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Copa Virtual

A COPA VIRTUAL DE TODOS OS TEMPOS

por Émerson Gáspari


Eu sempre sonhei com isso! E hoje, após anos alimentando meu computador com dados de jogadores, seleções e partidas ao longo da história (meticulosamente analisados), estou prestes a concretizar o plano de conceber a maior Copa que poderia existir: a Copa do Mundo “virtual” de todos os tempos.

Meu programa especial instalado não só cruza todos os dados, como vai além: aproxima fisicamente os jogadores do passado com os do presente, nivela a marcação, cria condições idênticas de regras, campo e material esportivo, adequa esquemas táticos, escala os melhores de cada posição, analisa retrospectos, extingue “arbitragem eletrônica” e adiciona o coeficiente “sorte” (pois o futebol é um pouco isso também, daí ser imprevisível e apaixonante). Algumas seleções e jogadores que me agradam ficam de fora (como a Croácia de Suker), mas quem manda é o programa e não cabe a mim, discutir com uma máquina.

Tudo pronto, eu me sento diante da tela do computador para assistir à “mãe” de todas as Copas, em imagens coloridas, de alta-definição. Aperto o “ENTER”, dando assim, o “pontapé inicial” ao torneio. Caberá aos ingleses – inventores do futebol – a primazia de sediarem o Mundial, que reúne as 32 seleções escolhidas por critérios técnicos, históricos e até geográficos, fato que extinguiu a necessidade de Eliminatórias.


A curiosidade fica por conta da presença da seleção da Coréia (aqui unificada), na disputa. Fato que emociona a todos, pela força que o esporte tem em promover a paz.

Rolam os jogos da primeira fase e após as três rodadas iniciais, surgem as 16 primeiras seleções eliminadas. Algumas delas, já esperadas: a Arábia Saudita de Abdullah, a Austrália de Harry Kewell, o Japão de Nakata e a própria Coréia de Park Ji-sung.

As demais são: a Escócia de Baxter, a Áustria de Sindelar, a Romênia de Haggi, o Chile de Figueroa, a Dinamarca de Laudrup, os EUA de Lalas, o Peru de Cubillas, a Colômbia de Valderrama e Higuita, a Suécia de Liedholm, a Bélgica de Preud’ homme, a Bulgária de Stoichkov e o Paraguai de Romerito, Gamarra e Chilavert, que de falta, marca o primeiro gol de um goleiro em Copas do Mundo.


Todos estes craques e selecionados retornam para seus países de origem. O torneio, reduzido agora à metade de seus participantes, entra naquela etapa mais decisiva: as “oitavas-de-final”.

Com ela, começam a cair esquadrões mais tradicionais do futebol mundial, como a República Tcheca de Planicka e Masopust, a Rússia de Yashin, Camarões de N’Kono e Roger Milla, México de Carbajal e Hugo Sanchez, Polônia de Lato e Boniek, Portugal de Eusébio e Cristiano Ronaldo e – para tristeza dos românticos que preferem o futebol bem jogado, como eu – a Hungria de Czibor, Kocsis e Puskas, além da Holanda de Cruyff, Neeskens, Van Basten, Gullit e Robin, todos jogadores maravilhosos, que se despedem da maior de todas as Copas.

Copa essa, que agora reúne – coincidentemente – as oito seleções que já tiveram a glória maior de levantar a Taça do Mundo: Argentina, Brasil, Uruguai, Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália. E vem as “quartas-de-final”…


Numa partida medonha, travada, repleta de faltas e catimba, os portenhos despacham os uruguaios pela contagem mínima, em incrível arrancada de Messi. É o fim da linha para “Manco” Castro, Andrade, Nasazzi, Obdúlio Varela, Pedro Rocha e Diego Forlan. Mesmo placar registrado no clássico europeu, no qual a retrancada Itália, em contragolpe de Roberto Baggio, vence a “Fúria” espanhola de Zamora, Xavi e Iniesta.

Para a tristeza da rainha e com um gol duvidoso no final (quando a bola acertou o travessão, bateu em cima da linha e não entrou, mas o juiz considerou como um tento) a Alemanha elimina a Inglaterra por 3×2. Triste fim para Banks, Stanley Mathews, Bobby Moore, Bobby Charlton, David Beckham e até mesmo… vejam só: George Best! (aqui, “naturalizado” inglês, por uma manobra do programa do computador). 

