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Mercado

O MERCADO DA BOLA

por Mateus Ribeiro


A vida do ser humano adulto é repleta de desafios. Particularmente, um desses desafios que menos me empolga é ir até um supermercado fazer compras. E dia desses, fui obrigado a encarar essa missão, que para mim é um verdadeiro martírio.

Antes que vocês, leitores e leitoras, imaginem que eu estou louco, esse texto é para o Museu da Pelada mesmo. Acontece que para deixar o meu passeio dentro do mercado um pouco mais divertido, tentei comparar uma tarde de compras de mantimentos para a casa com uma partida de futebol. E acredite se quiser, existem muito mais coisas em comum entre um mercado em dia de pagamento e um jogo de chutebola do que você consiga imaginar.

O primeiro passo do trabalho de Hércules foi verificar as finanças. E as semelhanças começam por aí. Fui com o intuito de fazer uma comprinha básica (mais alguns luxos), e tive que preparar uma boa grana. Isso já me fez lembrar do preço pornográfico de um ingresso para assistir qualquer pelada aqui no Brasil. Se o pão custa caro, o circo não fica atrás.

Juntei as economias, e adentrei no gramado, digo, no mercado. Como de costume, fiz como os treinadores brasileiros, e decidi cuidar do básico primeiro: se o Mano Menezes, o Carille, o Aguirre, e tantos outros preferem arumar a casinha primeiro pra depois partir pro ataque, resolvi fazer como eles, e tratei de garantir o arroz e o feijão antes de tudo. O problema é que só ali, meu orçamento já sofreu um baita desfalque. Tal qual os times dos citados treinadores, consegui garantir o essencial, mas tinha certeza de que não iria conseguir mais do que uma vitória magra nessa luta contra a balança da economia. É feio? Não. É eficaz? Extremamente.


Feito o básico, chegou a hora de dar uma enfeitada no carrinho. Afinal, o arroz é importante, o feijão carrega o piano, mas um tomate, um alface e uma mandioquinha, apesar de aparecerem com menos frequência, sempre dão um toque de elegância. São tipo os camisas 8 do time. O problema é que procurar verduras e legumes no mercado se assemelha bastante ao trabalho de um dirigente procurar um jogador: pouco dinheiro, e as opções boas normalmente são caras. A vida é feita de escolhas, e da mesma forma que o gerente (ou diretor) de futebol tem que garimpar um jogador de nível, eu tive que tomar muito cuidado pra não pegar nenhum legume ou verdura bichados. A grana tá curta, não se pode tomar decisões erradas nestes momentos. Usei todos os conselhos que mamãe e papai me deram quando eu era um dente de leite dos mercados, e consegui cumprir bem a tarefa. Ponto pra mim, já posso ser o diretor de futebol de algum time da cidade.

No meio do caminho, resolvi comprar uns ovos também. Só pra garantir. Estavam baratos, e sabe aquela vitória magra, contra o lanterna do campeonato, que você se esforça o mínimo possível? Pois bem, ia sobrar uns trocos, e investi ali. Se eu não compro, iria sentir falta de mistura no final do mês. E se o time do lado de cima da tabela perde pontos contra o último colocado, no fim do campeonato, os pontos fazem falta. Já estava começando a me divertir, quando cheguei em uma parte que eu simplesmente abomino: comprar carne.

Pensei em dar uma de Neymar (dar um migué), e furar a fila do açougue. Mas eu me sentiria mal, e preferi ir nas bandejas que ficam no freezer. Olhando para aquilo, pensei: aqui no freezer, temos o futebol atual. Plastificado, feito para ser vendido da maneira mais bonita possível. Até perdi a vontade de comprar. Fiz como o Karius, e comprei um frango.

Eis que eu chego na área de bebidas. Ali, havia refrigerantes e cervejas para todos os gostos. Como sou um Atleta de Cristo, fui para a parte dos refrigerantes. Fiquei assustado com o preço. Mas não com o preço dos refrigerantes de marcas maiores, mas com alguns que nem de longe justificam o valor estipulado. Digamos que Lucas Lima, Ganso, Gabigol estavam custando quase a mesma coisa que o Messi. Já que iria gastar dinheiro de qualquer forma, resolvi levar uma Messi Cola pra casa.


