Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Geral

VIA DOLOROSA DE UM REI

por Marcos Vinicius Cabral


Reinaldo se descobriu. E isso ocorreu, quando ainda menino, aos 15 anos, participou de um treino no Atlético Mineiro.

Naquele dia, jogando no ataque reserva contra a defesa titular que havia acabado de conquistar o Brasileirão poucos meses antes, em 1971, José Reinaldo de Lima, nascido na pequena Ponte Nova, município brasileiro do estado de Minas Gerais e localizado na Zona da Mata Mineira, se despia de sonhos de uma infância difícil e se tornava jogador de futebol.

Na ocasião, foi um dos melhores em campo naquele dia e nascia ali, um jogador que seria apelidado com as três primeiras letras do próprio nome: REInaldo!

Meses depois estreava no time contra o Valério, time fundado em 1942 por funcionários da empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce. Derrota por 2 a 1.

Era 1974, quando em uma partida contra o Ceará, ao pisar despretensiosamente em um buraco, torceu o joelho.

E de lá para cá, começou a via crucis do ídolo atleticano que, assim como Jesus, caminhou na Via Dolorosa, rua na cidade velha de Jerusalém, até a crucificação na Colina de Gólgota.

Mas para o camisa 9 atleticano, o negócio piorou quando teve que extrair ambos os meniscos depois de uma entrada de um zagueiro do próprio time em um treinamento.

O Rei nunca mais foi o mesmo.

Diferentemente de Jesus, que ressuscitou no terceiro dia, os joelhos de REInaldo morriam em definitivo para o futebol.

Mas mesmo mortos, conquistou seu primeiro título ao ganhar de forma invicta o Campeonato Mineiro de 1976 e, dois anos depois, daria início ao hexacampeonato entre 1978 a 1983. Jogou a Copa do Mundo de 1978 e por pouco não fez parte daquele belíssimo time de 82 que encantou o mundo.

Não bastassem, no Campeonato Brasileiro de 1977, estufou por 28 vezes as redes adversárias e tornou-se o artilheiro com melhor média de gols em uma única edição da competição. Anos depois – duas décadas para ser mais exato – foi superado por Edmundo no Vasco. Mas Dimba no Goiás e Washington no Athletico Paranaense, ousaram tirar-lhe o reinado, mas quem é REInaldo nunca perde a majestade.

Entretanto, se REInaldo não teve a oportunidade de conquistar o título nacional que Hulk conquistou quarta-feira (1°), na Arena Fonte Nova, na vitória de virada sobre o Bahia por 3 a 2, azar do Campeonato Brasileiro, ora bolas!

Mas REInaldo aprontou das suas, mesmo não estando em condições físicas ideais. O Flamengo e os seus 154.355 mil torcedores que o digam, na final do Brasileiro de 1980.

E qual a simbiose dele com o torcedor? A simplicidade de quem não foi simples, a humildade de quem não passou despercebido e a grandeza de quem carrega tantas qualidades no grande jogador que foi. Isso, sem falar o rei no nome.

Mas o Rei chorou. E o choro, captado pelas lentes aguçadas de fotojornalistas que trabalharam na partida em que o Atlético Mineiro venceu o Fluminense por 2 a 1 no Mineirão, no domingo (28), em partida válida pela 36ª rodada, mostra que as lágrimas são de quem sente no coração e percebe na alma que ser atleticano não é tarefa fácil para qualquer um.

E sendo mortal ou partindo de REInaldo… há de se perdoar qualquer coisa!

O ÍDOLO CASTILHO

pod Elso Venâncio


Segundo Evaristo de Macedo, “fazer gol nele era quase impossível.”

Carlos José Castilho é considerado o maior ídolo da história do Fluminense e tem um busto em sua homenagem, na entrada das Laranjeiras. São Castilho, como era carinhosamente chamado pela torcida, foi quem mais defendeu a camisa tricolor. Entrou em campo em 698 jogos, durante 20 anos. Isso mesmo, de 1946 a 1965. Além deste número impressionante, em 255 partidas não levou um gol sequer.

Lembro do craque Evaristo de Macedo me falando da sua estreia, pelo Madureira, no Maracanã. De um lado, ele, Evaristo, atacante que faria sucesso no Flamengo, no Barcelona e no Real Madrid. Do outro, Castilho. “Era quase impossível fazer gol nele. Eu fiz e nem consegui dormir.”

