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Cristiano Ronaldo

NÃO SUBESTIMEM UMA LENDA

por Zé Roberto Padilha

Se não fosse a idolatria que o cerca, conquistada dentro de campo pelo talento e obstinação, ninguém prestaria a atenção em Portugal.

Sua seleção, modesta, representa o pouco interesse que seu campeonato nacional desperta na imprensa internacional. De tão pouca repercussão, não foi capaz de seduzir nenhum grande craque a atuar no Porto, Sporting ou Benfica.

Portugal não ganhou nenhuma Copa do Mundo. Um jogador seu, porém, ganhou a Bola de Ouro da Fifa por cinco vezes. Nao há precedentes. Com exceção de Eusébio, nenhum outro foi sequer lembrado pelo bronze. Não é pouca coisa.

Tudo isso incomoda, causa ciúmes, beicinhos nos anonimatos.

Agora, para aparecer debaixo dos holofotes que só ele, Messi, Mbappe e Neymar são capazes de atrair, seu treinador o coloca no banco de reservas diante de uma seleção limitada tecnicamente, como a Suíça. E goleia.

Mais do que isso, com 4×0 no placar, aos 20 do segundo tempo não atende aos apelos do estádio, do mundo, das crianças que só assistiam essa pelada de luxo por sua causa. E só o coloca nos minutos finais com a intenção de puni-lo.

Esse cidadão, treinador de Portugal, não está punindo Cristiano Ronaldo. Está vendendo um show dos Beatles sem o Jonh Lennon porque este insurrecionou. E pune não a ele, mas os amantes da boa música, do bom futebol, que estão cansados da mesmice e das limitações das novas gerações.

Depois dos que torceram contra a Argentina e para que a contusão do Neymar fosse mais séria, a mais idiota das atitudes tem sido torcer para que a Copa sofra a ausência de um das suas maiores atrações.

Um ídolo não se faz da noite para o dia. Muito menos, conseguem apagar seu brilho da noite para o dia.

Essa Copa do Mundo ainda vai falar muito pouco sobre Portugal. Mas sobre Cristiano Ronaldo, motivado e mordido, vão ter que reservar muito espaço para lhe exaltar.

E pedir desculpas.

PORTUGAL SOLIDÃO

por Rubens Lemos


Exausta pela viagem, Izabel subiu ao hotel em Lisboa e caiu no sono dos sertanejos, desacostumados com aeroporto, check-in e check-out. Subiu ao hotel despachada a bagagem, entregue o voucher e decidiu dormir. Era uma viagem(minha) a trabalho.

Acompanhava, há 21 anos, o governador Garibaldi Filho até a Espanha para receber um prêmio pelo maior programa de abastecimento de água do mundo, o das Adutoras, abençoado pelo Monsenhor Expedito Medeiros, de São Paulo do Potengi.

O pobre passava a ter direito ao direito que lhes era negado pela tacanha politicagem: o de beber água limpa. Garibaldi Filho fez a maior obra social do Rio Grande do Norte. Emocionante.

Exposto o trabalho pela equipe da Secretaria de Recursos Hídricos – lembro bem da ótima companhia de Ricardo Melo, filho do mestre Dalton Melo, Garibaldi ganhou de goleada.

Na noite da chegada, pois, fiquei sozinho no restaurante do hotel em Lisboa, posto que chegamos antes da delegação oficial e, juntados alguns caraminguás, mais diárias de contas bem prestadas, resolvi levar minha mulher à Europa. Fã de Garibaldi, julguei que ela merecia assistir à entrega do prêmio.

A solidão portuguesa é um estado de espírito. Pedi uma cerveja acompanhada por um sanduíche de ovos com batatas fritas. Absolutamente eu e a solidão.

Quando a cantora cantou Coimbra. Decidi, depois da terceira taça, que Amália Rodrigues era ela, mesmo morta Amália, um ano antes de nossa visita. A moça, de uma brancura santificada, musicava os versos olhando para cada um dos 10 ou 12 presentes ao restaurante.

Disfarçado, lacrimejei às primeiras letras do Fado-Hino: “Coimbra é uma lição/De Sonho e Tradição/ E a lua a faculdade/ O livro é uma mulher/ Só passa quem souber/ E a prende-se a dizer saudade”. Chorei, saudosista orgânico. A saudade em mim é uma companhia.

De repente, pensei nos meus ídolos lusitanos. Pensei em Mário Soares. O primeiro-ministro português herói da Revolução dos Cravos. Imaginem soldados revolucionários, depondo uma ditadura de décadas, sendo recebidos por flores pelos cidadãos comuns.

O capitão da conquista era Mário Soares, que, naquela noite, jamais imaginaria apertar a mão. Anos depois, em missão pelo Brasil, ele esteve em Natal e eu o conheci, reverente como um soldado de imensa insignificância. Mário Soares bem poderia ser sinônimo de estadista. Como de fato, foi.