No jogo menos faltoso e mais bonito de toda a competição, repleto de futebol-arte em campo, o Brasil ganha por 2×1 da França, gols de Zico (cobrando pênalti) e Ronaldo Fenômeno. Mas Matller, Just Fontaine (que marcou o gol francês), Michel Platini, Tigana, Giresse, Rocheteau, Barthez e Henry, saem de cabeça erguida, ovacionados. Até mesmo Zinedine Zidane (expulso no último minuto por uma cabeçada em Luís Pereira quando a França buscava o empate) é aplaudido de pé, ao deixar o gramado.


Restam agora, no Mundial, as quatro seleções que possuem mais títulos em Copas. As semifinais apresentam dois duelos tradicionalíssimos: Argentina x Alemanha e Itália x Brasil. Muita emoção pela frente!

Apesar de toda a rigidez na marcação e aplicação tática extrema, os germânicos não conseguem segurar o ímpeto argentino, sucumbindo por 2×0, gols de Di Stéfano e Mário Kempes. Torcedores brasileiros lamentam não enfrentarem os alemães nessa Copa, com um selecionado que verdadeiramente os representem. Mas…

Uma verdadeira “batalha” é travada na outra semifinal.


A Itália sai na frente, com Meazza. O Brasil empata: gol de Zizinho! A “Azurra” novamente na frente, através de Bruno Conti. Outra vez os “canarinhos” empatam, agora com Pelé, de cabeça. E viram o jogo, num lindo chute de Falcão. A dois minutos do fim, Gylmar defende uma cabeçada mortal de Paolo Rossi em cima da linha e classifica o Brasil. Telê Santana vai às lagrimas e abraça forte o auxiliar-técnico Zagallo. O primeiro, comovido ao ver todos os demônios de “Sarriá” finalmente exorcizados. O segundo, gritando a plenos pulmões para quem quisesse ouvir: “- Tiveram que nos engolir!”.

Na véspera da finalíssima, Itália e Alemanha decidem o terceiro lugar. Arnaldo Cézar Coelho é o árbitro. Uma partida que se transforma em “batalha épica”: ninguém quer perder! Noventa minutos de muito equilíbrio. Matthews, de pênalti, abre a contagem, mas a Itália empata, com Schilati. A igualdade no marcador leva o jogo para a prorrogação. A Itália se atira ao ataque e abre 3×1, com gols de Baggio (de pênalti!) e Paolo Rossi. Pressão total alemã: o zagueiro Cannavaro e o goleiro Zoff se transformam nos melhores da partida, pelo lado italiano. Apesar disso, os alemães, liderados por Kross e Franz Beckenbaur (machucado e jogando com a clavícula enfaixada) empreendem reação formidável e nos quinze minutos finais viram o duelo para 4×3, com gols de Fritz Walter, Gerd Muller e Klose (em brilhante jogada de Rummenigge).

Espetacular!

Chega enfim, o grande dia, Brasil e Argentina – maior rivalidade do planeta – reunidos numa final até então inédita, no coração do Velho Continente. Estádio de Wembley tingido de verde-amarelo. Todos os ingleses torcendo pelos brasileiros (ou contra os argentinos?). Mas a seleção tem problemas: Djalma Santos, que atuou em todos os jogos está contundido e dá lugar na final, a Carlos Alberto Torres. O goleiro reserva, Leão e o técnico Telê se estranham e Taffarel o substitui, no banco. Não é só: a escalação brasileira anunciada no estádio, não inclui Ronaldo: em seu lugar, na última hora, misteriosamente, aparece o nome de Romário. A imprensa fica em polvorosa!

Os times entram em campo com as seguintes formações: a Argentina;Carrizo, Zanetti, Perfumo, Passarella e Marzolini; Sastre, Moreno e Maradona; Messi, Di Stéfano e Mário Kempes. Para o banco da “Albiceleste”, o treinador César Luiz Menotti relaciona Fillol, Ruggeri, Nestor Rossi, Labruna, Sívori, Batistuta e Pedernera.

Já o Brasil do técnico Telê Santana está escalado com Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Pelé e Rivellino; Garrincha, Romário e Neymar. Na suplência ficam Taffarel, Zito, Didi, Zizinho, Zico, Ronaldinho Gaúcho e Leônidas da Silva. A arbitragem fica por conta do italiano PierluigiCollina.

Na hora do chá inglês, pontualmente às cinco da tarde, ele trila seu apito e a batalha final se inicia. Sete títulos mundiais em campo. A torcida vai à loucura.


