Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Geral

AMIGOS QUE O TEMPO NÃO APAGOU DA MEMÓRIA

por Marcos Vinicius Cabral 


Parado em um sinal de trânsito na Presidente Kennedy com a General Barcelos, Centro de São Gonçalo, voltei no tempo.

Fechei os olhos, ar condicionado do carro ligado, som sussurrando uma canção que não consigo distinguir, eu viajei. 

Não foi o vendedor de bala, nem a distribuidora de propaganda de GNV com um panfleto na mão e tampouco o representante de uma empresa que fabrica  panos de chão, que impediram-me de voltar no tempo.

Fiz uma viagem de trinta e poucos anos, quando garoto aos quinze, sonhava ser alguém na vida.

Exímio desenhista, gols de faltas de Zico, aventuras de Batman e caricaturas de conhecidos eram minhas especialidades. 

Mas também adorava escrever poemas e lê-los para amigos, que demonstravam grande apreço por mim até o “e aí, o que achou?”.

Depois saiam e sem falar uma palavra, me agrediam com aquele silêncio. 

Devastador, confesso!

Sonhava ser um novo  Drummond, um Quintana, um Borges, um Gabriel García Márquez.

Mas o horizonte me apontava para uma outra direção: um sonho que todo menino tem.

Pensando bem, sábio foi Samuel Rosa do Skank, quando de forma brilhante sintetizou o sonho de todo garoto, como nos versos de “É Uma Partida De Futebol”, do álbum O Samba Poconé. 

“Bola na trave não altera o placar

Bola na área sem ninguém pra cabecear

Bola na rede pra fazer o gol

Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”, canção de 1996.

Ser jogador de futebol, era algo concreto e não abstrato na minha vida.

Tão concreto que apesar de rubro-negro, treinei no Vasco e no Fluminense,  quando os clubes não tinham a infraestrutura que têm hoje.

Eram um abstratismo só quando se falava em categorias de base.

No Gigante da Colina reprovado fui, enquanto no Tricolor, passei com sobras vestindo a 8 e jogando de meio campista.

Porém, mais triste do que a lágrima dos meus olhos ao saber que meu pai não teria condições de arcar com as despesas com passagens de ônibus, foi ver o sorriso de seu Altair se desfazer quando fui lhe entregar o meu material, no Campo da Vidreira, no Vila Lage, onde era a sua escolinha e dizer que não poderia mais treinar.

Restou as peladas, como na Vila Olímpica, na Telerj, no Fluminensinho e os amigos que fui acumulando por esses lugares.

Na Vila, conheci a galera da Marca Olho, na Venda da Cruz, em Niterói, como Ricardo Astrô, Roberto Trac-Trac, Mauro, Siri, Pereira, Julinho, César Cavalo, Bode Cego e alguns outros que se juntaram à galera do Barreto como Quinho, Luizinho, César Pesão, Guta, Flávio, Deco, Marquinho, Zé Luiz, Russo, Patinho, Cemir, Dadão, entre tantos.

Até hoje, muitos deles, conseguem a proeza de manter vivo o futebol no Fluminense, numa rua ao lado da Universo, na Marechal Deodoro, em Niterói, sábado sim e sábado não.

Mas a bola, essa esfera redonda, inseparável amiga, me fez e faz sentir saudades desses e de outros seres humanos. 

Como os do Marajoara, no Fonseca, do Barreto, do Jovem Fla, do Grupo dos 30 e por fim, os do Barabá.

Cada um deles, em algum lugar nesse mundo, talvez não pense no quanto fomos ricos enquanto estivemos juntos, ali nesses lugares, jogando futebol.

Foi uma riqueza que dinheiro nenhum pôde comprar.

Uma riqueza que ninguém conseguiu perceber.

Mas afinal…

Pode parecer um exagero mas só quem viveu esse romantismo das peladas nos anos 1980, pode agora se pegar tentando esquecer o que o tempo não pode – por mais que queira – apagar.

Enfim… o sinal abriu, os carros buzinaram, engrenei a primeira e parti com meu carro torcendo para que nenhum outro sinal dali por diante estivesse vermelho.

Não estava. 

Parei no acostamento para enxugar, ops, ou melhor, para tirar um cisco do olho.

MANÉ GARRINCHA, O MAIOR DE TODOS

por Rodrigo Ancillotti


Quando eu tinha meus 7 ou 8 anos, lembro que o debate “Quem foi melhor: Pelé ou Garrincha?” era bem inflamado, com argumentos de lado a lado, defesas apaixonadas, etc.

Eu, na minha ingenuidade de botafoguense com alegrias mínimas proporcionadas pela time e sem o mínimo conhecimento da história do futebol, respondia sem medo: “Garrincha, é claro!!”

