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Edu

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA EDU


Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si foram as notas musicais que as pernas de Edu – principalmente a esquerda – extraíram nos longínquos anos em que passou ao lado de sua mãe e professora de piano nas manhãs, tardes e noites em que ficava extasiado vendo-a tocar.

Do pai, um ex-jogador do Esporte Clube XV de Novembro e alfaiate, herdou a habilidade e o gosto por camisas bonitas como a do Santos, onde começou a carreira e a do Clube Esportivo Dom Bosco, de Mato Grosso, quando encantou o torcedor Dombosquino, em 1985.

Nascido na cidade de Jaú, São Paulo, em 06 de agosto de 1949, o menino Jonas Eduardo Américo chegou ao Santos levado por ninguém menos que Pelé. “Tem que mostrar algo para ser aprovado”, decretou o dono da coroa de Rei do futebol. E ele mostrou. Mostrou tanto que, aos 16 anos, foi convocado por Vicente Feola, então técnico da Seleção Brasileira a fazer parte do grupo que disputou a Copa do Mundo na Terra da Rainha, em 1966.

Sagrou-se campeão mundial em 1970 e foi convocado para a Copa de 1974. No Peixe, jogou até 1977 e acumulou títulos dos campeonatos paulistas de 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973, a Taça Brasil de 1965, o Torneio Rio-São Paulo de 1966 e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968.

Em seguida, jogou pelo Corinthians e participou da equipe campeã paulista de 1977, que pôs fim aos 23 anos sem títulos do clube do Parque São Jorge. Logo o Corinthians que sofreu por muitos anos quando o habilidoso ponta-esquerda jogava no Santos.

Foi contratado pelo Internacional, onde ficou pouco tempo. Arrumou as malas para jogar nos EUA pelo Cosmos. Em terras aztecas, defendeu as cores do Tigres, da cidade de Monterrey, e integrou equipes de menor porte, como o Nacional de Manaus, sendo bicampeão amazonense.

O encerramento da carreira profissional não o afastou dos gramados. Participou de equipes de exibição e integrou a Seleção Brasileira de Masters.

O Vozes da Bola da semana e com Edu, ponta-esquerda e considerado uma dos maiores dribladores do futebol mundial, que fazia miséria pelos flancos esquerdo dos campos dando muita dor de cabeça aos laterais-direitos. É o jogador mais novo da história a disputar uma Copa do Mundo e o sétimo maior artilheiro da história da Vila Belmiro.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda

Fale um pouco da sua infância em Jaú e conte um pouco sobre seus pais e o início no futebol.

Como todo garoto da minha idade que brincava, jogava bola e estudava. Minha infância foi boa e tinha uma família muito unida. Meu pai era alfaiate e jogou no Esporte Clube XV de Novembro. Mminha mãe era professora de piano. Não éramos ricos, porém, a nossa vida era equilibrada.

Reza a lenda que Pelé disse para você: “Não pense que eu te apresentando ao Santos você vai ficar. Precisa apresentar alguma coisa também para ser aprovado”. Como foi essa história?

Quando conheci o Pelé as minhas pernas tremeram. Eu o conhecia apenas pela televisão e quando estivemos juntos, ele falou certa vez: “Não é porque você está sendo apresentando por mim no Santos, que está aprovado. Você tem que apresentar alguma coisa”. Eu acho que eu apresentei (risos). Do contrário, não teria ficado. Mas quando eu sai para disputar os jogos com a Seleção juvenil, com 15 ou 16 anos, comecei a jogar e na volta dessa viagem fomos para Trindade e Tobago e Suriname. Lembro que fui muito bem nessas partidas. e na volta, o treinador disse que me utilizaria nos jogos da equipe principal do Santos. Foi a maior alegria da minha vida e não via a hora de ir para Jaú e contar a surpresa para o meu pai. Naquela época o contato com as pessoas que estavam longe era por carta ou telefone, mas só tinham telefone as pessoas com poder aquisitivo alto. Era época de Carnaval e o Santos me liberou. Fui correndo para Jaú para contar ao meu pai que disputaria os jogos pelo time principal do Santos no Torneio Rio-São Paulo.

Você com 13 anos de idade já jogava no Palmeirinhas, o Palmeiras lá de Jaú, que disputava campeonatos amadores com garotos de 17, 18. Como foi essa experiência?

