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ETERNOS CANHOTEIROS

por Rubens Lemos


Há uma vasta legião de nostálgicos que juram sem fazer figa: Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo na década de 1950, foi o Garrincha da canhota. A biografia dele é um espetáculo de tão bem feita pelo escritor e jornalista Renato Pompeu. Canhoteiro disputava com Pepe em talento e os dois perdiam em sorte para Zagallo.

Chico Buarque, dono do time de peladas Politheama, já havia homenageado o ídolo rebelde na música Futebol, escalando uma linha de ataque sensacional, ritmada pela magia dos seus versos: “Para Mané, para Didi, para Pagão, para Pelé e Canhoteiro. Pagão é o maior ídolo de Chico. Até hoje é o artilheiro do seu time de futebol de botão, matador na proporção do dueto com Pelé ainda menino.

Mas Canhoteiro é a graça nunca alcançada. O toque de melancolia naqueles que voltam no tempo e o enxergam de novo costurando defesas pela extrema esquerda. Virou sinônimo de injustiça, de jogador que deveria ter ido mas não foi a uma Copa do Mundo. Jogava aberto, ofensivamente, driblando,

CANHOTEIRISMO

por Rubens Lemos


Há uma leal legião de nostálgicos que jura sem admitir ponderações: Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo na década de 50, foi o Garrincha da canhota. A biografia dele é um espetáculo de tão bem feita pelo escritor e jornalista Renato Pompeu. Canhoteiro disputava com Pepe em talento e os dois perdiam em sorte para Zagallo.

Chico Buarque, dono do time de peladas Politheama, já havia homenageado o ídolo rebelde na música Futebol, escalando uma linha de ataque sensacional, ritmada pela magia dos seus versos: “Para Mané, para Didi, para Pagão, para Pelé e Canhoteiro”. Pagão é o maior ídolo de Chico. Até hoje é o artilheiro do seu time de futebol de botão, matador na proporção do dueto com Pelé ainda menino.

Mas Canhoteiro é a graça nunca alcançada. O toque de melancolia naqueles que voltam no tempo e o enxergam de novo costurando defesas pela extrema esquerda. Virou sinônimo de injustiça, de jogador que deveria ter ido mas não foi a uma Copa do Mundo. Jogava aberto, ofensivamente, driblando, driblando e driblando.

Perdeu para Zagallo e o estilo que recuaria o ponta para o meio, onde seria muito mais marcador do que pesadelo dos laterais. Muitos choram sua ausência em 1958 e em 1962. Com Garrincha de um lado e ele do outro, a Suécia teria tomado uns 10, e não os 5×2 da final no Estádio Rasunda. A Tchecoslováquia levaria 6×1 e o Ferro cortaria sua cortina espiã.

Canhoteiro também tinha uma queda pela boemia. E pânico de andar de avião. Anjo caído, morreu cedo, em 1974, de problemas cardíacos. Contava 42 anos. Passou a lenda. Arredio, mal se deixava fotografar. É luta encontrá-lo em arquivos. Gostava de humilhar o raçudo corintiano Idário e depois fazia as pazes seduzindo-o com cervejas. Idário tentava atingi-lo e Canhoteiro pulava de Pererê Tricolor.


Todos temos um Canhoteiro no coração. O meu é Geovani, do Vasco da Gama. Melhor do Mundo no Mundial de Juniores de 1983, disparou como âncora de uma geração brilhante. Não foi a Copa de 1986 e Lazaroni o barrou quatro anos depois. Não dá para aceitar até hoje Bismarck ter ido e Geovani, não. Futebol acadêmico, requintado, condutor.

A geração que me antecedeu sofre por dois Canhoteiros: Dirceu Lopes, parceiro de Tostão, driblador elétrico do Cruzeiro dos anos 1960, que para eles era nome certo na Copa de 70. Ficou aqui e Dadá Maravilha é um dos tricampeões mundiais. Reclames e lamentos também por Ademir da Guia, o Divino, que é um Canhoteiro mesmo tendo ido à Copa da Alemanha passear.

Jogou 45 minutos contra a Polônia, na decisão do terceiro lugar, Brasil já longe da briga pelo título. Noutra vertente do canhoteirismo, Zico foi a três Copas e jamais comemorou no fim. Copa tem mau gosto. Paulo Sérgio, Baldochi, Viola e Belleti são Campeões do Mundo. Alex, Djalminha, Pita e Adílio, fantásticos artistas, limitam-se a pôsteres clubísticos. O futebol – capengando – é o que é pela atmosfera de paixão e de saudade. Que comovem.

Aos eternos Canhoteiros, o brinde amargo e amante.