Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Antonio Maria de Jesus

DIVINAS ATUAÇÕES

por Antonio Maria de Jesus


Sem querer fazer proselitismo religioso, e tampouco entrar em discussões teológicas, enfatizando o meu profundo respeito por todas as formas de culto, bem como por aqueles que não professam nenhum tipo de fé, gostaria de introduzir essa minha breve reflexão enfatizando o fato de eu ser uma pessoa profundamente crédula, que crêem um Deus Onipotente, Onipresente e Onisciente, que tudo criou e tudo controla, e tem participação em todas as coisas,

E esse Deus, tendo criado o ser humano à sua imagem e semelhança, lhe concedeu o dom de realizar coisas admiráveis, dentre elas a prática do esporte, e de maneira singular jogar futebol, logo o jogo de futebol é divino, por excelência.

Por conseguinte, esse Deus, segundo a minha imaginação, ocasionalmente vem assistir um jogo no Maracanã. Chega de maneira discreta, ocupa o seu lugar na arquibancada sem chamar a atenção e fica aguardando o desenrolar do jogo, quase ninguém nota a sua presença, exceto um determinado jogador, que, inexplicavelmente, percebe a sua presença e, por vezes até inconscientemente, joga em sua homenagem, como se o estivesse cultuando, e produz o que eu chamo de DIVINA ATUAÇÃO.

Foi assim, na noite de um meio de semana, num jogo Santos 5 X 2 América, no ano de 1957, Deus estava no Maracanã, e Pelé, nos seus 17 anos, produziu uma atuação divina, tendo marcado 4 gols, a ponto de Nelson Rodrigues, na sua coluna de jornal ter feito o seguinte comentário: “O futebol tem um rei, e ele se chama Pelé”.

O mesmo aconteceu no ano de 1962, num domingo, num jogo Botafogo 3 X 0 Flamengo, decisão do Campeonato Carioca, dessa vez quem jogou para Deus foi Garrincha, que marcou os três gols da vitória do Botafogo.

Deus retornou ao Maracanã no ano de 1967, num jogo entre Botafogo  3 X 2 América, e novamente um menino, parece que os meninos tem uma sensibilidade mais apurada, chamado Paulo Cezar com apenas 17 anos, atuou divinamente, tendo marcado os três gols do Botafogo.


Deus só reapareceu anos mais tarde, num jogo entre o Vasco 5 X 1 Corinthians, e Roberto Dinamite, que tinha sido vendido ao Barcelona, mas retornara ao Vasco, e no seu retorno ao clube de São Januário teve uma atuação divina, marcando os cinco gols da goleada do Vasco.

Passou um longo tempo, e Deus só retornaria ao Maracanã para a partida entre Brasil 2 X 0 Uruguai, pelas eliminatórias da Copa de 94, e Romário teve uma DIVINA ATUAÇÃO, marcando os dois gols da vitória brasileira.

Nessa altura da reflexão, alguém pode estar pensando, “Deus só vem ao Maracanã”? E eu diria, o estádio preferido é o Maracanã, mas ele também vai a outros estádios, como por exemplo no Pacaembu, no ano de 2002, no  jogo Santos 3 X 2 Corinthians, quando Robinho jogou divinamente, marcando um gol e dando a assistência para Elano e Leo marcarem. Porém, o jogo Que deixou Deus mais feliz, foi no Estádio da Luz, no ano de 1961, um jogo entre Santos 5 X 2 Benfica, pela disputa do Mundial Interclubes, e Pelé realizou a mais divina, das divinas atuações, marcando 4 gols e assistindo Coutinho em outro, e certamente Deus se agradou do que criara.

Nesse futebol atual, com a mecanização dos jogadores, onde a tática engessa a criatividade, Deus que é Onisciente, está consciente que o tempo das DIVINAS ATUAÇÕES, infelizmente, ficou no passado.

O FUTEBOL EM OUTRA DIMENSÃO

por Antonio Maria de Jesus


Recentemente, o jogador Bruno Henrique, dando uma entrevista, afirmou que o futebol praticado pelo Flamengo, em relação aos demais clubes brasileiros, estava em um outro PATAMAR.

Ao ouvir essa entrevista, minha memória me trouxe à lembrança uma afirmativa de Pelé, que rola na INTERNET. Se referindo a Garrincha, disse que muitas vezes, quando jogavam juntos, Mané driblava o seu marcador, e dependendo da posição em que estava no campo, Pelé pedia para Garrincha cruzar no primeiro ou segundo pau. Entretanto, às vezes Garrincha esperava o marcador voltar para driblá-lo novamente, e isso permitia a recomposição dos adversários. Convém ressaltar que os dois gênios juntos venceram todos os jogos que disputaram.

Ora, diante dessa afirmativa, eu posso interpretar que os dois gênios, certamente os dois maiores gênios do futebol, jogavam o mesmo jogo, na mesma equipe, mas em DIMENSÕES diferentes.

Pelé, desde tenra idade, já praticava um futebol de “resultado”, com rara percepção do profissionalismo e da objetividade que esse esporte requeria. Já Garrincha, jogava se divertindo, e se divertia jogando, até porque a sua maior diversão, além de caçar passarinhos, era jogar futebol. Logo, ele era capaz de jogar uma final de Copa do Mundo, com o mesmo sentimento que jogava uma pelada em Magé. Diante do acima exposto, posso concluir que, a dimensão em que o genial Pelé vivenciava o futebol era uma, já a dimensão que o também genial Garricha vivenciava o futebol era outra. Um poderia ser entendido como um extraordinário economista, com pós graduação em Harvard, quem sabe Souborne, estabelecendo conquistas e marcas que tornaram inquestionáveis a sua genialidade, o outro seria um poeta cujos versos tortos como as suas pernas marcaram a alma, de forma inesquecível dos amantes do futebol.


