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TITA, O CRAQUE QUE NÃO É VALORIZADO

por Luis Filipe Chateaubriand 


Milton Queiroz da Paixão, o Tita, é um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já conheceu. Por algum motivo inexplicável, não é considerado como tal. 

Jogador que unia ótima técnica com uma raça incomum e de raríssima inteligência tática, fez a diferença na maioria dos clubes que defendeu. 

No Flamengo, jogou, e bem, em todas as seis posições que abrangem meio campo e ataque. Quando, em 1979, Zico se machucou e ficou muito tempo fora, o substituiu com maestria, jogando no mesmo nível que o Galinho de Quintino. Foram muitos anos de bons serviços prestados ao rubro negro. 

No Grêmio de Porto Alegre, ficou pouco tempo, mas jogou barbaridade, tchê! Foi o principal jogador do clube na conquista da primeira Taça Libertadores da América do clube gaúcho, em 1983.

No Vasco da Gama, marcou época. Além de ter feito o gol do título do Campeonato Carioca de 1987, uma série de boas atuações o levou a ser decisivo em diversas ocasiões. 

Jogou na Alemanha, na Itália e no México, dentre outros países, sempre com sucesso. 

Na Seleção Brasileira, começou muito jovem, fazendo um golaço contra a Argentina em sua estreia, em 1979. 

Contudo, prejudicou sua carreira com a “amarelinha” com uma decisão equivocada, um arroubo de juventude, como ele próprio diz: ao não aceitar ser escalado na ponta direita na Seleção, pediu, em 1981, para não ser mais convocado, se não fosse para atuar como meia atacante; com isso, ficou fora da Copa do Mundo em 1982, aquela que, possivelmente, seria a sua Copa. 

Como não se encontrava em fase das melhores em 1986, quando jogava no Internacional de Porto Alegre, também não foi à Copa do Mundo do México. Finalmente, foi convocado para a Copa do Mundo de 1990, na Itália, mas, já no ocaso da carreira, não foi titular. 

Seja como for, tendo desperdiçado a chance de uma carreira prolongada na Seleção, fez a diferença com as camisas de Flamengo, Vasco da Gama e Grêmio. Merece ser, assim, mais lembrado do que é.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

E AGORA, QUEM NOS SALVA?

por Wendell Pivetta


A Inglaterra, mãe do futebol brasileiro, que mandou por um navio Tomas Miller, com uma bola em sua bagagem, desembarcar em São Paulo, vive dias de caos fora dos gramados. Inquieta é a situação, acredito estar assim pelo impacto da morte de um jovem de 17 anos, devendo causar uma consciência maior nos segmentos esportivos da terra da rainha e pelo mundo todo.

A Premier League, uma das ligas exemplares no combate ao racismo, se posicionou de forma veemente em apoio à campanha Black Lives Matter há alguns meses atrás, contando com a frente de Richard Matters, CEO da Premier League, comentando sobre o ato de atletas em campo estarem unidos contra o racismo no mundo: “Eu acredito que é bom que os jogadores usem suas vozes para fazer o que eu acho que são julgamentos éticos de valor, e não declarações políticas. São mensagens unificadoras, e nós (a Premier League) os apoiamos e os clubes também”.

A liga inglesa na luta contra o racismo vem desde 1990 nesta batalha, temporada após temporada, tentando coibir ações dentro da sua competição rica de culturas através de seus jogadores, de diversos cantos do mundo. Porém, como apontado pela Kick In Out, em levantamento realizado em julho do ano passado, houve aumento de 43% nos casos de racismo, em comparação com a temporada 2017/2018. Esse contexto, portanto, reitera a necessidade de seguir na busca por conscientizar e punir corretamente quem realiza esse tipo de crime.

Nesse sentido, mais recentemente, alguns casos tornaram-se emblemáticos, como por exemplo, envolvendo Raheem Sterling, estrela da seleção inglesa e do Manchester City. Em partida contra o Bournemouth, o inglês foi alvo de insultos racistas por parte do torcedor Ian Baldry. Após julgamento, ele foi condenado a cinco anos sem poder frequentar estádios no país, além de receber um banimento vitalício por parte do Manchester City.

Se tratando de Manchester City, o assunto do momento pode ser ainda mais preocupante. O zagueiro Jeremy Wisten, de 17 anos, se suicidou em um fim de semana após entrar em depressão pela demissão do clube. Esta situação agravou a uma pesquisa mostrando que menos de 1% das crianças que ingressam nos clubes ingleses, aos 9 anos, chegam aos times principais. Mais de 3/4 são descartadas entre as idades de 13 e 16 anos. Quase 98% dos meninos que recebem seu 1º contrato aos 16 anos não permanecem em nenhuma das 5 primeiras divisões.

