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Amarildo

FESTA DO AMARILDO

Repetindo a dose do ano passado, a equipe do Museu da Pelada organizou uma festa no Caldeirão do Albertão para celebrar o 79º aniversário de Amarildo, responsável por substituir Pelé na caminhada até a conquista do bicampeonato mundial em 62!

Com a presença de craques como PC Caju e Carlos Roberto, a festa teve bolo personalizado, pelada e discursos emocionados. Mais feliz que o aniversariante só mesmo o parceiro Leandro Costa, que foi convidado pela nossa equipe para conhecer o ídolo de perto e fez questão de levar uma camisa que estampava o rosto do artilheiro.

– É uma emoção muito grande estar aqui! Quando lançou essa camisa em homenagem ao Possesso, eu fui correndo comprar porque eu sou super fã e hoje estou tendo a felicidade de conhecer pessoalmente essa lenda do futebol mundial!


Quem também deixou uma mensagem carinhosa para o Possesso foi PC Caju. Nosso padrinho relembrou os tempos em que assistia aos treinos da “Selefogo” da arquibancada e rasgou elogios a Amarildo!

– Foi um dos melhores jogadores do mundo! Além de craque, é um ser humano espetacular! Infelizmente, vivemos em um país sem memória! – lamentou.

Depois de muita resenha, chegou a hora do parabéns com direito a bolo personalizado para o aniversariante! Antes disso, no entanto, Amarildo agradeceu a presença de todos e revelou o seu sentimento naquele momento!

– Nunca tive uma emoção como essa! Amigos verdadeiros, uma família verdadeira! Hoje é um dia memorável para mim! Meus amigos são esses, aqueles que nunca se esquecem de mim e eu não troco por nada!

O SUCESSO DO POSSESSO

por Leandro Costa


Em 29 de julho de 1940, há exatos 79 anos, nascia na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Amarildo Tavares da Silveira, Amarildo, “O Possesso”. Amarildo foi um dos maiores jogadores da história do futebol mundial.

Começou sua carreira muito jovem, aos 16 anos, em 1956, no Goytacaz, clube de sua cidade natal.  Em 1958 se transferiu para o Flamengo. Foi injustamente dispensado do clube pelo técnico Fleitas Solich por ser pego com um cigarro. Amarildo não fumava. Um companheiro de clube aguardava, na concentração, um telefonema da namorada e quando o telefone tocou entregou o cigarro para Amarildo segurar. O disciplinador técnico rubro-negro viu Amarildo com o cigarro e quando o jogador foi passar a folga de Natal em casa recebeu o recado que não precisava mais voltar.

Azar do Flamengo, sorte do Botafogo. Amarildo foi então servir o exército e estava pensando em não voltar mais ao futebol. Lá encontrou o zagueiro Paulistinha, do Botafogo, que o convenceu a fazer um teste em General Severiano. Começava aí a relação de Amarildo com o Glorioso. Essa relação veio a formar uma linha de frente considerada como uma das mais poderosos do futebol em todos os tempos: Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.


Pelo alvinegro, Amarildo foi Bicampeão Carioca em 1961/62, Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1962, Campeão do Torneio Internacional de Paris em 1963, dentre outras conquistas.

Pela Seleção Brasileira, na Copa de 1962, no Chile, teve a missão de substituir ninguém menos que Pelé, que se machucou logo na segunda partida do Brasil, no empate em 0x0 contra a Tchecoslováquia. Amarildo entrou no decisivo jogo da primeira fase, contra a Espanha, e marcou os dois gols do Brasil na virada de 2×1 que garantiu a classificação da Seleção. Esse jogo rendeu uma das mais belas crônicas de Nelson Rodrigues, O Possesso, publicada em sua coluna “À sombra das chuteiras imortais” no dia 07/06/1962, dia seguinte a partida. A alcunha de “O Possesso” pegou para sempre e Amarildo muito se orgulha dela. O atacante alvinegro não sentiu nem um pouco o peso daquela responsabilidade. Tinha ao seu lado nada mais nada menos que quatro companheiros do dia-a-dia do Botafogo no time titular do Brasil: Nilton Santos, Didi, Garrincha e Zagallo. O menino, de apenas 21 anos, voltou a marcar na final da Copa, contra a Tchecoslováquia. Fez o gol de empate em uma bela jogada pela esquerda e em outro grande lance, também pela esquerda, serviu Zito para desempatar a partida. Vavá ainda fez o terceiro e decretou números finais ao confronto: Brasil 3×1 Tchecoslováquia. Brasil Bicampeão do Mundo. Amarildo foi, junto com Garrincha, o grande destaque daquela Copa.


