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Madureira

A CASA DO MADUREIRA

por Zé Roberto Padilha

Depois de mais um fracasso mundial do nosso futebol, o já combalido Campeonato Carioca começa da pior maneira possível.

Logo na segunda rodada, com ingressos a R$ 400 mais taxa de 60 reais, Flamengo enfrenta o Madureira em Cariacica, no Espírito Santo. E com time Sub-20.

No lugar de cobrar ingressos ao vivo mais barato do que o sentado na poltrona pagando o Canal Premiére, a Federação de Futebol do Rio continua a afastar seu público dos estádios. E logo de Madureira, que o Arlindo disse ser o nosso lugar?

Não basta torcer por uma seleção que, por seus convocados jogarem na Europa, você só os assiste pela televisão. Agora, até os jogos do Madureira vão estar distantes.

Madureira é o nosso lugar. De sambar na Portela e Império Serrano que são de lá. Mais sair de lá, do berço do samba e do futebol para vê-la atuar no Espírito Santo é retirar, de vez, a magia carioca do seu ex-cultuado estadual.

Obs: bebês entram de graça, segundo o site oficial da FERJ. Ainda bem!

REI DO PARANÁ


Ídolo do futebol paranaense, Madureira enfrenta o Ademir da Guia

Se hoje em dia o futebol paranaense está em alta, muito se deve a Carlos Roberto Ferreira, ou simplesmente Madureira. De uma geração que colocou o Brasil em outro patamar no mundo da bola, o craque foi, sem dúvidas, um dos maiores ídolos do futebol paranaense nos anos 60. Entre seus maiores feitos está um gol antológico que garantiu a vitória contra o Santos de Pelé.

Com passagens por grandes clubes como Vasco e Palmeiras, Madureira ganhou destaque pelas atuações nos times do sul. Antes de se tornar ídolo por lá, no entanto, tentou a sorte no Rio de Janeiro, cidade natal. E, como todo boleiro que se preza, era um verdadeiro fominha das peladas.

– Jogava em campos de terra, no bairro Santo Cristo, próximo ao condomínio onde morávamos. Meu primeiro treino foi no América-RJ, aos 15 anos, na equipe juvenil.

A intensa rotina de treinos no clube carioca deixava o menino exausto e, por isso, em uma das idas, dormiu no bonde número 39 (Santo Cristo – Leopoldina), perdeu a atividade do dia e, se já não fosse o bastante, esqueceu as preciosas chuteiras. Vale destacar que o par havia sido dado pelo pai de presente de aniversário.


– Me acordaram já no ponto final, aos gritos. Além de não poder treinar naquela tarde ainda levei uns tapas de meu pai, quando cheguei em casa e contei-lhe do ocorrido – revelou em sua biografia “Madureira Craque e Guerreiro”.

Após dar baixa no exército, aos 18 anos, viajou para o sul com o sonho de se tornar jogador profissional na bagagem. Com uma garra além do normal, uma das suas maiores virtudes, se profissionalizou pelo Grêmio em 62 e começou a escrever sua história no futebol.

A passagem pelo Grêmio terminou em 64, ano em que o craque se transferiu para o Metropol, de Santa Catarina, e ganhou muita visibilidade no cenário nacional. Embora não seja um clube muito conhecido na atualidade, o Metropol teve anos gloriosos na década de 60, coroados com incríveis cinco títulos estaduais.

– Foi uma passagem muito marcante e vitoriosa. Tive a felicidade de ser bicampeão estadual e sul-brasileiro. Também fui artilheiro e eleito o melhor do ano algumas vezes.

Valorizado no mercado, recebeu, alguns anos depois, uma proposta irrecusável do Ferroviário, um dos embriões do Paraná, e logo se tornou ídolo, caindo nas graças da torcida. A passagem pelo clube paranaense, aliás, foi eleita por ele como um dos momentos mais felizes da carreira.

Outro momento inesquecível, obviamente, foi o golaço histórico na noite de 8 de setembro de 1968. Atuando pelo Atlético-PR, Madureira comandava o ataque da equipe na dura batalha diante do Santos, que não contava com Pelé, machucado. Ao receber uma bola na esquerda, o atacante driblou Carlos Alberto, Joel Camargo e o goleiro Claudio, antes de mandar um tirambaço e estufar a rede. O gol de placa garantiu a vitória contra o Santos, na Vila Capanema, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

– Não conquistamos o campeonato, mas foi uma das melhores campanhas da história do clube em campeonatos nacionais. O gol é considerado um dos mais bonitos da história do futebol brasileiro.


Por fim, ao ser perguntado se tinha noção da importância dele para o futebol paranaense, onde realizou grandes feitos, o craque revelou que demorou para a ficha cair.

– Na época em que jogava não tinha a real noção do meu valor. Hoje em dia, após tantas homenagens, me sinto orgulhoso por fazer parte da história.