Muito boa. Comecei muito novo em Jaú, onde fomos campeões infantis. Nessa época eu tinha 13, 14 anos e já jogava no meio do pessoal mais velho do que eu. Depois eu fui para o Palmeirinhas, onde disputei o campeonato amador e precisei de uma autorização da Federação Paulista para poder jogar em carta enviada pelo meu pai.

‘A primeira vez a gente nunca esquece’, diz um famoso ditado popular. Como foi sua primeira vez com a camisa do Santos?

Inesquecível. Vestir a camisa do Santos para mim foi uma honra e um prazer muito grande. Sei que todos jogadores queriam jogar naquele time do Santos e eu fui um privilegiado em ter a chance de agarrar a oportunidade e chegar ao time profissional ainda adolescente.

Como era jogar ao lado de Pelé?

O Pelé estava contundido quando começou o Torneio Rio-São Paulo e aproveitei sua ausência para me manter no time. E foi o que aconteceu. Quando ele retornou pude jogar ao seu lado e era sonho de qualquer um. Quem não ia querer jogar com o melhor jogador do mundo? Dar passes para ele fazer gols? Tabelar? Qualquer jogador de futebol sonharia com essa oportunidade e eu estava podendo fazer isso. E graças a Deus eu tive essa alegria e esse prazer na minha vida.

Quem foi seu ídolo no futebol?

Pelé e Garrincha. Eu tive vários outros ídolos dentro do futebol, mas esses dois se destacam. O Garrincha pelo seus dribles e aquela de deixar a bola e vai e volta. Ele foi inspiração para eu aprimorar meus dribles. Eu assistia, sem exagero, umas 20 vezes o documentário do Garrincha. “Alegria do Povo”, o “Anjo das Pernas Tortas”. Já Pelé, eu pude observá-lo jogando ao lado dele no Santos e fui aprendendo um pouco com ele, como por exemplo, passar em espaços pequenos o que ele fazia muito bem. Mas como que ele conseguia passar ali? Técnica, meu caro. E absorvi isso e me ajudou muito na carreira.

Gostaria que falasse de dois jogos para os leitores do Museu da Pelada: o Rio-São Paulo de 1966, quando o Santos venceu o Bangu por 5 a 2, no Pacaembu, e na goleada por 3 a 0 contra o Palmeiras, em que você fez dois gols e num deles driblou toda zaga adversária. Como foram essas partidas?

Meu primeiro jogo profissional foi contra o Botafogo, no Maracanã, mas o mais importante para mim foi contra Portuguesa de Desportos. O nosso treinador era o Lula e me escalou muito sabiamente na ponta-direita quando faltavam quinze minutos para terminar o jogo. Por que sabiamente? Ele me escalou numa posição que não era a minha e me colocou poucos minutos na partida, ou seja, se eu jogasse mal, ele teria como me defender dizendo que joguei pouco tempo e fora da minha posição de origem. Mas até que fui bem, driblei, dei passes, chutei a gol e depois voltei à ponta-esquerda. Depois veio aquele jogo memorável contra o Bangu, em São Paulo, em que marquei dois gols na goleada por 5 a 2 e fui muito bem contra o lateral Fidélis, considerado um dos melhores da época. Tanto que disputei a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Lembro de um gol de falta contra o Ubirajara, goleiro banguense, em que ele armou a barreira ao contrário e ficava com seu campo visual livre me olhando na cobrança. Mas fui feliz na batida e joguei por cima da barreira e marquei um golaço que foi um dos mais importantes da minha carreira. Mas a partida que selou, definitivamente, a minha convocação para a Seleção e o meu passaporte para a Inglaterra, foi contra o Palmeiras de Djalma Santos, lateral-direito muito respeitado. Mas como eu queria um lugarzinho ao sol, eu não poderia respeitá-lo tanto (risos). Eu participei intensamente desse jogo, partia para cima dele e acabei sendo coroado com um belíssimo gol, driblando toda defesa alviverde. Foi uma pintura que jamais vou esquecer.

Em 1966, você foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa realizada naquele ano com apenas 17 anos. Até hoje, é o jogador mais jovem a ser convocado para disputar uma Copa do Mundo. Como se sente?