O tempo passou, o conhecimento veio devagarinho, o Botafogo dando algumas alegrias a partir daquele gol do Maurício em 1989 (vestindo a 7 do Mané), mas sempre passando muitos perrengues… Mas aquela pergunta meio que sumiu dos debates esportivos, e novos nomes apareceram e começaram a disputar com Pelé: Maradona, Messi, Ronaldos, Zidane, etc. Até mesmo nomes da “velha guarda” entraram na onda: Beckenbauer, Cruijff, Di Stéfano…

Mas a minha resposta ainda é aquela do menino lá da meiúca dos anos 80, mas com um pouquinho mais de embasamento: Pelé foi o jogador mais completo, não há dúvidas!! Um dos maiores atletas do século (não o maior, me desculpem!, mas isso ninguém tira de Muhammad Ali na minha modesta opinião)!!

Mas o Mané, ah, o seo Mané…

Ninguém foi mais extraordinário, ninguém foi mais Demônio (da Copa), ninguém humilhou tantos “joões” mundo afora, ninguém brincou tanto com o imaginário do torcedor, ninguém driblou a lógica e tantos adversários, ninguém personificou tão bem o “País do Futebol” quanto seo Manuel dos Santos…

Que me desculpem todos os outros, mas ninguém chega ou chegará aos pés daquele caboclo de pernas tortas!!

Mané Garrincha, ou simplesmente “A Alegria do Povo”!!

MARCA QUASE PRÓPRIA

por Idel Halfen


Como já foi explorado em outros artigos, a marca própria em uniformes vem ganhando um espaço bastante expressivo no futebol brasileiro. Por estar mais familiarizado com esse conceito em empresas do segmento varejista, tendo a estranhar um pouco essa “solução” para uniformes ainda que, aparentemente, esteja propiciando aos clubes que a adotaram resultados melhores do que os que obtinham quando eram supridos por marcas já estabelecidas no setor.

Para ficar mais claro o que aqui se pretende explorar, vale fazer um breve resumo de como foi a evolução do conceito de marca própria no Brasil, onde podemos colocar os anos 70 como o início desse conceito.

Na verdade, o que chamam de 1ª geração de marcas próprias abrigava produtos sem marca, que usavam o nome da categoria como forma de identificação, não primavam pela qualidade e se diferenciavam em função do preço mais baixo praticado.

A 2ª geração aconteceu nos idos de 80 e trouxe como evolução a aplicação da marca do varejista/atacadista nas embalagens, até que nos anos 90 com a entrada de varejistas internacionais, a categoria recebeu mais investimentos que melhoraram a qualidade dos itens, porém, mantendo o preço como o principal atributo de posicionamento.

A 3ª geração teve como marco o final da década de 90 e se destacou pelo significativo crescimento da categoria tanto em termos de variedade de produtos, como em qualidade e valor agregado.


Já a 4ª geração se diferencia por agregar conceitos de sustentabilidade e vida saudável aos produtos, de forma que o preço deixa de ser o atributo principal de diferenciação. Data dos meados dos anos 2000 essa fase, a qual perdura até os dias atuais e passa a incorporar ao varejo, detentor das marcas, os conceitos associados a esses “novos” produtos.

Esse breve racional nos mostra que o segmento varejista tem hoje nas “marcas próprias” uma ferramenta estratégica tanto no que diz respeito aos resultados operacionais como no próprio posicionamento. Tais ganhos ficam facilitados graças ao controle que as redes possuem sobre os pontos de vendas onde os produtos são ofertados, fato que não acontece no caso dos uniformes dos times, o que é um ponto de questionamento acerca da plena aplicação do conceito por parte dos clubes.

Corrobora ainda para esse questionamento a parceria que foi desenvolvida entre o Esporte Clube Bahia –  que veste uniformes da sua marca própria, a Esquadrão – e o Vitória da Conquista (não confundir com o Vitória, principal rival), que passará a ser suprido pela mesma marca, ou seja, um adversário será o seu fornecedor de material esportivo.

O mais perto que encontramos disso no mercado corporativo é a parceria entre os varejistas Kroger e Walgreens, onde o primeiro, uma rede mais voltada às categorias de alimentos, tem alguns produtos de uma de suas marcas próprias – a Home Chef – comercializados na segunda, mais voltada ao varejo farma. Nesse caso a Walgreens melhora seu sortimento sem canibalizar nenhum de seus produtos e a Kroger se beneficia por ter mais pontos de vendas.

Apesar de alguma similaridade, o exemplo citado acima não se compara com o case “Esquadrão”, o qual, na verdade, deixa bem descaracterizado o  conceito de marca própria.