No gramado, a temperatura sobe logo aos três minutos: Zanetti toma uma “lambreta” de Neymar e “levanta” o menino, mas Rivellino dá sequência ao lance antes que o juiz apite a falta, aplica um “elástico” em Sastre e atira um torpedo de fora da área. A bola explode na trave! Um minuto depois, é a vez platina: Di Stéfano tabela com Maradona, que lança Messi. Ele invade a área e tenta “dar uma cavadinha” pra cima de Gylmar, mas o goleiro manda pra escanteio. A partida “pega fogo”.

Jogadas maravilhosas se sucedem: numa delas, Garrincha entorta Marzolini e cruza para Pelé, que cabeceia com força para baixo, obrigando Carrizo a saltar ao chão, espalmar e ficar rezando, enquanto a bola caprichosamente encobre o travessão.


Só que a os portenhos saem na frente: José Manuel Moreno inverte uma bola da direita pra esquerda; Kempes recebe e centra na área, onde Gylmar divide pelo alto com Maradona. É quando “El Pibe de Oro” soca a bola para as redes, sem que Collina se aperceba: 1×0 para os “hermanos”, cuja pequena torcida vibra muito. 

Na discussão, no meio do bolo de jogadores, Neymar infelizmente é agredido com uma joelhada nas costas e deixa o gramado para não voltar. Em seu lugar, surge Didi. Telê pede para que Riva ocupe a ponta esquerda. Já passa da metade do primeiro tempo quando o Brasil sai em contra-ataque e Nilton Santos faz um passe rasteiro na diagonal, para o “Rei”. Carrizo deixa a área para interceptar e é fintado num drible de corpo desconcertante de Pelé, que corre pelo outro lado e quase caindo, bate cruzado. Perfumo ainda se joga pra tentar salvar, mas a bola passa quicando em câmera lenta, da direita pra esquerda, toca no pé da trave e entra: tudo igual, 1×1.

Só que a Argentina é um time enjoado, que nos conhece muito bem e se aproveita do fato da equipe se desconcentrar na comemoração do gol, para desempatar: A “Flecha Loira” Di Stéfano recebe de Maradona e bate firme, apesar da marcação de Domingos da Guia: 2×1 para eles, que passam então a “fazer cera”. O Brasil tenta de novo, numa linda escapada de Garrincha pela direita, “deitando” dois “Joões” pelo caminho e cruzando rasteiro pra Romário, que se estica todo e toca de biquinho, para fora.


Só que o “Baixinho” põe a mão na virilha e sai para o intervalo mancando, deixando uma interrogação na cabeça da torcida e do treinador.

Quinze minutos depois, é Leônidas da Silva quem sobe do túnel, com a equipe, para o segundo tempo. Pela Argentina também há substituições: sai Moreno, para a entrada de Nestor Rossi, numa clara tentativa de se fechar o meio-campo para segurar o placar. O duelo recomeça.

Agora o Brasil martela insistentemente. Primeiro Leônidas é bloqueado ao tentar um chute à queima-roupa. Depois, Falcão lança para Pelé que gira em cima de Nestor e fuzila para o gol. A bola passa por Carrizo e Passarella salva em cima da linha. Mas o “bombardeio” não cessa. Nem quando o time desce todo ao ataque e é surpreendido porMessi, que apanha um lançamento longo de Maradona, entra na área e bate cruzado na saída de Gylmar, fazendo Argentina 3×1. Vem o desespero no coração do torcedor brasileiro.

Mas quem tem Didi, não tem medo: ele vai até o gol, apanha a bola e caminha com toda a tranquilidade do mundo, falando com os companheiros, até colocá-la no meio-campo.


A seleção não esmorece, persiste no ataque. Em jogada de Falcão, Garrincha acaba sendo derrubado sem piedade, ainda na meia-direita. A bola é ajeitada por Didi, pouco mais de trinta metros distante do gol. Os argentinos se espremem numa barreira de seis gringos. O chute sai seco, firme: passa ao lado da cabeça do primeiro homem, parece que vai em direção à Carrizo, porém, subitamente muda sua trajetória e decai, entrando rente à trave oposta. É a “Folha-Seca” de Didi, diminuindo o prejuízo: 2×3.

Menotti altera o esquema tático: Kempes e Maradona recuam para ajudar a fechar a meia cancha, ao lado de Nestor Rossi e Sastre. Na frente, ficam apenas Messi e Di Stéfano, num 4-4-2, aceitando a pressão brasileira.

