil. O segundo número foi distribuído para o Brasil inteiro, e antes mesmo de completar seis meses estava vendendo 226 mil exemplares, o que ainda nos dias de hoje seria uma tiragem fantástica, já que os de hoje não vendem mais nada, estão falidos devido à Internet. O ‘Pasquim’ representava assim um espaço para as pessoas realizarem oposição e a indignação delas. Mas esse espaço não foi meramente político, mexeu também com os costumes, teve a entrevista da musa Leila Diniz, aquela coisa toda…
Foi mais uma revolução de costumes do que uma revolução política. Mas as coisas se confundiam porque a repressão que existia na época pressupunha também uma repressão aos costumes. Aí vem Leila Diniz dizendo que ninguém tem que casar virgem, que a mulher pode ter o homem que quiser, quantos homens quiser, que pode falar da experiência sexual dela. O ator Anselmo Duarte vem e fala o que quer, e tudo isso numa linguagem absolutamente liberada, nessa hora de fechamento. O pessoal ficava fascinado…
De lá para cá muita coisa mudou, eu, era um simples estudante, andava pelas ruas e bairros da imensa cidade com o uniforme do Vasco da Gama-RJ, apostilas de cursinho embaixo dos braços, enfiava a mão no bolso e só tirava 5 dedos, mas era muito feliz, e conheci o Rio de Janeiro todo só andando de ônibus…434, 444, 477, 479, 542, 555, 638, 777, 342, 796,…etc.