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Luiz Mendes

LUIZ MENDES – O COMENTARISTA DA PALAVRA FÁCIL

por Elso Venâncio

Luiz Pineda Mendes é um dos maiores nomes do rádio esportivo brasileiro em todos os tempos. Gaúcho de Palmeiras das Missões, começou na Rádio Farroupilha. Chegou ao Rio de Janeiro em novembro de 1944 e, em menos de um mês, participou, ao lado do jornalista Roberto Marinho, da grande festa de inauguração da Rádio Globo, que seria por décadas a maior potência radiofônica do país.

Inicialmente, os estúdios da emissora ficavam no Teatro Rival, onde, por sinal, ele conheceu a esposa, a atriz e radialista Dayse Lúcidi. Com a inauguração da TV Rio em 1955, foi contratado para chefiar a equipe de Esportes. Logo, teve uma sacada genial: sugeriu ao diretor Walter Clarck a criação de um programa em que jornalistas discutiriam futebol nas noites de domingo, após a rodada. Assim surgiu a “Grande Resenha Facit”, com nomes de peso, como Armando Nogueira, João Saldanha, Nelson Rodrigues, José Maria Scassa e Vitorino Vieira, e tendo ninguém menos do que o próprio Mendes como mediador.

“Che”, como era carinhosamente chamado pelos amigos, além de grande profissional se destacava também por ser uma figura humana extraordinária. Passou ainda pela TV Globo, TVE, CNT e pelas rádios Tupi, Nacional e Globo.

Cheguei à Rádio Nacional em 1984. Descemos juntos o elevador do histórico edifício “A Noite”, na Praça Mauá:

“Quer carona?” – ele me perguntou.

Próximo ao antigo Hotel Novo Mundo, na praia do Flamengo, em frente ao Aterro, agradeci, pedindo para descer:

“Onde você mora?”

“No Catete” – respondi.

“Carona não se dá pela metade. Se te acontece algo, eu não me perdoaria. Vou deixá-lo na entrada do seu prédio.”

Este era Luiz Mendes, o “Comentarista da Palavra Fácil”.

Com um conhecimento histórico e cultural fora do comum, Mendes trabalhou de 1950 a 1988, cobrindo neste período todas as Copas do Mundo. Primeiramente, como locutor esportivo; depois, na função de comentarista. Eu mesmo o reencontrei na Rádio Globo, onde fizemos juntos os Mundiais de 1994, nos Estados Unidos, e o de 1998, na França.

Na época do “Enquanto a Bola Não Rola”, programa que apresentei por dois anos, aprendi muito com ele. Nos reuníamos na sexta-feira, junto com Felippe Cardoso e o saudoso locutor noticiarista Sérgio Nogueira, para organizar a pauta dos debates. Mendes previu o enfraquecimento das rádios Globo Rio e São Paulo:

“Rádio é regional, diferentemente da TV.”

Ele cunhou expressões populares inesquecíveis para quem viveu a “Era de Ouro” do rádio no Brasil:

“Minha Gente…” – assim começava os comentários.

Ao assumir a Presidência da República, em 1990, Fernando Collor de Mello iniciou seu discurso de posse com o mesmo “Minha Gente…”. Ao ouvir, Mendes reagiu de forma indomável:

“Isso é plágio… uma falta de criatividade!”

Uma de suas contribuições, por exemplo, foi nomear a “Folha Seca” – apelido que deu ao chute imortalizado pelo craque Didi, quando a bola no ar toma direções distintas, lembrando uma folha a cair da árvore.

“Golazo” – era seu grito de gol, influenciado pelos argentinos. Vale dizer que a estreia do brilhante e temperamental astro Heleno de Freitas com a camisa do Boca Juniors, em 1948, teve cobertura ao vivo de Luiz Mendes, enviado do Rio para fazer o jogo em Buenos Aires. Depois, Jorge Curi entrou para História ao transformar a expressão em “Golaço, aço, aço, aço…”.

Dentre os livros que Luiz Mendes lançou estão “7 mil horas de futebol” e “Minha Gente”. Ele ainda foi biografado pela jornalista Ana Maria Pires, na obra “Luiz Mendes: O mestre da crônica esportiva”. Prefácios lhe eram pedidos aos montes. O gaúcho, que dividia sua paixão futebolística entre seu Grêmio natal e o Botafogo da cidade que o acolheu, escreveu, por exemplo, o texto introdutório de “Anjo ou Demônio: A polêmica trajetória de Renato Gaúcho”, primeiro livro do biógrafo Marcos Eduardo Neves, obra que completa duas décadas este ano.

Em junho do ano que vem, Luiz Mendes estaria completando 100 anos de idade. E na próxima quinta-feira, dia 27 de outubro, serão 11 anos de uma profunda saudade.