Oito em cada 400 jogadores de futebol, que assinam um contrato profissional com uma equipe da Premier League aos 18 anos, permanecem quando completam 22 anos. No total, apenas 180 crianças dos mais de 1 milhão e meio que jogam futebol federado na Inglaterra chegam à Premier League: a taxa de sucesso é de 0,012% ( Fonte iG)

A Premier League é um dos poucos campeonatos que têm uma liga especial para os jogadores mais jovens. Assim como é na profissional, a Liga Juvenil é extremamente organizada e conta com duas divisões com o mesmo sistema das competições oficiais da FA. Mesmo assim, não consegue concretizar um futuro maior para seus jovens atletas, cada vez mais iludidos com seu sonho.

Além do fato deste mercado inteiramente escasso para quem busca oportunidades no profissionalismo, temos o agravante da COVID-19. A pandemia é causadora de depressão entre homens e mulheres que vivem de jogar futebol, e os motivos apontados pela Federação Internacional de Jogadores Profissionais (FIFPro) são o isolamento social. A entidade publicou em seu site oficial o resultado de uma pesquisa, realizada entre 22 de março a 14 de abril, com 1602 atletas em confinamento na Inglaterra, França, Austrália e Estados Unidos.

Dentro do universo pesquisado, foram ouvidas 468 jogadoras de futebol, das quais 22% responderam que apresentam sintomas de depressão. Entre os homens, 13% admitiram manifestações da doença. O transtorno de ansiedade generalizada foi apontado por 18% dos jogadores e 16% das jogadoras. Mesmo sem dados levantados, no Brasil tivemos casos de depressão não elencados, e estamos sofrendo ainda, devido a fraca valorização do futebol do interior. Por mais profissional que seja, os clubes contam com pouco investimento, e perderam inúmeros patrocinadores, deixando de participar de competições como, por exemplo, da Copinha, competição que dá o sonho do clube campeão ter acesso a série D do Brasileirão ou a Copa do Brasil, restando a outra vaga para o vice-campeão. Neste ano, no Rio Grande do Sul, a Copinha terá apenas 8 equipes participantes, competição que ano após ano sempre contava com 20 equipes participantes de todo o estado.

Um dos agravantes de depressão nacional esportiva é o número de desemprego dos atletas. No Rio de Janeiro tem em um levantamento feito pelos 12 clubes de menor expressão que disputam a Série A do Campeonato Carioca, apresentado à Federação de Futebol do Rio, que 250 jogadores estão desempregados desde o mês de abril, quando a maioria dos contratos se encerrou. O cálculo é que mil pessoas das respectivas famílias destes atletas estejam sofrendo com a paralisação dos jogos e a consequente ausência de receitas oriundas das partidas. A previsão é que ao longo do ano, o número chegue a 350 jogadores sem emprego e 1.400 parentes impactados.

Além dos direitos de televisão, os clubes também não receberam boa parte de seus patrocínios. Estes números podem ser equiparados ao país inteiro, beirando cada vez mais perto de um precipício mortal. Tendo em vista a falta de apoio a cultura e desporto neste momento tão difícil, tem se tornado natural a morte de clubes, encerrando ali, o sonho de milhares de jovens chegarem um dia, a trilhar sua jornada no futebol mundial.

CHICÃO E PAQUETÁ

por Rubens Lemos


Uma das seleções menos charmosas com a camisa brasileira existiu em 1978. Uma seleção sem tempero, uma seleção assexuada. Frígida. Tinha tudo para ser até melhor que a de 1982. Nos anos 1970, escalávamos quatro escretes fortíssimos, pela quantidade de craques. Colocados todos juntos, fechariam um anel de arquibancada de Maracanã.

Nem foi quatro anos antes, na Copa da Alemanha, o pior momento. O caos veio em 1990, com Sebastião Lazaroni convocando cinco zagueiros, esnobando Geovani do Vasco e João Paulo do Guarani e inventando um líbero, enchendo a equipe de defensores.

Em 1974, faltavam jogadores de ataque. Não havia um só centroavante de brilho. A convocação de Mirandinha do São Paulo (ex-ABC de Natal em 1981) e de César Maluco, do Palmeiras, carimbam a certeza.

Em 1978, o Capitão Cláudio Coutinho contava com o manjar das artes em suas mãos. Vou escalar um time: Raul; Orlando Lelé, Carlos Alberto Torres, Luís Pereira e Marinho Chagas; Carpeggiani, Falcão e Paulo César Caju; Paulo Isidoro, Juary do Santos e Joãozinho do Cruzeiro. Esse time teria ficado entre os quatro. Permaneceu quase inteiro  no Brasil. Capita Torres oferecia classe no Cosmos (EUA). 