Isso sem falar nos riscos da própria operação. Será utilizada a mesma equipe de vendas? Como fica a programação de produção? E a política comercial?

Muitos avaliam a iniciativa como ótima para o Bahia, pois através da iniciativa de sua “marca própria” consegue outra fonte de receita: o fornecimento de material esportivo para outra equipe, o que em tese faz algum sentido.

Todavia, a prática de diversificar e agregar negócios muito distintos do core business original, ainda que tenha casos de sucesso – como por exemplo o varejista inglês Tesco que atua até em telecomunicação e finanças –  costuma ser bastante arriscada, principalmente em clubes de futebol, onde o processo de gestão ainda não está suficientemente maduro.

OS MENINOS DA VILA

Luis Filipe Chateaubriand 


No ano de 1978, o Santos encontrava-se em dificuldades financeiras. Era, portanto, difícil manter um elenco de estrelas. 

A solução encontrada, para se fazer um grande time, foi caseira: promover garotos das divisões de base. 

Então, para as posições de frente, lá vieram Nílton Batata, Pita, Juary e João Paulo. Os quatro garotos vieram se juntar aos experientes Clodoaldo e Aílton Lira, formando uma comissão de frente formidável. 

Nílton Batata era um ponta direita insinuante, que aliava boa técnica a grande força física, sempre buscando a linha de fundo para fazer excelentes cruzamentos. 

João Paulo, o Papinha, exercia o mesmo papel que Batata, só que pelo lado esquerdo, com menos força física e com mais técnica, sendo que nem sempre precisava ir à linha de fundo para proceder ótimos cruzamentos. 

Juary era um centroavante rápido e oportunista, que se movia pelos lados da área, saía dela para buscar jogo, era muito veloz e, óbvio, fazia muitos gol. 

Pita era o cérebro do time. Habilidoso ao extremo, ditava o ritmo do time. No momento de prender a bola, o fazia a fazendo “grudar” em seu pé e através de toques lentos, de vai e vem. Na hora de acelerar, procedia incríveis dribles verticais e passes em profundidade.

 Aquele time estupendo, que dava gosto ver jogar, foi campeão paulista em 1978. Logo depois, se desfez, com as negociações de Nílton Batata e Juary para o futebol mexicano. Ficou para a torcida praiana a saudade – muita saudade.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

O FUTEBOL EM OUTRA DIMENSÃO

por Antonio Maria de Jesus


Recentemente, o jogador Bruno Henrique, dando uma entrevista, afirmou que o futebol praticado pelo Flamengo, em relação aos demais clubes brasileiros, estava em um outro PATAMAR.

Ao ouvir essa entrevista, minha memória me trouxe à lembrança uma afirmativa de Pelé, que rola na INTERNET. Se referindo a Garrincha, disse que muitas vezes, quando jogavam juntos, Mané driblava o seu marcador, e dependendo da posição em que estava no campo, Pelé pedia para Garrincha cruzar no primeiro ou segundo pau. Entretanto, às vezes Garrincha esperava o marcador voltar para driblá-lo novamente, e isso permitia a recomposição dos adversários. Convém ressaltar que os dois gênios juntos venceram todos os jogos que disputaram.

Ora, diante dessa afirmativa, eu posso interpretar que os dois gênios, certamente os dois maiores gênios do futebol, jogavam o mesmo jogo, na mesma equipe, mas em DIMENSÕES diferentes.

Pelé, desde tenra idade, já praticava um futebol de “resultado”, com rara percepção do profissionalismo e da objetividade que esse esporte requeria. Já Garrincha, jogava se divertindo, e se divertia jogando, até porque a sua maior diversão, além de caçar passarinhos, era jogar futebol. Logo, ele era capaz de jogar uma final de Copa do Mundo, com o mesmo sentimento que jogava uma pelada em Magé. Diante do acima exposto, posso concluir que, a dimensão em que o genial Pelé vivenciava o futebol era uma, já a dimensão que o também genial Garricha vivenciava o futebol era outra. Um poderia ser entendido como um extraordinário economista, com pós graduação em Harvard, quem sabe Souborne, estabelecendo conquistas e marcas que tornaram inquestionáveis a sua genialidade, o outro seria um poeta cujos versos tortos como as suas pernas marcaram a alma, de forma inesquecível dos amantes do futebol.


