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Barretão

CICATRIZES E SORRISOS

texto: Sergio Pugliese | vídeo e edição: Daniel Planel

Adoro os otimistas e, por isso, em tempos de Corona, a afirmação “vai passar” me agrada muito. Até porque vai passar mesmo. Não dá para estimar o saldo final, mas vai passar. Quem viver, verá!


Sempre sonhei em escrever um roteiro sobre a jornada de quatro velhos jornalistas, daqueles que fizeram de tudo e mais um pouco, cobriram guerras, campanhas políticas, impeachments, o assassinato do Kennedy, o da princesa Diana, atentados, o Carnaval, denunciaram falcatruas, descobriram personagens fantásticos, se infiltraram em grandes esquemas e deram furos espetaculares. Quatro velhinhos, com os olhares afiadíssimos, que se reúnem religiosamente em um boteco para recontar essas histórias. Eles sabem que tudo passa. Hoje existe um monumento onde brilhavam as monumentais Torres Gêmeas. Caiu, levante! A dor permanece, mas a banda passa, inapelavelmente. Tudo vira história.

Na Copa de 50, 200 mil brasileiros inundaram o Maracanã de lágrimas. O genial Zizinho saía de campo chorando compulsivamente quando foi amparado com um abraço pelo goleiro uruguaio Maspoli. O repórter fotográfico Luiz Carlos Barreto registrou a cena. Belíssima! Barretão também estava arrasado, mas precisava eternizar aquela imagem, ossos do ofício. Os jornalistas não são insensíveis, como em muitos casos possa parecer. Vendo a foto imaginei Maspoli sussurrando “vai passar” para Zizinho.


Oito anos depois, lá estava Barretão com sua Leica, agora na Suécia, para cobrir mais uma Copa do Mundo. Dessa vez, o abraço registrado por seu olho mágico foi o de Garrincha em Pelé, o da conquista, o do êxtase. Dois abraços, duas histórias, dois desfechos. Para o velho jornalista, o “vai passar” de 50 funcionou. Entre cicatrizes e sorrisos, tudo passa, tudo sempre passará.