Mesmo tendo passado 55 anos, até hoje a ficha não caiu. Quatro anos antes, me encontrava em Jaú, em São Paulo, ouvindo a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pelo rádio. Para ser sincero, eu estava impressionado em estar ali com pessoas que eram ídolos para mim. Convivia com Bellini, Djalma Santos, Zito, Pelé, Garrincha, Jairzinho. Aquilo ali era um sonho de um menino de apenas 17 anos. Representar o país ao lado de tanta gente boa foi uma das melhores coisas que me aconteceu na vida.

Umas das críticas à Seleção de 1966 foi a preparação com 45 jogadores. Você acha que, de fato, isso atrapalhou?

Se atrapalhou ou não, se foi boa ou não, sinceramente não sei. O que sei é que ficamos três meses treinando com afinco, e nesses 90 dias, houve cortes e talvez isso tenha prejudicado um pouco. Minha opinião pessoal é que muitos jogadores que foram cortados deveriam ter ido. Mas é a vida de todo jogador de futebol.

Em 1969, João Saldanha assumiu a Seleção como treinador. Se ele não tivesse saído você acha que seria titular do time?

Talvez sim, talvez não. Em 69, quando o João Saldanha nos convocou, ele chamou 22 feras, como ele mesmo dizia. Na minha chegada à Seleção, lembro que ele disse que eu seria, mas que o Paulo Cezar Caju, cracaço de bola, estaria disputando comigo a titularidade. A briga ia ser legal, pois nós tínhamos uma disputa leal, já que sempre tivemos uma relação fraterna. No entanto, quem se beneficiava com isso era o treinador, porque ia ter dois jogadores com fome de bola e com uma vontade enorme de jogar. Nas Eliminatórias, eu sai na frente, e o Saldanha me chamou num canto e disse que queria que eu fosse o Edu do Santos, ou seja, me deixou à vontade. Mas depois disso deu no que deu e a história todo mudou.

O saudoso radialista Jorge Curi (1920-1985) costumava te chamar de ‘Urubu Bonito’. Como você encara a situação e como vê hoje no futebol tantos casos de discriminação racial?


Vejo com tristeza esses casos de racismo. Mas naquela época, não exista isso. Lembro que num Flamengo e Santos, no Maracanã, o Jorge Cury narrando a partida me chamou de Urubu Bonito. Mas veja bem, fui chamado de Urubu Bonito por Jorge Cury transmitindo o jogo para milhões de ouvintes. Mas sei que era um apelido carinhoso. O motivo do apelido, até hoje, eu não sei. Talvez fosse pela maneira de caminhar, bater na bola, carregá-la, driblar o adversário. Mas, antigamente, era bem menos, podemos dizer assim, esse troço chato do racismo que está em evidência em pleno século 21. Mas os negros, no qual eu me incluo, sempre tiveram seu espaço, sua cor e seu respeito adquirido com o suor do rosto de seu trabalho.

Alguns apelidos curiosos dos craques de 70: Gérson era Papagaio, Rivellino, o Orelha, Paulo Cezar Caju, o Nariz de Ferro, Tostão, o Cara de Ovo, Brito, o Cara de Cavalo e você o Zé Bundinha. É verdade?

É verdade (risos). Naquela seleção todo mundo tinha seu apelido. Me chamavam de Zé Bundinha. Eu não sei o motivo, pois minhas nádegas não eram tão avantajadas assim (risos). Mas o apelido pegou. Quando a gente se encontra a gente chama um ou outro não pelo nome mas pelo apelido. Vejo isso como uma maneira carinhosa de nos tratarmos, já que era um grupo muito legal, muito unido e uma amizade sincera. Mas se alguém chiasse com o apelido, aí mesmo que caímos na pele.

Havia o período da ditadura militar na Seleção de 1970 e isso é inegável. Na volta do México, vocês foram direto para Brasília e até almoçaram com o Médici. Como era lidar com essa situação?

Éramos jovens e não percebíamos o problema do militarismo que estava ocorrendo no Brasil. Sabíamos de sua existência, mas não sentíamos tanto, pois estávamos imbuídos no pensamento de conquistar a Copa do Mundo. Em 1970, houve aquela recepção com o presidente Emílio Garrastazu Médici, em Brasília, quando voltamos tricampeões mundiais, que foi um fato marcante para o país. Lembro que durante a Copa do Mundo, minutos antes das partidas, Médici fazia questão de telefonar e conversar com todos os jogadores, um por um, nos incentivando, para conquistar o título. Isso foi legal.