No final das contas, gastei o que não tinha, o que não poderia, e certamente não conseguiria agradar meus familiares com a compra que fiz. Certamente, eu iria ficar com cara de dirigente megalomaníaco que  contrata Deus e o Mundo, mas no final das contas, não consegue entregar nenhum resultado para os torcedores. Torcedores nunca ficam satisfeitos.

Sabe quem se dá bem nessas historias? Os donos dos mercados, os empresários de jogadores, e todo mundo que fatura nessa história. Quanto a nós, pobres torcedores e clientes, só nos resta gastar nosso rico dinheirinho, e ser feliz com o pouco que conseguimos comprar (e assistir).

Ainda bem que depois de pouco mais de 90 minutos, eu já estava voltando pra casa. O futebol, esse infelizmente não está voltando. E parece que dificilmente vai voltar.

Um abraço, e até a próxima!

ESPECULAÇÕES DE FINAL DE ANO

por Idel Halfen


Com o fim da temporada brasileira de futebol os noticiários se voltam às possíveis transferências de jogadores, muitas delas efeitos de especulações infundadas plantadas por empresários ou por jornalistas ávidos por audiência.

Um simples comentário sobre a qualidade de um jogador tem a capacidade de ser transformado em “interesse na contratação”, uma mera sondagem chega ao público como “negociações avançadas”. Tais distorções talvez até consigam satisfazer os objetivos comerciais de curto prazo dos veículos, porém, imputam expectativas que, além de frustrarem os torcedores, expõem os jogadores cujas transferências não são efetivadas.

Sobre a frustração do torcedor não há muito que falar, cabe a ele guardar na memória quais veículos merecem credibilidade e não mais acessar os sensacionalistas mentirosos, a menos que tenha vocação para gostar de ser enganado, tema que não cabe aqui abordar.

Já sobre os jogadores a discussão é bastante interessante por envolver conceitos de gestão.

Estabelecido que nem toda notícia sobre transferência é verdadeira, cabe relatar que o fato de recusar uma proposta não faz de nenhum jogador uma má pessoa, tampouco do clube preterido uma instituição desacreditada.


Todo profissional tem o direito de avaliar as propostas que lhe chegam e optar pela que lhe pareça melhor, no futebol isso fica mais evidente em função dos noticiários, mas no meio corporativo esse tipo de situação é também ou até mais comum.

Deve também ficar claro que cada ser humano tem sua própria escala de valores, a qual pode se transformar ao longo da vida. Em vista disso, julgar as decisões estando de fora se caracteriza numa indubitável prova de ignorância, afinal de contas, o fato de uma escolha ser diferente da que faríamos não significa que a outra seja pior, nem melhor…

Um profissional costuma considerar em sua escolha: a remuneração oferecida, o tempo do contrato, a estabilidade, as perspectivas de crescimento, a visibilidade, o ambiente/cultura,  a situação financeira da organização, a localização, a imagem passada e, no caso do futebol, o comportamento da torcida e as chances de se sagrar vitorioso. Reforço que o grau de importância dedicado a cada um desses pontos varia em função das características e anseios individuais.


E onde entra o marketing nessa história? No caso de um clube futebol, partindo da premissa que exista um perfil pré-definido em termos de faixa etária, personalidade e momento na carreira, caberia ao clube identificar quais atributos costumam ser mais valorizados pelos jogadores com tais perfis e ao marketing trabalhar para que a instituição seja percebida como ótima nos pontos cuja avaliação contenham algum grau de subjetividade.

No caso de empresas, existem até publicações que elaboram rankings sobre as melhores para se trabalhar. Esses rankings atualmente têm o poder de balizar a escolha de muitos profissionais, além de ajudarem na retenção de talentos.

É claro que existem expressivas diferenças entre o esporte e o mercado corporativo, mas penso que a busca pela adaptação das práticas que têm dado certo em outros setores deveria ser um objetivo a ser perseguido pelos gestores, independentemente do ramo em que atuam.