Humilde, Castilho dizia ter uma inacreditável sorte. As traves e o travessão eram três fortes aliados, mas a verdade é que ele se garantia. Defendia pênaltis como nenhum outro goleiro da sua época.

Conheço vários tricolores que torcem pelo clube em razão do ídolo. No Carioca de 1964, fui pela primeira vez ao Maracanã. O Fluminense venceu o América por 3 a 0, dois de Amoroso e um de Gilson Nunes. Vi Castilho jogar. Era a grande atração. Sua presença era marcante, até pelas mãos enormes. Eis o time que entrou em campo naquela ocasião:

Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Naquele ano, o Fluminense, após jejum de meia década, decidiu a final com o Bangu e conquistou, merecidamente, o Campeonato Carioca.

O goleiro esteve presente em quatro Copas do Mundo: 1950, 1954, 1958 e 1962. Foi titular na segunda delas. É detentor também de três títulos cariocas – 1951, 1959 e 1964 – e faturou dois Torneios Rio-São Paulo: o primeiro em 1957 e o último em 1960.

“Suar a camisa, derramar lágrimas pelo Fluminense, muitos fizeram. Sacrificar um pedaço do próprio corpo por amor ao Tricolor, somente um: Castilho” – eis a frase que sintetiza o ídolo; dizeres que vêm logo abaixo do busto de Castilho na sede oficial do Fluminense.

Em 1957 uma contusão o tiraria de uma sequência de jogos importantes. Foi a quinta contusão seguida no dedo mindinho da mão esquerda. O goleiro não pensou muito. Para não ficar fora das finais, demonstrando inigualável amor ao clube, optou por amputar parte do dedo. Livre das dores, ficou apto a defender (literalmente) o clube do coração. Foi um ato heroico, sem sombra de dúvidas. Em 15 dias, retornou aos gramados.

Admito que cada torcedor, dependendo de sua época ou da sua idade, tem a sua preferência. Pesam também as conquistas. A cada grande título, surge um destaque que passa a ser idolatrado. O Fluminense, por exemplo, teve vários. Difícil até citar: Marcos Carneiro de Mendonça, primeiro goleiro da seleção brasileira. Tim, Telê Santana, Pinheiro, Didi, Samarone. Paulo César Caju, Rivellino, Romerito, Assis, Washington. Roger, Romário, Conca e Fred, entre outros.

Mas… e você, torcedor? Quem foi ou é o seu grande ídolo no futebol?

COMO NÓS PRECISAMOS DE HERÓIS

por Zé Roberto Padilha


A culpa foi do Fantasma, do Mandrake, do Super-Homem e quem mais, durante nossa adolescência, fizesse justiça nas bancas de jornais com as próprias mãos.

Se tinha um cara no colégio que jogava mais do que a gente, outro que disputava a morena mais bonita da sala e o Alcendino, que insistia em tirar as notas mais altas, encontrávamos naquelas páginas os atos de heroísmo que não alcançávamos.

Crescemos assim, trocando de objetivos, ideais e jogando nas costas do Flávio, o Minuano, os gols que nos fariam, como torcedores do Fluminense, mais felizes e campeões cariocas.

Não parou aí. Emerson Fittipaldi, seguíamos pelas Quatro Rodas. O Rei Pelé, pelo Placar, e Michael Jordan num cantinho em que o O Globo reservava para acompanhar o esporte pelo mundo.

Pouco sabiam que um pódio, um gol e uma cesta de três pontos influenciariam o humor e a autoestima na vida de um distante morador de Três Rios.

Hoje, sou uma velha raposa que, num domingo à tarde, ainda liga a TV à procura de atos de heroísmo. Fred, o meu de carteirinha, estava entregue à garra dos baianos na Fonte Nova, mas foi no Gremio que fechei com aquele que tornaria minha tarde mais justa.

Ele se chama Diego Souza. Quase rebaixados, os tricolores do sul entraram contra o Corinthians com a garra que faltou aos nossos. Tão importante o confronto, o repórter informou que até os jurados que julgavam a tragédia da Boate Kiss, em Porto Alegre, suspenderam a sessão.

E esse rapaz, que parece interminável, fez um gol fantástico que deu ao Gremio esperanças de não cair para a segunda divisão.