Mas existiriam essas duas DIMENSÕES do futebol? Eu diria que, a dimensão em que Pelé é o símbolo maior, seria o futebol no seu mais alto sentido de profissionalismo, onde os jogadores ficavam ricos e famosos, jogavam em grandes estádios, etc…

Já a dimensão que é personificada por Garrincha, para entendê-la faz necessário retornar a um tempo em que o Brasil, era literalmente, o “país do futebol”, ou seja, o futebol era o centro de prazer e entretenimento de uma população. Era no futebol que o povo encontrava seus heróis, seus artistas, era unicamente através do futebol que o povo extraía alegria e poesia. Televisão era artigo de luxo reservado às pessoas da classe média, logo as tardes de domingo, principalmente do povo humilde, não era na sala em torno de uma TV, assistindo, simultaneamente, os campeonatos de todas as partes do mundo, e sim em volta  dos diversos campos e campeonatos das respectivas cidades em que viviam.

No RJ, por exemplo, o campeonato de profissionais (Botafogo, Vasco, Flamengo, América e outros), embora nos jogos do Maracanã a freqüência média fosse em torno de 80 mil pessoas, quem frequentava o Maracanã, em sua maioria, eram os moradores da zona sul e dos bairros adjacentes do Maracanã.

Logo, paralelo ao campeonato profissional do RJ, acontecia o Campeonato do DA (Departamento Autônomo), com times como o Manufatura, Mavilis, Pavunense, Anchieta, Rosita Sofia, Brasil Novo e outros. Esse campeonato era acompanhado com paixão pelos seus torcedores, e havia os craques que, independente de onde estavam atuando, enchiam os corações dos torcedores de arte e poesia.

Na Baixada Fluminense também havia suas ligas, como a de Japeri, onde pontificavam clubes como o Brasil Industrial e Tupi. Na liga de Nova Iguaçu  clubes como Miguel Couto, Queimados, São Roque, Filhos de Iguaçu, Mesquita entre outros, também tinha uma torcida apaixonadíssima.


Parte da minha infância e adolescência foi vivida no município de Nilópolis. Embora fosse Botafoguense, como amante do futebol acompanhava o campeonato da Liga Nilopolitana de Futebol. E é dessa liga que guardo comigo as mais doces recordações dessa comovente esporte chamada futebol.

A minha memória me traz à lembrança clubes, como por exemplo, o Ás de Ouros, com craques como MEIO QUILO que lembrava Tostão com a sua perna esquerda se movimentando em todo o campo, NELSON CAGU jogava com a mesma desenvoltura de zagueiro ou médio volante, TONINHO MACHADINHO, ADILSON NEGUINHO, talvez o mais completo de todos os jogadores que tive o privilégio de ver jogar nessa DIMENSÃO, BETINHO SANDUÍCHE e outros. No Flamenguinho da Soares Neiva, brilhavam PRESUNTO, CHIQUINHO e DULCINEI uma síntese de Pagão – Tostão e Reinaldo, ou seja atacante com rara habilidade. Havia também os Filhos de Nilópolis cuja formação era composta por irmãos e primos, dentre eles EDSON, SAVINHO COMPOSITOR. No Brasil do Cabral se destacavam NILTON CRIOULO, PAKITO e JOÃOZINHO MARIMBONDO, o maior driblador de todos nessa DIMENSÃO. Isso num tempo onde driblar era a marca registrada de um atacante brasileiro. Não posso esquecer do Cometa, camisa branca como a do Santos, onde se destacavam os irmãos DARTAGNAN e DIDEROT, sendo auxiliado nos embates futebolísticos por ZITO e HELIO BOMBEIRO (cuja tática de jogo era “um por todos e todos por um”). Não podia deixar de citar o Frigorífico de SIMPLÍCIO, e dos também irmãos RUI e DELMO DA SILVA. E o que dizer do Nova Cidade, do lendário, WALTER COQUINHO. É isso mesmo, para os amantes do futebol dessa DIMENSÃO, é uma lenda.

Para concluir com chave de ouro essas recordações, seria imprescindível fundir a dimensão do futebol com a dimensão do samba, fazendo menção do EC Santa Rita, cujo campo ficava onde atualmente é a quadra da Escola de Samba Beija Flor. Ou seja, onde hoje há um reconhecimento ao talento dos sambistas, outrora brilharam o goleiro ANTONIO PRETINHO, o Centroavante CORUJA, NONA, extraordinário médio volante, e a dupla de atacantes SILVINHO e BETINHO, que faziam tabelinhas que lembravam as de Pelé e Coutinho.

Tenho a absoluta certeza de que assim como eu, muitas pessoas que estarão lendo esse texto lembrar-se-ão de jogadores/torcedores que vivenciaram o futebol nessa DIMENSÃO, e terão suas mentes e corações acalentados por essas singelas lembranças.  

Como já dizia o poeta, “não sou eu que vivo no passado, mas o passado é que vive em mim”, e nesses tempos em que o futebol está sendo classificado por patamar, eu me refugio no futebol de uma outra DIMENSÃO”.