Em 1963 transferiu-se para o futebol italiano, onde ficou até 1972, com brilhantes passagens por Milan (1963-1967, Campeão da Copa da Itália da temporada 66/67), Fiorentina (1967-1971, Campeão Italiano da temporada 68/69) e Roma (1971-1972).

Em 1973 voltou ao Brasil para reforçar o Vasco da Gama. Jogou no clube de São Januário até 1974, quando foi Campeão Brasileiro daquele ano e encerrou sua muito bem sucedida carreira.

A história de Amarildo fala por si só. Vamos celebrar a data de hoje com o respeito, admiração e carinho que as grandes Lendas do nosso país merecem. “O POSSESSO” é a personificação da glória e do sucesso.

AMARILDO NÃO FOI PELÉ, MAS ENCARNOU DOSTOIEVSKI… E GANHAMOS A COPA

por André Felipe de Lima


“Repito: — os profetas escorriam como a água das paredes infiltradas. Não se dava um passo sem tropeçar, sem esbarrar num profeta. E o que diziam eles? Diziam a vitória do Brasil e mais: — profetizavam o nascimento de um novo Pelé. Eu próprio escrevi, na minha crônica de anteontem: — o novo Pelé era moreno, e antecipei minúcias e fui mais longe. Dei o nome do novo Pelé: — Amarildo.”

Ao escrever estas palavras após a vitória de 2 a 0 do Brasil sobre a Espanha, pelas oitavas de final da Copa do Mundo no Chile, em 1962, Nelson Rodrigues anunciava, evidentemente em tom exagerado, que Amarildo, o “Possesso”, seria o “gênio” que ocupava a vaga de outro gênio, no caso Pelé. Amarildo, ora, foi realmente um jogador excepcional, mas compará-lo a Pelé foi um dos raríssimos equívocos do [esse sim] genial cronista e dramaturgo, que, na mesma crônica, insistia no deslumbramento: “‘O autor do Amarildo é o Dostoievski!’. E, realmente, nunca vi na vida real um sujeito tão possesso e, por carambola, dostoievskiano. […] E eu “vi”, no momento do gol, “vi” Amarildo, a cara, o peito, a loucura de Amarildo. De seu lábio pendia a baba elástica e bovina dos possessos. Nas páginas de Dostoievski é assim que os possessos babam profissionalmente.”


Embora Pelé seja intocável, compreende-se Nelson Rodrigues. Afinal, Amarildo, naquele dia contra os espanhóis, estava além do humano, demasiadamente humano. Mais que um “dostoievskiano” ostentava em campo uma alma “nietzschiana”, com os requintes dionisíaco e apolíneo comuns ao futebol brasileiro [Armando Nogueira adoraria isso…]. Quem assistiu ao jogo ficou inebriado. E com justíssima razão.

Nelson sabia das coisas. Vaticinara, em sua coluna, na edição de O Globo, do dia 2 de maio de 1962, ou seja, a um mês da Copa, que Amarildo se consagraria: “Amigos, vai acontecer com Amarildo o que aconteceu com Garrincha na Suécia. Em 1958, Feola não queria lançar ‘seu Mané’. Os jornais esbravejavam:, ‘O Brasil tem o maior reserva do mundo!’ Só contra a Rússia é que finalmente deu o estalo redentor. Feola escalou Garrincha. E, na primeira bola que recebeu, ‘seu’ Mané liquidou o inimigo. Pois bem: Amarildo irá para o Chile como o maior reserva do mundo, também. No terceiro jogo, ou quarto, sei lá, vai ser lançado como um cristão às feras. E, pela primeira vez, veremos um cristão a devorar leões.”

Amarildo, um fora de série. Um craque, demasiadamente craque. Isso, meus caros, não se discute.

***

Assim é o começo da biografia do aniversariante do dia 29 de julho, o craque Amarildo, que consta do primeiro volume (de 18), a Letra “A”, da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, que será lançada ainda este semestre, pela Livros de Futebol.com.