VENDAVAL VALENTE
entrevista: Pedro Redig e Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo: André Teixeira | edição de vídeo: Daniel Planel
Depois do vendaval, a calmaria. Costela, braço, clavícula e tornozelo são apenas algumas partes do corpo que sofreram ao longo de sua carreira. Com um sorriso fácil e largo no rosto, que precisou passar por uma cirurgia plástica após uma das inúmeras pancadas, o artilheiro Roberto Miranda recebeu a equipe do Museu da Pelada em sua casa, em Niterói, e nem de longe parecia aquele “gladiador” que travava verdadeiras batalhas com os zagueiros.
– Tive que fazer muitas cirurgias depois que parei de jogar. Jorge Curi me apelidou de Vendaval porque eu partia para cima! Me batiam muito, mas eu encarava os caras também!
Em um desses duelos particulares, inclusive, saiu do Maracanã direto para a delegacia, depois de se atracar com o grandalhão Fontana, do Vasco, e deixar o campo sangrando.
– Iam me matar? Não! Então eu ia para dentro mesmo! – comentou com bom humor.
A disposição, somada à facilidade de balançar a rede dos adversários, logo foi reconhecida e Roberto não demorou para cair nas graças da torcida do Botafogo. Pelo alvinegro carioca, atuou por mais de dez anos e marcou 154 gols, que o tornaram o nono maior artilheiro da história do clube e renderam uma caricatura no muro do clube, ao lado de outros grandes ídolos do Botafogo. Além disso, conquistou três Campeonatos Cariocas e o Brasileiro de 1968.
Muitos não sabem, no entanto, é que por muito pouco o Vendaval não brilhou com outra camisa do Rio. Nascido em São Gonçalo, o menino franzino se destacava pelo Manufatura, time do Barreto que volta e meia contava com a visita de olheiros nas partidas. Com boas atuações e gols diante de clubes como Bangu e América, recebeu o convite do empresário do Fluminense para fazer teste no clube.
– Os caras me colocaram para jogar só nos cinco minutos finais. Tava indo embora triste para casa, quando fui abordado pelo olheiro do Botafogo.
Isso mesmo! Como um verdadeiro detetive, o empresário seguiu os passos de Roberto Miranda e, ao notar que não havia sido bem aproveitado no tricolor, pegou o artilheiro pelo braço e o levou para treinar no Botafogo, à tarde.
– Entrei como titular, fiz três gols e nunca mais saí! – lembrou o atacante.
Outra curiosidade lembrada pelo Vendaval foi o tratamento que recebia dos consagrados jogadores da equipe profissional. Sem piedade alguma, Didi, Nilton Santos, Garrincha e Quarentinha saiam do treino e, ao avistarem o garoto jantando no refeitório, nem pensavam duas vezes antes de meterem a mão em seu prato.
– Eles diziam que era o tira-gosto deles!
Fã dos “ladrões de comida”, que encantavam os amantes do bom futebol, Roberto Miranda não perdia um treino dos profissionais e chegou a pensar em deixar o clube, temendo não ter oportunidades no meio de tantos craques. Mas, assim como no primeiro treino pelo Botafogo, também marcou gol na sua estreia como profissional e, com méritos, alcançou a titularidade daquele timaço.
– Não adiantava jogar bem, eu tinha que fazer gol. Jogar bem sem fazer gol não existe pra mim.
Em uma época de ouro do futebol brasileiro, com dezenas de jogadores que entraram para a história dos seus clubes, o artilheiro assegurou uma vaga entre os convocados para a Copa de 70, no histórico tri mundial. Reserva imediato do ataque, entrou nas partidas contra Inglaterra e Peru, substituindo à altura Tostão e Jairzinho, respectivamente.
– Jogar com aquelas feras foi tudo de melhor. Chegar ate a Copa do Mundo é o auge. O Dadá nem mudava de roupa, ficava de terno, e eu que entrava! – tirou onda.
Alguns anos depois da conquista do tri, mesmo a contragosto, se transferiu para o Corinthians. Embora tenha sido muito bom financeiramente para o alvinegro carioca, a contratação não gerou títulos para o Corinthians. De acordo com o craque, o time era bom, mas muito azarado.
Teve também uma curta passagem pelo Flamengo, onde sentiu a sensação mais estranha de sua carreira: jogar e vencer o Botafogo por 2×0, no Maracanã.
– Graças a Deus não marquei gol nessa partida. O Botafogo foi tudo na minha vida. Tudo que eu tenho hoje eu devo ao Botafogo.
Após a resenha, Vendaval colocou a sunga e mergulhou na piscina do seu prédio para os belos cliques do renomado fotógrafo Marcelo Tabach. É ali que o artilheiro costuma relaxar a musculatura após os intensos treinos na academia que o mantêm inteiraço!