Obrigado, Diego Souza, que começou em Xerém, e mesmo com as três cores trocadas nos reservou um ato de coragem, conquistado em meio a uma selva de “loucos” torcedores da Fiel.

Boa sorte, Grêmio, mesmo com o empate levado no fim, vocês, além de motivaram nossa tarde esportiva, mostraram a garra e a coragem próprias dos heróis que merecem permanecer na elite do nosso futebol.

A BOLA AFASTA, A BOLA APROXIMA

por Luis Filipe Chateaubriand


Na época em que eram jogadores de futebol, Júnior e Roberto Dinamite não se davam – um não ia com a cara com o outro.

Roberto Dinamite sempre tinha um “olhar torto” para Júnior, um azedume, uma cara feia para o “Maestro”.

Júnior não era diferente: um olhar ameaçador, uma cara de amargor, uma postura corporal de quem quer ir para a luta.

Um dia, depois que já tinham parado de jogar, no Sambódromo, se encontram, conversam, se entendem.

De lá para cá, se tornam grandes amigos.

É o futebol unindo ídolos, unindo gente!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA

por Marcos Vinicius Cabral


O Vasco da Gama vai disputar pela quinta vez a série B do Campeonato Brasileiro de 2022. A primeira queda foi em 2008, a segunda em 2013, terceira em 2015, em 2020 a quarta e neste ano de 2021 não conseguiu acesso. Mas o clube tem provado ao longo de sua história, que mesmo assim é diferente.

De pequeno ou médio, não tem nada, pois é GIGANTE na acepção da palavra. Definitivamente é.

Dos muros imponentes à fachada neocolonial portuguesa da sede, o Estádio de São Januário foi erguido em 1927 com a força braçal e o suor de muitos operários vascaínos.

Não é de se estranhar que, passados 94 anos, o GIGANTE da Colina, de muitas histórias, inúmeros títulos e grandes ídolos, se mobilize e conte mais uma vez com o apoio de sua imensa torcida.

Só ela pode ajudar. E ela responde.

Com um elenco limitadíssimo, uma folha salarial modesta e um planejamento de sair da série B, o Vasco hoje é uma dor que não desatina na alma e faz um estrago enorme do coração não só vascaíno, mas no do carioca.

Ser vascaíno dói, mas não ter um adversário à altura para disputar pau a pau as decisões de Campeonatos Cariocas como no passado, clássicos equilibrados nos Campeonatos Brasileiros da vida, dói mais ainda.

O torcedor do Club de Regatas Vasco da Gama foi o que ajudou na construção do novo CT e na estátua de Roberto Dinamite, maior jogador da história do Cruzmaltino e fez despertar um GIGANTE adormecido e preso pelas algemas do passado.

E esse despertar fez o clube de 123 anos, dar um salto que representou a maior adesão em massa a um programa de sócio-torcedor na história desse país, quando surgiu o programa na gestão de Fernando Carvalho, então presidente do Internacional, clube pioneiro nesta forma de contribuição em 2003.

Isso mostra o resgate do orgulho do vascaíno e, principalmente, demonstra para o mercado o potencial de mobilização, engajamento e impacto que só uma grande torcida como a do Vasco da Gama tem, que com seus 57.368 torcedores ocupa a 5ª colocação, ficando atrás dos 66.336 rubro-negros, 64 mil gremistas, 73.241 atleticanos e 75 mil torcedores do Internacional, líder.

Clube produtor de talentos como Barbosa, Acácio, Carlos Germano, Bellini, Ademir Menezes, Roberto Dinamite, Romário, Edmundo, Bismarck, Mazinho, Sorato, Felipe, Pedrinho, Philippe Coutinho e tantos outros, é preciso respirar ares menos poluídos que gestões passadas respiraram e olhar com seriedade para o futuro.

Nesta quarta-feira (1º), Ricardo Gomes disse não para o cargo de diretor-técnico, e é quase certo que o treinador seja o já conhecido Zé Ricardo, segundo palavras do mandatário do clube Jorge Salgado.

Mas desejo que o Vascão volte a ser o time temido pelos adversários e respeitado dentro de campo. A história não nos permite aceitar o encolhimento deste GIGANTE.

Afinal de contas, o Vasco merece estar na parte de cima da prateleira dos maiores clubes de futebol do mundo.