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Colecionismo

REI DAS CAMISAS 1

por André Mendonça


Raphael Reis exibe camisa de Raul

Ter a camisa usada por um de seus maiores ídolos é um privilégio para poucos. Se tratando do uniforme oficial utilizado no jogo mais importante da história do clube, então, é para quase ninguém. É por isso que Raphael Reis, exímio colecionador de camisas de goleiro do Flamengo, não esconde o orgulho para dizer que o item preferido do seu acervo é a blusa que Raul Plassman vestiu na decisão do Mundial Interclubes contra o Liverpool, em Tóquio, quando o rubro-negro sagrou-se campeão mundial.

Viciado em peladas, Raphael se destacava no meio dos amigos fazendo grandes defesas. O desempenho acima da média o levou para a base do Botafogo, mas uma fratura no pé acabou dando fim ao sonho de se tornar profissional. Além da paixão pela posição, o menino adorava o fato dos uniformes dos goleiros serem diferentes dos demais jogadores.

– Tudo começou assistindo à Copa de 1994, quando eu tinha sete anos e fiquei encantado com a camisa do Taffarel.

No ano seguinte, uma Umbro espalhafatosa usada por Paulo César despertava de vez a paixão de Raphael por camisas de arqueiros e dava início a uma bela coleção. A blusa de Paulo César, vale destacar, também é uma das preferidas do colecionador.

Com mais de 160 itens, sendo o primeiro deles uma camisa verde da Adidas usada por Cantarele nos jogos finais do Campeonato Brasileiro de 83, o colecionador revelou que não mede esforços para garantir as preciosidades. Embora não tenha revelado o número exato, o flamenguista revelou que o valor mais alto pago por um uniforme chegou a cinco dígitos.

– Todas as camisas são originais, de jogo. Consigo com ex-jogadores, colecionadores, vendedores e brechós. Meus amigos também me ajudam bastante: tiram foto, me enviam e perguntam se é réplica ou verdadeira. Tenho camisas de 1941, 1953, 1960 e de 1972 até os dias atuais.


Como um bom colecionador tem sempre uma história inusitada envolvendo procura de camisas, o flamenguista não demorou a lembrar do dia em que colocou o amigo Paulinho Pessanha em uma tremenda furada. Tudo começou quando dois amigos de Raphael foram assistir a um jogo em Campos, viram uma camisa rara de goleiro e enviaram uma foto. Encantado, o colecionador pediu para que pegassem o número do desconhecido que vestia aquela blusa e ali iniciava uma saga:

– Eles me passaram o número dele, eu liguei e consegui fechar o negócio. O Paulinho se dispôs a ir pegar a camisa com o cara, afinal, além de ter visto o homem com a camisa, ele morava na cidade. Dito e feito, foi Paulinho para o endereço que o rapaz havia me passado. Era um bar esquisito, um pouco afastado.

Assustado com o ambiente hostil, Paulinho ligou para Raphael para se assegurar de que não estava equivocado.

– Ele encontrou o dono, pegou a camisa e foi embora. Já com a camisa em mãos, Paulinho me ligou apavorado para dizer que estava com ela e que o tal bar também é ponto de venda de drogas da comunidade. Falou que estava tudo bem com ele, e que estava saindo o mais rápido possível de lá! Mesmo percebendo que ali era uma “boca de fumo”, foi lá e me ajudou! Sou muito grato a esse meu amigão!

Além das 164 camisas, o acervo do colecionador reúne algumas luvas, sendo duas da década de 70 e várias atuais com autógrafos de goleiros que passaram pelo Flamengo. A ideia de Raphael é fazer um mini museu dos goleiros do Flamengo com todos esses itens.

No fim da resenha, ao ser perguntado sobre a má fase dos goleiros rubro-negros ultimamente, o colecionador demonstrou esperança com a chegada de Diego Alves:

– A expectativa é a melhor possível! É um grande nome, a altura do Flamengo. Também poderá passar sua experiência ao Thiago e ao César – finalizou.

 

HISTÓRIA ALVIVERDE

por André Mendonça


Ricardo Neto

“Colecionar é admirar, respeitar e amar a história, e aceitar que a prateleira nunca estará completa”.  A bela frase é do palmeirense Ricardo Neto, um colecionador voraz de itens do Verdão. Embora tenha mais de 200 peças na sua coleção, é curioso saber que a prática começou mais do que por acaso, depois de ser assaltado e ter uma lendária camisa roubada.