A constelação que lembrei como quem sai retirando livros de um armário, não agradaria ao Capitão Coutinho pela técnica fantástica. Ninguém daria um pontapé. Nem tanto unânime Luís Pereira, ainda que melhor zagueiro da Europa na época, porém Marinho Chagas, Falcão e Paulo César Caju foram mortos em vida. Caberiam entre os 11 titulares, embora as circunstâncias políticas barrassem rebeldes. Craques. Punidos.

A ditadura dos treinadores chegava ao seu ponto máximo. Palpitava ainda o Almirante Heleno Nunes, presidente da falecida Confederação Brasileira de Desportos e o médico Lídio Toledo era usado para justificar cortes inaceitáveis. 

Havia excesso. Nesse vai-e-volta, concentração em 1978. O Brasil jogou mais feio do que com Zagallo e os buracos da Argentina tiraram de combate os três maiores solistas: Rivelino, Zico e Reinaldo, o pequenino centroavante do Atlético Mineiro, um suprassumo, sem hífen desde a Reforma Ortográfica de 2009.

O Brasil empatou as duas primeiras jogando mal. Contra a Suécia(1×1) e 0x0 com a Espanha.  Na terceira, o Almirante Heleno Nunes tirou a farda militar e se impôs um agasalho imaginário de comissão técnica, sacando Zico por ranço vascaíno, escalando Roberto Dinamite por paixão cruzmaltina e justiça e o lateral-esquerdo Rodrigues Neto no lugar do improvisado Edinho, de origem quarto-zagueiro. Edinho de lateral-esquerdo revoltou o país.

Com um gol de Roberto Dinamite, matando no peito e virando com um arremate de direita, o Brasil se classificou passando pela Áustria em angustiante 1×0. Empatasse, estaria fora na primeira fase, copiando o fracasso de 1966. 

Brasil caiu no grupo da Argentina e o duelo aconteceu na Batalha de Rosário:0x0. O nosso principal nome, o truculento volante Chicão. Ele entrou no time, segundo o ponta-direita Búfalo Gil, porque o hábil Toninho Cerezo simulou uma contusão. Estava com medo dos Hermanos. 

Toninho Cerezo é um jogador que nunca entrará em minhas predileções. Aquele jeito mamulengo, elástico e de meiões arreados, coreografia de peladeiro, escondia um frouxo. Em 1982, entregou dois gols, o segundo e o terceiro (bola dominada, cedeu escanteio do 3×2) da Itália e chorou em campo, sendo esbofeteado pelo lateral-esquerdo Júnior.

Retorno para 1978. O Brasil terminou com a seguinte formação: Leão; Nelinho, Oscar, Amaral e Rodrigues Neto; Batista, Cerezo (Chicão) e Jorge Mendonça; Búfalo Gil, Roberto Dinamite e Dirceu, terceiro melhor jogador do Mundial. Time que perderia para o que escalei acima. Brasil invicto e “campeão moral”, no desejo de Cláudio Coutinho, rei do neologismo.

A recordação de 1978 e sua mediocridade me surge quando tento dedilhar alguma linha sobre o sujeito intitulado Lucas Paquetá, convocado pelo técnico Tite para as Eliminatórias 2020.

Lucas Paquetá espelha a escassez técnica de um país que produzia (bons) caras em modelo de manufatura. Hoje, cata duvidosos. Lucas Paquetá é a cara do Brasil. Vivo, Cláudio Coutinho o convocaria, ele jogando em 1978. Ele e Chicão no meio-campo. Uma tragédia.

AH, LAN, POR QUE VOCÊ SE FOI?

por Marcos Vinicius Cabral


Enquanto o Flamengo vencia por 3 a 2 o Athletico Paranaense na noite desta quarta-feira (4/11) e avançava às quartas de final da Copa do Brasil, Lanfranco Aldo, conhecido no humor gráfico brasileiro como Lan, perdia a luta pela vida.

Internado há dois meses no Hospital da Beneficência Portuguesa em Petrópolis, o italiano mais brasileiro que as folhas de papéis e tintas nanquim conheceram enfrentava problemas de saúde.

Normal para um senhor com quase um século de vida (na verdade, aos 95 ele disse tchau e simplesmente partiu).

Partiu sem que eu pudesse dizer meu muito obrigado.

Mas lembro com os olhos marejados que o mais próximo que eu cheguei do mestre de voz suave, cabelos e bigode brancos foi na faculdade Estácio de Sá, em Niterói.

Morador há mais de 40 anos do bairro Pedro do Rio, em Petrópolis, Lan buscava sossego longe da Cidade Maravilhosa, onde viveu por muitos anos.