Você disputou três Copas do Mundo (1966,1970 e 1974) e em duas delas,1970 no México e 1974 na Alemanha, foi reserva. Podemos dizer que sua maior mágoa no futebol se chama Zagalo?

A respeito do treinador na Copa do Mundo de 1970 e 1974, eu não tenho mágoa nenhuma, posso te assegurar isso. A minha mágoa é não ter jogado, pois em três Copas do Mundo, sendo duas com ele, não entrei em campo uma única vez. Então, ele contribuiu e muito para que eu não jogasse, pois era o treinador. Não existe mágoa contra esse técnico e sim por não ter jogado. Afinal de contas, eu sou tricampeão mundial igual a ele.

Qual a sensação de ter levado para casa a Bola de Prata da Revista Placar de 1971?

A melho sensação do mundo. Fiquei muito feliz quando fui eleito o melhor ponta-esquerda do campeonato e premiado com a Bola de Prata. Naquela época, era o prêmio que se dava aos melhores durante o ano e isso é um orgulho para mim. Imagina, o Brasil do tamanho que é, um campeonato tão difícil como o Brasileiro, onde há grandes jogadores e você ser escolhido o melhor? É realmente algo extraordinário. E isso me ajudou a pavimentar ocaminho na seleção brasileira ao receber esse prêmio máximo na vida de um jogador.

É verdade que na disputa do terceiro lugar contra a Polônia na Copa do Mundo de 1974, João Havelange ofereceu um estímulo financeiro para vocês ganharem o jogo?


Na Copa do Mundo de 74, o João Havelange ofereceu um incentivo a mais para que nós ganhássemos da Polônia. Ele não queria três países europeus na ponta, mas infelizmente, perdemos o jogo por 1 a 0. Apenas lamentamos a disputa pelo terceiro lugar, pois não tem tanta importância como o primeiro lugar, ainda mais aqui no Brasil. Mas faltou muita coisa naquela partida, e o treinador não fez as mudanças que eram para ser feitas colocando quem queriam jogar para ter conquistado o terceiro lugar. A derrota foi o reflexo disso.

Além do Santos, você jogou no Corinthians, Internacional, Monterrey do México, São Cristóvão e Dom Bosco-MT. Queria que nos contasse um pouco dessas passagens por esses clubes.

A minha saída do Santos foi porque tive um desentendimento com o Modesto Roma, presidente na época, que falou uma coisa para mim e como eu não gostei, disse para ele que não vestiria mais o camisa do Santos. Não achei correto o que ele fez comigo e depois me disse que falou em tom de brincadeira. Falei para ele que não aceitava brincadeira daquela natureza. Em seguida, surgiu o Corinthians, e como minha estrela é muito boa, brilhei no Timão, sendo campeão depois de 23 anos de longo jejum. Mas joguei em poucos clubes e tirando o Santos, onde joguei praticamente minha vida quase toda, e Corinthians, joguei no Internacional, no Tampa Bay Rowdies, na Flórida, e no Tigres, da cidade de Monterrey, onde estive por quatro anos. Quando retornei ao Brasil, passei no São Cristóvão que foi uma furada, e no Nacional de Manaus, onde disputamos um Brasileiro muito bom. Aliás, nesse campeonato, fomos considerados o quinto melhor, onde jogava eu, Dário, Bendelac, Carlos Alberto Garcia e Merica. Era um time muito forte e nós conseguimos essa proeza mesmo sendo um time do Norte. Mas isso foi muito legal e tive uma passagem no Dom Bosco de Cuiabá, que nem dá para te contar como foi.

Como foi conquistar o título Paulista em 77 pelo Corinthians, sabendo que o Timão ficou vinte anos sem ganhar do Peixe?

Já estava acostumado com títulos no Santos, e ser campeão pelo Corinthians foi encarado com naturalidade, mesmo o clube passando por um longo período de 23 anos sem erguer um troféu de campeão. Para mim, ser campeão pelo Corinthians, não foi novidade.

O site Família Santista (https://familiasantista.com.br/santos-fc-108-anos-glorias-veja-como-ficou-selecao-alvinegra-todos-tempos/), fez uma enquete em abril de 2020 para comemorar os 108 anos do Santos e fez a seguinte pergunta: qual o melhor Santos de todos os tempos? O os eleitos foram Rodolfo Rodríguez, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Alex, Léo; Zito, Giovanni, Mengálvio; Pelé, Neymar e Coutinho. Técnico: Lula. Nomes como Clodoaldo, Ailton Lira, Pepe, Robinho e você ficaram de fora. O que acha disso?