Influenciado pelo pai, se tornou palmeirense bem cedo e tinha o costume de ir ao estádio aos domingos. Certo dia, enquanto esperava pelo ônibus para ir ao Parque Antarctica, foi abordado por assaltantes que, além do dinheiro, levaram também a sua camisa. Seria só mais um caso de violência em São Paulo se a blusa não fosse uma verdadeira relíquia:

– Era uma linda camisa de 1977 que meu pai tinha ganhado de um antigo diretor de futebol do Palmeiras. Eu estava sempre com ela!

A tristeza de Ricardo durou alguns poucos dias. É que o mesmo diretor se sensibilizou com o caso e presenteou a família com uma mala abarrotada de relíquias alviverdes: faixas de campeão dos anos 50, 60 e 70; flâmula oficial raríssima dos anos 50; uma camisa Agip branca (1987-1988), entre outras preciosidades. O que ninguém poderia imaginar é que a “semente” plantada pelo dirigente daria frutos e começaria ali uma exuberante coleção.

– As peças ficaram guardadas em casa por anos, até que aos poucos comecei a adquirir novos itens e quando me dei conta me tornei colecionador de itens antigos do Palmeiras.

Além de camisas, flâmulas e faixas de campeão, o acervo de Ricardo reúne troféus, chaveiros, medalhas, pins, alfinetes de lapela, mascotes e fotos. De acordo com ele, coleciona tudo, menos jornais e revistas.

 Vale destacar, no entanto, que o foco do colecionador são itens até o ano de 1993. Além de ter sido um ano simbólico para o Palmeiras, repleto de títulos, foi também “um divisor de águas na comercialização de artigos esportivos oficiais, tornando muito mais difícil distinguir um item de loja de um item usado em jogo”, como ele mesmo define.

– Todas as camisas da minha coleção são originais e a mais antiga é de 1957-1958, do Mazzola, quando o símbolo estampado na camisa do Palmeiras ainda era apenas o “P”. Alguns itens chegam a vir do exterior, como a camisa que o Leivinha usou na final do Ramon de Carranza de 1974, a qual ainda estava na Espanha.


Camisa original do Mazzola

Tantas raridades exigem um verdadeiro trabalho de garimpeiro do palmeirense, que não mede esforços para aumentar sua coleção. Embora a internet tenha sigo um grande facilitador, Ricardo revelou que a persuasão também é fundamental para o aumento de itens na prateleira.


Faixas de campeão

Segundo ele, existe um apego emocional que nenhum dinheiro paga e, por isso, a negociação emperra, sobretudo com ex-jogadores ou familiares. Contudo, ao perceberem que a preciosidade estará em boas mãos e que a história será muito bem preservada, os donos cedem à oferta do colecionador.

– O principal sinal de que esta relação de confiança é verdadeira, é que ao final da negociação ganho sempre um novo amigo e mantemos contato.

Não por acaso, os itens conseguidos com os próprios ex-jogadores ou familiares ocupam um lugar especial na coleção de Ricardo, que diz se sentir na obrigação de preservá-los e apresentá-los às novas gerações para que a história do Palmeiras nunca se perca.

Neste ano, o colecionador teve a oportunidade de encontrar seu grande ídolo Valdir Joaquim de Morais, um dos maiores goleiros da história do Palmeiras, que vestiu a camisa alviverde de 1958 a 1968. Os itens do goleiro também têm um valor especial para Ricardo.


Camisa usada por Valdir

– Apesar de ter nascido em 1980 e não tê-lo visto jogar, admiro muito o Valdir. Além de ter dedicado sua vida ao futebol, foi muito vitorioso na sua carreira e é respeitado e admirado em todos os clubes que trabalhou de 1947 a 2011.

Hoje em dia, Ricardo utiliza apenas as redes sociais para expor sua coleção, mas aguarda a construção do memorial do Palmeiras, dentro do Allianz Parque, para expô-la.

– Tenho a esperança de que oferecerão a infraestrutura adequada para receber esse tipo de acervo.

Como um bom colecionador, Ricardo fez um apelo no fim do papo:

– Peça na matéria para quem tiver algum item antigo entrar em contato comigo! – finalizou.

E-mail: colecionismopalmeiras@gmail.com

Página no Facebook: https://www.facebook.com/colecionismopalmeiras/