CAMISA HISTÓRICA

por André Mendonça


Do lado direito, Rogério tieta Falcão com a camisa do Madureira

Uma camisa com pedidos esgotados logo no primeiro mês, exportada para 14 países, com recorde de vendas! Barcelona, Real Madrid, Chelsea? Madureira, o Tricolor Suburbano! Graças à ideia genial do designer Rogério Nunes, o clube carioca ganhou repercussão mundial em 2013 por conta de uma camisa que estampava o rosto de Che Guevara, em homenagem aos 50 anos de uma excursão da equipe para Cuba. Se para a grande maioria o sucesso foi surpreendente, quem desenhou a camisa já sabia que estava fazendo algo histórico.

– Se eu falar que não imaginava esse sucesso é mentira! Eu estava juntando o futebol, com uma figura pop, que é o Che Guevara. Tudo isso em um clube que não sofre rejeição nenhuma! Se fosse camisa do Flamengo, os vascaínos não comprariam, por exemplo! – explica Rogério.

Jornalista e sócio do site do FutRio, que dá visibilidade principalmente aos clubes de menor porte do Rio de Janeiro, Rogério apresentou o projeto da camisa a Carlos Gandola, gestor do Fut 7 Madureira, para ser utilizada nos jogos da equipe. De acordo com ele, o site é o que contribui para o bom relacionamento com os diretores.

Apaixonado por camisas de futebol desde criança, Rogério só começou a desenhar profissionalmente em 2012. Justamente por conta do site, tinha a liberdade de bater na porta dos clubes e oferecer o projeto. Dessa forma, desenhou belas camisas para o Gonçalense, Angra, Bonsucesso, Portuguesa da Ilha, entre outros. Todas elas, no entanto, tinham uma particularidade: história.


Fã de Che, Maradona posa com a camisa do Madureira

– Na minha cabeça, a palavra design não significa simplesmente desenho. Desenho, em inglês, é draw. Não são apenas traços ou uma coisa estética, tem que ter uma história por trás, por isso é sempre um projeto.

E a história dessa camisa do Madureira é linda! Após a revolução de 1959, Cuba passava por um momento conturbado e o Tricolor foi o primeiro clube de futebol a desembarcar no país, em maio de 1963. A excursão para a ilha comunista não poderia ter sido melhor. Em cinco jogos disputados, foram cinco vitórias, derrotando até o Industriales, campeão nacional. O último amistoso da equipe contou com a presença de ninguém menos que o guerrilheiro Che Guevara.

– A camisa não tem nenhum cunho político. Mesmo não sendo tão fã de futebol, o Che presenciou um jogo do Madureira. O objetivo foi lembrar aquele momento histórico. Dava pra ver a felicidade estampada no rosto do Che! Aquela foto é uma das poucas em que ele aparece sorrindo.


Falcão jogando pelo Fut 7 do Madureira com a camisa histórica

Antes mesmo da estreia do uniforme dentro das quatro linhas, o sucesso já se desenhava. Através do Twitter do FutRio, Rogério postou a foto da camisa, gerando um grande alvoroço e muitos compartilhamentos. Se o design inovador da camisa já não fosse o bastante, o craque Falcão, do futsal, disputou um campeonato pelo time de Fut 7 do Tricolor Suburbano na época, o que contribuiu ainda mais para o êxito. Por conta da grande repercussão, Elias Duba, o presidente do clube, decidiu utilizar o uniforme também nos jogos da equipe profissional de futebol.


Em homenagem à viagem foram dois uniformes com o rosto de Che estampado. Um grená e o outro da bandeira de Cuba, com as cores azul, branca e vermelha. De acordo com Rogério, as duas tiveram um sucesso parecido.

– As pessoas mais velhas, que vivenciaram aquela época, gostavam mais da grená, que é uma cor revolucionária. Mas a molecada se amarrava na colorida. Ficou bem dividido! Até hoje vejo as pessoas usando.

Para dar uma noção de números, o Madureira vendia, em média, quatro camisas por mês. Depois do lançamento desse uniforme, em setembro de 2013, passou a vender 30 por semana. Somente no primeiro mês, foram 15 mil pedidos e, obviamente, o clube não deu conta. Segundo Rogério, o sucesso poderia ser ainda maior se a empresa de material esportivo fosse uma Nike ou uma Adidas.

No ano seguinte, em outubro de 2014, Rogério desenhou outra camisa para o Madureira. Dessa vez, em alusão à excursão da equipe para a China comunista, em 1964, que completava 50 anos. Depois da recepção de Che em Cuba, os jogadores do Tricolor foram recebidos por Mao Tse Tung na China. A excursão ficou conhecida como “a viagem proibida”, já que os jogadores ficarem presos no país e só puderam voltar em troca dos 12 chineses que estavam apreendidos no Rio.

– Não teve o mesmo sucesso da camisa do Che, mas foi bom! Rolou uma dificuldade para lançar a camisa, não ficou pronta no tempo previsto e talvez isso tenha prejudicado um pouco. Se fosse lançada no dia do Golpe Militar ela teria um sucesso maior!

O trabalho de Rogério, tanto na confecção de camisas, quanto no site FutRio, é fundamental para os clubes de menor porte ganharem a visibilidade que tanto precisam.

– No site, cobrimos jogos do Serrano, Volta Redonda, Madureira, entre outros. Muitas vezes, somos o único veículo do Rio que marcamos presença nos jogos fora de casa!