Portugal, passional, não é sentimental no coletivo. Existiram Amálias, Mários, Eusébios. Tinha menos de dois anos quando Eusébio, o Deus da Bola, Pá!, jogou em Natal no tapete suntuoso do recém-inaugurado Castelão. Tenho o jogo, mas tenho em DVD, ele flutuando em velocidade e desmoralizando zagueiros do Equador. Foi 3×0 e Alex Medeiros assistiu, ao vivo.

Da noite da moça branca cantando Amália Rodrigues até hoje, a canção portuguesa entoou novamente em meu coração, no saudosismo e no seu primo, o sofrimento, na luta de Portugal contra a Alemanha e a França pela Eurocopa. Alemanha chama-se pragmatismo e França, ataque.

A Alemanha é um jogo eficiente e bonito quanto se vê Toni Kross, o maior-armador do planeta, enfiar bolas como um Didi sem gingado nem cintura maliciosa. A França é a patrulha avançada de Mbappé e Benzema.

A Alemanha bateu Portugal sem que Portugal abrisse mão da luta, como se das chuteiras, flores brotassem na batalha inglória. França é desfile virtuoso. Foi empate.

Portugal de Amália Rodrigues, Mário Soares, Eusébio, é Portugal hoje do Cristiano Ronaldo que um dia reneguei e rendo-me, sem armas, pela capacidade guerreira. De sonhar estar de novo sozinho numa noite a ouvir o canto quase lírico, de um atacante que faz da força, aumentativo de encanto.

COCA? NÃO, EU QUERO ÁGUA

por Idel Halfen


Uma cena chamou a atenção na coletiva de imprensa do jogador Cristiano Ronaldo na Eurocopa: seu gesto afastando duas garrafas de Coca-Cola e trazendo uma de água, a qual também não ficou à sua frente na entrevista, embora o nome do líquido tenha sido proferido em português.

Diante do ocorrido, a imprensa e as redes sociais despejaram dezenas de notícias conclusivas e comentários sobre o ocorrido, deixando evidente o baixo conhecimento dos “autores” acerca de gestão, além da péssima escolha de fontes.

A notícia mais “lacradora” talvez tenha sido a que responsabilizou o ato pela queda no valor da empresa, conclusão tirada sem sequer consultar analistas de mercado para entender como vinha sendo o comportamento das ações da empresa. Informo que no dia da coletiva, a ação da Coca-Cola fechou no valor de US$ 55,41, porém, um mês antes o valor era US$ 54,64, tendo chegado a US$ 54,17 em 19 de maio. Será que o mercado nesse dia previu que o craque português teria tal atitude quase um mês depois? Evidente que não, até porque no dia 20 a ação subiu.

Dentro do festival de “conclusões imediatas”, estiveram as que decretaram que o marketing sofreu um sério prejuízo com o incidente, certamente baseados na possibilidade de atos similares voltarem a acontecer, o que, sem dúvida, seria péssimo para a atração e retenção de patrocinadores. Contudo, deveriam ler os contratos de patrocínio na Eurocopa, para entender se a propriedade “objetos sobre a bancada da mesa de entrevistas” existe e como foi comercializada.

Não surpreenderia saber que a colocação das garrafas foi uma espécie de “ativação” do patrocínio, tal suposição tem como causa a infinidade de produtos que aparecem nesse tipo de evento – arroz, cimento, chuteira, etc. – em total dissonância com o que se espera do marketing, que é posicionar os produtos e serviços como algo atrativo.

Poderia também ser discutido – o que não foi feito – se o ato não se constituiu em um ambush marketing(marketing de emboscada), na medida em que a garrafa de água ganhou destaque em detrimento ao refrigerante. A possível alegação de que não era possível identificar a marca da água perde força quando entendemos que, em termos de categoria de produtos, elas são concorrentes, mesmo a Coca-Cola tendo água em seu portfólio.

Pelo histórico do jogador, não parece razoável, tampouco coerente, a hipótese de “rebeldia” contra uma marca que não estaria lhe remunerando para aparecer próxima a ele, afinal isso acontece costumeiramente no esporte, vide os backdrops e placas ao redor do campo, por exemplo.

O chamado “marketing de causa”, no caso uma manifestação de alerta sobre os eventuais malefícios dos refrigerantes, foi provavelmente a motivação do ocorrido, não cabendo aqui julgar a veracidade dessa convicção. No entanto, para que algo tenha o cunho de “marketing” é mandatório que se contemple um planejamento, no qual a ocasião, o local, a forma e o sequenciamento, entre outros, sejam contemplados, o que, definitivamente não aconteceu no caso relatado.

UM ÍDOLO É MUITO MAIS QUE CRAQUE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


A ausência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo na entrega da Bola de Ouro escancara definitivamente a infantilidade dessa geração, um comportamento que a garotada define como Nutella e mimimi. São craques e isso não se discute, mas são mimados ao extremo, vaidosos, personagens de contos de fadas.