Cada um tem a sua opinião e o seu ponto de vista. Apenas temos que respeitar a opinião dos outros. O importante é que o Edu está ali fazendo parte da história do Santos e isso para mim é motivo de muito orgulho.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Covid-19?


Diante deste problema da pandemia, costumo ficar em casa me cuidando, e às vezes, faço uma caminhada pela praia. Mas, infelizmente, a nossa pelada no Pé na Bola, às segundas-feiras, na quadra do Arouca, que jogou no Palmeiras, estás suspensa. É uma alegria grande este encontro. Mas com a segunda onda da pandemia, infelizmente, atrapalhou muito e mexeu com a cabeça da gente. Mas na medida do possível, estamos nos cuidando e aguardando ser vacinados.

Defina Edu em uma única palavra?

Uma estrela. Uma estrela que brilhou e continua brilhando. Um homem que tem sentimentos, que é amigo, vive sempre sorrindo, que é família e que trata todo mundo igual. Esse é o Edu.

Faça uma avaliação deste Santos dirigido por Cuca que chega a mais uma final continental. O que acha desse time?

Esse time atual do Santos é uma grande equipe. Nós, torcedores, não esperávamos chegar à final e nem uma performance tão boa como dessa equipe comandada pelo Cuca. O Santos vive um momento bom e esperamos a conquista de mais um título para a rica galeria de troféus. Com certeza iremos conseguir!

Para fechar com chave de ouro esta tabelinha entre o Museu da Pelada e você, o Santos sempre fez grandes decisões continentais e mundiais interclubes no Maracanã. O senhor acha que está mística do Santos com o templo do futebol brasileiro pode ser um diferencial na busca pelo título da Libertadores?

O Santos tem o Maracanã como a segunda casa. O torcedor carioca gosta muito do Santos desde a nossa época. Esperamos que está mística com o estádio possa trazer o tetra da Libertadores.

EDU OU ALEGRIA QUE SE CHAMA DRIBLE FAZ 70 ANOS

por André Felipe de Lima


Tinha apenas 14 anos quando surgiu diante do Antoninho, em 1964. Para quem não lembra ou jamais soube, o santista Antoninho foi um dos melhores meias-armadores da história do futebol brasileiro a ponto de Zizinho (isso mesmo, o Mestre Ziza!) achar-se inferior ao Antoninho. Mas essa é outra história. Antoninho já não jogava mais bola pelo Santos e o tal adolescente, sobre quem começamos a falar nessa linha, aportou na Vila Belmiro cheio de confiança, carregado pelo pai, Basílio Raul Américo, e sob o aval de um “padrinho” que ninguém ousaria questionar, um camarada que se chama Edson Arantes do Nascimento.

Antoninho olhou o garoto de cima a baixo, fez inúmeras perguntas ao pai dele, que apenas pediu que o menino não abandonasse os estudos por causa de futebol. A mãe ficaria fula da vida. Dona Maria Aparecida de Assis Américo não admitiria o despautério. Antoninho ouviu o argumento do temeroso pai, meneou a cabeça positivamente e pediu: “Deixei-o comigo. O Santos tomará conta dele”. E assim aconteceu. O ídolo Antoninho gostou, mas o treinador do time juvenil, o Ernesto, também, com uma ressalva dita ao menino bom de bola: “Não é porque Pelé trouxe você aqui, que terá vida fácil”. E não teve mesmo. Barrar Pepe e depois Abel, outro ponta-esquerda sensacional, é tarefa para gigante.

Era o começo da carreira de um dos maiores pontas-esquerdas da história do futebol e do próprio Santos, que nasceu no dia 6 de agosto de 1949, em Jaú, interior de São Paulo. Era o começo da linda história de amor do menino Jonas Eduardo Américo, o Edu, com o Alvinegro Praiano. O que poucos lembram é que Edu quase deixou de ir para o Santos. Seguiria para o Botafogo, acompanhando o amigo Afonsinho.