Nascido em 1925 na cidade de Montevarchi, na região italiana da Toscana, o craque da caricatura trabalhou como jornalista gráfico na Argentina, França e Uruguai. 

Entre idas e vindas em solo verde e amarelo, em 1952, convidado por Samuel Wainer, começou a trabalhar no Última Hora, onde publicou um de seus trabalhos mais marcantes: uma caricatura do político Carlos Lacerda, em que retratava o arqui-inimigo de Getúlio Vargas como um corvo. 

Mais tarde, o animal foi incorporado pelo próprio Lacerda a suas peças de propaganda.


Mas desenhar figuras emblemáticas da nossa política e corvos,  não era a sua praia, embora mergulhasse em qualquer tipo de mar e surfasse com maestria nas ondas políticas, culturais, esportivas e figuras humanas.

Antes de se transformar no chargista _hors concours_ no humor gráfico nacional, entrou no departamento de artes do Jornal do Brasil pela primeira vez em 1962 – onde permaneceu por 33 anos – e em seguida, retratou com a percepção aguçada o cotidiano dos cariocas sempre bem ilustrado na coluna ‘Cariocaturas’, no O Globo.

Desbravador do caminho tortuoso dos cartuns, charges e caricaturas na imprensa carioca, foi ele com seu imenso talento e altruísmo peculiar, que abriu caminho para Henfil e Ziraldo.

Já o paulistano Chico Caruso – a quem trouxe para o Rio de Janeiro, em 1978 -, titular do O Globo desde 1985 e o matogrossense Ique – único chargista bicampeão do prêmio Esso em 1991 e 1992 – devem muito ao velhinho de cabeça branca e bigode fino que escondia o sorriso sincero de quem fez muito por muita gente.

Mas sua verdadeira paixão era pela boemia carioca e pela beleza das mulheres, sem dúvida!

No caso dele, especialmente as negras, desenhadas a exaustão por suas mãos que faziam como ninguém das curvas a marca mais inconfundível de seu estilo. 

Há seis décadas, era casado com Olívia Marinho, ex-passista do Salgueiro e da Portela, era integrante da Velha Guarda.

Lan será enterrado na tarde desta quinta-feira (5/11) no Cemitério de Itaipava, em Petrópolis.

Mas antes de fechar os olhos para a eternidade, o italiano mais rubro-negro do mundo pôde ver – graças a Deus no céu e a Jesus à beira do campo – os títulos do Brasileirão, Libertadores, Supercopa do Brasil, Taça Guanabara, Recopa Sul-Americana e o Campeonato Carioca.

Morreu feliz.

Lan não deixa filhos, porém, deixa órfãos nos quatro cantos do mundo pessoas que o consideravam o pai do humor gráfico.

Obrigado Lan, precisava escrever isso!

OS ESTRANGEIROS ASSUMIRAM A PONTA

por Zé Roberto Padilha


Falta de aviso não foi. Há quanto tempo a imprensa esportiva não fala seguidamente sobre as obsoletas  estruturas táticas  montadas pelos treinadores brasileiros? 

O futebol boleiro, de Joel Santana, o bom de grupo e do churrasco, de Waldir Espinosa, o amigo da rapaziada, como Jair Pereira, foram perdendo posições no G4, e se aproximando do ZR4, na medida em que o futebol moderno foi ocupando o espaço do futebol arte.

Por termos há alguns anos a genialidade que resolvia por si mesma, caso do quarteto Ronaldo, Rivaldo, Romário e Ronaldinho, que  dominavam os troféus de melhores da FIFA, nossos treinadores relaxavam no quesito aplicação tática na marcação. 

Se tomávamos 3, eles faziam 4. E tinha churrasco na segunda e chinelinho na terça.

Quando Neymar, Coutinho, Arthur foram embora e o Diego, Hernanes e o Nenê voltaram para jogar no Master do Luciano do Vale, e acabaram titulares das principais equipes do país devido a escassez de talentos, o Robinho quase veio nessa barca, não havia mais quem resolvesse uma partida com a bola nos pés. 

E sem sua posse e guarda, o espaço cada vez menor a ser ocupado precisava de treinamento tático organizado. Nada mais de improviso e muito de estudo e trabalho dentro de campo. E isso esses treinadores aí de cima sabem fazer muito bem. 

E por isso as três Mercedes, do Inter, do Flamengo e do Atletico-MG ocupam, hoje,  as primeiras posições do Grid de Largada, enquanto as nossas Ferraris, dirigidas pelos que ainda insistem em viver de romantismo e exaltar seu passado, vão ficando para trás na classificação geral.