E Carrizo vai mostrando que não foi eleito por acaso, o melhor goleiro sul-americano do século XX. O tempo vai passando, mas o Brasil não se desespera: confia que o gol sairá, ainda mais depois de uma descida de Carlos Alberto, que ludibriou a zaga e obrigou o arqueiro a novo milagre. É daí que o “Enciclopédia” Nilton Santos resolve abandonar a marcação e descer para o ataque também, cruzando o meio-campo e tabelando com Pelé. Ele grita pedindo a bola de volta e a recebe. Já próximo do bico esquerdo da área, centra alto, por sobre a cabeça de Passarella, surpreendendo-o. Do outro lado, Leônidas, o “Diamante Negro” alcança a bola numa bicicleta extraordinária e manda na gaveta, empatando em 3×3 a seis minutos do fim.


O gol alivia o time brasileiro, enquanto a Argentina pouco se arrisca e o jogo vai para uma dramática prorrogação. A qual não tem mudanças no marcador. Na maior chance nossa; Rivellino bate uma falta de três dedos e a bomba passa perto demais. Quanto aos argentinos, a redonda é alçada na área por Maradona e Di Stéfano divide com Gylmar, pelo alto. Na queda, o goleiro leva a pior e acaba dando lugar a Taffarel, já na “última volta dos ponteiros”. Um minuto depois, Collina apita o fim de jogo. Vamos ao velho teste para cardíacos: os malditos pênaltis. Quanta angústia, meu Deus!

Kempes bate primeiro e acerta o travessão. Só que Rivellino (que nunca gostou de cobrar penais) dá uma paulada no meio do gol e Carrizo rebate, no susto. Agora é Messi quem cobra e abre a contagem. Didi deixa tudo igual: 1×1.  Di Stéfano confere bonito, de letra: 2×1 pra eles. Ficamos com os nervos à flor da pele, quando Garrincha, calção caindo, alheio à atmosfera decisiva, cobra com certa displicência e empata de novo. O capitão Passarella, ao contrário, bate com muita seriedade e põe os portenhos na frente, outra vez. Mas Leônidas iguala, com um chute preciso, no ângulo: 3×3 e falta uma cobrança para cada lado.


Diego Armando Maradona passa a mão na bola e olha para o banco, onde Menotti nervosamente mastiga seu centésimo cigarro. Corre, dá uma meia-trava, colocando de canhota no cantinho e… Taffareeelll! Vai que é sua, Taffarel!! O estádio se inflama.

Édson Arantes do Nascimento, com todo o peso da responsabilidade do universo em seus ombros, põe na cal e olha para o banco. Telê masca seu chiclete, enquanto Zagallo berra de lá: “- Negão, foram 12 gols até agora… esse é o de número 13”.

O “Rei” decide então, cobrar igual ao seu milésimo gol: parte para a pelota, dá uma paradinha e toca de direita, sutil, no canto. Carrizo se estica todo, resvalando os dedos na bola e… goool do Brasil, campeão de todos os tempos!!!

O estádio parece explodir; tamanha a vibração: os ingleses, feito os mexicanos em 70, deixam a frieza habitual de lado e liderados pelos torcedores brasileiros, invadem o gramado. Maradona reclama da “paradinha” de Pelé, mas o árbitro dá de ombros, afirmando que utilizou o mesmo critério que usou na cobrança dele.

Agora, os jogadores brasileiros são cercados por centenas de torcedores. Telê é carregado em triunfo. Zagallo, às lágrimas, corre para abraçar Pelé, que aos poucos vai ficando quase sem roupa, perdendo camisa, chuteiras, meias… só não perde a realeza.


Depois que se recompõe, sobe às tribunas de honra com a seleção brasileira, onde a rainha Elizabeth II entrega a taça “Copa Eterna FIFA” ao “capita” Carlos Alberto Torres, que a beija e depois a levanta, sob uma chuva de fogos de artifícios ensurdecedora, que ilumina magnificamente os céus de Londres. Ninguém nota a discreta saída dos argentinos. “O papa pode ser argentino, mas Deus é brasileiro”, gozam os torcedores verde-amarelos.

Uma semana mais tarde – muitos carnavais e comemorações pelo Brasil afora – a FIFA organiza um amistoso internacional para celebrar a realização da Copa de todos os tempos, entre seleção brasileira e seleção mundial, num Maracanã abarrotado de torcedores. E um providencial empate de 2×2, deixa a festa ainda mais bonita.

A ficha do jogo? Seleção do Mundo: Yashin, Bobby Moore, Baresi e Beckenbauer; Obdúlio Varela, Zidane, Cruyff e Maradona; Messi, Eusébio e Puskas. Téc.: RinusMichels.  Seleção do Brasil: Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Didi e Pelé; Garrincha, Romário e Rivellino. Téc.: Telê Santana.

Um “fecho-de-ouro” para uma Copa de outra galáxia, uma conquista inquestionável, inigualável, eterna.