Messi já disse que não jogaria mais pela seleção argentina, fez biquinho, mas acabou voltando. Cristiano chorou porque foi expulso. Choram e reclamam por motivos fúteis. Para mim, não são referências.

Se você decide faltar a um evento dessa relevância, que faça como o ator Marlon Brandon, que, em 1973, recusou a estatueta do Oscar e mandou em seu lugar uma ativista indígena para mostrar seu repúdio à forma como os nativos eram tratados nos Estados Unidos. Dessa forma, se constrói um ídolo.


Para mim o ídolo tem que ter atitude, postura, iniciativa. A mesma que Afonsinho teve quando criou a Lei do Passe e trocou de clube por não aceitar cortar o cabelo. Os cabelos grandes, em nossa época, não eram uma modinha, mas uma forma de se manifestar. Que os piercings, brincos e tatuagens de hoje também sejam um grito contra o preconceito.

Na década de 60, conheci a socióloga americana Angela Davis e passamos a usar o futebol como uma ferramenta contra a discriminação racial. Mas em 1996 já existia o tal mimimi e a seleção olímpica, dirigida por Zagallo, também se negou a subir ao pódio para receber o bronze. Lembram-se disso? Pura birra.

Os atletas precisam entender que a derrota dói, mas deve ser encarada com dignidade, não com desleixo e deboche, como fez Ronaldinho Gaúcho, que usou o celular, no pódio, durante a entrega do bronze, em 2008.


Estive com Rogério Bailarino há alguns dias. Ele até hoje lamenta ter se contundido e cortado às vésperas da Copa de 70. Foi buscar na Igreja Messiânica explicação para isso. Dirceu Lopes até hoje chora por não ter ido ao México, assim como Ado, do Bangu, lamenta o gol de pênalti perdido na final do Brasileiro. Me culpo até hoje por um gol perdido contra a Holanda, assim como Zico deve sofrer até hoje pela falta de um Copa em seu currículo.

Hoje a derrota é banalizada. Não que a dor precise ser eternizada. Mas Felipão, por exemplo, continua se achando o último biscoito do pacote mesmo após o 10×1 (sete da Alemanha e três da Holanda). Vamos ver agora com mais essa desclassificação.

Os discursos mudaram. Hoje o futebol está infestado de palestrantes, do veterano Tite ao jovem Barbieri, que ficou tentando nos convencer até o último minuto que esse time sem molho do Flamengo é bom.


O melhor dessa bagunça toda é quando o “professor” se vê em maus lençóis e precisa furar um bloqueio, mudar o rumo do jogo. Ele olha para o banco e vê um Pedrinho, do Corinthians. Por sinal, esse garoto no banco é o retrato do futebol covarde praticado hoje. “Aquece, Pedrinho!”. Talvez ele não pratique boxe como Sassá e Felipe Melo, mas quando a porca torce o rabo, graças aos céus, é a arte do menino magrelo e bom de bola que ainda prevalece. 

SIM, ELES SÃO HUMANOS!

por Marcos Vinicius Cabral


Criada pelo francês Jules Rimet, em 1928, após ter assumido a presidência da FIFA, a Copa do Mundo é hoje o evento esportivo mais importante do planeta.

Desde a primeira edição em 1930 – realizada no Uruguai e vencida pela equipe Celeste – até a mais recente – estamos nas oitavas de final da Copa de 2018, na Rússia – muitas coisas aconteceram nessas 21 edições.

Se vivo fosse, o “pai da Copa do Mundo” – falecido em 1956 na modesta cidade francesa de Suresnes – estaria surpreso com a grandiosidade que o evento se tornou e estarrecido com a quantidade de jogadores talentosos que não ganharam o tão almejado título.

A lista, extensa, diga-se de passagem, teve no sábado (30), a inclusão de mais dois nomes de peso: Messi e Cristiano Ronaldo!


Desclassificados pelos algozes franceses e uruguaios, os dois maiores gênios da atualidade e detentores de dez prêmios de melhor jogador do mundo da FIFA – cada um com cinco – viram o sonho se tornar frustração.

O craque argentino Messi – há quem diga ser melhor que Maradona – sucumbiu para uma França mais organizada e com um talentoso Mbappé – autor de dois gols – que com apenas 19 anos, ditou o ritmo da partida na vitória por 4 a 3.

Já o português CR7, teve atuação discreta na derrota por 2 a 1 e viu a dupla Cavani/Suárez, comemorar a classificação às quartas de final.


Portanto, é uma pena para o futebol, para a Copa do Mundo e para os que torciam pelo sucesso desses dois exuberantes jogadores, que tenham que voltar aos seus países de mãos vazias.

E nos deixa a única certeza sobre esse esporte chamado futebol: sim, Messi e Cristiano Ronaldo, são humanos!