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Eder

ÉDER E A PINTURA DE UM GOL

por Marcos Vinicius Cabral

A Fédération Internationale de Football Association (FIFA) promoveu na própria página no Facebook, a eleição do gol mais bonito marcado nas 22ª edições de Copas do Mundo. O gol do mexicano Manuel Negrete na Copa do Mundo do México, em 1986, foi eleito, como o mais belo dos Mundiais.

Em segundo lugar, aparece o golaço de Éder, marcado contra a União Soviética no Mundial da Espanha, em gramados espanhóis, em 1982, partida vencida pelo Brasil por 2 a 1 de virada na estreia do Mundial.

Éder, o Bomba de Vespasiano, como era chamado, foi um dos maiores ídolos do Atlético Mineiro e um senhor jogador de futebol. Com 123 gols marcados, é o 13º maior goleador alvinegro.

Habilidoso e dotado de um talento raro, visão de jogo apuradíssimo e um chute potente, Éder dificilmente é esquecido e fazer obras de arte com a camisa alvinegra foi uma de suas principais especialidades. Uma delas, inesquecível, completou 42 anos, e saiu do encontro entre Atlético Mineiro e Fluminense que jogavam no Maracanã pelo Campeonato Brasileiro de 1980.

E logo aos quatro minutos, cobrando um escanteio pela direita, Éder acertou o ângulo oposto do goleiro Paulo Goulart, convertido ídolo tricolor pelas várias defesas de pênaltis, mas que não conseguiu barrar a genialidade do camisa 11.

Era 1980, quando Éder Aleixo de Assis chegou ao Atlético Mineiro e desde então iniciou uma história de amor com a torcida, que tem nele um dos grandes ídolos nos mais de 100 anos de história do clube.

A ligação entre Éder e o Atlético Mineiro é coisa de berço. “Com todo respeito ao América, que me deu a oportunidade de iniciar a minha história, mas desde que nasci já era atleticano. Era gândula no Independência vestindo a camisa do Galo. Na minha cama tinha um escudo do Atlético. No caderno de escola, também”, revelou o Bomba.

Mas se a história com o Atlético Mineiro foi bem escrita pelo habilidoso ponta-esquerda, essa relação teve Procópio Cardoso, treinador alvinegro em 1980 e maior responsável por sua vinda para o Galo, como padrinho.

“Vi uma notícia no jornal que o Telê tinha brigado com o Éder no Grêmio. Eu tinha trazido o Chicão para escalar o Cerezo como meia e a gente tinha o Paulo Isidoro. Falei com o Guzella (Marcelo, diretor de futebol de Elias Kalil) para tentar a troca do Paulo Isidoro pelo Éder. Era Carnaval. Paulo Isidoro era um grande jogador, a torcida adorava ele, mas eu queria colocar o Cerezo na meia, pois tinha trazido o Chicão e ainda tinha o Heleno”.

A sugestão de Procópio mudou a história do Atlético Mineiro e a de Éder, numa parceria que tornou o camisa 11 imortal. Mas Éder e a geração que fez parte, foram castigados, sabe-se lá por qual motivo, pela bola.

Ela, impiedosa, puniu a Seleção Brasileira que jogou a Copa de 82 e era comandada por Telê Santana. Aquele Brasil sensacional, arrasador, majestoso e que dava vontade de ver em campo, chegou à Espanha com pinta de favorito, trazendo na bagagem 23 vitórias em 31 partidas ( sendo seis empates e 2 derrotas) e 75 gols assinalados com 19 sofridos.

As ‘Amarelinhas’, carinhosamente tratadas com ferro de passar para tirar o amarrotado e dobradas com carinho pelo roupeiro Nocaute Jack para serem vestidas por Leandro, Junior, Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, são até hoje, 40 anos depois, lembradas pelo mundo esportivo.

Mas Éder era especial. Carregava a responsabilidade de fazer na extremidade do campo no lado esquerdo algumas das melhores jogadas com Junior, que muitas vezes trocavam passes e faziam tabelas. Havia ali, o encantamento de dois extrasséries dos dois melhores time dos anos de 1980: Atlético Mineiro de Éder e o Flamengo de Junior.

Em gramados espanhóis, Éder jogou o suprassumo da bola e mesmo sendo castigado por um impetuoso camisa 20 italiano de nome Paolo Rossi naquela nefasta tarde de 5 de julho, conhecido como a Tragédia do Sarriá, saiu de cabeça erguida por ter deixado dentro de campo, o melhor de si. Todos eles deixaram.

O gol, eleito o segundo mais bonito de todas as Copas, é simplesmente uma pintura exuberante de cores e impressionismo dos mais renomados artistas da bola como Junior, Sócrates, Paulo Isidoro, Falcão e por fim, num belo arremate, Éder, que participaram da jogada que resultou no golaço da virada contra a meta de Rinat Dasaev, o espetacular goleiro da União Soviética.

Definitivamente, a bola pune quem quer que seja. E craques como Éder, mereciam não ser punidos.