Mas existiriam essas duas DIMENSÕES do futebol? Eu diria que, a dimensão em que Pelé é o símbolo maior, seria o futebol no seu mais alto sentido de profissionalismo, onde os jogadores ficavam ricos e famosos, jogavam em grandes estádios, etc…

Já a dimensão que é personificada por Garrincha, para entendê-la faz necessário retornar a um tempo em que o Brasil, era literalmente, o “país do futebol”, ou seja, o futebol era o centro de prazer e entretenimento de uma população. Era no futebol que o povo encontrava seus heróis, seus artistas, era unicamente através do futebol que o povo extraía alegria e poesia. Televisão era artigo de luxo reservado às pessoas da classe média, logo as tardes de domingo, principalmente do povo humilde, não era na sala em torno de uma TV, assistindo, simultaneamente, os campeonatos de todas as partes do mundo, e sim em volta  dos diversos campos e campeonatos das respectivas cidades em que viviam.

No RJ, por exemplo, o campeonato de profissionais (Botafogo, Vasco, Flamengo, América e outros), embora nos jogos do Maracanã a freqüência média fosse em torno de 80 mil pessoas, quem frequentava o Maracanã, em sua maioria, eram os moradores da zona sul e dos bairros adjacentes do Maracanã.

Logo, paralelo ao campeonato profissional do RJ, acontecia o Campeonato do DA (Departamento Autônomo), com times como o Manufatura, Mavilis, Pavunense, Anchieta, Rosita Sofia, Brasil Novo e outros. Esse campeonato era acompanhado com paixão pelos seus torcedores, e havia os craques que, independente de onde estavam atuando, enchiam os corações dos torcedores de arte e poesia.

Na Baixada Fluminense também havia suas ligas, como a de Japeri, onde pontificavam clubes como o Brasil Industrial e Tupi. Na liga de Nova Iguaçu  clubes como Miguel Couto, Queimados, São Roque, Filhos de Iguaçu, Mesquita entre outros, também tinha uma torcida apaixonadíssima.


Parte da minha infância e adolescência foi vivida no município de Nilópolis. Embora fosse Botafoguense, como amante do futebol acompanhava o campeonato da Liga Nilopolitana de Futebol. E é dessa liga que guardo comigo as mais doces recordações dessa comovente esporte chamada futebol.

A minha memória me traz à lembrança clubes, como por exemplo, o Ás de Ouros, com craques como MEIO QUILO que lembrava Tostão com a sua perna esquerda se movimentando em todo o campo, NELSON CAGU jogava com a mesma desenvoltura de zagueiro ou médio volante, TONINHO MACHADINHO, ADILSON NEGUINHO, talvez o mais completo de todos os jogadores que tive o privilégio de ver jogar nessa DIMENSÃO, BETINHO SANDUÍCHE e outros. No Flamenguinho da Soares Neiva, brilhavam PRESUNTO, CHIQUINHO e DULCINEI uma síntese de Pagão – Tostão e Reinaldo, ou seja atacante com rara habilidade. Havia também os Filhos de Nilópolis cuja formação era composta por irmãos e primos, dentre eles EDSON, SAVINHO COMPOSITOR. No Brasil do Cabral se destacavam NILTON CRIOULO, PAKITO e JOÃOZINHO MARIMBONDO, o maior driblador de todos nessa DIMENSÃO. Isso num tempo onde driblar era a marca registrada de um atacante brasileiro. Não posso esquecer do Cometa, camisa branca como a do Santos, onde se destacavam os irmãos DARTAGNAN e DIDEROT, sendo auxiliado nos embates futebolísticos por ZITO e HELIO BOMBEIRO (cuja tática de jogo era “um por todos e todos por um”). Não podia deixar de citar o Frigorífico de SIMPLÍCIO, e dos também irmãos RUI e DELMO DA SILVA. E o que dizer do Nova Cidade, do lendário, WALTER COQUINHO. É isso mesmo, para os amantes do futebol dessa DIMENSÃO, é uma lenda.

Para concluir com chave de ouro essas recordações, seria imprescindível fundir a dimensão do futebol com a dimensão do samba, fazendo menção do EC Santa Rita, cujo campo ficava onde atualmente é a quadra da Escola de Samba Beija Flor. Ou seja, onde hoje há um reconhecimento ao talento dos sambistas, outrora brilharam o goleiro ANTONIO PRETINHO, o Centroavante CORUJA, NONA, extraordinário médio volante, e a dupla de atacantes SILVINHO e BETINHO, que faziam tabelinhas que lembravam as de Pelé e Coutinho.

Tenho a absoluta certeza de que assim como eu, muitas pessoas que estarão lendo esse texto lembrar-se-ão de jogadores/torcedores que vivenciaram o futebol nessa DIMENSÃO, e terão suas mentes e corações acalentados por essas singelas lembranças.  

Como já dizia o poeta, “não sou eu que vivo no passado, mas o passado é que vive em mim”, e nesses tempos em que o futebol está sendo classificado por patamar, eu me refugio no futebol de uma outra DIMENSÃO”.