Uma carta do irmão de Edu, Vicente (ex-jogador de Guarani e Portuguesa), originou a saga até Antoninho e Ernesto. Vicente acreditava que o craque da família era Edu. A história se parece um pouco com a do Ronaldinho Gaúcho. Mas só no começo. Assis, irmão mais velho de Ronaldinho, levou o garoto para o Grêmio garantindo aos olheiros do Olímpico que aquele mirradinho e dentuço seria um dos maiores da história do clube. O mesmo vaticínio teve o Vicente em relação ao Edu. Acertou em cheio. Confiante, Vicente escreveu uma cartinha, bateu no portão da Vila Belmiro e conseguiu entregá-la a Pelé.

Como contou a repórter Semiramis Alves Teixeira, o pai de Edu havia pedido o mesmo ao pai de Pelé, seu Dondinho. Cercaram de todos os lados para não haver erro. Um verdadeiro ferrolho em torno do Edu. “O cuidado e a preocupação que tenho com Edu é coisa quase de irmão mais velho. Nossas famílias são amigas há muito tempo e quando ele chegou ao Santos, ainda menino, fui eu que o orientou”, confirmou Pelé falou com Antoninho e Ernesto e os três convencerem o famoso técnico Lula de que o menino era craque. Isso a dois anos da realização da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Guardem isso. Apenas dois anos.

Edu teve sua primeira chance no futebol aos 13 anos, no Palmeiras, de Jaú, e aos 14 anos foi para o Santos, atuando no infantil, no juvenil e depois nos aspirantes. A partir daí, a carreira começou a decolar. Após dois anos atuando pelas categorias de base, surgiu a primeira oportunidade, em 1966. Sem poder contar com Pepe e Abel, Edu começa a ser lançado no time titular e não desaponta: “Cheguei para jogar no infantil. Em 65, com 15 anos, fui lançado nos aspirantes e convocado para a seleção juvenil. Em 66, fui lançado aos poucos pelo Lula. Entrei no segundo tempo do jogo com a Lusa e depois contra o Fluminense. Diante do Botafogo, comecei como titular. Permaneci na equipe por mais sete jogos e fui convocado para a Copa do Mundo (de 1966).”

Caso tivesse pisado no gramado durante algum jogo da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, Edu seria até hoje o jogador mais jovem a disputar uma Copa do Mundo, façanha do jogador Norman Whiteside, que tinha apenas 17 anos e 42 dias quando defendeu a Irlanda do Norte na Copa de 1982, na Espanha.


Ao lado de Pelé e companhia, Edu foi campeão da Taça Brasil [1965]; do torneio Rio-São Paulo [1966]; ergueu o campeonato paulista quatro vezes [1967, 1968, 1969 e 1973] e conquistou o Torneio Roberto Gomes Pedrosa [1968]. Pelo alvinegro praiano, fez 183 gols em 584 partidas, está entre os dez principais goleadores da história do clube.

Durante a preparação para a Copa do Mundo de 1970, no México, Edu foi titular em várias partidas das eliminatórias enquanto a equipe era treinada por João Saldanha. Com a chegada de Zagalo, foi sacado do time titular. Na Copa, entrou em campo apenas contra a Romênia, na vitória por 3 a 2. Participou ainda do grupo que foi a Copa de 1974, mas novamente ficou no banco de reservas, entrando em campo apenas na partida contra o Zaire. Disputou 54 partidas pela seleção e conquistou também as Copas Rio Branco e Oswaldo Cruz [1968].

A trajetória vitoriosa no Santos — e, de certa forma, na Seleção também — chegou ao fim em 1976, após se desentender com a diretoria do clube por causa de problemas relacionados à forma física. Era tido como gordinho. Mas o que importaria isso, ora bolas? Edu jogou muito e só não é considerado o melhor ponta canhoto da história do Santos porque Pepe chegou antes dele, e com uma artilharia pesada que o fez o segundo maior goleador da história do clube. Atrás apenas do Pelé. Mas Edu foi, sem dúvida, mais driblador, mais plástico que o dinamitador Pepe. Mas artista, sim, que o Pepe. Levadas em conta as devidas proporções, Edu foi um “Garrincha” canhoto que a torcida do Santos soube (e como!) idolatrar. Foi uma alegria que se chamava drible.

ENTREVISTA RARA DO EDU, EM 1968

https://www.youtube.com/watch?v=Q4u8aU7r5d4

DEZ GOLAÇOS DO EDU

https://www.youtube.com/watch?v=GdXYKtDXndU

EDU NO CARTÃO VERDE (TV CULTURA)

https://www.youtube.com/watch?v=R5qIETLCi8A

UMA TARDE EM SESSENTA E POUCOS

por Ricardo Dias

Tenho um grande amigo, o Celso. Celso é faixa preta de caratê (mas diz que é branca, pois está com o joelho bichado, o que o faz um carateca inútil. Eu não gostaria de experimentar) e ex lateral direito do glorioso Pinheiros Futebol Clube, time de futebol amador do Rio. Mas antes de falar de futebol TENHO que contar uma história de caratê dele:

Sensei, o mestre japonês de 88 anos, um dos pais do esporte no Brasil, fez um retiro de fim de semana para caratecas graduados sobre defesa pessoal. Dois dias de muito treino e estudo. Tudo gente cascuda, o seminário rendeu. Último dia, Sensei reúne todos e pergunta:

– Dez homens querem te bater. O que você faz?

Resposta oral, cada um com sua solução. Sensei ouve todos; ao terminar, balança a cabeça e diz:

– Todos burros! Perdi meu tempo, ninguém aprendeu nada!

Ficam todos surpresos e desconcertados. Ele completa:

– Se dez homens querem te bater, VOCÊ CORRE!


Então, feita a pausa, o avô de Celso morava em Santos. Ele e seus irmãos foram passar férias e, fominhas de futebol, foram direto para a Vila Belmiro (um adendo: anos antes, em 62, meus pais estavam em Santos, justamente visitando a Vila Belmiro, quando dei o primeiro sinal de vida, minha mãe não sabia que estava grávida. Deve ter sido um chute, eu queria me juntar aos meus iguais em categoria). Outro adendo: foram levados pela mãe, dona Irene; uma mãe futebolística, também levou os meninos (dois deles, um estava ocupado) ao Maracanã para assistir ao gol 1000 do Pelé!

Chegaram, fizeram amizade com o porteiro, já graduado nessas visitas, e entraram, conheceram os jogadores, já fim de treino, pegaram autógrafos… Mas Pelé já tinha saído. Voltaram à portaria, e o funcionário disse que Pelé sairia pelo portão X ou Y, sei lá. Parece que a malandragem era dizer o portão errado para o rei poder sair em paz, mas como eles não conheciam nada, acabaram errando o caminho a acertando o portão: uma Mercedes azul com placa final 1000 (ou 0010, as memórias divergem) com alguém dentro, podia ser o chofer. O mais jovem chegou mais perto e gritou:

– PELÉ!!!!!


O cara da Mercedes podia simplesmente ir embora. Estava longe, nem tinham certeza se era ele. Mas ficou, desceu do carro e era o próprio, o rei em pessoa! Vinda não se sabe de onde, uma multidão se formou em volta de sua majestade, que atendeu a todos, totalmente consciente de quem era. Autógrafos, conversas rápidas, os meninos no céu. 

Indo embora, passaram pela portaria novamente, para se despedirem do simpático funcionário. Ele perguntou se estavam satisfeitos, disseram que sim, e muito, mas lamentavam não ter conseguido falar com Edu, que estava machucado. Edu era a nova sensação do Santos, o novo rei. O porteiro pediu um tempo, foi lá dentro, e voltou com um pedaço de papel.

– Toma, é o endereço dele. Vão lá que ele está esperando vocês.

Eles se entreolharam, não acreditando, mas foram, era ali perto, poucas quadras. 

Sobem no elevador (era um tempo sem porteiros), tocam a campainha, aparentemente Edu abre a porta.


– Edu!

Eu disse “aparentemente”. Era Gaspar, irmão gêmeo de Edu, que riu e abriu a porta para os meninos. No sofá, com uma bolsa de gelo, Jonas Eduardo Americo, um dos maiores jogadores da história, sorria para eles.

– E aí, pegaram o autógrafo do Pelé?

– Pegamos!

– Então pra que é que vocês querem o meu?????

E a história acaba aqui, com um sorriso congelado no tempo, como uma foto em preto e branco. Um tempo em que três meninos cariocas – um tricolor, um rubro-negro e um alvinegro – podiam reverenciar ídolos de outros clubes, e eram tratados como o que de fato eram, a verdadeira razão de ser do jogo. Um tempo longínquo, onde reis se comportavam como reis e faziam a alegria de seus súditos.